Discurso de Lula da Silva (excerto)

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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Livro desvenda a atualidade do pensamento de Karl Marx



Em novembro de 2006, o Centro de Estudos Marxistas (Cemarx) da Universidade do Estado da Bahia realizou seu segundo seminário com o tema “Marx: intérprete da modernidade”. O evento reuniu uma série de pesquisadores e estudiosos da obra de Karl Marx e buscou examinar seu pensamento de forma multilateral. Com a contribuição de Mauro Castelo Branco de Moura, Carlos Zacarias F. de Sena Jr, Muniz Ferreira, José Carlos Ruy, Ricardo Moreno, Eurelino Coelho, Sérgio Lessa, Antonio Carlos Mazzeo, Milton B. de Almeida Jr e Milton Coelho,o debate foi reunido e publicado no livro Marx: intérprete da contemporaneidade, publicado pela Quarterto Editorial, de Salvador e que será lançado no próximo dia 30, às 19 horas, na Livraria Cortez, em São Paulo.


Capa do livro a ser lançado em SP

Karl Marx foi eleito o maior filósofo de todos os tempos em uma pesquisa da emissora de rádio e televisão BBC, de Londres, entre os internautas. A emissora britânica anunciou, no dia 16 de julho de 2005, o resultado final da pesquisa realizada por um dos seus sítios, denonimana In our time´s greatest philosopher, para eleger o maior filósofo da humanidade.

Na enquete, o resultado final colocou Marx em primeiro lugar, com 27,93% dos votos. Isto é, quase um de cada três participantes escolheru Marx como o maior filósofo de todos os tempos. Em segundo lugar, com 12,7%, menos da metade dos votos recebidos por Marx, aparece David Hume, o candidato da The Economist. Ludwig Wittgenstein, o candidato do jornal The Independent, aponta em terceiro lugar, com 6,8% e o quarto lugar é ocupado por Nietszche, com 6,49% dos votos. Platão recebeu 5,65% dos votos e ficou em quinto lugar. Depois, pela ordem Kant (candidato do diário britânico The Guardian), São Tomás de Aquino, Sócrates, Aristóteles e, finalmente, Karl Popper.

Marx formulou as teorias que basearam o socialismo moderno. O seu método de análise da sociedade e da natureza influenciou ramos do conhecimento como a história, a sociologia, a economia e a ciência política. Marx deu forma às suas idéias em livros como O manifesto comunista, O capital, A ideologia alemã, A miséria da filosofia, entre outros.

Influenciado pela dialética hegeliana rejeitou seus componentes idealistas e a reelaborou sobre novas bases filosóficas materialistas. Dessa forma, a dialética materialista de Marx se diferenciou tanto dos materialistas metafísicos e/ou mecanicistas do seu tempo, quanto dos dialéticos idealistas da própria escola hegeliana na qual se formou filosoficamente. Seu método investigativo buscava compreender a realidade concreta a partir da totalidade de fatores e a diversidade de relações entre estes, sendo, no entanto, o econômico determinante em última instância.

A apropriação política das idéias de Marx norteou os chamados movimentos revolucionários do século 20, tornando-o o pensador mais influente de todo aquele século. A sua obra segue sendo um instrumento fundamental para a compreensão do mundo contemporâneo. Em função disso a articulação acadêmica Cemarx resolveu realizar o seminário ''Karl Marx: intérprete da contemporaneidade'', visando trazer reflexões e debates acerca da contribuição marxiana e marxista para a produção acadêmica. O produto do seminário é o debate que está publicado no livro.

O seminário teve a presença massiva dos nossos estudantes, funcionários, colegas professores, militantes dos movimentos sociais e partidos da esquerda crítica do capitalismo. O evento contou também com o apoio da universidade, do Departamento de Educação do campus 2 e da participação (na coordenação) do professor Ricardo Moreno, também da Uneb (representanto o Instituto Maurício Grabois), além da presença, também na coordenação, do professor Muniz Ferreira, do programa de pós-graduação em história da UFBA.

As refexões contidas no amplo debate realizado publicadas nos artigos dos conferencistas contribuem para fazer avançar as lutas sociais que estão construindo no processo histórico a emancipação humana.

