Discurso de Lula da Silva (excerto)

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segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Um sedutor chamado Oliveira Salazar


* Dina Gusmão
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Literatura: Este ano foram várias as obras publicadas
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Um dia terá de ser objecto de estudo, reflexão e debate. Até lá, ficam os factos e este é histórico: 2007 foi o ano de Salazar.
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Depois de ter sido eleito, não sem controvérsia, o maior dos ‘Grandes Portugueses’ e de ter alimentado acesa polémica em Santa Comba Dão, devido à criação de um museu da casa que foi sua, António de Oliveira Salazar (1889/1970) conseguiu seduzir uma editora, a Esfera dos Livros, ao ponto de esta dedicar todo um nicho de mercado só para si e para a sua obra: a concepção e o incremento durante a Segunda República de um Estado Novo corporativo e autoritário que durou perto de meio século.

“É nossa convicção, enquanto editores, que através destas edições, plurais e diversificadas, os leitores fiquem a conhecer melhor – sob todos os aspectos – este período fundamental do nosso passado recente e construam a sua própria imagem de António de Oliveira Salazar”, justificou ao CM Sofia Monteiro, directora editorial.

Neste contexto, destaca-se quatro dos títulos da editora, deixando claro que há mais. São eles: ‘Vítimas de Salazar’, de que foi co-autora a historiadora Irene Pimentel, não por acaso este ano distinguida com o Prémio Pessoa. ‘Os Meus 35 Anos com Salazar’ – ou o tutor segundo Micas, a pupila – e ainda ‘Os Amores de Salazar’, da jornalista Felícia Cabrita, ou ‘Salazar – O Outro Retrato’, pelo historiador Jaime Nogueira Pinto.

“Quarenta anos volvidos sobre a sua morte, Salazar continua a alimentar sentimentos muito mais vivos do que seria de esperar de uma figura histórica. É preciso pôr de parte as nossas paixões por mais que se justifiquem porque todos têm direito ao retrato completo”, disse o autor em entrevista ao CM por ocasião do lançamento do livro.

Dar a Salazar dimensão histórica parece ter sido motivação comum a cada autor para cada livro. Mas também houve quem o fizesse em nome próprio... “Contributo para ajudar a conhecer uma figura complexa, muito longe do homem unidimensional”, do livro de Maria da Conceição de Melo Rita, Micas, a pupila do ditador.

LIVRO A LIVRO

'VÍTIMAS DE SALAZAR'

O subtítulo, ‘Estado Novo e Violência Política’, testemunha como um se alimentou da outra. “Estes homens e mulheres têm um rosto, sofreram a repressão, enfrentaram-na de forma corajosa e muitos morreram de forma heróica a combatê-la. São as vítimas de Salazar.”

'OS MEUS 35 ANOS...'

Maria da Conceição de Melo Rita ou Micas, designação que ganhou do tutor, Salazar, escreveu este livro de memórias em nome do homem por detrás do ditador. Com ela, Salazar não falava de política e adormecia-a com fábulas que a faziam gostar dele. E pronto!

'OS AMORES DE SALAZAR'

"Tudo a bem da Nação”, escreve Felícia Cabrita. Salazar apresenta-se como um ex-seminarista, antiquado e alheio a devaneios amorosos. Contudo, se o amor lhe passou ao lado, o mesmo não aconteceu com as paixões delirantes.

'SALAZAR - O OUTRO RETRATO'

Material inédito do estadista, por Jaime Nogueira Pinto, que para o retratar acabou por fazer o retrato de um País e de uma sociedade, da Europa e do Mundo. “Na memória tenho aquela voz característica, com convicção mas ainda clerical e [...] pronúncia beirã”, escreve.

Lusa - Arquivo fotográfico on-line


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Mais de um milhão de fotografias do arquivo fotográfico da Lusa vão estar disponíveis para venda na internet, a partir de amanhã.
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Este serviço, que numa primeira fase garante acesso preferencial aos clientes habituais do serviço, estará alojado no portal da agência noticiosa. Para agilizar o acesso ao arquivo fotográfico, o serviço permite fazer downloads directos. O valor mínimo por cada fotografia é de 28 euros. O arquivo fotográfico da agência, composto por fotos da Lusa e da EPA, é actualmente composto por cerca de 1.236.857 fotografias, sendo as primeiras imagens datadas de 1977.
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in Correio da Manhã 2007.12.31

domingo, 30 de dezembro de 2007

Hoje há música (23) - Metalica - Meninos do Huambo


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Teatro em Faro e Braga


- Domingo, 30 Dezembro 2007 - 00:00
Revolta feminina
A partir da obra ‘Uma Casa de Bonecas’, do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, ‘Boneca’ é a encenação que sobe ao palco da sala principal do Theatro Circo, em Braga, a 11 e 12 Janeiro.
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- Domingo, 30 Dezembro 2007 - 00:00
Estreia nacional com Margarida Vila-Nova
A actriz Margarida Vila-Nova é uma das protagonistas da peça ‘Say it with flowers’ (‘Diga-o com flores’), de Gertrude Stein, que vai ter a sua estreia nacional no Teatro das Figuras, em Faro, nos dias 27 e 28 de Janeiro.
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in Correio da Manhã 2007.12.30


