Discurso de Lula da Silva (excerto)

___diegophc

terça-feira, 31 de julho de 2012

Scrapbooks from Hell - The Auschwitz albuns



Enviado por  em 14/01/2012
http://forum.rodoh.com/  Natioal Geographic


This video exposes the USHMM as a prejudiced institution staffed with bitter, hate-filled individuals.



The entire documentary is nothing more than a calculated attempt to defame the good name and memory of Karl Hoecker an Adjutant at Auschwitz.



Using pseudo-science and gibberish our fearless team of Holocaust "professionals" forget all their scholarly training and attempt to hammer a square peg into a round hole. They suggest Hoecker was pictured on the ramp selecting Jews for death just1 day after arriving at Auschwitz.



Our scholars show themselves so desperate for their pet thesis to be correct that they defy common sense when claiming a sergeant with his back to the camera (how convenient) is actually Hoecker in disguise.



These buffoons could have saved themselves a lot of time and energy by studying the Frankfurt Auschwitz trial which cleared Hoecker of ever being on the ramp making selections.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Historiadores repensam papel chave dos soviéticos na derrota do Japão


QUINTA-FEIRA, 21 DE OUTUBRO DE 2010

Um novo olhar sobre a rendição do Japão

Segue um artigo traduzido do inglês por mim, falando sobre a relevância da União Soviética em forçar a rendição do Japão militarista na Segunda Guerra Mundial.

Historiadores repensam papel chave dos soviéticos na derrota do Japão 

   
Stálin, Truman e Churchill em Potsdam

Enquanto os Estados Unidos lançavam suas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki em Agosto de 1945, 1.6 milhões de soviéticos lançaram-se em um ataque surpresa contra o exército japonês que ocupava a Ásia oriental. Em alguns dias, o exército de um milhão de homens do Imperador Hiroshito havia desmoronado. 

Fora uma virada importantíssima no campo de batalha do Pacífico da Segunda Guerra Mundial, todavia ela seria largamente eclipsada nos livros de história pelas bombas lançadas na mesma semana em Hiroshima e Nagasaki, 65 anos atrás. Porém recentemente alguns historiadores argumentaram que a ação soviética foi tão efetiva – ou possivelmente mais efetiva – que as bombas-A em terminar a guerra. 

Agora uma nova história escrita por um professor da Universidade da Califórina busca reforçar este ponto de vista, argumentando que o medo da invasão soviética persuadiu os japoneses a optarem pela rendição aos americanos, os quais eles acreditavam que os tratariam mais generosamente que os soviéticos. 

Forças japonesas no noroeste da Ásia combateram os russos pela primeira vez em 1939, quando o exército japonês tentou invadir a Mongólia. A derrota desastrosa na batalha de Khalkin Gol induziu Tóquio a assinar um pacto de neutralidade que manteve a URSS fora da guerra do Pacífico. 

Tóquio mudou seu foco para o confronto com tropas americanas, britânicas e holandesas, o que levou ao ataque de Pearl Harbor em 7 de Dezembro de 1941. 

Porém após a rendição da Alemanha em 8 de Maio de 1945, e ao sofrer uma série de derrotas nas Filipinas, em Okinawa e em Iwo Jima, o Japão voltou-se à Moscou para mediar um fim para a guerra do Pacífico. 

No entanto, o líder soviético Josif Stálin já havia prometido secretamente à Washington e Londres que ele atacaria o Japão após três meses da derrota alemã. Portanto ele ignorou os pedidos de Tóquio, mobilizando mais de um milhão de tropas nas fronteiras da Manchúria. 

A Operação Tempestade de Agosto foi iniciada em 9 de Agosto de 1945, enquanto a bomba de Nagasaki era lançada. Ela tirou a vida de 84.000 soldados japoneses e 12.000 soviéticos em duas semanas de combate. Os soviéticos chegaram a apenas 50km da ilha principal do norte do Japão, Hokkaido. 

“A entrada dos soviéticos na guerra foi muito mais importante que as bombas atômicas em induzir o Japão à rendição, porque acabou com qualquer esperança do Japão em terminar a guerra através da mediação de Moscou,” disse Tsuyoshi Hasegawa, que em sua obra recentemente publicada “Racing the Enemy”, examina a conclusão da guerra do Pacífico baseado em arquivos soviéticos recentemente liberados, além dos documentos japoneses e americanos. 

“O imperador e a facção da paz (dentro do governo) aceleraram o fim da guerra esperando que os americanos lidariam com o Japão mais generosamente que os soviéticos,” disse Hasegawa, um acadêmico americano que fala russo, em uma entrevista. 

Apesar do número de mortos pelas bombas atômicas – 140.000 em Hiroshima e 80.000 em Nagasaki, o Comando Militar Imperial acreditava que poderia segurar uma invasão Aliada se mantivesse o controle sobre a Manchúria e a Coréia, locais que proviam os japoneses com recursos para guerra, de acordo com Hasegawa e Terry Charman, um historiador da Segunda Guerra Mundial no Museu Imperial da Guerra, em Londres. 

“O ataque soviético mudou tudo isso,” disse Charman. “A liderança em Tóquio percebeu que não havia mais esperanças, e, neste sentido, a Tempestade de Agosto teve um efeito muito maior na decisão do Japão em se render do que os ataques nucleares.” 

Nos EUA, os ataques nucleares ainda são vistos como uma decisão de última instância contra um inimigo que parecia determinado a lutar até a morte. O presidente Harry S. Truman e os líderes militares dos EUA acreditavam que uma invasão ao Japão custaria a vida de centenas de milhares de soldados americanos. 

O historiador americano Richard B. Frank argumentou que por mais terrível que os ataques nucleares sejam, eles salvaram a vida de milhares de soldados americanos e de milhões de combatentes e civis japoneses que teriam morrido se o conflito continuasse até 1946. 

“Nas famosas palavras do Secretário de Guerra Henry Stimson, (as bombas) foram a ‘menos aterradora escolha’ de uma sinistra gama de opções encaradas pelos líderes americanos,” disse ele em uma entrevista. “Alternativas às bombas atômicas não apresentavam garantia em quando elas terminariam a guerra e carregavam um preço muito maior em mortes e sofrimento humano.” 

Frank, que está escrevendo uma história de três volumes acerca da Guerra do Pacífico, disse que continua a discordar de Hasegawa na importância relativa da intervenção soviética e das bombas-A em forçar a rendição japonesa. 

Mas ele disse que concorda que a responsabilidade pelo o que ocorreu é do governo japonês e de Hirohito, o qual decidira em Junho recrutar quase a população inteira, homens e principalmente mulheres, para lutar até a morte. 

“Já que nenhuma provisão fora tomada para colocar estas pessoas em uniformes, tropas invasoras Aliadas não seriam capazes de distinguir entre combatentes e não-combatentes, tornando efetivamente cada vila japonesa em alvo militar,” disse Frank. 

O impacto do avanço relâmpago dos soviéticos é percebido nas palavras do primeiro ministro japonês, Kantaro Suzuki, incitando seu gabinete à rendição. 

Ele é citado no livro de Hasegawa dizendo, “Se perdermos (a chance) hoje, a União Soviética tomará não só a Manchúria, a Coréia e Sakhalin, mas também Hokkaido. Nós precisamos terminar a guerra enquanto ainda podemos lidar com os Estados Unidos.” 

O dia V-J, o dia em que o Japão cessou de lutar, foi em 15 de Agosto (14 de Agosto nos EUA), e a rendição formal do Japão ocorreu em 2 de Setembro. 

