Discurso de Lula da Silva (excerto)

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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ötzi ou Múmia do Similaun

 
Reconstrução de Ötzi no Museum Bélesta (Ariège)
Ötzi
Homem da Neve
Oetzi Memorial.jpg
Memorial a Ötzi.
Governo
Reinadoaproximadamente 5300 anos atrás
CoroaçãoIndispononível devido a idade de Ötzi
Vida

Ötzi ou Múmia do Similaun é uma múmia masculina bem conservada com cerca de 5300 anos[1]. A múmia foi encontrada por alpinistas nos Alpesitalianos em 1991, em uma geleira dos Alpes de Ötztal perto do monte Similaun, na fronteira da Áustria com a Itália. O apelido Ötzi deriva do nome do vale da descoberta. Ele rivaliza a múmia egípcia "Ginger" no título de mais velha múmia humana conhecida, e oferece uma visão sem precedentes da vida e hábitos dos homens europeus na Idade do Cobre.

Índice

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Descoberta

Ötzi foi encontrado por dois turistas alemães, Helmut e Erika Simon, em 19 de setembro de 1991. Eles primeiro pensaram que se tratasse de umcadáver moderno, como diversos outros que são freqüentemente encontrados na região. O corpo foi confiscado pelas autoridades austríacas e levado para Innsbruck, onde sua verdadeira idade foi finalmente estabelecida. Pesquisas posteriores revelaram que o corpo fora encontrado poucos metros além da fronteira, em território italiano. Ele agora está exposto no Museu de Arqueologia do Tirol do SulBolzano, Itália.

Análise científica

O corpo foi extensamente examinado, medido, radiografado e datado. Os tecidos e o conteúdo dos intestinos foram examinados ao microscópio, assim como o pólen encontrado nos seus artefatos.

Quando morreu, Ötzi tinha entre 30 e 45 anos e aproximadamente 160 cm de altura. A análise do pólen e da poeira e a composição isotópica do esmalte de seus dentes indica que ela passou sua infância perto da atual aldeia de Feldthurns, ao norte de Bolzano, mas que mais tarde viveu em vales a cerca de 50 km ao norte.
Ele tinha 57 tatuagens, algumas das quais eram localizadas em (ou perto de) pontos que coincidem com os atuais pontos de acupuntura, que podem ter sido feitas para tratar os sintomas de doenças de que Ötzi parece ter sofrido, como parasitas digestivos e artrose. Alguns cientistas acreditam que esses pontos indiquem uma primitiva forma de acupunctura [1].
Suas roupas, incluindo uma capa de grama entrelaçada e casaco e calçados de couro, eram bastante sofisticadas. Os sapatos eram largos e à prova d'água, aparentemente feitos para caminhar na neve; as solas eram feitas de pele de urso, a parte superior de couro de veado e uma rede feita de cascas de árvores. Tufos de grama macia envolviam o pé dentro do sapato, servindo de isolante térmico.
Outros artefatos encontrados junto a Ötzi foram um machado de cobre com cabo de teixo, uma faca de sílex e cabo de freixo, uma aljava cheia deflechas e um arco de teixo inacabado que era mais comprido do que o Ötzi.
Entre os objetos de Ötzi havia duas espécies de cogumelos, uma das quais (fungo de bétula) é conhecida pelas suas propriedades antibacterianas, e parece ter sido usada para fins medicinais. O outro cogumelo era um tipo de fungo que pega fogo facilmente, incluído com partes do que parece ter sido um kit para começar fogo. O kit continha restos de mais de doze plantas diferentes, além de pirita para a criação de faíscas.