Malveira acolhe lobos
'Fagus’ e ‘Seara’ são os mais recentes hóspedes do Centro de Recuperação do Lobo Ibérico, na Malveira, depois de chegarem do Zoo de Madrid debilitados e cegos. Gerido pelo Grupo Lobo, organização não governamental que defende a conservação da espécie e do seu ecossistema, o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico (CRLI) foi criado em 1987 e tem o objectivo de dar um lar a lobos feridos ou mantidos em más condições de cativeiro.
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in Correio da Manhã 2007.12.26

Bilhete Postal - A festa foi delas


* Carlos de Abreu Amorim
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Olho para uma figura de Íris feita quase mil anos antes da era cristã. Tem no regaço o seu filho Hórus, de nascimento miraculoso.
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Volto a página do livro e vejo Mithra, o Deus Menino, talvez o culto mais popular quando Constantino tomou a decisão política de tornar o cristianismo religião do império romano (313). O nascimento de Mithra era celebrado na data equivalente a 25 de Dezembro.

No ano de 354 o papa Liberius escolheu esse dia para aniversário de Jesus, visando aproveitar o impulso das festas religiosas da concorrência, sobretudo da Saturnalia, no equivalente de 17 a 24 de Dezembro, em que os romanos decoravam as suas casas com velas e lâmpadas, e, na mesma quadra, da Juvenalia, festa dedicada às crianças romanas na qual era costume oferecer-lhes presentes. Seja qual for a época e a religião, sempre soubemos que o melhor de tudo são as crianças.
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in Correio da Manhã 2007.12.26
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(Ísis e Hórus) imagem retirada daqui judaismo-iberico.org

Uma semana de Natal cigano


Porto: Festa no bairro do Cerco juntou 200 numa tenda
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* João Carlos Malta
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Quem está habituado a um Natal tradicional, em que na Consoada todos ficam sentados solenemente a comer as tradicionais iguarias da quadra, pode sentir-se deslocado, mas para o povo cigano a festa não é um dia; é uma semana e é para ser vivida e gozada sem limites. Muita cor, muita alegria e música suficiente para que as ancas não parem de abanar. No Porto, a família Melo, uma das mais tradicionais do Norte, juntou 200 pessoas que festejam até amanhã no pavilhão do Bairro do Cerco.
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De copo na mão, os convivas enchem a tenda construída para a ocasião e repartem o tempo entre a pista de dança e as mesas onde a cor dos cabazes de fruta se mistura com os aromas picantes das várias carnes.

Para pôr de pé a celebração, pelo sexto ano consecutivo realizada na freguesia de Campanhã, foi necessária a módica quantia de 20 mil euros. Os números parecem impressionantes, mas reflectem o esforço para garantir que nada falte. Foram comprados 104 quilos de bacalhau, 30 cabritos e 22 quilos de polvo. E as bocas não tiveram hipótese de ficar secas porque os 25 barris de cerveja não deram tréguas aos copos.

“Isto é a altura mais importante para os ciganos. É a festa a que mais damos valor. Há dois dias que não durmo, mas não me importo. Aliás, os únicos que descansam nesta altura são as crianças”, diz Samério Gavarras, filho do patriarca da família Melo.

“É beber até não poder mais. Por isso é que temos esta cerveja toda. O povo cigano só quer festa e paz, não gosta de confusões. Esta é, aliás, uma ocasião em que se houver alguma quezília antiga, fica logo esquecida”, acrescenta.

Enquanto isso, a sua mulher, Mónica Leite, não tem descanso. Na cozinha a azáfama não pára e há que saciar o apetite que cresce ao ritmo da dança. A alegria é contagiante e o sistema de som, com karaoke, não deixa que ninguém fique parado durante muito tempo.

“Não sou cigana de nascença. Casei há nove anos com um e posso dizer-lhe que aqui o Natal é mais divertido, há mais alegria e também se come mais. Gosto bastante mais deste do que do tradicional”, sustenta Mónica.

Para esta festa não é preciso ter convite: basta ser cigano e trazer boa disposição. “Isto é como um minicasamento com a simples diferença que não é preciso ser convidado ”, explica Samério.

No que diz respeito à culinária, não é o bacalhau que está no trono. Esse é ocupado por um legume. “Para o cigano o mais importante é o feijão” , revelou o patriarca Manuel Melo.