Serviço:
Lançamento Marx: intérprete da contemporaneidade
30 de abril, às 19 horas
Livraria Cortez
Rua Bartira, 317 – Perdizes – São Paulo
(ao lado da PUC/SP)


Da redação
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in Vermelho -
28 DE ABRIL DE 2009 - 17h33
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Acesso à literatura: Unesco lança Biblioteca Digital Mundial






A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) apresentou, nesta terça-feira (21), a Biblioteca Digital Mundial, que possibilitará consultas gratuitas pela internet aos acervos de grandes bibliotecas e instituições culturais de diversos países, entre eles o Brasil. Milhares de livros, imagens, mapas, filmes e gravações de bibliotecas do mundo inteiro foram digitalizados e traduzidos em diversas línguas para a abertura do site da Biblioteca Digital da Unesco (www.wdl.org).


A biblioteca virtual terá sistemas de navegação e busca de documentos em sete idiomas, inclusive o português, e também oferece obras em várias outras línguas. Entre as raridades do site está o primeiro mapa que cita a América, de 1507, realizado pelo monge alemão Martin Waldseemueller e que se encontra na biblioteca do Congresso americano.


A Biblioteca Nacional do Brasil é uma das instituições que contribuíram com auxílio técnico e fornecimento de conteúdo ao novo site da Unesco, com a cessão das primeiras fotografias da América Latina.


O maior manuscrito medieval do mundo, conhecido como a Bíblia do Diabo, do século 18 e que pertence à Biblioteca Real de Estocolmo, na Suécia, também está presente no site. Até agora o documento mais antigo da Biblioteca Digital da Unesco é uma pintura de 8 mil anos, com imagens de antílopes ensanguentados, que está na África do Sul.


Fonte: O Dia

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in Vermelho - 21 DE ABRIL DE 2009 - 18h19

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(www.wdl.org)

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O papel das religiões na opressão da mulher (1)


por Regina Abrahão*


Este texto não tem como finalidade a crítica pura e simples sobre as diversas religiões ou sobre quem as professa, muito menos o questionamento da fé. Em determinados momentos da história, religiosos progressistas cumpriram e cumprem papéis importantes na emancipação de povos oprimidos, e a liberdade religiosa, garantida constitucionalmente é um direito inquestionável. Mas também é importante ressaltar que inúmeras atrocidades foram e são cometidas em nome de Deus.


Deus, à imagem e semelhançado homem?


Para Mary Daly, a complexidade das representações do divino das religiões monoteístas (judaísmo,cristianismo e islamismo) tem sua origem no poder unilateral androcêntrico (centrado no masculino). Portanto, a mediação com o sagrado, o sacerdócio, passa a ser exercido exclusivamente pelo homem. Se as mulheres não são suficientemente capazes para a mediação com o divino, está legitimada a opressão e a desigualdade nas relações de gênero. No livro "Beyond Deus, o Pai", a autora diz: "Uma vez declaradas “não aptas” para o sagrado, ficam numa posição de sofrerem sob o sagrado. Esta prática está coerente com a compreensão do sagrado como masculino. Deus é projetado como homem nestas religiões, que, por sua vez, legitima a centralidade no macho na sociedade: o sacerdote é homem, o rei é homem, os profetas são homens, os salvadores são homens... “Enquanto Deus é homem, os homens serão deuses”".


Uma das principais características de qualquer doutrina religiosa é exercer forte influência nos padrões de comportamento moral e social na população que pratica a sua fé. Desde que os primeiros hominídeos associaram fenômenos da natureza a “entidades” sobrenaturais para poder entendê-los, criaram também normas de conduta que imaginavam poder agradar a estas entidades. Quanto mais assimétricas se tornam as relações de poder entre os membros de uma sociedade, mais esta sociedade usará do artifício religioso para impor diferenças entre seus membros. E notadamente, sobre a mulher. Desta forma, quanto mais “evoluídas” as relações sociais, mais as religiões buscam regras e leis visando enquadrar a mulher nos papéis convenientes para a sociedade. E nada melhor para justificar este convencimento do que a vontade divina. A concepção de Deus muda segundo a concepção da humanidade a respeito de si própria. O que a observação nos demonstra é que inicialmentea ideia de Deus era feminina, já que associada à concepção e geração. Isto até a humanidade entender que a geração de bebês era conseqüência do ato sexual. Conforme mudam as percepções do homem sobre si mesmo, mudam também suas ideias sobre Deus. Ou o homem muda sua concepção sobre Deus, que ele concebe à sua própria imagem e semelhança.