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Em 2007 cientistas revelaram que o "homem das neves" morreu de um ferimento no ombro provocado por uma flecha.
Uma equipe de pesquisadores italianos e suíços usou a tecnologia de raio-X para comprovar que a causa da morte foi uma lesão sofrida numa artéria próxima do ombro e provocada pela ponta de flecha que permanece até hoje cravada nas costas. Os mesmos cientistas concluíram que a morte de Ötzi foi imediata.
Os resultados mais recentes da pesquisa apareceram em linha no Journal of Archaeological Science e foram publicados pela National Geographic.
Análises dos intestinos de Ötzi mostraram duas refeições, uma de carne de bode da montanha, a segunda de carne de veado, ambas consumidas com alguns cereais. Pólen na segunda refeição mostra que esta foi consumida em uma floresta de coníferas a meia-altitude.
Primeiramente supôs-se que fosse um pastor levando seu rebanho para as montanhas e que foi surpreendido por uma tempestade de neve. Dada sua relativa alta idade, não teria resistido ao esforço e morrido.
No entanto, a análise de DNA revelou traços de sangue de quatro outros indivíduos nos seus equipamentos: um na sua faca, dois na mesma flecha e o último no seu casaco. Em julho de 2001, dez anos após a descoberta do corpo, uma tomografia axial computorizada revelou que Ötzi tinha o que parecia ser uma ponta de flecha no seu ombro, mais precisamente na omoplata, combinando com um pequeno furo no seu casaco. O cabo da flecha havia sido removido. Ele também tinha um profundo ferimento na palma da mão direita, que atingiu a carne, tendões e o osso.
Inscrição no memorial
A partir de tais evidências e de exames das armas, o biólogo molecular Thomas Loy, da Universidade de Queensland, acredita que Ötzi e um ou dois companheiros fossem caçadores que participaram de uma luta contra um grupo rival. Em um certo momento, ele pode ter carregado (ou ter sido carregado por) um companheiro. Enfraquecido pela perda de sangue, Ötzi aparentemente largou seus equipamentos contra uma rocha, deitou-se e expirou.

Referências


Causa mortis



  1.  James Neill (last updated 27 October 2004), Otzi, the 5,300 Year Old Iceman from the Alps: Pictures & Information, visitado em 2007-03-08.

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Ligações externas

Commons
Commons possui multimídias sobre Ötzi

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Richard Stallman: "Não se pode confiar num programa de software que não seja livre"



Richard Stallman em Braga
Richard Stallman em Braga (Paulo Pimenta)



Entrevista ao presidente da Fundação para o Software Livre

29.02.2012 - 09:56 Por João Pedro Pereira


Richard Stallman, um americano de 58 anos, é, provavelmente, o mais acérrimo defensor da ideia de que software que não seja livre (de forma simplificada, que não possa ser partilhado, analisado e modificado) é simplesmente imoral. Tem ideias semelhantes para todo o tipo de criações, da música ao cinema.


No início da década de 1970, tornou-se investigador no laboratório de inteligência artificial do MIT, onde acabou por tornar-se numa espécie de fenómeno de culto dentro da subcultura hacker. É hoje presidente da Fundação para o Software Livre.


Stallman esteve na Universidade do Minho, em Braga, para uma palestra sobre direitos de autor, que durou mais de duas horas num auditório repleto. A excentricidade por que é conhecido sentiu-se em Portugal. Segundo narra quem o recebeu, é o tipo de pessoa que pode pedir a alguém que lhe segure na bagagem, mas que se irrita se de facto a transportam, porque o objectivo era apenas que a segurassem. Acabou o discurso a leiloar uma mascote de peluche pela plateia (conseguiu 65 euros).



No final da palestra, disse ter pouco tempo para as (previamente agendadas) entrevistas. O tempo, afinal, acabou por sobrar: Stallman pôs fim à conversa, já que as questões não iam ao encontro do que defende: “Por favor, não me diga coisas para que eu as discuta”.



Como se sentiu quando o software começou a adoptar um modelo proprietário?

Foi nos anos 70 que o software se tornou proprietário. Em muitos sítios, mas não onde eu estava. Eu estava a trabalhar no laboratório de Inteligência artificial do MIT, que era uma espécie de refúgio do software livre. Por isso, eu vi software proprietário, mas nós não o tínhamos. Aí, comecei a apreciar a liberdade que se consegue a partir do software livre. Mas essa comunidade morreu em 1981/82. E isso foi o que me levou a pensar seriamente no assunto e encará-lo como importante. Porque vi que software proprietário seria o meu futuro, se não fizesse nada.



Nesses anos, sentia-se...

Senti-me enojado.



Ainda se sente assim?