O ícone dos ciganos do Porto, o futebolista Ricardo Quaresma, não esteve presente, com muita pena de Samério. “Ele tem muito orgulho em ser cigano e costuma vir sempre às nossas festas e casamentos, mas no Natal vai para Lisboa porque a família dele é de lá”, explica.

PORMENORES

FELICITAÇÕES

A Associação Cultural Recreativa Desportiva Ciganos de Portugal, presidida por Alberto Melo, recebeu felicitações de Natal, entre outras personalidades, do Presidente da República e do primeiro-ministro.

RELIGIÃO

O Natal é a festa mais importante para a comunidade, sendo que a maior parte pertence à Igreja Evangélica. Há também uma percentagem significativa de católicos.

MÚSICA

A música nunca pára durante toda a noite. Os decibéis é que vão diminuindo a partir da 01h00. “Nunca tivemos queixas”, disse Samério Gavarras. O pavilhão, onde se tem realizado a festa nos últimos seis anos, é cedido pela Junta de Freguesia de Campanhã.

APONTAMENTOS DE UMA FESTA DIFERENTE

Apesar dos espectáculos musicais não darem azo a grandes paragens, a tradição manda que as festas sejam feitas em tendas, o que nesta época leva a que as baixas temperaturas sejam difíceis de suportar. Para tal, o braseiro foi o fiel companheiro dos mais friorentos.

O povo cigano gosta de festas por natureza. Em qualquer comemoração não pode faltar uma boa aparelhagem e órgão que, comandados pela voz arrastada do artista de serviço, leva a que mulheres e homens dancem até ao sol raiar.

As crianças são o sal de qualquer Natal. E nas celebrações ciganas não faltam. No pavilhão do Bairro do Cerco eram às dezenas aqueles que, em correrias sem fim e de sorriso fácil, começaram a perceber a importância da festa para a sua comunidade.

Não faltava nada na mesa da festa organizada pela família Melo. A fartura de carnes ia desde as mais invulgares, como os ouriços, até aos tradicionais leitões. As cozinheiras é que não tiveram mãos a medir, mas não houve quem se pudesse queixar de estar a passar fome.

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in Correio da Manhã 2007.12.27
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Foto - José Rebelo - (Alegria, cor e música são ingredientes que não faltam na festa cigana organizada pela família Melo, uma das mais tradicionais do Norte)

Miséria e abandono nas ilhas do Porto


Reportagem CM
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* João Carlos Mata
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Casas com telhados que não impedem a chuva de corroer o mobiliário e onde os ratos são convidados indesejáveis, deixando marcas de mordidelas nas orelhas e caras das crianças, são realidades que ainda fazem parte do dia-a-dia de cerca de nove mil habitantes das ilhas do Porto.

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Ao caminhar pelas ruas estreitas onde as casas se encavalitam, torna-se difícil não tropeçar em pequenas habitações que escondem famílias de oito pessoas. Aqui, reinventam-se os quartos de dormir e para ir à casa de banho colectiva os moradores têm de sair ao pátio.

Da casa dos Silva a vista é deslumbrante, com o Douro, em baixo, a estender-se languidamente numa imagem de postal a fazer as delícias de qualquer turista que se preze. No entanto, a beleza exterior do espaço entra em choque com a exígua habitação em que Fernanda e Serafim vivem com os seis filhos. Oito pessoas circulando num estreito corredor onde dois não passam ao mesmo tempo. Espreitando para a sala, no chão está um colchão a todo o comprimento, que serve de cama à filha, de 15 anos. Nas paredes já não se reconhece os 1300 euros gastos para melhorar a casa, há seis anos, quando saíram da barraca onde viviam. “Isto é uma miséria. Quando a nossa filha casada vem visitar-nos temos de a pôr a dormir no chão com o marido”, lamenta Serafim, de 50 anos.

As dificuldades aguçaram o engenho e este desempregado da construção civil teve artes para fazer de um galinheiro o local onde a família se reúne às refeições. Cozinha não existia: ainda há bem pouco tempo se comia em fila na escada. “Foi graças a ele que as coisas melhoraram. Ficámos muito felizes por poder ter uma mesa”, solta Fernanda.

A pobreza não roubou a esta família a alegria, mas a palavra esperança custa cada vez mais a ser dita. “Vivemos com menos de seiscentos euros para oito pessoas. O que é que se faz com este dinheiro?”, argumenta Serafim. Revoltada com a sorte, Fernanda exalta-se: “Veja bem, olhe para este menino, já foi mordido por ratos nas orelhas.”

A pesada herança das ilhas remonta à época da industrialização, na segunda metade do século XIX. O aparecimento deste modelo de habitação é indissociável da incapacidade prática do antigo centro da cidade responder à crescente procura operária. A periferia do Porto nasceu no próprio centro.