Como a maioria dos brasileiros criados e educados à sombra de valores morais do cristianismo, as mulheres têm sua primeira relação com o divino em uma figura masculina. Um único Deus homem, severo, vingativo, que tudo vê e que condena a maioria das coisas interessantes, entre elas sexo, diversão, prazer e iniciativas. E para entender o papel da mulher para as diversas, correntes religiosas que o Brasil conheceu e conhece em sua história, é preciso entender cada momento político vivido e as necessidades da sociedade deste momento.


Duas correntes religiosas influenciaram majoritariamente a formação do povo brasileiro: a católico-cristã e a africana, uma vez que a população indígena foi parte dizimada, parte aculturada através da catequese. A miscigenação étnica e cultural da população provocou o fenômeno que conhecemos por sincretismo religioso. Exemplo maior deste caldo é a umbanda, doutrina genuinamente brasileira, com pouco mais de um século de existência, que mistura elementos esotéricos, católicos, espíritas kardecistas, das pajelanças indígenas, e do yorubá. Mais fiel a suas raízes, as chamadas religiões afro-brasileiras conservaram não só seus elementos originais mas também os valores morais dos grupos que aqui aportaram escravizados para servir de força de trabalho durante o Brasil colônia. Hoje, segundo o Babalaô Clóvis do Aganjú, de Nação Oió, “O Brasil é o país com o maior número de católicos praticantes das religiões afro, atualmente freqüentando as sessões de descarrego das igrejas evangélicas.” Eis aí a explicação para os milhões de católicos auto-declarados nos censos e igrejas católicas vazias em seus cultos dominicais.


(continua)




*Regina Abrahão, é do Rio Grande do Sul, funcionária pública estadual, dirigente de políticas sociais do Semapi, da CTB e do PCdoB de Porto Alegre, coordenadora do núcleo Cebrapaz, estuda Ciências Sociais na UFRG.



* Opiniões aqui expressas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
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in Vermelho -
28 DE ABRIL DE 2009 - 18h35
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Lobo Antunes é obsessivo e usa temas recorrentes

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Duarte Roriz Segundo a crítica, António Lobo Antunes usa temas recorrentes
Segundo a crítica, António Lobo Antunes usa temas recorrentes
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Literatura: Segundo artigo publicado em ‘The New Yorker ‘

Lobo Antunes é “obsessivo”

"Obra obsessivamente local, preocupada com os males herdados da história portuguesa e as debilidades da sua cultura."

* Dina Gusmão com Lusa

É desta forma que a revista norte-americana ‘The New Yorker’ se refere aos livros de António Lobo Antunes, que compara a José Saramago com benefício para este último.


Num artigo publicado ontem na edição on-line, o jornalista Peter Conrad faz uma análise à lupa dos dois escritores e acorda a eterna rivalidade na corrida ao Nobel da Literatura que acabou nas mãos de Saramago, em 1998.


"Tal como partidos políticos ou equipas desportivas rivais, têm adeptos barulhentos e os que gritam por Lobo Antunes afirmam que ganhou o Nobel o homem errado. O próprio Lobo Antunes, aparentemente, concorda: quando o ‘The Times’ lhe telefonou a pedir um comentário sobre a vitória de Saramago, ele resmungou que o telefone estava avariado e, abruptamente, desligou-o", lê-se.


O jornalista chama ainda a atenção para a recorrência de temas como a Guerra Colonial e a psiquiatria em Lobo Antunes, por contraste com a "universalidade" de Saramago. "Parecem dilacerantemente confessionais para se lhes chamar ficção", escreve, referindo-se a Lobo Antunes e exemplifica com ‘Conhecimento do Inferno’.

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in Correio da Manhã - 28 Abril 2009 - 00h30

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» COMENTÁRIOS no CM on line
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28 Abril 2009 - 21h46 | Pensativo
Têm adeptos barulhentos? Isso já é invenção à USA...
28 Abril 2009 - 17h00 | Cláudia Gentil
E?Qual o problema da recorrência de temas.A bem da verdade o jornal deveria apontar o anti-catolicism recorrent de Saram
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Ambiente: Ave do emblema da reserva natural está em extinção Berlengas sem airos

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Paulo Cunha, Lusa Há cada vez menos airos (à direita) nas ilhas Berlengas
Há cada vez menos airos (à direita) nas ilhas Berlengas

Ambiente: Ave do emblema da reserva natural está em extinção

Berlengas sem airos

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Edgar Nascimento com Lusa
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O airo, ave semelhante a um pequeno pinguim que escolhia as ilhas Berlengas para nidificar e onde aparecia às centenas, está em extinção acelerada, tendo este ano sido avistados apenas quatro exemplares.