Sim. Ouviu sobre a história das drivers [software essencial ao uso] para a impressora? Pedi a alguém que partilhasse o código-fonte comigo, o que era a prática normal na nossa comunidade, e ele disse que tinha prometido que não o partilhava comigo. De facto, ele tinha traído os colegas. Não era só eu, era todo o laboratório que teria benefícios. Mas ele não nos tinha traído só a nós. Tinha prometido não partilhar o código com ninguém. Por isso, tinha traído o mundo inteiro.



Quando o software proprietário se tornou um modelo negócio estabelecido, pode-se argumentar que isso ajudou a criar mais e melhor software.

Não faz diferença. De que vale ter software tecnicamente melhor, se não respeita a liberdade? A conclusão a que cheguei é que não quero nenhum desse software. Não interessa o quão bom é tecnicamente... Ele muda e eu não quero essas mudanças em mim.



Às vezes abdica-se de liberdades para ter benefícios...

Não abdico dessa liberdade por nenhum benefício. Não vou usar um programa que não seja livre e nem sequer se pode confiar num programa que não seja livre.



Porque não se pode confiar?

Porque eles estão cheios de funcionalidades maliciosas. Fiz uma lista dos programas não livres mais usados. Quase todos os utilizadores de computador estão a usar alguns desses programas, que se sabe que são maliciosos. O que é que isto diz? Diz que quando o programador tem poder sobre os utilizadores, vai abusar desse poder. Não se pode confiar num programa que não seja livre. Mais precisamente, um programa que não inclui a “liberdade 1” [na lista de liberdades de Stallman, que não pode ser estudado e modificado] é potencialmente malicioso. E, nos casos mais comuns, sabe-se que é mesmo malicioso. Por isso, é-se idiota se se aceita software proprietário por causa das funcionalidades . As funcionalidades não podem justificar o modelo de distribuição sem ética.



Defende que é melhor não fazer software nenhum, do que criar software proprietário. Uma vez, numa entrevista, disse que, em vez de criar software proprietário, se poderia esperar até que alguém criasse software que fosse livre e que fizesse o mesmo. Não há o risco de se esperar demasiado para...

Não, não de todo. Eu prefiro esperar 50 anos


.Mas vai-se perder algo no processo de espera.

Não. Estaria a perder coisas pouco importantes e a manter a minha liberdade. Nessa pergunta, está implícita uma definição de valores e é aí que eu discordo. Essa pergunta é na verdade um argumento a dizer que devemos valorizar mais a conveniência do que a liberdade. Se é esse o caso, tem o direito a pensar isso, mas então porque estamos a falar? Qual é o objectivo da nossa conversa? Se esses são os valores, não há conversação possível.


É sempre possível confrontar valores.

Não quero ter uma conversa com alguém que tem valores diferentes dos meus. Porque as conclusões vão ser diferentes e não há nada para ser dito.



Não considera a hipótese de uma confrontação de valores produzir mudança numa das partes?

Não estou interessado.



Não estou a dizer que vai mudar. Pode conseguir mudar a outra parte.

Não creio que esta entrevista vá ajudar a fazer isso. Tenho o pressentimento de que se opõe àquilo que defendo e acho que vou parar isto.



Estou a confrontá-lo com visões...

Por favor, não me diga coisas para que eu as discuta.

Reconstruído fóssil de pinguim que viveu há 25 milhões de anos na Nova Zelândia








Kairuku tinha mais de um metro de altura

28.02.2012 - 09:50 Por Helena Geraldes

Dois pinguins Kairuku numa praia, passando por um golfinho Waipatia que deu à costa
Dois pinguins Kairuku numa praia, passando por um golfinho Waipatia que deu à costa (Chris Gaskin/Universidade de Otago)

 Há 25 milhões de anos vivia na Nova Zelândia um pinguim com mais de um metro de altura, Kairuku, revelam agora os investigadores que reconstruíram o fóssil deste animal pré-histórico, depois de 35 anos de trabalho.

“Kairuku [palavra Maori que significa “mergulhador que regressa com alimento”] era uma ave elegante para os padrões dos pinguins, com um corpo esguio” e patas robustas, e estima-se que tivesse mais de um metro e 20 de altura, disse em comunicado Dan Ksepka, da Universidade estatal da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. O investigador acredita que esta seria a maior das cinco espécies comuns na Nova Zelândia há 25 milhões de anos. Na verdade, seria mais alto do que o pinguim-imperador (Aptenodytes forsteri) actual.