Há 48 anos, Maria Barros chegou ao Porto vinda do Marco de Canaveses a acompanhar o marido, agente da PSP. Assentou arraiais na ilha Mozes, mesmo em frente à Estação de Campanhã, e não mais saiu. Adora a sua pequena casa e relembra, saudosa, os anos em que as 22 moradias estavam lotadas. Nessa altura o espírito de vizinhança era intenso. Compartilhava-se tristezas e alegrias. Actualmente o cenário é desolador. “Cada pessoa que morre é uma casa que fica abandonada e que entra em rápida degradação”, desabafa.

Maria, agora com 78 anos, começou por pagar 250 escudos de renda, sendo que a antiguidade faz com que actualmente não pague mais de 20 euros. Muito longe dos 200 ou 250 euros de quem ainda agora procura as ilhas. Jovens com dificuldade em encontrar emprego, desempregados ou empregados precários não têm outro remédio se não procurar os preços baixos.

É na zona oriental da cidade que se situa a maioria das ilhas, mas as marcas destes aglomerados são tão evidentes que também as podemos descobrir na zona ocidental, junto à Foz. Aqui fomos encontrar António da Costa, de 78 anos, um dos dois únicos moradores da ilha 1.ª Rua Particular.

“Às vezes chove-me em casa. É antiga e já não é arranjada há muitos anos. A ilha também é aqui ao pé do mar pelo que as casas sofrem mais desgaste”, afirma, aceitando que 15 euros de renda não dão para mais.

Ao atravessar a rotunda do Castelo do Queijo, ali mesmo ao lado, a realidade transfigura-se. É outro mundo onde os BMW recolhem nas garagens das casas de dois milhões de euros ou mais.

O LUXO ALI AO LADO

Para quem passa pela avenida Brasil, na marginal da Foz, é impossível não reparar nas vistosas moradias.

Ali passamos das rendas de vinte euros para habitações cujo valor pode chegar aos cinco milhões. São casas de excepção e dão forma a uma realidade maior. Portugal é um dos países da União Europeia onde as desigualdades sociais mais se fazem sentir.

Se na restante Europa os mais ricos ganham cinco vezes mais do que os mais pobres, em Portugal essa diferença é de 7,2, segundo dados da Eurostat.

O Correio da Manhã visitou uma destas moradias, com 900 metros quadrados, avaliada em 2,25 milhões de euros, propriedade de um construtor civil. Tem mais de vinte divisões distribuídas por três pisos. O luxo e a classe andam de mãos dadas, sendo que o casal que lá vive, depois de a filha ter saído de casa, pretende mudar-se para um apartamento de menores dimensões.

No piso térreo, a sala de jantar é descomunal. Com um estilo clássico, percebe-se que ali se respira tradição. Os candeeiros de cristal impressionam, tal como o requinte dos pormenores, como o papel Ralph Lauren que forra algumas paredes da mansão. As três amplas suites incluem casas de banho recheadas de peças dos melhores mármores italianos.

Tão longe no poder económico, mas tão perto no espaço que compartilham, feitas as contas, em média, em cada mansão poderiam ser construídas 56 casas de ilha.

"ERAM ALDEIAS DENTRO DE CIDADES", Virgílio Borges, sociólogo da Universidade do Porto

CM – Em que circunstâncias aparecem as primeiras ilhas no Porto?

Virgílio Borges – As ilhas aparecem a partir da segunda metade do século XIX, com o início do processo de industrialização no Porto. O seu surgimento é indissociável da incapacidade de o núcleo antigo da cidade responder à crescente procura de habitação operária.

– Que características têm essas casas?

– Eram soluções habitacionais colectivas de um só piso, frequentemente de acordo com o modelo costas com costas, construídas sem supervisão municipal, genericamente, com materiais muito baratos e de muito fraca qualidade, sobretudo nas traseiras de habitações da pequena burguesia da área central da cidade ou em quarteirões inteiros mais ou menos resguardados, com poucas infra-estruturas e muito reduzida dimensão

– Quantas ilhas existem, actualmente, e quantas pessoas vivem nelas?

– Segundo fontes oficiais, viviam em ilhas no final do século XX mais de nove mil pessoas, que residiam em 1127 núcleos constituídos por 7654 fogos habitados.

– Em termos de sociabilidade, o que as caracteriza?

– A forte pressão demográfica e a sua inserção na cidade tornou-as num palco relevante do quotidiano do operariado portuense. O aspecto mais relevante a reter, para além de todos os efeitos da extrema necessidade na reprodução do quotidiano, será o forte interconhecimento, transformando muitos destes contextos em aldeias dentro da cidade.

– As ilhas são zonas negras da cidade?