Dominic Lieven, professor de governo russo na Escola de Economia de Londres, disse que o sentimento anti-soviético no Ocidente tende a minimizar as conquistas militares soviéticas. 

Também, “Poucos Anglo-americanos viram com seus próprios olhos a ofensiva soviética no Extremo Oriente, e os arquivos soviéticos não foram abertos para historiadores ocidentais subsequëntemente.”, ele disse. 

Mais surpreendentemente, até na Rússia a campanha foi largamente ignorada. Apesar da escala da vitória soviética ser sem precedentes. 12.000 mortos contra o Japão dificilmente podem ser comparados com a luta de vida ou morte contra a Alemanha Nazista, a qual 27 milhões de soviéticos morreram. 

“A importância da operação foi enorme,” disse o aposentado General Makhmut Gareyev, presidente da Academia Russa de Ciências Militares, que tomou parte da campanha em 1945. “Ao entrar na guerra contra o Japão militarista... A União Soviética precipitou o fim da Segunda Guerra Mundial.”

domingo, 29 de julho de 2012

Hololcausto - A visual story



Enviado por  em 06/03/2008
A visual history of the Holocaust from the rise of Hitler to mass murder, hitting most of the major points of this significant period in history. Teachers using this video in schools may want to consider also showing a second video I have entitled "Wish You Were Here Pink Floyd Remembering the Holocaust at Auschwitz." This video is constructed from pictures I took at Auschwitz. The end of the video serves as a reminder of several episodes of genocide that have occured since the Holocuast.

sábado, 28 de julho de 2012

José Pacheco Pereira - O VALOR ACADÉMICO DA EXPERIÊNCIA POLÍTICA SEGUNDO A UNIVERSIDADE LUSÓFONA


16.7.12

O VALOR ACADÉMICO DA EXPERIÊNCIA POLÍTICA SEGUNDO A UNIVERSIDADE LUSÓFONA

(Versão integral, contendo partes cortadas, por razões de espaço, no jornal. A azul os acrescentos.)

 
Traduzir a "experiência da vida" em qualificações académicas é uma tarefa difícil, mas com sentido. Sou defensor que tal seja uma prática institucional no ensino universitário, onde a ideia de "saber" tem que ir muito para além dos graus académicos formais. No entanto, como infelizmente se passa quase sempre com ideias com mérito, existe uma capacidade para as transformar em mais um pretexto para a troca de cumplicidades, que degrada o ensino universitário e estende o campo da corrupção, do clientelismo e do patrocinato à atribuição de "equivalências" académicas como favores políticos. Não é ilegal, parece, mas é inaceitável.

Os documentos apresentados aos jornalistas pela Lusófona foram cuidadosamente organizados pela universidade, colocados fora do contexto, após um hiato de vários dias em que a sua consulta não foi permitida, não se sabe porquê. Quando vieram a público, uma série de fotocópias estendidas numa mesa, separadas por tema, os jornalistas tiveram meia hora para as consultar sem haver possibilidade de as reproduzir, controlados por funcionários da universidade.

O Parecer que justifica as "equivalências" é talvez o mais significativo documento que se conhece sobre o "caso". Este é um documento sobre o qual gostaria de saber muito mais, em particular sobre a sua tramitação em 2006 dentro da universidade: em que actas se encontra, como foi enviado aos outros membros do Conselho Científico, como foi discutido, está anexado a quê, apenso a que documentos, ao livro de actas, ou está isolado numa pasta? Ora também aqui, como aconteceu no processo Sócrates, quando se tentava esclarecer uma matéria, um documento, uma omissão, apareciam logo novas questões, novos documentos, novas omissões e, acima de tudo, imensas contradições. O aspecto original dos documentos foi uma das coisas que mais embaraçou Sócrates.

O Parecer de equivalências é por si só um documento muito interessante, não só porque é feito à medida do aluno muito especial, mas também pelo que revela de uma certa maneira de pensar a política. O seu conteúdo é danoso para a Universidade Lusófona e compreende-se a preocupação dos seus alunos e professores de se porem a milhas deste processo. Mas é também um documento sobre o Portugal dos nossos dias.

Começa porque os saberes que o documento refere são todos vivenciais e não será difícil a todos os deputados da Assembleia, todos os dirigentes da JSD e JS, os funcionários dos grupos parlamentares, os presidentes de secções, distritais, federações, organismos regionais, seja lá o que forem, ou seja todo o pessoal com experiência de cargos partidários, de Monção a Vila Real de Santo António, que não tenha um grau académico, obter uma licenciatura na Universidade Lusófona e usar o "dr." antes do nome. É que os argumentos para dar o título a Relvas aplicam-se a todos eles e a muitos deles com mais mérito e razão.

Por exemplo, se Jerónimo de Sousa quisesse ser "doutor da mula ruça", como coloridamente se referiu ao título de Relvas, teria o curso de imediato. Não tem ele experiência do "exercício de cargos públicos, o exercício de funções políticas e o desempenho de funções em domínios empresariais, ou de intervenção social e cultural"? Militante e funcionário do PCP, dirigente sindical, autarca (tudo "exercício de cargos públicos, o exercício de funções políticas"), organizador tanto de greves como de festas como a do Avante! ("desempenho de funções em domínios empresariais, ou de intervenção social e cultural"), não encaixa nos critérios da Lusófona? Não tem ele "experiência (...) que se estende ao longo de mais de duas décadas de actividades essencialmente focadas no domínio da política nacional e local"? Até mais do que duas décadas, o que devia dar um doutoramento. Não tem ele "desde muito jovem uma participação activa nos mais relevantes palcos do debate e da discussão política nacional, nomeadamente enquanto deputado à Assembleia da República"? Não tem ele por essa experiência "a aquisição de competências relevantes na área de (...) Ciência Política e Relações Internacionais, nomeadamente aquelas que dizem respeito à compreensão dos quadros institucionais da actuação política e partidária em Portugal, (...) ao funcionamento dos sistemas eleitorais, (...) métodos e técnicas de análise política e (...) consequências sociais do fenómeno político"? Se tem! Até se podem acrescentar várias "universidades da vida" muito complicadas: fez a Guerra Colonial, trabalhou numa fábrica, estudou ao mesmo tempo que trabalhava, militou num partido "duro", em que os riscos sociais de exclusão são muito mais pesados do que no PS e no PSD depois de 1975.

Mas Jerónimo de Sousa nunca pediria equivalências académicas pela sua vida, até porque entenderia que isso a diminuiria no seu valor de esforço, ou naquilo a que chamaria "de luta". E não tenho dúvidas de que Jerónimo de Sousa, que é em grande parte um autodidacta, gostaria de ter tido mais qualificações académicas. Como muita gente que não pode estudar para além do ensino básico e profissional (também ele "frequentou" o antigo Curso Industrial, que interrompeu para ir trabalhar), com a sua condição social, valoriza o estudo, o conhecimento, e a escolaridade.

Foi para responder a esta valorização da escola, para muitos que dela foram afastados pela "vida", que, numa fase inicial, as Novas Oportunidades se dirigiam, com grande mérito e resultados importantes ao nível do 9.º ano. Depois, Sócrates estragou-as ao transformá-las num programa de bandeira, obcecado por estatísticas marteladas e produzindo diplomas administrativos. Mas só quem não viu como gente que nunca mais tinha imaginado voltar à escola o fez, mesmo quando tinham "apenas" que fazer a história da sua própria vida, em cadernos cuidados e ingenuamente decorados, com uma escrita esforçada, pode desvalorizar essa experiência. O diploma do 9.º ano não servia para quase nada, mas voltar à escola deu brevemente a muitos portugueses um sentido de vida e dignidade que pensavam perdido para sempre.