As causas apontadas para o desaparecimento do airo das Berlengas são, segundo especialistas, a pressão exercida pelos milhares de gaivotas, as redes de emalhar, fatais para estas aves que passam muito tempo no mar, e também o aquecimento do planeta.


Dados publicados em 1952 identificaram seis mil casais de airos nas Berlengas. "Não é possível determinar uma causa para o desaparecimento do airo. O que sabemos é que nos últimos 20 anos aumentou o número de gaivotas, o porto de pesca de Peniche foi ampliado [mais comida para as gaivotas proporciona a sua reprodução], deu-se um aquecimento na atmosfera e a presença do airo diminuiu", disse Henrique Queiroga, do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro e coordenador da candidatura das Berlengas a Reserva da Biosfera da UNESCO. Na ilha, os quatro airos escolhem para ninho uma escarpa abrigada da insolação e são vistos rodeados por largas dezenas de gaivotas a que se juntam alguns corvos marinhos.


A candidatura a Reserva da Biosfera será entregue nos próximos meses. Compatibilizar o turismo com a preservação do ecossistema das Berlengas é o objectivo de vários projectos, que estão em curso e que pretendem tornar a ilha auto-sustentável na produção de energia, no tratamento dos efluentes e do lixo.

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in Correio da Manhã - 12 Abril 2009 - 00h30
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segunda-feira, 27 de abril de 2009

Não me peçam razões - Luís Cila / José Saramago


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Enviado por Guilhermina Abreu
26/Abr 14:51
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1969 - Luis Cília - "Não me peçam razões" Canção inserida no seu disco "La poesie Portugaise de nos jours et de toujours " vol 2 de 1969. Poema de José Saramago.
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Poema em

Não me peçam razões - José Saramago

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domingo, 26 de abril de 2009

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro (Caldas da Rainha)

* Francisco Gomes (texto)
* Carlos Barroso (fotos)


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in Correio da Manhã - 2009.01.19
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Gravura - Zé Povinho por Rafael Bordalo Pinheiro
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Visado pela Censura


Clicar na imagem para ver
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in Visão - 2009.04.23
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quinta-feira, 23 de abril de 2009

terça-feira, 21 de abril de 2009

Soeiro Pereira Gomes - Militante da Luta e da Escrita


Soeiro Pereira Gomes nasceu há cem anos
Militante da luta e da escrita


Assinalou-se anteontem o centenário do nascimento de Soeiro Pereira Gomes, militante e dirigente comunista e talentoso escritor, pioneiro do neo-realismo em Portugal, duas facetas inseparáveis da sua personalidade. A sua vida e a sua obra foram demasiado curtas, interrompidas pela morte prematura, aos 40 anos, provocada pela doença e pela falta de assistência médica, devido à sua condição de funcionário clandestino do Partido. O seu percurso de vida e a obra que deixou escrita testemunham um firme compromisso com os explorados e oprimidos e com a sua luta e ajudam-nos, ainda hoje, a enfrentar a dureza dos combates que diariamente travamos pela democracia e pelo socialismo.


Cem anos do nascimento de personalidades de reconhecido talento ou importância dão, normalmente, o mote para homenagens e evocações. O que está já a acontecer com o escritor Soeiro Pereira Gomes, cujo centenário se assinalou anteontem, dia 14 de Abril.

E são bem merecidas estas homenagens e evocações àquele que é considerado o pioneiro do neo-realismo em Portugal, com a publicação, em 1941, do seu primeiro e mais famoso romance Esteiros, e um dos mais talentosos e significativos autores desta corrente.

Mas lembrar Soeiro Pereira Gomes, escritor, não diz tudo. Talvez nem diga o essencial. Não diz, por exemplo, que Soeiro Pereira Gomes era militante comunista e que a sensibilidade que o levou a repudiar as injustiças e a envolver-se de corpo e alma na luta antifascista foi a mesma que revelava nos seus artigos, contos e romances. Nem diz que foi do seu envolvimento na luta clandestina que nasceram os Contos Vermelhos e do seu trabalho na fábrica a Engrenagem.

