Discurso de Lula da Silva (excerto)

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sexta-feira, 17 de abril de 2009

Postais Ilustrados . História e Colecionismo


Vitória (ES), edição de fim de semana


‘O domínio da cultura geral é uma
característica marcante do colecionador’

Conhecer a história é o grande segredo






José Rabelo


- Os cartões-postais ‘usados’ possuem maior valor agregado se comparado aos ‘virgens’?

- Com certeza. Nós chamamos de cartões circulados e não circulados. Os circulados, de cara, já agregam o valor do selo. E depois a história. Por exemplo, passou um cartão na minha mão de 1900, do Rio de Janeiro – que infelizmente não consegui adquirir –, que o sujeito manda para o dono de um bar com o seguinte texto: ‘Por favor, me envie 10 cervejas claras e duas escuras, para o endereço de sempre, logo após violento esporte bretão’. Isso é uma coisa histórica. Revela o jeito de falar do povo.


Vietcongs
- Acho que uma das coisas mais interessantes dos cartões circulados são essas histórias que eles trazem. Devem aparecer informações curiosas, não?

- Sim. Por exemplo, há um cartão endereçado por Adolf Hitler que no final ele deixa uma mensagem: ‘Para você, com carinho, Adolf!’. Para mim foi inesperado. Não imaginava que Hitler tivesse esse lado mais sentimental. Esse cartão foi comercializado recentemente nos Estados Unidos por 1,5 mil dólares.

- Como se desenvolveu o mercado publicitário de cartões?

- Os cartões publicitários começaram a se tornar colecionáveis na década de 90. Embora, eles existam desde o início. Já eram usadom para divulgar produtos como cigarros, sabonetes, águas-de-colônia etc. No começo, como não havia ainda a fotografia, eles utilizavam imagens de obras de arte para confeccionar os cartões. Por esse motivo esses cartões têm um bom valor de mercado.

- O colecionar Antônio Miranda, bastante conhecido no meio, disse que o verdadeiro colecionador não pensa em ganhar dinheiro com sua coleção. O senhor concorda?

- O verdadeiro colecionador não faz nada pensando e ganhar dinheiro depois. Eu por exemplo não vendo meus cartões. Só se eu tiver dois, até por uma questão solidária com um outro colecionador.

- Os governantes brasileiros vêem a coleção de postais como arte? Há algum incentivo?

- Infelizmente não. Eu tentei contato com os prefeitos de Vitória, Vila Velha e até com o governador. Na verdade, eu queria doar minha coleção para fazer uma espécie de museu do postal aqui no Espírito Santo. Mas não há interesse. Eu queria abrir o acervo ao público para que as pessoas entendessem melhor o significado cultural dos cartões. Gostaria de promover concursos de fotografia para produzir postais. Meu interesse com isso não é de ganhar dinheiro. Eu costumo vender postais de publicidade para colecionadores de outros países para levantar capital para investir na minha coleção. O que ganho com a coleção invisto na coleção.


Panzer alemão emboscado e destruído pelos partizans da Resistance no dia da libertação de Paris (2ª Grande Guerra)
- Na Europa e nos Estados Unidos os colecionadores de cartões são muito valorizados e respeitados pela importante contribuição que eles agregam à cultura. Estamos bem distantes dessa realidade, não é?

- Aqui é muito complicado. No Sul do País, onde a colonização é alemã, os colecionadores são muito mais valorizados. Em Salvador, com o apoio do ministro Gilberto Gil, foi criado o primeiro e único museu postal do Brasil.

- Qual o motivo que leva o brasileiro a ignorar essas manifestações culturais?

- Primeiro, acho que é falta de conhecimento mesmo. E segundo, por falta de cultura. Se as pessoas soubessem o significado que pode conter num pequeno pedaço de papel, elas teriam uma visão diferente. Veja que interessante. De maneira geral, as pessoas sempre colocaram os Estados Unidos como ‘mocinhos’ na Guerra do Vietnã. Entretanto, há o outro lado da história que é revelado através dos cartões enviados pelos vietcongs que quebra a versão vendida pela indústria hollywoodiana que coloca os vietcongs como verdadeiros monstros. Pelos textos dos postais você percebe que eles são jovens comuns, como outros quaisquer, cheios de sonhos, que só estavam defendendo o país deles.

- Os colecionadores dizem que a satisfação de encontrar uma peça rara é indescritível. Como é isso para o senhor?

- Quando a gente pega, sem querer, por exemplo, uma peça que tem a assinatura do Marechal Deodoro ou do presidente da República, ou ainda uma mensagem de um Carlos Drumond de Andrade, você praticamente perde a voz. Não sei como descrever. É aquela história que eu disse de estar entrando no túmulo de Tutankamon. É uma satisfação muito grande. Portanto, nunca confie em um colecionador. Ele é capaz de fazer qualquer negócio para conseguir um cartão que ele está perseguindo (risos).


Villa Moscoso (Vitória)
- Com a internet a circulação de cartões aumentou ou diminuiu?

- Com relação às cartões de propaganda a produção tem aumentado brutalmente a cada ano. Para você ter uma idéia, em 1989, havia três grandes empresas no Brasil especializadas na produção de postais de propaganda. Hoje temos bem mais de dez. São empresas que editam os chamados free cards. Há trabalhos que são verdadeiras obras de arte.

- Para os colecionadores a Internet também tem sido uma parceira interessante. O site postcrossing, criado em 2006 por um estudante português, congrega mais de 21 mil membros de 137 países e movimenta cerca de meio milhão de postais ao ano. Qual é a representatividade do Brasil no “mundo dos postais”?

- Eu faço parte da postcrossing que realmente é um fenômeno. Na relação da postcrossing o Brasil é o nono país que mais envia postais. Os maiores colecionadores estão na Bélgica, Alemanha, Estados Unidos, Singapura e Itália.

- A produção de postais brasileira é valorizada internacionalmente?

- É muito valorizada. Os cartões que eu tenho mandado ultimamente que têm feito bastante sucesso são os cartões da Bahia e da Amazonas. Os colecionadores internacionais estão mais interessados em outras cidades. Rio de Janeiro e São Paulo eles já conhecem demais.



- Como é o mercado de cartões aqui no Espírito Santo. Outro dia eu estava em uma banca grande de jornais na Praia do Canto (Vitória) e não havia um único postal. Por que esse desinteresse?

- As editoras nacionais que estão no mercado de cartões de turismo, desses que compramos em bancas, são na verdade comerciantes sem compromisso. Pararam em 1960. Eles fizeram uma série de cartões e só reimprimem. Então você pega um cartão do Teatro Carlos Gomes e vai encontrar um Maverick na frente. Inclusive, recentemente em Vila Velha, apareceu um empresário que começou a editar algumas coisas novas, mas já quebrou. O pessoal daqui não valorizou e acabou não comprando dele.

- No Espírito Santo prevalece o turismo comercial. Será que não é por isso que há esse desinteresse?

- Pelo contrário. Se vende muito cartão aqui no Estado. No Convento da Penha, por exemplo, se vende cartão a rodo. Na Praia da Costa ou Itaparica há muita procura por cartões turísticos. Há mercado, mas é preciso incrementar e estimular. Eu ouço os turistas reclamando que só encontram cartões velhos aqui no Espírito Santo.
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in
www.seculodiario.com.br/.../10_11_02.asp
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