Mas este não é o mundo da Universidade Lusófona nem de Relvas, que desprezam os seus pares por não serem espertos como eles são. Hoje dir-se-ia "empreendedores". Por isso, a Universidade Lusófona atribuiria estas "equivalências" com mais rapidez e sensação de "normalidade" - o que é o maior absurdo neste caso é esta "normalidade" - a um jovem lobo em ascensão numa juventude partidária e num partido do poder, do que ao velho comunista, sábio, mas bem longe de ter as relações certas que a universidade quer cultivar com a elite no poder político em Portugal. Porque o favor que foi feito a Relvas, que é isso que se chama ao que aconteceu, como o favor que no passado foi feito a Sócrates, são trade offs com o poder político, não os únicos, nem certamente os mais importantes, mas reveladores do pântano em que se move o poder em Portugal.

Há muita coisa pouco rigorosa no Parecer e feita à medida do fato que se pretendia vestir a Relvas. Por exemplo esta caracterização da militância nas juventudes partidárias e do "peso relevante que as mesmas adquiriram no contexto da transição para a democracia e a integração de Portugal na Comunidade Europeia está reflectido na informação curricular apresentada". Lamento, mas não percebo.

O papel de relevo das juventudes partidárias, essencialmente o acesso crescente ao poder nos partidos "adultos", a nível nacional e local, está longe de ter a ver com o "contexto da transição para a democracia", quando muito referido a 1974-6, em que as juventudes eram ainda muito incipientes. O seu poder começa a ser relevante só na década de oitenta, sendo que o currículo partidário de Relvas só começa a ter relevo no final dessa década, ou seja muito depois do "contexto da transição para a democracia". O mesmo se pode dizer da "integração de Portugal na Comunidade Europeia", onde também o papel das juventudes partidárias é negligenciável, ou bastante mais tardio.

Na verdade, "o peso relevante", como diz o Parecer, é em grande parte resultado da progressiva sobreposição da carreira nas juventudes com a ascensão no PS e no PSD da primeira geração de políticos profissionais cuja carreira era essencialmente interior. E é também nessa fase que o problema da ligação dos "jotas" com a profissão ou a falta dela, ou com as qualificações académicas, ou a ausência dessas qualificações, começou a ser questionado publicamente como perverso. Ora a carreira de Relvas é completamente típica desse momento de profissionalização dos "jotas", que adquiriam um estatuto político e de poder, dentro dos partidos e na governação, a que não correspondiam outras competências que não o controlo das nomeações partidárias. É o que significava o anátema dos "jobs for the boys", ou das carreiras ascendentes baseadas apenas no jogo de poder interno. Foi isso mesmo, uma carreira feita apenas de lugares políticos ou de nomeação política, que a Lusófona premiou em Relvas, à revelia da crítica social crescente a esse modo de fazer política. 
 

Aliás, o Parecer padece de uma espécie de abstracção cronológica bizarra, considerando valorativamente aquilo que chama “património de experiência profissional acumulado (…) cobre períodos relevantes da história de Portugal contemporâneo.” Estamos a falar grosso modo dos anos do “cavaquismo”, do “guterrismo”, do interregno de Barroso-Santana Lopes (em que Relvas chegou ao governo com um cargo típico de controlo partidário, o poder local), e depois do “socratismo”, ao todo cerca de 20 anos, de 1985 a 2006 (data atribuída ao Parecer). Esse período é caracterizado como sendo aquele em que “a materialização de princípios teóricos relevantes no campo das ideias políticas (…) muito contribuíram (…) para a evolução da sociedade.” O que é que isto quer dizer? De novo, lamento, mas não percebo, como ainda percebo menos porque razão a “experiência acumulada no domínio político” por Relvas é valorizada por ser “temporalmente simultânea“ com este período histórico. Porque é que os anos de 1985-2006 são mais especialmente valorizados do que os de 1974-1985? Não percebo o argumento, a não ser porque são os anos politicamente activos de Relvas, ou seja o Parecer é tailor-made.

 Há um embrião de resposta no Parecer, mas é pior a emenda do que o soneto. Lá se diz que este “envolvimento” “promove "a aquisição de competências transversais de compreensão do papel de diferentes classes sociais e elites na modelação da sociedade”. Não contesto que se possa aprender muito sobre as fraquezas da sociedade com um currículo como o de Relvas, mas duvido que essa aprendizagem constitua um “saber” com valor académico, sabendo-se como se sabe, o que faz um dirigente político com uma biografia como a de Relvas. O mesmo se diga da “aquisição de competências em outra área essencial para o domínio científico (…) a do marketing político". Que a Universidade valorize aquilo que chama a “competência” de Relvas no marketing politico, também se compreende se se traduzir marketing político pela propaganda e pela experiência de se ser fonte próxima de muitos jornais e da promiscuidade com muitos jornalistas, numa troca de favores e informações que é uma das pragas actuais da política e do jornalismo. Relvas aqui é doutor, mas a Lusófona chumba. 
Todo o Parecer é assim, vago e genérico, abstracto e pouco rigoroso, justificando tudo e nada. Podia ser resumido a duas ou três linhas: Relvas é um dos dirigentes em ascensão no PSD, é mação da nossa "obediência", detém um poder considerável em todos os mecanismos-chave da partidocracia, nomeações, facilitações, intermediação, influência, etc., o PSD é um partido do poder portanto é bom para a Lusófona, que é uma universidade privada, "estar de bem com o poder político", ter boas relações com este tipo de pessoas. Ponto. Bastava e era muito mais verdadeiro.

(Versão do Público de 14 de Julho de 2012.)