Tão pouco refere que a doença que o vitimou com apenas 40 anos poderia, quem sabe, ter sido debelada caso tivesse sido devidamente acompanhado por um especialista – mas ser visto por um médico era tarefa difícil, porque o fascismo o perseguia ferozmente por ser funcionário clandestino do Partido Comunista Português.

Soeiro Pereira Gomes foi um escritor comunista. Mas foi mais do que isso. Foi, sobretudo, um dedicado militante e dirigente comunista que se tornou num notável escritor.

Os primeiros anos

A história de Joaquim Soeiro Pereira Gomes inicia-se 14 de Abril de 1909 na aldeia de Gestaçô, no concelho nortenho de Baião. Filho de uma família de pequenos agricultores, faz a instrução primária em Espinho, tal como os seus irmãos, rumando depois a Coimbra, para frequentar a Escola Agrícola.

Aos 21 anos, termina o curso e, já formado como regente agrícola, aceita uma proposta da Companhia da Catumbela e vai trabalhar para Angola. Por lá fica um ano, regressando a Portugal mais cedo do que o esperado devido ao clima rigoroso e às duras condições de trabalho.

Em 1931, já casado, Soeiro Pereira Gomes entra para os escritórios da fábrica Cimento Tejo, em Alhandra, onde fixa residência. Estava então longe de suspeitar como esta decisão mudaria por completo a sua vida… Com apenas 22 anos, tinha já um apreciável percurso de vida – a infância passada no Douro, a adolescência em Coimbra, o primeiro emprego em Angola. Em Alhandra, onde convive diariamente com a exploração e com as injustiças, por um lado, e com a forte contestação operária, por outro, solidifica a sua consciência social e política e cimenta as suas convicções.

Estava-se na década de 30 do século passado e o fascismo parecia ser imparável, em Portugal e por toda a Europa. Em Itália, o poder de Mussolini parecia não parar de aumentar e, em 1933, Hitler assume o cargo de chanceler da Alemanha. Em Espanha, os fascistas punham em perigo a jovem República. Por cá, era criado o partido único fascista, a União Nacional, a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), a Legião e a Mocidade portuguesas. Os sindicatos eram encerrados e «substituídos» por Sindicatos Nacionais e, em 1936, abria o Campo de Concentração do Tarrafal.

Os trabalhadores tentam organizar-se e reagir à escalada fascista. Um pouco por todo o País, estalam greves e manifestações. Em Janeiro de 1934, na Marinha Grande, os operários, com o PCP à frente, chegam a tomar o poder na vila, mas apenas por algumas horas. Dois anos e meio depois, os marinheiros do Dão, Bartolomeu Dias e Afonso de Albuquerque revoltam-se. Num e noutro caso, a repressão foi violenta.

A decisão de uma vida e Esteiros

Observador atento da vida na fábrica, onde os operários trabalhavam sob nuvens poluentes do pó do cimento a troco de quase nada, e na vila de Alhandra, Soeiro Pereira Gomes torna-se militante comunista na segunda metade dos anos 30, ingressando de imediato na célula do Partido na fábrica Cimento Tejo. Pouco depois, integra o Comité Local de Alhandra.

No início dos anos 40, empenha-se a fundo na reorganização do Partido e passa a fazer parte do Comité Regional do Ribatejo. Com ele nesse organismo estão António Dias Lourenço e Carlos Pato, irmão mais velho de outro histórico dirigente comunista, Octávio Pato.

Em articulação com a luta clandestina do Partido, Soeiro Pereira Gomes desenvolve uma intensa acção legal, participando abnegadamente na actividade cultural impulsionada pelo PCP em todo o Baixo Ribatejo. Ao mesmo tempo, colabora com vários jornais e revistas, designadamente com O Diabo.

Em Novembro de 1941, publica o seu primeiro romance, Esteiros, uma das mais belas obras da literatura portuguesa, pioneiro no movimento neo-realista. A capa e as ilustrações são de Álvaro Cunhal, que conhecera na actividade partidária clandestina.