O trabalho de Ksepka e Paul Brinkman, da mesma universidade - que permite saber mais sobre a diversidade dos pinguins na Pré-história e sobre a evolução destes animais -, baseou-se na reconstrução de Kairuku a partir de um esqueleto de um pinguim-rei (Aptenodytes patagonicus), como modelo, e dos ossos de dois exemplares distintos destas aves antigas.

O primeiro fóssil de pinguim Kairuku foi encontrado pelo zoólogo e paleontólogo neozelandês Brian J. Marples na década de 40 do século XX. Mas estes ossos não foram reconhecidos como sendo de uma nova espécie porque não estavam bem preservados e apenas incluiam algumas partes dos ossos das asas. Mais tarde, em 1977, Ewan Fordyce, paleontólogo da Universidade de Otago, acabou por descobrir esqueletos muito completos nas margens do rio Waihao, na região de Canterbury, na ilha Sul da Nova Zelândia. De acordo com Ksepka, "estes fósseis estão entre os fósseis de pinguins mais completos alguma vez encontrados". 

Em 2009 e 2011, Ksepka e Brinkman viajaram até à Nova Zelândia para ajudar na reconstrução do pinguim. Ksepka interessou-se no fóssil porque a forma do corpo é diferente de qualquer pinguim conhecido, vivo ou extinto. Também o interessou a diversidade de espécies de pinguins que viveram onde hoje é a Nova Zelândia durante o Oligocénico, aproximadamente há 25 milhões de anos. “A localização era muito boa para os pinguins, em termos de alimentação e de segurança. A maior parte da Nova Zelândia estava debaixo de água naquela altura, deixando pequenas massas de terra isoladas, que mantinham os pinguins seguros em relação a potenciais predadores e que lhes providenciavam alimento abundante”, disse Ksepka.

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Ksepka espera que a reconstrução de Kairuku – um trabalho publicado na revista Journal of Vertebrade Paleontology - dê mais informações a outros paleontólogos sobre os fósseis encontrados na Nova Zelândia e que ajude a aumentar o conhecimento sobre as espécies de pinguins. “Esta espécie dá-nos uma imagem mais completa destes pinguins gigantes e pode ajudar-nos a determinar qual a sua distribuição geográfica durante o período do Oligocénico”, acrescentou o investigador.

RESISTÊNCIA, AS VOZES DE UMA GERAÇÃO






Edição dia 27 de fevereiro de 2012
“Há canções que acompanham a vida de gerações. Há outras que falam sobre isso”

in Ao Volante do Éter, 1993
Vinte anos passados sobre a concerto de estreia da Resistência no S. Luiz, é altura de celebrar o aparecimento pioneiro supergrupo um caso exemplar e um momento irrepetível da História da música portuguesa.
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A Resistência durou apenas dois anos e dois meses mas esse tempo foi mais que suficiente para fazer desta banda um nome incontornável na história de música português, mesmo que, depois deles e muitas vezes por causa deles, tenham sido inúmeros os supergrupos que apareceram a seguir.