– Nas ilhas encontramos sobretudo uma história de esquecimento e, por isso, de abandono urbano, tributária de outras lógicas como aquela que actualmente se pode documentar no centro histórico da cidade do Porto .

PÁTIOS DE LISBOA PARA OPERÁRIOS

Os interiores dos quarteirões de pequenas casas alinhadas fazem ainda parte do imaginário dos lisboetas. São os tradicionais pátios, que os filmes com Vasco Santana imortalizaram. Tal como no Porto, também a industrialização de Lisboa implicou o crescimento da procura de habitação na zona antiga da cidade e a densificação das localizações mais próximas das fábricas.

Ainda que por vezes se assemelhasse às ilhas, o pátio é formado por pequenas casas no núcleo de um quarteirão, mas não possui a uniformidade daquelas. Este modelo habitacional nunca chegou a atingir a expressão que as ilhas assumiram no Porto.

No início do século XX, quando Lisboa tinha mais de 350 mil habitantes e o Porto ultrapassava os 160 mil, viviam em pátios cerca de dez mil pessoas e nas ilhas cerca de 50 mil. No Porto, as ilhas permaneceram como a modalidade mais relevante e significativa de habitação operária, enquanto em Lisboa o pátio foi progressivamente substituído pelas vilas operárias, habitações colectivas de vários andares.

Para o sociólogo Virgílio Borges, as vilas foram uma “solução mais eficaz do que as ilhas portuenses”.

CASAS DE LUXO VALEM ATÉ 5 MILHÕES

As casas de luxo no Porto – a maioria data de há 40 ou 50 anos – podem chegar aos cinco milhões de euros. O comprador-tipo é exigente, tem mais de 40 anos e está ligado à especulação imobiliária. Não raro, são também proprietários de moradias em grandes cidades como Nova Iorque ou Tóquio.

“Para este target nunca há crise: decidem as aquisições sem grande preocupação de custos”, revela ao ‘CM’ José Eduardo Macedo, proprietário da imobiliária Chave D’ Ouro, que assume que a sua empresa tem “crescido muito nesta área de negócio”. “Crescemos cinquenta por cento este ano. Facturámos uma verba significativa”, reconhece o proprietário da imobiliária.

ILHA GRANDE, NA RUA DE S VÍTOR

Na rua de S. Vítor, freguesia do Bonfim, quase todos os portões dão acesso a ilhas. O hip-hop, ritmo preferido dos jovens aceleras, cria uma estranha mistura com o pimba, a gosto dos mais velhos. Na maior, a ilha Grande, as histórias de pobreza e abandono repetem-se ao passar de cada porta.

BAIRRO DO LEAL, NO CENTRO DA CIDADE

No outrora espaço de operários, no bairro do Leal, a morfologia das casas é idêntica à das ilhas. As crianças brincavam na rua e a alegria não faltava, agora não passam de uma memória já quase esquecida. Restam pouco mais de dez moradores, entre as quais Ernestina Xavier, de 73 anos.

ILHA MOZES, JUNTO À ESTAÇÃO DE CAMPANHÃ

A ilha Mozes, junto à Estação de Campanhã, acolheu muitos dos que chegaram ao Porto no período mais intenso de industrialização. Foi a época áurea do local, quando as casas estavam todas habitadas. Actualmente, o cenário mudou. Cada morador que morre é uma casa que fica abandonada.

POSIÇÕES POLÍTICAS

DEMOLIÇÕES DE ILHAS DESDE 2002 Câmara Municipal do Porto

A vereadora do Urbanismo, Matilde Alves, afirmou que a edilidade desde 2002 tem demolido ilhas degradadas. Todavia, nas que são de privados “apenas podemos negociar a solução mais adequada”.

UM PROBLEMA MUITO GRAVE DA CIDADE Partido Socialista

O vereador socialista, Francisco Assis, afirma que este é um dos “problemas mais graves da cidade”. Defende um plano a dez anos para reconverter o parque habitacional.

PARCERIAIS COM OS SENHORIOS PRIVADOS Part. Comunista Português

Rui Sá, do PCP, defende que algumas das ilhas podiam ser recuperadas como “memorial histórico”: “Nos restantes casos a Câmara devia estabelecer um plano de parceria com os senhorios”, argumentou.

ILHAS SÃO LOCAIS SEM SALUBRIDADE Bloco de Esquerda

João Teixeira Lopes, militante do Bloco de Esquerda, defendeu que as “ilhas são locais sem salubridade”. “A Câmara não construiu uma única habitação social. Querem os pobres fora do centro da cidade.”