sábado, 21 de julho de 2012

DA ESTRATÉGIA E DA TÁTICA



            “Estado, o mais frio dos monstros” (F. Nietzsche)
Estratégia é o ato fundamental pelo o qual se objetiva um determinado fim. Tática é todo meio empregado no percurso para auxiliar na materialização do ato para o fim determinado.
         Extraídos da guerra, estratégia e tática são conceitos válidos para tudo o que diga respeito à questão do poder.
         Quem diz poder, diz desigualdade porque somente há um poder em relação a algo ou alguém. Então já podemos antever que quem controla o poder oprime quem está fora dele, daí o uso da estratégia e da tática em termos defensivos, para os que detêm o poder; e ofensivos, para quem luta contra a opressão deste poder.
latuffvoto
Neste trabalho procuraremos nos limitar ao uso desses dois conceitos nas esferas do poder na política de Estado (poder notório propriamente dito), e também nas lutas específicas dos movimentos sociais porsalário, terra, educação, etc.
Política - (parte I)       
            “Que as classes dominantes tremam diante de uma revolução comunista. Os proletários não têm nada a perder nela, além de seus grilhões”. Marx e Engels – Manifesto do Partido Comunista.
         Quando se fala em estratégia e tática há de se levar em conta que ambos os conceitos caminham juntos em sua aplicabilidade e que a tática sempre se subordina a estratégia, do contrário, a rebeldia da primeira em relação à segunda, poderá fazer dela um ente cooptado pela estratégia inimiga. Por exemplo: participa-se da disputa eleitoral com o argumento de ser uma ação meramente tática, no entanto tal ação converte-se numa estratégia, a saber, a legitimidade do próprio Estado, aperfeiçoando suas leis nas esferas administrativas: prefeituras, estado regionais e Estado - nação.
         Ao abordarmos a questão política deparamo-nos com a desigualdade social, prova disso é o discurso comum que todo candidato, patronal ou não, faz durante as eleições. Nesse momento o grosso de todo discurso vai no sentido de melhorar as condições de vida do pobre. Ninguém ali vai dizer que, “se eleito”, irá beneficiar ainda mais aos ricos. Assim, temos discursos para pobres e benfeitorias, reais, tanto antes como depois das eleições, para os ricaços.
         Quem discorda do modelo de produção social cuja apropriação é individual, propõe que, além da produção social, também a apropriação seja social. Assim, todo aquele que produz deverá ter direito a uma parte da produção social. Quem assim pensa e se organiza para materializar esse tipo de proposta são os denominados socialistas ou comunistas, porque desejam os bens socializados ou comuns a todos.
         Ocorre que nem todos estão de acordo com essa idéia, especialmente banqueiros, empresários e latifundiários, uma gente que faz do Estado seu cavalo adestrado, manso para quem mantém suas rédeas firmes em mãos, selvagem e disposto a escoicear quem quer que atrapalhe o passeio de todo endinheirado que se regozija sobre seu dorso galopante.
         Para superar esse estado de indigência social onde todos são iguais perante a lei, seja ele banqueiro ou mendigo, abastados e famintos, com terras e sem terras, produtores e parasitas, os trabalhadores puseram-se em luta e com isso arrastaram para seu lado um punhado de intelectuais oriundos da classe burguesa (o que faria desses intelectuais persona non grata para sua antiga classe).
         Combinando ação e reflexão, esses revolucionários criariam um projeto de vida distinto do capitalismo com base na igualdade de fato para que cada um pudesse desenvolver sua potencialidade individual, com redução da jornada de trabalho, maior tempo para o lazer e cultura, direito a moradia, direito a educação gratuita para todos e com a sentença de que todo aquele que estivesse apto ao trabalho deveria exercê-lo, do contrário: “quem não trabalha não come”!
         Claro que todo “papai”, e todo “filhinho”, ficou escandalizado; todo generalíssimo bradou: a pátria corre perigo! E não faltou líder religioso para acusar de confraria do diabo a origem daquela idéia pecaminosa. Onde já se viu um escolhido do Senhor ter que trabalhar, quando se tem um rebanho enorme de ovelhas em condições de exercer tal labor.
         Pois bem, revolucionários de comum acordo quanto a suprimir a sociedade de classes e mandar para as calendas o tal Estado opressor, divergiram, no entanto, quanto ao método a ser adotado. Uns entenderam que primeiro se deveria liquidar de vez o Estado, outros viram que o correto era demolir o velho Estado com seu exército permanente e seu corpo burocrático e criar um novo (um semi-Estado), de caráter transitório, com funcionários removíveis em qualquer hora do dia e da noite e extinguir o exército permanente substituindo-o pelo povo em armas, até a sociedade sem classes. Os primeiros foram denominados anarquistas, os segundos, comunistas.
         Sem entrar nesse debate, já que o presente texto não tem esse objetivo, citaremos apenas uma polêmica entre Marx, líder dos comunistas e Proudhon, grande expressão do movimento anarquista quanto à questão da redução da jornada de trabalho.
         Proudhon era contra o movimento operário fazer uma campanha pela redução da jornada de trabalho, porque dessa forma se estaria reconhecendo o poder político e jurídico do Estado. Para Marx devia-se lutar pela redução da jornada de trabalho, pois com o tempo livre conquistado o trabalhador poderia lutar mais organizadamente contra a exploração do sistema como um todo.
         Com esse exemplo de caráter econômico (reduzir a energia do trabalhador consumida pela máquina) podemos fazer uma analogia para uma compreensão mais ampla no que se refere à questão política do Estado e o que os trabalhadores devem fazer com ele: demoli-lo de uma vez ou ir minando-o através do contraponto do “povo em armas”(1) até ele deixar de ter importância na sociedade, quando essa já não tiver classes sociais para uma oprimir a outra.
Política - (parte II)
“O voto, arma do cidadão,
Dispara contra ele... ”      Carlos Drummond de Andrade
latuffvoto
Revolução Russa (1917)
Com a divergência entre anarquistas e comunistas, cada um seguiria seu caminho no interior do próprio movimento dos trabalhadores, mas, com o advento da Revolução Russa liderada pelos comunistas, essa corrente revolucionária passaria a ter maior presença no seio dos trabalhadores do que a anarquista que somente voltaria ter um maior relevo com a guerra civil espanhola (Revolução Espanhola) em meados da década de trinta do século XX.
         Ocorre que, já antes da Revolução Russa, segmentos comunistas foram esquecendo a consigna de “povo em armas”, tantas vezes sustentada por Marx na luta pela destruição do Estado burguês e começaram a disputar sua proposta política no interior das esferas desse próprio Estado.       Contribuiu para isso a cisão no interior da 1ª Internacional, onde os comunistas, com Karl Marx à frente, expulsou aos anarquistas. E, quando da 2ª Internacional, já sem a crítica permanente ao Estado pelos anarquistas, um corte estatista entre seus correligionários revelou-se fato.
        