“As vozes de uma geração” é uma edição limitada constituída pelos álbuns “Palavras ao Vento” e “Mano a Mano”a que se juntam os temas “Voz-Amália-De-Nós” do álbum “Variações: As Canções de António”), “Chamaram-Me Cigano” do álbum “Filhos da Madrugada”, “Mano A Mano” e “Finisterra”, ambos retirados do álbum “Ao Vivo no Armazém 22” e um livro que inclui um texto biográfico do jornalista António Pires, dezenas de fotos de Augusto Brázio, muitas delas raras ou inéditas e as letras de todas as canções.
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Na Resistência, e de forma absolutamente inesperada, juntaram-se músicos e cantores de grupos rock que aparentemente pouco ou nada tinham em comum – Tim (Xutos & Pontapés), Miguel Ângelo e Fernando Cunha (Delfins), Pedro Ayres Magalhães (ex-Heróis do Mar, na altura já à frente dos Madredeus) e Olavo Bilac (dos novíssimos Santos & Pecadores) – e ainda músicos vindos de outras áreas como a música popular – Fernando Júdice e José Salgueiro (ambos recém-saídos dos Trovante) – e o jazz, em que foram recrutados o baterista Alexandre Frazão e os guitarristas Fredo Mergner e Rui Luís Pereira (Dudas), que devido ao seu virtuosismo foram os responsáveis pelos memoráveis solos das canções da Resistência. Depois, porque na Resistência se celebrava o legado musical de alguns dos grupos referidos (e ainda de outros da música portuguesa como os Sitiados, os Rádio Macau e José Afonso) mas com uma roupagem visceralmente acústica, quase folk e com inúmeros ganchos lançados a outras músicas, que contrastava com o lado mais duro e rock dos originais. E, principalmente, porque o foco principal das suas versões eram – ainda mais do que a música e as melodias – as palavras que eram cantadas.
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Este programa ideológico da Resistência – dar o protagonismo aos poemas que eram interpretados -- surgia já, aliás, numa versão anterior e embrionária do projeto, quando Pedro Ayres Magalhães convidou as cantoras Filipa Pais, Teresa Salgueiro (Madredeus) e Anabela Duarte (Mler Ife Dada) para um recital na Feira do Livro de Lisboa, em junho de 1990. Nesse concerto, “Resistência – As Primeiras Páginas (Canções Ilustradas)”, surgiu já o inédito “Liberdade” – de Pedro Ayres, posteriormente gravado no primeiro álbum da Resistência – e as palavras das canções interpretadas foram projetadas numa tela, de modo a dar-lhes maior visibilidade. A semente estava lançada.
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Uma semente que daria novos frutos um ano e meio depois, mas já sem vozes femininas no projeto. Convidados para dar um concerto num comício de um partido político no Rossio, em outubro de 1991, os Delfins recusaram-se a participar porque o cachet não era suficiente. Mas dois deles – Fernando Cunha e Miguel Ângelo – aceitaram e levaram mais dois amigos: Tim e Pedro Ayres Magalhães (que, por coincidência, acumulava então o papel de guitarrista e principal compositor dos Madredeus com o de baixista dos Delfins). O grupo apresentou-se sob a designação All-Stars, interpretou temas em formato acústico dos Xutos & Pontapés, Heróis do Mar e Delfins… e logo ali perceberam que havia algo de muito especial a acontecer. Mais uma coincidência: com um crédito de muitas horas de ocupação do Êxito Estúdio (mercê de um acordo entre a União Lisboa, agência dos Delfins e dos Madredeus, e este estúdio de gravação), os quatro juntam-se para registar as bases daquilo que viria a ser o primeiro álbum da Resistência, “Palavras ao Vento”.
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Na gravação do álbum de estreia participaram – para além destes quatro músicos e cantores – Olavo Bilac, os guitarristas Fredo Mergner e Rui Luís Pereira (mais conhecido como Dudas) e, numa fase posterior, uma secção rítmica constituída por dois músicos brasileiros ligados ao jazz, o baterista Alexandre Frazão e o baixista Yuri Daniel, que gravaria as partes de baixo em dois temas do álbum, ficando os outros por conta de Fernando Júdice. “Palavras ao Vento” seria editado em vésperas do Natal de 91, mas antes disso, a 29 e 30 de novembro, a Resistência pré-apresentou o álbum ao vivo no Teatro Municipal de S. Luiz, no âmbito do festival outono em Lisboa, perante uma plateia rendida a esta fórmula nova na música portuguesa: a reinterpretação de temas vindos do cancioneiro rock nacional dos anos 80, mas apresentados de uma forma mais crua e simples, prontos a ser cantados por todos tal como todos eles (incluindo dois habituais não cantores como Fernando Cunha e Pedro Ayres) também os podiam cantar. E com as palavras a serem escutadas por cima de uma “parede de som” feita de cinco guitarras, baixo e bateria.