Por esta altura, na sua casa de Alhandra, juntam-se com frequência vários intelectuais antifascistas: Alexandre Cabral, Sidónio Muralha e Alves Redol. Mas a sua actividade não se ficava pelos círculos restritos e Soeiro Pereira Gomes empenhou-se na criação de bibliotecas populares nas sociedades recreativas da região, na organização de cursos de ginástica para os operários da Cimento Tejo e na construção de uma piscina para o povo de Alhandra – a Charca, onde se formou, mais tarde, o grande nadador português Baptista Pereira, o «Gineto» de Esteiros.

Paralelamente, organizava, juntamente com Alves Redol e António Dias Lourenço, os passeios de fragata no Tejo, que mais não eram do que formas de encontro de intelectuais progressistas e de contactos políticos fora do alcance dos olhares e dos ouvidos dos bufos do fascismo…

As greves de Maio de 1944 e a clandestinidade

A sua dedicação e empenho nas actividades partidárias levam a que lhe sejam confiadas crescentes responsabilidades. Nas grandes greves de 8 e 9 de Maio de 1944, que envolveram milhares de operários e camponeses da região de Lisboa e Baixo Ribatejo, Soeiro Pereira Gomes assume um destacado papal, integrando o Comité Regional da Greve no Baixo Ribatejo.

No Avante! da primeira quinzena de Maio, informa-se que «Dezenas de milhares de operários e camponeses lutam pelo pão». Em dezenas de localidades os operários entram em greve e os camponeses páram o trabalho. Em Vila Franca e Sacavém realizam-se poderosas manifestações com milhares de trabalhadores. O Avante! realça que «os dias 8 e 9 de Maio ficarão gravados na memória dos trabalhadores dos arredores de Lisboa como a data da unidade de combate de operários e camponeses. Esta unidade ganha em 8 e 9 de Maio, ficará como um grande exemplo para lutas futuras contra o fascismo».

A PIDE, que tivera conhecimento prévio do movimento grevista, apercebe-se do papel desempenhado pelo autor de Esteiros e monta-lhe o cerco com o intuito de o capturar. Dois dias depois da greve, na tarde do dia 11 de Maio, mergulha na clandestinidade e torna-se revolucionário profissional como funcionário clandestino do Partido.

Nesta sua nova vida, é-lhe confiada a responsabilidade da Direcção Regional do Alto Ribatejo. O trabalho que desenvolve é notável e o Partido cresce, em número de organizações e em aumento de actividade e influência. Entre 1945 e 1946, cria ou acompanha os comités locais de Santarém, Vale Figueira, Alpiarça, Rio Maior, São João da Ribeira, além de núcleos mais pequenos.

Dirigente comunista e a morte prematura

Em Julho de 1946, Soeiro Pereira Gomes está entre os participantes no IV Congresso do Partido, realizado na Lousã. E apercebe-se da enorme expansão do Partido, para a qual também muito contribuiu: em menos de três anos, desde o III Congresso, o número de militantes aumentou seis vezes e o número de organizações locais cinco. Em muitas empresas foram criadas células partidárias e a tiragem do Avante! quadruplicou.

O IV Congresso aponta o levantamento da nação portuguesa contra a ditadura fascista como a via para o derrubamento do fascismo. É reafirmada a política de unidade nacional antifascista e definidos os princípios orgânicos do centralismo democrático. Soeiro Pereira Gomes é eleito para o Comité Central.

Nesse mesmo ano, escreve Praça de Jorna e é destacado para Lisboa. Aí torna-se membro da Comissão Executiva do Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF), clandestino, ao mesmo tempo que acompanha a actividade dos comunistas no legal Movimento de Unidade Democrática (MUD).

Enquanto elemento de ligação entre a direcção do Partido e o MUNAF, participa nas primeiras acções da campanha eleitoral do General Norton de Matos. A doença que entretanto o afligira agrava-se mas Soeiro Pereira Gomes desempenha as tarefas partidárias até ao limite das suas forças.

Gravemente doente, implacavelmente perseguido pela PIDE e impedido de se tratar, acaba por falecer a 5 de Dezembro de 1949. Tinha 40 anos e uma promissora vida de dirigente partidário e escritor à sua frente.