SOLIDÃO NO CENTRO DA CIDADE

No bairro do Leal, centro do Porto, restam pouco mais de dez moradores, entre os quais Maria Elisa e Claudina Lopes (foto da esquerda). Com o som da bengala a anunciar a sua chegada, a dupla de 90 e 88 anos passeia. É também assim no dia-a-dia, uma tenta diminuir os silêncios da outra. “Passamos o tempo sozinhas. Valemo-nos uma à outra, os nossos filhos ajudam-nos mas têm a sua vida. De resto, estamos sós”, lamenta Maria Elisa. As duas idosas nem casa de banho têm e à noite usam um balde.

Na ilha Grande, Maria Graciete Fortunato (foto da direita) vive com o filho na casa dos 20 anos. “Isto é tão pequeno que nem dá para ele ter a privacidade para poder trazer uma namorada”, afirma entristecida. Os 342 euros por mês não dão para grandes aventuras e Graciete mostra a cozinha, sem espaço para colocar uma mesa para poder comer. “No Inverno isto é ainda mais complicado porque as telhas não impedem a chuva de passar”, diz a moradora .

NOTAS

MELHORIAS

Muitos moradores das ilhas foram às suas custas melhorando as condições de habitabilidade das casas. Essa situação verifica-se sobretudo ao nível do saneamento básico.

250 EUROS

Se as rendas dos moradores mais antigos rondam os 20 euros, actualmente quem quer morar nas ilhas paga por mês, em média, 250. São sobretudo desempregados e jovens à procura de emprego.

INSALUBRIDADE

As ilhas foram desde cedo um importante foco de insalubridade. A demolição de uma parte relevante das mesmas foi a génese do programa de habitação social camarário implementado desde de 1956.

ONZE MIL CASAS

Quando a população do Porto rondava os 170 mil, os habitantes das ilhas chegaram a ser cerca de 50 mil, vivendo em cerca de 11 mil casas existentes em mil núcleos de ilhas.

NOTIFICAÇÕES

Em muitos casos, na sequência de vistorias feitas pela autarquia os proprietários são notificados para proceder à respectiva demolição. Na maioria das situações são processos morosos.

VENDA DE CASAS SEM PUBLICIDADE

A maior parte das casas de luxo da cidade do Porto não tem letreiros quando é colocada à venda. Os proprietários temem ser assediados pelas imobiliárias em busca de negócios. A venda e compra é feita dentro de um círculo fechado e sob grande sigilo.

NEGÓCIO FICA À MARGEM DA CRISE

No segmento alto não há crise, existe sempre procura. Há clientes que estão mais de dois anos em busca de casa. Têm uma boa moradia e apenas querem encontrar algo de melhor e com outras características. Estas pessoas estão à procura da casa dos sonhos.
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in Correio da Manhã 2007.12.29
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Foto - José Rebelo (
Nove mil portuenses vivem em ilhas, casas exíguas, onde os ratos e a chuva não pedem licença para entrar. Na mesma cidade, mas noutro mundo, há moradias a valer cinco milhões)
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» Comentários no CM on line

Sabado, 29 Dezembro


- João
O mal é que em Portugal as casas pré-fabricadas não são promovidas como em outros países...interesses. É um escândalo o luxo que as pessoas compram para sí. Quando não têm dizem que são democratas mas quando o têm esquecem-se depressa.Os terrenos são do povo mas outros apoderam-se deles para grandes negócios e o povo lerpa.Votamos neles para se apoderarem do que é nosso.Grandes negociatas

- Gil
As cadeias estão cheias desta gente contribuindo ainda mais para a miséria dos seus familiares.Hoje ouvi dizer na TV1 que na Colombia as crianças dormem nos canos de esgotos para fugir aos esquadrões da morte pagos pelos comerciante.Isso vai acontecer em Portugal se não resolvem urgentemente esta miséria!50% da população está muito mal!25% vive;25% têm o dinheiro de Portugal!

- PROPRIÉTÁRIO DE UMA CASA NUMA ILHA
A realidade é sómente esta. Quando queremos fazer obras nessas casas são necessárias várias licenças e por exemplo se queremos fazer um anexo para uma casa de banho o problema ainda é maior. Resumindo os problemas são tantos e tudo é tão difícil que o melhor é não fazer nada até que apareça alguem que torne Aquilo que é díficil fácil. VIVER EM ILHAS OU ANDARES A DIFERENÇA SÓ ESTÁ NA EDUCAÇÃO

- zeca fp
Por causa da insalubralidade das ilhas,é que Salazar a partir dos anos 55 mandou construir bairros camararios,para que os pobres vivessem dignamente.So no Porto até 66 a camara construiu + DE 8500 casas.A partir do 25 de avril nao so deixaram de construir bairros sociais,como deixaram ao abandono os existentes.Nesse tempo havia guardas camararios,havia limpeza e respeito,porque quem se portava mal

- kaka
Mas não são os que querem ver Lisboa arder? Pena porquê, peçam aos corruptos do porto que lhes dêem dignidade.