 Mais duas questões pelo menos, uma prática e outra teórica, ajudariam nessa compreensão de revolucionários adentrarem as esferas do poder.
          A questão prática deu-se pela disputa (algo inédito até então), e vitória em duas prefeituras em países europeus, por “governos socialistas”, o que faria aumentar o número de filiados nos partidos operários, onde o caso alemão teria o maior relevo. Outra questão, a teórica, deu-se por Engels, já com Marx morto, encantado com o crescimento dos partidos operários, enquanto resultado dessas duas eleições, por um lado. E, por outro, ao refletir sobre o urbanismo empreendido pela burguesia francesa, após a insurreição operária de 1871, alargando suas ruas e avenidas para a tropa de seu exército permanente passar, Engels concluiu por sentenciar que o tempo das barricadas já havia passado.
         Naquela época, já gozando de grande autoridade no interior do movimento comunista, o velho Engels parece não ter percebido a abertura que suas palavras viriam a dar ao reformismo, pois, a nosso ver, extrair de uma tática militar (a inoperância das barricadas), conclusões para uma tática política (a virtuosidade das eleições) era, na prática, encaminhar o proletariado para sua impotência, já que ele passaria a atuar no terreno inimigo, a esfera estatal.
         Essa atuação constante de revolucionários nas esferas da ordem, o parlamento, daria seus amargos frutos para os trabalhadores já nas duas primeiras décadas do século XX, com o partido operário alemão, o maior da Europa, tendo uma grande bancada de deputados para “representar” os trabalhadores no parlamento.
          Com a chegada da Primeira Guerra Mundial (1914) e a sede aguçada por novos mercados pelo capitalismo em sua nova fase, a imperialista, a imensa maioria desses deputados votou a favor dos créditos de guerra colocado em pauta nos variados parlamentos dos países europeus. Com isso traíram aos trabalhadores, pois na guerra são os filhos dos pobres que vão lutar uns contra os outros, como vemos hoje na invasão que os EUA faz no Afeganistão, onde morrem a população afegã, soldados talibãs e soldados pobres, estadunidenses e aliados.
         Pois bem, esse namoro com o Estado burguês é que fez de antigos revolucionários meros servos do capital, pois adentraram a casa do inimigo e lá aprenderam a conviver com eles.
         Aqui alguém poderia indagar se não há uma contradição com o exemplo dado na polêmica de Marx contra Proudhon, já que, assim como Marx reconheceu a necessidade de se lutar pela redução da jornada de trabalho, o que implicou em reconhecer o patronato e seu Estado, da mesma forma, entrar nas esferas do Estado poderia, também, significar melhorias para os trabalhadores, lutando por direitos que os beneficiassem.
         Sem querer jogar areia nos olhos românticos dos muito bem intencionados, diremos que não!
         Toda luta por melhorias dentro do capitalismo, caso ela não esteja ligada a supressão do próprio sistema, acaba por reforçá-lo, pois em última instância, desacredita os esforços dos lutadores, porque mantém o sistema e com ele o mecanismo de exploração. Por outro lado, lutar nas fábricas e ruas pela redução da jornada de trabalho faz sentido na medida em que a máquina não é fruto dos esforços do patrão, mas apenas lhe pertence por ser expressão material do seqüestro que este fez de cérebro, músculos, nervos, sangue e suor do conjunto dos trabalhadores. Já o Estado não é obra dos produtores sociais, mas de quem usurpa a produção alheia, a classe dominante, criando leis e prisões para os que questionam suas mordomias.
         Portanto, enquanto tática, luta-se pela redução da jornada de trabalho para, em primeiro lugar, lutar melhor contra o patrão e seu Estado, depois para por a máquina a serviço de quem a opera e não como hoje, o humano a serviço da máquina. No caso do Estado (coisa alheia ao produtor), estrategicamente, deve-se quebrar toda sua estrutura com seus dois tentáculos principais, o exército permanente e a burocracia.
         O exemplo da disputa eleitoral expressa uma das partes constitutivas do aparelho do Estado, a dos funcionários burocratas, porque, no interior da burocracia é possível sim conviver situacionistas e opositores, desde que não rompam com a própria estrutura estatal montada. Um contra, outro a favor: a ordem mantida!
         Agora, com a experiência da degeneração da Revolução Russa, outra versão se configuraria, ou melhor, um Estado de burocracia militar e civil viria a se configurar, assegurado por um exército permanente, separado do povo e contra ele, o Exército Vermelho. Aqui não cabe entrar na questão do por que da criação do Exército Vermelho pelos Bolcheviques, mas apenas deixar claro que essa não era a intenção inicial de seus líderes, mas sim, fruto do cerco ao primeiro país que se assumiu socialista, o que fez com que todas as potências do mundo capitalista, com seu exército profissional, voltassem toda sua ferocidade contra a jovem república dos Sovietes que contava em um primeiro momento, com milícias populares despreparadas para um confronto de tal proporção. Com certeza o verso de Vladimir Maiakóvski, poeta russo que viveu aquele período mágico e trágico da humanidade, ilustra melhor o que queremos dizer: “Moscou é uma ilha cercada por tanques por todos os lados”.
Agora, se traçarmos um paralelo generalizado, guardando as devidas proporções quanto aos objetivos, com o que há de comum entre aqueles que se degeneram ao disputar eleições burguesas, a liderança que esteve à frente da Revolução Russa no pós-guerra civil e abraçaram a causa do socialismo em um só país, e os governos burgueses em geral, teremos o fato de que todos eles temeram e temem a sentença apocalíptica de Karl Marx na luta contra o endeusamento do Estado: POVO EM ARMAS!
...somente o povo deverá decidir seu caminho e que somente o conjunto de trabalhadores organizados poderá evitar tal degeneração, assim, mais uma vez, o povo em armas, mesmo errando, será melhor do que o acerto de um indivíduo ou grupo agindo em nome da classe...
Política - (parte III)
“A família voltará de onde ela veio: a lata do lixo da História”         - Mao Tsé-Tung, citado por David Cooper in: A Morte da Família.
         A compreensão de povo em armas não é nova, mas no movimento moderno dos trabalhadores ela teve sua primeira grande aparição na Comuna de Paris (1871), que foi a primeira vez que os trabalhadores, sob o jugo capitalista, ensaiaram a tomada do poder, mantendo-o por mais de dois meses sob seu controle.
         Essa curta experiência, afogada em sangue trabalhador pela mão assassina patronal e seu Estado repressor, serviria para dar uma lição de caráter universal para os de baixo, os produtores da riqueza social, e a Revolução Russa com seus Sovietes (Conselhos) de povo em armas e depois sua posterior degeneração, com seu exército permanente, só o confirmariam mais tarde.
Com essas experiências ficaria claro que, além de não bastar somente tomar o poder, era necessário quebrá-lo e mais, não permitir que decisões de interesse do conjunto dos trabalhadores fossem deliberadas por um grupo (por maior compromisso revolucionário que as pessoas que conformassem tal grupo pudessem ter).
          Essa exigência se faz necessária porque, entre outras questões, passada a efervescência dos primeiros anos da Revolução, toda liderança, como qualquer pessoa comum, também buscará ter sua vida privada, particular, nisso ela poderá casar, ter filhos e quando uma nova geração se apresentar, distante já em anos dos tempos difíceis da guerra civil, haverá toda uma tendência para que as famílias ligadas à velha liderança revolucionária venham substituí-los no comando do partido e do Estado, o que não significará que tais descendentes venham a ser revolucionários de fato.
         Isso poderá ser coisa menor se entendermos a burocracia expressa na figura de um só homem, por exemplo, o caso norte-coreano, onde a liderança do regime passou de pai para filho ou ainda, de menor alcance, como no caso cubano, onde, em cinqüenta anos de governo revolucionário, não se encontrou em toda ilha uma só pessoa para assumir o comando em lugar de Fidel que não fosse alguém de sua própria família.
         Em verdade o problema das famílias (2) e a intricada relação com o poder através da burocracia nas revoluções se revelariam mais complexo do que se esperava. Em sua Crítica ao Programa de Gotha, Marx previra a redução da burocracia com o advento da Revolução, não obstante ela asfixiou todas as experiências do século XX, exatamente porque a burocracia não é o poder de um só homem, ao contrário, o poder saído de cada revolução sob a bandeira comunista alimentou-se dela e em vez de enfraquecer o Estado para o fortalecimento do povo em armas, fez o oposto, Stalin que o diga: Estado forte, povo oprimido!(3)
          Pouco adiantará queremos ir mais adiante nessa crítica da burocracia a partir das famílias no comando de cada Revolução surgida, mas não podemos perder de vista essa crítica já exigida pelo Manifesto Comunista.     Para o momento, o fundamental, é ter a clareza de que somente o povo deverá decidir seu caminho e que somente o conjunto de trabalhadores organizados poderá evitar tal degeneração, assim, mais uma vez, o povo em armas, mesmo errando, será melhor do que o acerto de um indivíduo ou grupo agindo em nome da classe.
         De tudo que falamos nesse bloco, dividido em três partes, a noção de tática e estratégia permeou toda argumentação, porque procuramos traçar um pequeno histórico da luta dos trabalhadores onde apontamos a problemática do poder e o caminho que leva a ele. Sobre a concepção de “povo em armas”, não somos utopistas, assim como a grande indústria revelou o poder de transformação que a humanidade é capaz de fazer, do mesmo jeito é sob o capitalismo que se fará a escola da insurreição proletária, mas sem se descolar dela, a classe produtora. Afortunadamente, como nos mostra Rosa Luxemburgo, o Estado burguês recruta ano a ano os filhos do proletariado, ensina-os a manusear os fuzis e os explosivos. Há de se começar a trabalhar a consciência da juventude proletária para que, novamente, soando como o estrondar de canhão, os velhos versos da união dos trabalhadores de todo o mundo volte a ser entoado. Nesse dia verás que nossas balas são para os nossos generais!
Sindical-  
“Mas se tu cuspisses no prato, morena, donde comeu feijão,
Eu fechava teu sindicato, morena, Se eu fosse teu patrão” - Chico Buarque  
       
