A rede social está debaixo de fogo devido às falhas de privacidade. Hoje acaba uma campanha lançada por utilizadores. Poucos, mas suficientes para o site ter sido obrigado a reagir.
Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook (Reuters)
A falta de privacidade dos utilizadores tem sido a ferida onde mais vezes tocam os detractores do Facebook, a rede social on-line que se tornou popular em praticamente todo o mundo e onde, segundo números do próprio site, 22 por cento da população portuguesa já está registada.
Hoje é o Quit Facebook Day. Em português, o Dia de Desistir do Facebook. É uma iniciativa de utilizadores descontentes, que têm apelado a que as pessoas apaguem as respectivas contas. E é mais um dos muitos protestos recentes. Até ontem, porém, apenas 25 mil pessoas tinham manifestado interesse em abandonar o site - uma minúscula fatia dos mais de 460 milhões de utilizadores.
O investigador Gustavo Cardoso, docente no ISCTE, em Lisboa, estudioso dos media e da Internet, diz não acreditar que muitas pessoas venham a deixar o Facebook. Só o fariam, argumenta, se surgisse uma outra rede social que as levasse a "experimentar a novidade". Mas esse é um cenário difícil, devido àquilo que descreve como "a lei económica das redes": "Quanto maiores são as redes, maior o ganho para quem adere. A adesão a uma rede de 460 milhões possui a vantagem de oferecer 460 milhões de possibilidades de ligação. As novas redes, depois de uma rede muito grande estar implementada, têm menor capacidade de atractividade. Pensemos nas redes de telemóveis".
Mesmo não correndo o risco de ficar vazio, o Facebook tem tentado dar resposta à chuva de críticas que está a sofrer. Na semana passada, o controverso fundador Mark Zuckerberg (que já chegou a afirmar publicamente que a era da privacidade está acabada) anunciou novas medidas. Uma delas passa por disponibilizar uma forma mais simples para os utilizadores definirem que informação querem que seja visível.
Até aqui, as configurações de privacidade disponibilizadas pelo Facebook eram consideradas demasiado complexas, com dezenas de opções diferentes. O novo sistema já está a ser aplicado, mas deverá demorar algum tempo até estar disponível para todos.
Para além disto, o Facebook passou a permitir aos utilizadores esconderem (dos outros utilizadores e do resto da Internet) alguma informação que era obrigatoriamente pública.
As críticas de Bruxelas
As novidades, contudo, dificilmente vão aplacar todas as críticas. Nomeadamente uma das mais duras, que surgiu numa carta enviada à empresa a 12 de Maio, por um grupo de aconselhamento da Comissão Europeia composto pelas entidades de protecção de dados de todos os estados-membros (o chamado Grupo de Trabalho do Artigo 29). A carta considera as políticas de privacidade do site "inaceitáveis", chama a atenção para o facto de os dados dos menores terem de ser tratados de forma diferente dos dos adultos e afirma que as práticas do Facebook estão em conflito com a lei europeia. Entre os muitos pontos focados no documento está o facto de haver dados que são partilhados pelo Facebook com outras empresas. Por exemplo, os milhares de aplicações do site - desde os jogos como o popular Farmville aos muitos inquéritos que correm pelos utilizadores, todos concebidos por pessoas ou empresas que nada têm a ver com o Facebook - têm acesso automático a informação, como a lista de "amigos" de cada pessoa.
Em finais de Março, por exemplo, Mark Zuckerberg anunciou uma nova tecnologia que permite a outros sites detectar se o visitante está inscrito no Facebook e aceder a dados do perfil dessa pessoa. A ideia é que esses sites ofereçam uma experiência personalizada. Mas há um problema: o sistema é automático e não pede consentimento ao utilizador.
"A aparente gratuitidade destas plataformas mais não é do que um logro, na medida em que as pessoas pagam, e bem, com a sua informação, que tem actualmente um elevado valor económico", lembra Clara Guerra, da Comissão Nacional de Protecção de Dados, entidade que integra o Grupo de Trabalho do Artigo 29.
O facto de muitos utilizadores não parecerem preocupados com a forma como os respectivos dados são usados "radica frequentemente nalguma ingenuidade e desconhecimento" do que pode ser feito, afirma Clara Guerra.
Mas sublinha que os protestos recentes mostram um aumento da preocupação: "É visível um crescimento da consciência das pessoas quanto à necessidade de proteger os seus dados pessoais e a sua privacidade".
Clara Guerra qualifica como "claramente exagerados os vaticínios à morte da privacidade", que já foram até parcialmente corrigidos por Zuckerberg: "Veio apressadamente emendar a mão, com sucessivos anúncios públicos de melhoria das definições de privacidade, que afinal parece subitamente ter importância suficiente para o fazer arrepiar caminho, quando confrontado com as críticas e ameaças de debandada. Foi a reacção dos utilizadores que levou o Facebook a inverter a marcha".