- Jorge Pais
Para quem veio de fora, ocupou propriedades particulares, construiu barracas, não soube educar os seus filhos, há casas com bons acabamentos que logo são destruídos por essa gente. Para estes portugueses e portuguesas, a maioria idosos, que trabalharam honestamente uma vida inteira, os nossos Governos não sabem ou não querem dar uns últimos tempos de vida em melhores condições.

- DESGOVERNO
Depois damos milhoes de euros aos paises do terçeiro mundo.E nos nao precisamos? Nao faremos parte do terçeiro mundo?

- JDCR
Esta situação é deprimente e entristece-nos, como residentes desta cidade que até já foi Capital Europeia da Cultura. Nos anos que correm e, sendo nós um pais dito desenvolvido, nada justifica a situação desumana em que estas pessoas se encontram. Contudo – e falo com conhecimento de causa – muitas dessas pessoas têm os seus empregos do qual auferem o devido vencimento, tal como todos nós, mas nada fazem para melhorar as suas condições de vida, ficando sempre à espera de uma intervenção do estado, por via das câmaras municipais.Não querendo generalizar aconselho vivamente (parte) os residentes nessa situação a fazerem também algo por si e pela sua família sem que estejam permanentemente “colados” aos subsídios estatais.


Passo a passo ...


Leia ...

conde-vira-rei-dos-livros

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e leia a opinião de Manuel ... ALEGRE:

Alegre confiante na continuidade
A situação do mercado editorial em Portugal traz-me tão preocupado como tantas outras coisas no Mundo. É a lógica da globalização. Uma lógica fria e irrefragável do mercado. Só espero que isto não ponha em causa a autonomia e a identidade da D. Quixote.” Manuel Alegre, autor da casa, comentava assim, ontem ao CM, a compra da editora aos espanhóis do Grupo Planeta pelo Grupo Pais do Amaral, agora líder de mercado.

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in Correio da Manhã, 2007,12,10

Woody Allen - Não vejo os meus filmes



* Paulo Portugal

É um dos realizadores mais famosos da actualidade, um actor desconcertante, um músico apaixonado pelo jazz de Nova Orleães. Esse é o Woody Allen que todos conhecem. Aquela figura meio desajeitada que regressa agora a Portugal em dose dupla: primeiro com o concerto de fim-de-ano no Casino Estoril, dia 31; e depois com ‘O Sonho de Cassandra’, novo filme que estreia nas salas nacionais a 10 de Janeiro.
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Mas há um outro Woody Allen. Aquele que vive escondido num ‘boneco’ aparentemente frágil, introvertido e tímido. Aos 72 anos, o realizador revela-o ao Correio Êxito, numa entrevista de vida em que se mostra como poucos até hoje tiveram o prazer de ver. E onde se explica pouco importado com o que pensam dele e com o que faz. Prova disso, a música que o traz ao Estoril: “Este será um concerto com a minha orquestra – a New Orleans Jazz Band – e iremos tocar o jazz de Nova Orleães. Eu sei que é algo que não interessa a ninguém, excepto para mim e os meus amigos.”

Allen confidencia ainda que escreve deitado na cama e não tem o costume de rever alguns dos seus maiores clássicos, como ‘Manhattan’, ou ‘Annie Hall’. Porquê? “Não volto a ver os meus filmes porque sei que apenas me irão destroçar o coração.”

"NÃO SINTO SAUDADES DE FAZER COMÉDIA EM PALCO"

Woody Allen vem tocar ao Casino Estoril na passagem de ano e estreia novo filme a 10 de Janeiro. Antes de ‘O Sonho de Cassandra’ chegar às salas, conheça mais sobre um homem que não vê com bons olhos o cinema do seu país, que adora escrever deitado e que dá muito valor ao ar que respira. A isso e ao jazz de Nova Orleães.

- Correio Êxito – O que poderão esperar os espectadores do seu concerto de réveillon em Lisboa?

- Woody Allen – Já não é a primeira vez que venho a Lisboa...

- Sim, esteve também no réveillon há três anos...

- Exacto. Este será um concerto com a minha orquestra (a New Orleans Jazz Band) e iremos tocar o jazz de Nova Orleães. Sei que é algo que não interessa a ninguém, excepto a mim e aos meus amigos. Será um misto de ritmos. Teremos jazz, blues, espirituais, ragtime, música de bordéis.

- O que interpretarão?

- Temas do Jelly Roll Morton, King Oliver, entre outros. Esta é a música que eu gosto. Imagino que nem um centésimo de um por cento das pessoas estarão interessadas neste tipo de música. Mas não deixa de ser um momento especial.

- Passando da música para o cinema: no seu último filme, ‘O Sonho de Cassandra’, Ewan McGregor e Colin Farrell são dois irmãos que vivem um drama parecido à mitologia grega. Concorda?