         De maneira geral todo sindicato dos trabalhadores é para defender os direitos conquistados dos mesmos e lutar pela redução da jornada de trabalho, bem como lutar por aumento salarial.
         Estamos longe do tempo em que sindicalistas expressavam os anseios de sua categoria. Hoje, salvo raras exceções, cada dia mais escassas, sindicalismo virou meio de vida. Porém, em nada adiantará falar contra o sindicato e ficar em casa pra ver a banda passar.
         Lutar para que as decisões da categoria sejam sempre aprovadas em assembléias, previamente e amplamente, convocadas. Lutar contra as contribuições obrigatórias que o Estado impõe a todas as categorias é sinal de sanidade política no meio sindical. Lutar para que as categorias mantenham calendários de lutas comuns em nível nacional (incluso com a perspectiva de lutas conjuntas na América Latina e no mundo) é fundamental, pois serão de iniciativas desse porte que se poderá pensar em preparar uma greve geral com seriedade. Lutar para unir trabalhador formal e informal. Prestar solidariedade e assistência de todos os níveis as ocupações de terras no campo e na cidade. Impulsionar escolas de formação política junto aos trabalhadores para que lhes sirvam de instrumento de sua luta e para que a memória da classe não seja apagada ou, quando muito, tornarem-se teses insossas acadêmicas de pouco valor para os maiores interessados, os trabalhadores.
          Será estratégico o sindicalista que não se ver enquanto “coisa”, mas, sim, como parte de sua classe laboriosa e que por isso mesmo tem que se emancipar do jugo do capital. Sua luta maior será contra os capitalistas como um todo, daí ele ter que buscar uma formação política e uma confrontação de classe que aponte para além das reivindicações meramente econômicas.          O contrário disso poderá lhe dar carros, apartamentos e outras benesses mais, menos a dignidade humana. Nessa condição “coisificada” ele poderá viver bem no interior da sociedade burguesa, como se fosse parte dela, assim como todo piolho de baleia não poderá conceber outra vida fora de tal habitat.
Terra-
         “Não é cova grande, é cova medida
            É a terra que querias ver dividida” - João Cabral de Melo Neto