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“Palavras ao Vento” rebentou na tabela de vendas da AFP em janeiro de 1992 e manteve-se no primeiro lugar do Top nacional durante largas semanas, acabando por atingir a marca de dupla-platina. E ao sucesso de vendas sucedeu-se o sucesso de inúmeros concertos que levaram a Resistência a variadíssimas cidades do país durante esse ano. Concertos cada vez mais esgotados – já com a presença do percussionista José Salgueiro (outro ex-Trovante) – e em que, de dia para dia, se notava de claramente que canções que até aí tinham passado mais ou menos despercebidas eram agora cantadas e compreendidas por todos. “Nasce Selvagem”, dos Delfins, e “Não Sou o Único” tornaram-se hinos populares obrigatórios. Outras canções destes dois grupos e ainda temas dos Heróis do Mar – como “Fado” e “Nunca Mais” – ocupavam então o éter e começavam a criar uma “memória coletiva” que ainda hoje se mantém
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Embalados pela onda de euforia gerada pela edição de “Palavras ao Vento” e dos espetáculos que se seguiram, os músicos da Resistência começam a gravar as maquetas do segundo álbum, “Mano a Mano”, logo na primavera de 1992. E, entre agosto e outubro desse ano, entram no estúdio Angel II, para o registo definitivo. Com um espectro estilístico ainda mais alargado depois de variadíssimos ensaios e concertos, o segundo álbum não se afasta no entanto dos traços inicialmente definidos: as harmonias de guitarras e de vozes são agora mais importantes, os jogos tímbricos são mais arrojados, mas à frente de tudo continuam as palavras. E, desta vez, palavras (e músicas) que vêm também de outros lados que não apenas os grupos originais dos quatro fundadores da Resistência: em “Mano a Mano” entram também temas dos Trovante, Rádio Macau, Sitiados e José Afonso.
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A apresentação oficial do novo álbum foi marcada para 4 de dezembro de 1992, no Armazém 22 – um hangar inóspito pertencente ao Porto de Lisboa e que, no espaço de um dia, foi transformado numa sala de espetáculos para milhares de pessoas. Os mesmos milhares que se ouvem a cantar em coro com a banda no álbum “Ao Vivo no Armazém 22”, gravado nesse dia e editado no ano seguinte. Um álbum que, para além de muitos dos temas gravados pela Resistência nos seus dois discos de estúdio, incluía ainda dois inéditos: os instrumentais “Mano a Mano” (Nota: apesar de ter dado nome ao segundo álbum do grupo, este tema não aparecia no seu alinhamento) e “Finisterra”, respetivamente de Pedro Ayres e Dudas.
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A carreira da Resistência teve alguns momentos que, para eles e para quem a eles assistiu se tornaram absolutamente inesquecíveis. Os concertos de estreia no S.Luiz, sim, o concerto do Armazém 22, idem. Mas também todos os concertos das suas duas digressões nacionais e alguns especiais, como os que os juntou à Lua Extravagante, na Aula Magna, em fevereiro de 1992, e o Concerto Contra o Racismo, em Loures, janeiro de 1993, que contou com a presença do então presidente da República Mário Soares. Ou ainda a sua participação nos álbuns de homenagem a António Variações e José Afonso (ambos editados em 1994). Mas aquele que ficou como o pico maior desta curta história foi o festival Portugal ao Vivo, que decorreu no Estádio de Alvalade, a 26 de junho de 1993. Nele participaram a Resistência, Madredeus, Sétima Legião, Xutos & Pontapés, Sitiados e Delfins e, nesse dia, estavam lá cerca de 50 mil pessoas a celebrar a música portuguesa e muitas das canções que a Resistência também cantava. Foi nesse dia que o conceito e ideário da Resistência (e o seu próprio nome) ganharam todo um novo sentido.



Alinhamento
CD 1 – "Palavras ao Vento"
1:Nasce Selvagem
2:Não Sou O Único
3:Marcha Dos Desalinhados
4:Nunca Mais
5:Só No Mar
6:Liberdade
7:Aquele inverno
8:No Meu Quarto
9:Fado
10:Circo De Feras

Temas extra
11:Voz-Amália-De-Nós (retirado do álbum “Variações: As Canções de António”)
12: Chamaram-Me Cigano (retirado do álbum “Filhos da Madrugada”)

CD 2 – "Mano a Mano"

1:Um Lugar Ao Sol
2:Amanhã É Sempre Longe Demais
3:Esta Cidade
4:Que Amor Não Me Engana
5:Fim
6:A Noite
7:Traz Outro Amigo Também
8:Prisão Em Ti
9:Perigo
10:Timor

Temas extra
11:Mano A Mano (retirado do álbum “Ao Vivo no Armazém 22”)
12:Finisterra (retirado do álbum “Ao Vivo no Armazém 22”)