A caminho de Espinho, onde seria sepultado por vontade da família, o carro funerário é desviado para Alhandra por pressão popular. Milhares de pessoas enchem as ruas despedindo-se de Soeiro Pereira Gomes e acusando o fascismo pela sua morte. A mensagem lida na ocasião, fala por todos: «Do povo de Alhandra, ao nosso querido e inesquecível amigo Joaquim Soeiro Pereira Gomes, lhe rendemos neste momento, em nome de todo o povo honrado e trabalhador de Alhandra, a última e derradeira homenagem, aquele que soube, perto ou longe de nós, contribuir para a liberdade do povo de Portugal. Nós te juramos, querido e saudoso camarada, que sejam quais forem os obstáculos que os responsáveis pela tua morte nos levantem, levantaremos sempre bem alto, mesmo enfrentando a morte, a bandeira da democracia, pela qual sempre honradamente soubeste lutar e morrer. Nós te juramos, saudoso amigo, pelo amor dos nossos filhos.»

O Avante! noticiou o que outros tentaram calar

A morte de Soeiro Pereira Gomes foi divulgada pelo Avante! da segunda quinzena de Dezembro de 1949, através da seguinte notícia:

«No passado dia 5 de Dezembro faleceu o membro do Comité Central do Partido Comunista e conhecido escritor revolucionário, Joaquim Soeiro Pereira Gomes, que nas fileiras do Partido usou os pseudónimos Serrano, Silva e Vaz.

Soeiro Pereira Gomes além de escritor de vanguarda e autor dos romances “Esteiros” e “Companheiros”, o primeiro contando já 3 edições, e o segundo ainda inédito, foi um militante destacado do Partido desde a reorganização de 1942, e ingressou nos seus quadros ilegais em 1944, após as greves de 8 e 9 de Maio, no Ribatejo, em que teve uma participação activa como quadro do Partido e como empregado da C.ª de Cimento Tejo.

O nosso querido camarada Soeiro Pereira Gomes morreu vitimado por uma doença grave, que não pôde ser tratada a tempo, devido à vida clandestina e à perseguição feroz de que era alvo por parte da PIDE, que tinha mandado para as autoridades de todas as localidades do Ribatejo o seu retrato e aí o procurava activamente. Sentindo bem os sofrimentos e a exploração de que é vítima a classe camponesa ribatejana, Pereira Gomes realizou junto do campesinato ribatejano um intenso trabalho de organização e mobilização, que o destacaram como quadro do Partido e o tornaram querido das massas camponesas. Pereira Gomes foi também um defensor extremo da unidade antifascista, e um dos obreiros das grandes jornadas de luta do nosso povo quando do movimento da candidatura do Sr. General Norton de Matos.

Com a morte prematura do nosso querido camarada VAZ, o Partido perdeu um dos seus quadros de direcção central, a classe operária um combatente de vanguarda, o povo português um seu defensor activo e abnegado, e a intelectualidade progressiva portuguesa, um dos seus valores mais representativos.

O nosso querido camarada Pereira Gomes foi um companheiro de luta que bem cedo tombou no caminho, sem ter conseguido ver realizada a sua grande ambição: o raiar sobre a terra portuguesa da alvorada da Paz, da Liberdade e da Democracia, por que tanto lutou. Outros seguirão os seus passos e prosseguirão na luta até à vitória final, prestando desta forma a mais justa e mais sentida homenagem ao seu grande coração e ao seu grande amor ao nosso povo.
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in Avante 2009.04.16
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Soeiro Pereira Gomes - centenário do nascimento

Centenário do nascimento de Soeiro Pereira Gomes - Exposição e Artigo do «Avante!» PDF Imprimir EMail
Quinta, 16 Abril 2009
expo-spg.jpgSoeiro Pereira Gomes: intelectual, escritor, resistente antifascista, dirigente do Partido Comunista Português.

No centenário do seu nascimento, o PCP elaborou uma exposição que retrata a sua vida e a sua obra, que testemunham um profundo compromisso com a luta pela libertação dos explorados e dos oprimidos, pela democracia e pelo socialismo.

Exposição 100 anos nascimento Soeiro Pereira Gomes, em PDF

Soeiro Pereira Gomes nasceu há cem anos


Militante da luta e da escrita - Artigo do Jornal «Avante!», 16 de Abril de 2009

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sábado, 18 de abril de 2009

Depende de nós - vídeo musical


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Música de Ivan Lins - A Turma do Balão Mágico. Uma espécie de hino do Curso de Perdão e Reconciliação
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Enviado por Moranguinho Pereira (hi5)
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