         A reforma agrária é tarefa inglória e necessária em nosso tempo, vejamos por que.
         Nos tempos modernos ela surgiu como necessidade para fornecer matérias-prima às fábricas dos burgueses e produtos agrícolas às cidades nascentes, com isso liquidou-se as terras dos parasitas da nobreza e do clero.
Leon Troskys
Passada essa fase e à medida que a burguesia estendeu seu poderio no que passaria a ser chamada periferia do capitalismo (América Latina, Ásia e África), com suas classes dominantes nativas e submissas, a reforma agrária deixaria de ser uma exigência burguesa. Não é para menos. Reforma agrária implica em aumento de produção, com incentivo do governo em sementes selecionadas e produtos químicos, em abrir estradas e escoar a produção, em modernizar e aumentar a maquinaria urbana para receber os produtos do campo em abundância, entre outras coisas mais. Além disso, reforma agrária implica em competitividade, já que aumenta a produção de alimentos em geral, o que significa tender para buscar mercados já dominados pelo centro capitalista (imperialismo), incluso o da própria burguesia nativa. Só isso? Não, há ainda o fato importantíssimo, mas pouco falado, de se produzir aquilo que dá subsistência ao proletariado (e cálculo patronal para seu salário) com pouco incremento de valor, o nosso arroz e feijão da pequena produção da agricultura familiar, cujo escoamento para o meio urbano ocorre pelos capitalistas depois deles comprarem quase de graça o produto das mãos dessas famílias. Uma vez comprado, esses produtos transformam-se nas tradicionais marcas que vemos pelos mercados do país afora. Portanto, a luta pela reforma agrária implica em mexer em toda estrutura montada do capital em sua região periférica. 
         Porém, se a reforma agrária deixaria de ser interessante para a burguesia, o mesmo não se passaria com quem vivia e vive do cultivo e nada mais tem para sobreviver, salvo a carne sofrida de sol a sol para tirar o sustento seu e de sua família, os camponeses pobres.
         Expulsos da terra por latifundiários e fazendeiros gananciosos, o trabalhador rural uniu-se a outro na mesma situação para ocupar e recuperar a terra roubada pelos donos do poder.
         Acontece que o Estado burguês é de uso exclusivo dos patrões, da cidade como do campo e dos mandantes internacionais e nesse caso não será ele a atirar no próprio pé, por isso nada de incentivo agrícola aos “invasores”. Todo apoio ao grande proprietário rural (vide os oitos anos do governo Lula da Silva e seu apoio ao agronegócio destruidor de gente, campos e florestas).
         Assim, a reforma agrária que antes era uma bandeira da burguesia passou para as mãos dos revolucionários, sua fortaleza estará na unidade campo e cidade, pois seu isolamento no meio rural, como luta somente de camponeses, é a sua própria asfixia.
         Não obstante, com o triunfo duma revolução de cunho verdadeiramente comunista, tratar-se-á de coletivizar a terra e não de reproduzir a propriedade privada em pequenos lotes de terra, ainda que de inicio possa ter que fazê-lo em função dos problemas que uma sociedade terá que enfrentar ao adentrar o palco da Revolução.
Educação –
        “Aquela praça é pública, lá eu vou quantas vezes quiser. Agora, você quer me dizer que no Brasil há universidade pública, mas que para ingressar nela o estudante tem que passar por um funil?”- Comentário de um cidadão cubano a um amigo brasileiro sobre o significado do “vestibular”, quando este amigo esteve naquela famosa Ilha e fazia seu esforço em explicar o significado de nossa universidade pública. 
         Há um ensaio de Darcy Ribeiro sobre a educação no Brasil onde se revela que a fundação da primeira universidade no país se deu, não por interesse em educar os filhos dessa terra, mas porque o rei da Bélgica estaria de visita ao Brasil e era intenção lhe fazer uma boa média, apresentando-nos como filhos de uma pátria civilizada. Nisso alguém teve a brilhante idéia de lhe dar o título de doutor honoris causa. Ocorre que tal título somente teria valor se vindo da academia, daí a necessidade que os donos do poder daqui tiveram em construir às pressas uma universidade.
Leon Troskys
Darcy Ribeiro
Darcy deixa claro que não há uma calamidade educacional no país, pelo contrário, a educação brasileira foi pensada, desde o seu início, para ser assim como é: elitista e racista! Aqueles que produziram ciência por aqui o fizeram por amor ao saber, ao país e sua gente com base no esforço próprio. E muitos (como Caio Prado Junior e Florestan Fernandes), receberiam sanções em troca, o que resultaria em banimento e até mesmo prisão, como se deu com o autor de Formação do Brasil Contemporâneo.
         Sempre foi bandeira de luta dos movimentos de educandos e educadores realmente comprometidos com a educação no país um ensino público, gratuito e de qualidade para todos. Essa bandeira, ainda hoje, mais do que nunca, guarda toda validade. 
         Entretanto, de algum tempo para cá começou a fazer parte da pauta de discussão no interior da esquerda o chamado sistema de cotas, especialmente a cota para negros.
         A cota educacional em si já é expressão de uma sociedade que cultiva o oportunismo, o privilégio, o preconceito e o racismo. Quem negar tais sentenças que o faça com base comparativa do tipo de educação que tem a criança rica e a criança pobre, da escolinha à universidade. Junte-se a isso a quantidade de negros que vivem no conforto dos ricos e os que vivem em áreas de esgoto a céu aberto. Mas não se esqueça de somar o dinheiro público advindos dos impostos que os pobres pagam por cada produto comprado cuja parte desse montante é revestida, entre outras coisas, em escolas públicas de qualidade nas áreas que moram as famílias da classe média para cima e nas chamadas universidades públicas, enquanto as escolas da periferia carecem de todo tipo de investimento para uma educação de qualidade.
         Claro, chegada à hora do tal vestibular, teremos como resultado um ingresso de uma maioria branca e endinheirada (porque a verdadeira seleção já ocorreu antes), junto com ela, uma produção do conhecimento calcada em seus valores de classe.
         Dito isso, é preciso afirmar: não se trata de se contrapor as cotas, mas sim, de mostrar seus limites e aprofundar a discussão por uma universidade que possa realmente atender aos brasileirose não as caricaturas desse país, incrustadas na alma duma gente que, vivendo nessas terras, sempre tiveram a cabeça no mundo europeu e estadunidense.
         Da mesma forma, ninguém de boa fé no Brasil se opõe a expansão das universidades públicas, no entanto, universidades sem infraestrutura, como as que temos hoje pelo país, em função do REUNI, é como a criança que cresce sem se alimentar. Não se trata de matar a criança, mas de dar condições para uma vida saudável, isso implicará em medidas radicais para sanar uma enfermidade adquirida desde o berço.
         No caso da educação brasileira, uma dessas medidas será cortar as verbas que o governo doa aos donos das universidades privadas através do PROUNI em troca das tais vagas ociosas e investir nas universidades públicas expandidas e nas outras que poderão ocorrer, tendo por objetivo uma produção de conhecimento que atenda as necessidades da maioria da sociedade brasileira e não a de empresários de dentro e fora do país.
         Mas para empreender essa luta será fundamental que haja a união de estudantes, professores, funcionários e comunidades pobres, cujos pais dos estudantes têm maior interesse numa educação de qualidade para seus filhos.
Leon Troskys
Por fim-
         Falamos no começo um pouco a respeito da história da luta dos trabalhadores calcada na Europa, não por algum capricho particular, mas por ali ter despontado primeiro o modo de produção capitalista, com isso, uma classe laboriosa, o proletariado, capas de fazer algo inédito na história da humanidade, destruir o poder, ainda que isso implique em manuseá-lo a princípio.
         Dito isso, os trabalhadores europeus em nada são melhores do que os outros de
qualquer parte do mundo, apenas são referências as suas lutas históricas, especialmente entre os séculos XIX e XX, porque ali o conflito de classe tinha essa possibilidade, a da destruição do poder e emancipação da humanidade sem a exploração de um ser humano pelo outro(4). Fundamentalmente o capitalismo espalhou-se pelo globo terrestre e na sua caduquice atual ameaça arrastar toda a humanidade para um colapso.
É possível reverter essa situação, mas, mais do que nunca, a luta hoje será muito mais árdua e requer coisas novas na confrontação. Assim, mais do que nunca, toda tática usada deverá ter em conta a estratégia de destruição de poder. O contrário disso é sermos incorporados cada vez mais em um sistema que ao mesmo tempo nos empurra para a margem daquilo que ele produz, caminhando para um abismo sem volta, ameaçando a toda espécie humana e todo o planeta.
         Mais do que nunca, não será choramingando por benesses do Estado que avançaremos na luta. Não será subordinando nossa luta a um governo supostamente progressista (que reprime menos o movimento!) que nossa luta se fará avançar. Tal governo(5) só poderá ser um indicador de que temos que aprofundar mais as contradições de classes a partir de nossas reivindicações concretas, nunca nos confundirmos com ele, gerente de plantão da ordem!
         Hoje há toda uma desilusão com a política e não é para menos, ela se tornou algo de estranho ao próprio ser humano, algo de ascensão social fácil à custa de quem não a pratica.
         Não fazemos um convite tranqüilo, ele, quando muito, poderá nos dar uma camisa limpa (para recordar novamente a Maiakóvski), isso quando não nos der a dor do desterro, das prisões, das torturas, das maiores privações entre outras dificuldades mais. Isso só nos prova uma coisa, o poder não é brincadeira e quem quer manejar os instrumentos da tática e da estratégia deverá fazê-lo com responsabilidade, pois isso envolve realidades, dores, mortes, vidas, sonhos...(6)
Complemento do “Por fim”-
         “Fazer Revolução, fazendo do Brasil
            Um imenso Caldeirão,
            Onde hoje poucos têm, amanhã todos terão” - Carone
         Tupy or not tupy that is the question – Oswald de Andrade 