Hoje é o Quit Facebook Day. Em português, o Dia de Desistir do Facebook. É uma iniciativa de utilizadores descontentes, que têm apelado a que as pessoas apaguem as respectivas contas. E é mais um dos muitos protestos recentes. Até ontem, porém, apenas 25 mil pessoas tinham manifestado interesse em abandonar o site - uma minúscula fatia dos mais de 460 milhões de utilizadores.
O investigador Gustavo Cardoso, docente no ISCTE, em Lisboa, estudioso dos media e da Internet, diz não acreditar que muitas pessoas venham a deixar o Facebook. Só o fariam, argumenta, se surgisse uma outra rede social que as levasse a "experimentar a novidade". Mas esse é um cenário difícil, devido àquilo que descreve como "a lei económica das redes": "Quanto maiores são as redes, maior o ganho para quem adere. A adesão a uma rede de 460 milhões possui a vantagem de oferecer 460 milhões de possibilidades de ligação. As novas redes, depois de uma rede muito grande estar implementada, têm menor capacidade de atractividade. Pensemos nas redes de telemóveis".
Mesmo não correndo o risco de ficar vazio, o Facebook tem tentado dar resposta à chuva de críticas que está a sofrer. Na semana passada, o controverso fundador Mark Zuckerberg (que já chegou a afirmar publicamente que a era da privacidade está acabada) anunciou novas medidas. Uma delas passa por disponibilizar uma forma mais simples para os utilizadores definirem que informação querem que seja visível.
Até aqui, as configurações de privacidade disponibilizadas pelo Facebook eram consideradas demasiado complexas, com dezenas de opções diferentes. O novo sistema já está a ser aplicado, mas deverá demorar algum tempo até estar disponível para todos.
Para além disto, o Facebook passou a permitir aos utilizadores esconderem (dos outros utilizadores e do resto da Internet) alguma informação que era obrigatoriamente pública.
As críticas de Bruxelas
As novidades, contudo, dificilmente vão aplacar todas as críticas. Nomeadamente uma das mais duras, que surgiu numa carta enviada à empresa a 12 de Maio, por um grupo de aconselhamento da Comissão Europeia composto pelas entidades de protecção de dados de todos os estados-membros (o chamado Grupo de Trabalho do Artigo 29). A carta considera as políticas de privacidade do site "inaceitáveis", chama a atenção para o facto de os dados dos menores terem de ser tratados de forma diferente dos dos adultos e afirma que as práticas do Facebook estão em conflito com a lei europeia. Entre os muitos pontos focados no documento está o facto de haver dados que são partilhados pelo Facebook com outras empresas. Por exemplo, os milhares de aplicações do site - desde os jogos como o popular Farmville aos muitos inquéritos que correm pelos utilizadores, todos concebidos por pessoas ou empresas que nada têm a ver com o Facebook - têm acesso automático a informação, como a lista de "amigos" de cada pessoa.
Em finais de Março, por exemplo, Mark Zuckerberg anunciou uma nova tecnologia que permite a outros sites detectar se o visitante está inscrito no Facebook e aceder a dados do perfil dessa pessoa. A ideia é que esses sites ofereçam uma experiência personalizada. Mas há um problema: o sistema é automático e não pede consentimento ao utilizador.
"A aparente gratuitidade destas plataformas mais não é do que um logro, na medida em que as pessoas pagam, e bem, com a sua informação, que tem actualmente um elevado valor económico", lembra Clara Guerra, da Comissão Nacional de Protecção de Dados, entidade que integra o Grupo de Trabalho do Artigo 29.
O facto de muitos utilizadores não parecerem preocupados com a forma como os respectivos dados são usados "radica frequentemente nalguma ingenuidade e desconhecimento" do que pode ser feito, afirma Clara Guerra.
Mas sublinha que os protestos recentes mostram um aumento da preocupação: "É visível um crescimento da consciência das pessoas quanto à necessidade de proteger os seus dados pessoais e a sua privacidade".
Clara Guerra qualifica como "claramente exagerados os vaticínios à morte da privacidade", que já foram até parcialmente corrigidos por Zuckerberg: "Veio apressadamente emendar a mão, com sucessivos anúncios públicos de melhoria das definições de privacidade, que afinal parece subitamente ter importância suficiente para o fazer arrepiar caminho, quando confrontado com as críticas e ameaças de debandada. Foi a reacção dos utilizadores que levou o Facebook a inverter a marcha".
.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário