Quando, esta tarde, o presidente russo Vladimir Putin estiver na reservadíssima e hiper-vigiada inauguração da exposição ‘Arte e Cultura do Império Russo nas Colecções do Hermitage’ – que abre amanhã ao público na Galeria D. Luís I, no Palácio da Ajuda, em Lisboa – poderá rever a história dos imperadores russos e das suas relações com a Europa.
A exposição do Hermitage começa precisamente por propor um (re)encontro com o homem que pôs fim à Rússia medieval e a abriu ao Ocidente, transformando-a num dos principais pólos civilizacionais do seu tempo. Numa sala vermelha escura, há um busto do imperador, vários retratos da sua família e muitos dos pertences pessoais: fatos, objectos decorativos, jóias, um torno onde se entretinha a esculpir adereços de madeira, uma caixa contendo frasquinhos de medicamentos (foi aprendiz de médico)...
E é esse o modelo seguido pela exposição: as várias salas dividem-se por reinados, sendo que depois de Pedro vem Isabel, que mandou construir o quarto Palácio de Inverno (hoje, transformado no Museu Hermitage) e Catarina, ‘a Grande’, que ficou para a História como grande patrona das artes. Seguem-se Alexandre I, que se tornou uma lenda por ter derrotado Napoleão; Alexandre II, que libertou os servos; ou Nicolau II, o último imperador russo, assassinado pelos bolcheviques em 1918, na sequência da Revolução Russa.
Estão todos lá, cada um fazendo-se acompanhar por uma profusão de retratos e outros objectos, onde não faltam sequer móveis e louças ou adereços de ofícios religiosos. Tudo legendado, claro, pois a principal preocupação do museólogo e historiador de arte Fernando António Baptista Pereira – comissário desta exposição – foi que o grande público soubesse exactamente o que está a ver. “Não fizemos isto para os colegas da profissão verem. Até o catálogo, que contém as 600 peças aqui expostas, tem uma linguagem perfeitamente acessível”, garante.
"NÃO PERCEBO AS CRÍTICAS", Isabel Pires de Lima, ministra da cultura
A governante pagou a exposição (1 milhão e meio de euros) com apoios. O Ministério deu apenas 250 mil euros.
Correio da Manhã – Como reage às críticas do meio museológico face a este projecto?
Isabel Pires de Lima – Não as percebo. É evidente que não teríamos conseguido este levantamento de verbas para assegurar o funcionamento regular dos museus portugueses... Mecenato e patrocinadores interessaram-se pelo projecto por se tratar de uma iniciativa fora de série.
– Muito se fala do pólo permanente, a ser instalado na capital. Onde?
– Estamos a estudar duas hipóteses distintas, ambas em espaços patrimoniais.
– Fala-se de um espaço no Terreiro do Paço...
– Especulação. Há dois locais em estudo mas não posso adiantar quais são.
– Não vai ser na Galeria agora recuperada no Palácio da Ajuda?
– Não. A galeria vai manter-se aberta como espaço de exposições temporárias, equipamento de que nenhum dos museus tutelados pelo ministério dispunha.
– Diz-se que esperam 150 mil visitantes?
– É evidente que esperamos muita gente. O Hermitage é um dos três ou quatro maiores museus do Mundo.
NOTAS
MUSEU HERMITAGE
Construído no coração de S. Petersburgo, o Museu Hermitage foi construído entre 1764 e 1767, para albergar a colecção de arte particular de Catarina II (conhecia por Catarina a Grande). Destruído pelo fogo, foi mandado reconstruir por Nicolau II, que o abriu ao público em 1852. Actualmente, é um dos maiores museus do Mundo, albergando três milhões de peças de arte, desde a Idade da Pedra até ao século XX.
TRÊS CAMIÕES
Três camiões e seis atrelados foram usados no sempre difícil transporte das obras de arte, cada uma delas embrulhada numa caixa feita por medida. A viagem durou oito dias e fez-se por terra e por mar, mas sem grandes medidas de segurança – para não atrair as atenções. Todas as peças estão seguradas em valores não revelados.
ENTRADA LIVRE
A exposição do Hermitage (a maior feita até agora na Europa) abre amanhã ao público e as entradas custam 6 euros, mas na sexta-feira – mais precisamente entre as 21h00 e a meia-noite – a entrada será livre. Oportunidade única para tentar imaginar como seria a vida dos últimos imperadores.
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in Correio da Manhã 2007.10.14
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Foto - A montagem da exposição está a ser alvo dos últimos retoques
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NOTA - Uma pergunta inocente: Depois da Revolução de Outubro e até à implosão da URSS não houve manifestações artísticas? E a Rússia dos czares e dos servos da gleba, da repressão feroz sobre os famélicos e os adeptos da «democratização e da justiça social, a Rúsissia czarista da fome e da miséria teria asssento na actual e «democrática» »União Europeia»» (VN)
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