         Não falamos aqui das várias contribuições que a história de nosso povo produziu porque poderia estender demais e penso que isso poderá ficar para um próximo momento. De qualquer forma, temos claro que não haverá nada de novo em nosso país enquanto ficarmos copiando meramente as lutas de outros povos. Elas servem em termos comparativos(7), enquanto trocas de experiências, mas seremos nós (mergulhados em nossa própria realidade), que poderemos dar uma resposta concreta para nossa realidade concreta.
         Para recordar a Engels, em um de seus prefácios ao famoso Manifesto Comunista, ele afirma ali que o Manifesto somente guardará sua validade se adaptado para cada realidade local, eis aí nossa tarefa.
         É fundamental estudarmos as várias rebeliões populares ao longo de nossa história. Palmares, Canudos, Caldeirão, os conflitos sociais atuais, conscientes ou não, etc. são lutas que nosso povo fez, cada qual a sua maneira, mas que inscreveram coisas universais para o nosso saber. Da mesma forma, estudar os clássicos brasileiros(8)com sua historiografia, sua sociologia, seus romances, etc. é parte desse universo que queremos transformar.
         Ainda sobre as lutas de nossa gente, só a título ilustrativo, Caldeirão, na década de trinta no Ceará, em dois anos, construiu na prática uma convivência coletiva onde a noção de dinheiro e de posse privada (o tal, isso aqui é meu!), viraram peças do museu memorial de sua gente. Claro, Caldeirão foi destruído pelo Estado. Getúlio Vargas, o “pai dos pobres” autorizou o bombardeio (o primeiro de nosso país) e sequer caixões enviou para seus filhos “desnaturados”...  
24/11/2010,
Lucélio
Notas:
(1)Povo em armas, por contraponto ao poder de Estado, difere da noção de grupo armado, à margem de sua própria classe. Inscrita na história pelos operários parisienses durante a experiência de sua Comuna, em 1871, a consigna, povo em armas, foi apreendida por Karl Marx como aquisição universal da luta proletária contra seus algozes burgueses e seu Estado. Fundamentalmente, ao se distinguir de um grupo auto-suficiente, que se arma em nome do povo, ao mesmo tempo, povo em armas deixa claro que os trabalhadores só poderão confiar em suas próprias forças, por isso, toda luta política deverá estar ligada a estratégia de supressão violenta de uma ordem por outra.  E mais: para os que dizem que isso é coisa do passado e justificam sua inércia em função do avanço técnico militar e coerção inimiga, dizemos que, aqui, a evolução técnica militar somente é levada em consideração na medida em que a própria ação militar esteja subordinada ao objetivo político, portanto, uma ação militar implica em autoorganização dos trabalhadores, pois é por ele que deverá passar toda decisão, todo manuseio das armas, seja qual for o grau técnico nela empregado. Ex: a Guarda Nacional que durante a Comuna de Paris substituíra ao exército permanente estava subordinada ao poder político dos trabalhadores organizados na Comuna. Os Sovietes Russos de operários e camponeses, um pouco antes e um pouco depois da Revolução, eram o poder político que definia a ação militar praticada pelas milícias populares. 
(2) Não queremos entrar em toda problemática no que se refere ao conceito família, mas apenas na implicação dele na relação com o poder.
De maneira geral podemos dizer que a família monogâmica cristã européia imigrou para as regiões distantes a partir das invasões na periferia do sistema feita pelo centro capitalista e quando a Revolução se apresentou nessa periferia, a família estava de mãos dadas com ela. Ex: O ocaso da Revolução Sandinista no final dos anos 80. Ocorre que não é tão simples ser um Che Guevara, revolucionário abnegado, cuja saída de Cuba negava, em carta, qualquer herança particular, salvo a herança coletiva proporcionada pela Revolução, aos filhos pequenos. Guevara era de alma e atos comunistas em pleno período transitório, por isso priorizou a Revolução em detrimento da sua família. Já no caso sandinista, quando de sua derrota nas eleições aos moldes burgueses e que jogaria uma pá de cal na Revolução, encontrou as lideranças transferindo para seus nomes e de seus familiares, posses das propriedades de terras, antes conquistados pela luta e sangue de inúmeros revolucionários. Fenômeno difícil de ser imaginado se o centro do poder estivesse no seio das massas organizadas e submetendo a seus interesses aqueles que estavam a testa do Estado em transição.
(3) A verdade também se inscreve em valor contrário: Povo auto-organizado, Estado em definhamento!
Aqui, vale notar, se a política demandada a partir do povo organizado (povo em armas) se dá contra o Estado, isso implica em que este esteja fragilizado, pois teve suas duas armas principais de manutenção, exército permanente e burocracia, arrancadas. Dessa reflexão temos que, Ditadura Proletária, conceito criado por Marx enquanto derivado de povo em armas, mas precisado melhor quanto à classe dirigente no processo insurrecional, não se confunde com o Estado, pelo contrário, são excludentes. O fortalecimento do Estado, durante um processo revolucionário, significa o enfraquecimento da Ditadura Proletária e o fortalecimento desta implica no definhamento daquele.
(4) Foi na Europa que o capitalismo nasceu e com ele uma classe produtora, o proletariado, apartada dos meios de produção. Trabalhadores que inseridos na nova forma de se produzir, coletivamente na linha de produção, por isso mesmo, já não se reconheciam enquanto produtores individuais. Diferente do antigo servo anexado a terra do seu senhor, mas que tinha garantido um pequeno pedaço de terra para cultivo próprio. Diferente do artesão, produtor individual e que ao final de cada produto feito via nele algo seu, o ato produtivo proletário está em consonância com uma sociedade sem posses, sem a propriedade privada, pois a reflexão do, “isso aqui é meu!”, não encontra respaldo na realidade material dada.
(5) Um governo como o de Hugo Chávez na Venezuela, originado por uma pequena burguesia militar nacional, e por essa mesma condição, obrigado a um gerenciamento hibrido do Estado, apóia-se no povo com certas medidas populares, não obstante, garante todos os direitos da burguesia daquele país, bem como os investimentos imperialistas em solo pátrio.
Aos revolucionários não cabe avalizar tal governo pelo simples fato dele manter direitos iguais para pessoas tão diferentes: os trabalhadores e os patrões. Apesar disso, nesse caso, não podemos simplesmente aplicar a velha sabedoria de que, na noite todos os gatos são pardos. Ao contrário, Chávez mantém um governo democrático em Venezuela e mesmo certo antagonismo (ao menos verbal), com os EUA e seu subordinado governo instalado no palácio de Bogotá.
(6)Aos revolucionários caberá maestria em casos assim, mantendo uma política independente, porém, sem fazer confusão gratuita, nivelando governos sem atentar para qual fração de classe está no comando. De qualquer forma, o importante aqui é a autonomia de classe, onde as reivindicações dos trabalhadores não se confundam com assistencialismo governamental ou outro qualquer assistencialismo, bem como apoiar toda iniciativa progressista de determinado governo contra as classes dirigentes, quando essa ocorrer.
(7) São desses “termos comparativos” que poderemos extrair aquilo que é universal na luta. Por exemplo, certos doutores da intelectualidade acadêmica afirmam que a obra de Marx estaria ultrapassada, porque surgida no século XIX. Entretanto, essas mesmas cabeças conseguem ficar frente a seus alunos e ali, tranquilamente, sem corar suas faces, tecem comentários, por horas a fio, sobre a atualidade de um Platão, etc. Uma leitura séria de toda obra clássica obriga o leitor a distinguir o que nela é conjuntural, o que se prende ao momento em que ela é escrita e aquilo que dá sobrevida a essa obra, inscrevendo-a enquanto obra imortal da humanidade. Para o nosso tema significa que, ao lermos um Marx, um Lênin, devemos fazê-lo sem paixão, visando aprender com quem melhor se envolveu na luta de classes de seu tempo e cometeu erros e acertos como a qualquer sujeito na relação transformadora com seu meio e que, por conseguinte, é transformado por ele.
(8) Há um erro que a esquerda brasileira cometeu e que só aos poucos, por iniciativa de movimentos de massa, como o MST, vem sendo superado: o de não se dedicar às obras dos pensadores brasileiros. O Brasil, sequer em 1917 foi como a Rússia, hoje então, nem se fala. Uma Revolução no país passa, necessariamente, por investigar a sério o que de melhor se produziu nessa terra. Ao mesmo tempo deve-se levar em conta o fato de que as mudanças sociais, operadas por cima para que os de baixo não a operassem, criaram, por assim dizer, uma produção intelectual, salvo raras exceções, no âmbito da autonomia e libertação nacional e não na de classe, daí termos a unidade dessas obras expressas na identidade do Brasil como um todo, não de uma classe produtora em específico.
Livre sugestão para leituras -
A Guerra Civil em França – Karl Marx
Estado e Revolução – V. Lênin
História do Marxismo (vol. I, II, III), org: Eric Hobsbawn
As Teses de Abril – V. Lênin
Crítica ao Programa de Gotha – Marx
A Revolução Russa – Rosa Luxemburgo
Reforma ou Revolução – Rosa Luxemburgo
Manifesto do Partido Comunista - Marx e Engels
O Direito à Preguiça – Paul Lafargue
O Que é a Consciência de Classe – W. Reich
A Revolução Sexual – W. Reich
Origem da Família da Propriedade e do Estado – F. Engels
Os Dez Dias Que Abalaram o Mundo – John Reed
O ABC do Comunismo – Nikolai Bukharin
Cangaceiros e Fanáticos – Rui Facó
O Povo Brasileiro – Darcy Ribeiro
Policarpo Quaresma – Lima Barreto
Obs. Como complemento, obras dos poetas citados no texto (e os não citados também!), porque, Revolução sem poesia, é melhor nem fazê-la.




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