- Woody Allen – Não sei. Acho que estes irmãos fazem parte da típica classe média britânica. São pessoas normais. Apenas dois rapazes indiferenciados. Um deles, Ian (Ewan McGregor), sacrifica-se durante anos para ajudar o pai no restaurante, enquanto que o outro, Terry (Colin Farrell) é mais distante, repara carros e faz a sua vida com a rapariga que ama. Só quando se envolvem no drama deste filme é que sentimos que se trata mesmo de uma tragédia grega. Aí passam de irmãos fraternos a inimigos que tentam matar-se um ao outro.

- Li algures que escolheu Ewan McGregor porque o vira em palco no musical ‘Guys and Dolls’. Mas presumo que conhecia a carreira dele E em que filmes o poderia ter visto?

- ‘Moulin Rouge’

- Nunca vi o ‘Moulin Rouge’.

- ‘Star Wars’

- Também nunca vi o ‘Star Wars’. Acho que a primeira vez que o vi foi mesmo em ‘Guys and Dolls’. A escolha de Colin Farrell também foi súbita, já que teve apenas um minuto de audição consigo. No entanto, segundo afirma, limitou-se a fazer uma espécie de imitação sua. É verdade?.

- O que me lembro é que ele estava a brincar quando começou e disse que apenas faria um teste de um minuto pois tinha a ideia de que eu não gostava de falar com actores. Lembro-me de que brincámos um pouco, mas eu fiquei impressionado com o seu estilo, pois ele parecia exactamente aquilo que eu tinha escrito.

- Por falar em escrita, o Woody Allen é um realizador que escreve muito. De resto, o seu último livro, ‘Pura Anarquia’ foi um sucesso em Portugal. Como é que divide então o seu tempo, tendo em conta aquilo que escreve, o que lê, a procura de novos projectos e, claro, o tempo de rodagem de um filme?

- Na verdade, a maior parte do meu tempo é passada a escrever. A actividade de realizador é a que dispenso menos tempo. São apenas alguns meses durante o ano. Normalmente, estou em casa com a vida típica do escritor.

- E como é esse dia-a-dia?

- Levanto-me e começo a escrever o guião que tenho em mãos. Penso nele e reescrevo-o. Entretanto, escrevo também para a revista ‘The New Yorker’. Depois, quando tenho o guião terminado, passo para a produção, o que normalmente decorre em apenas três meses.

- Três meses, apenas?!

- Correcto. Por exemplo, estive recentemente em Espanha também durante três meses. Pode até dizer-se que são esses meses em que estou realmente a trabalhar. Depois, regresso a casa e começo a montar. Um processo que é ainda mais rápido. Em seis ou sete dias monto o filme todo. Depois disso, finalmente, regresso à minha condição de escritor.

- Sente-se um escritor, portanto.

- Sim, a vida de escritor é bastante boa.

- Escrever é para si um processo doloroso?

- Muito doloroso e cansativo. Deito-me na cama e consigo pensar numa palavra que vou escrever.

- Escreve na cama, é?

- Sim, estou deitado na cama a escrever. Quando escrevo o meu guião, tudo me parece óptimo. No entanto, quando chego ao local de filmagem, esse diálogo pode ser apenas uma referência para o actor usar as palavras que quiser. Na escrita narrativa tudo tem de estar no seu lugar. É um trabalho muito mais duro do que eu pensava ao início.

- Vive, então, uma espécie de mundo de fantasia.

- Exactamente. Uma fantasia fechada, com total liberdade criativa. Só quando tenho de fazer o filme é que as coisas se tornam complicadas. É aí que surgem os compromissos, os erros, os problemas. Depois, o filme perde alguma da beleza que tinha na página. Não é a obra-prima que pensava antes. É algo mais estranho e desajeitado, cheio de erros, oportunidades perdidas e escolhas atabalhoadas.

- Bom, não será essa uma realidade negra demais?

- Não. Por vezes é mesmo o que sinto. Mas é essa a diferença entre a ficção e a realidade. Quando escrevo não lido com o mundo real. Posso escrever durante algumas horas, depois parar e tocar clarinete, comer, passear. Quando estou a fazer um filme, é como se tivesse um emprego. Tenho de lá estar às sete da manhã, trabalhar ao frio e à chuva, a ouvir alguém a dizer que estamos atrasados. É muito difícil.

- Considera-se uma criatura de hábitos? E considera que esses hábitos se estendem em outras áreas da sua vida também?

- Sou uma criatura de hábitos, isso é verdade. Pergunte à minha mulher e ela lhe dirá. Gosto de fazer as mesmas coisas todos os dias. Acordar, correr na passadeira, levar os miúdos à escola, trabalhar, tocar clarinete, comer nos mesmos restaurantes. Uma coisa é certa: quando se é uma criatura de hábitos, muito do trabalho fica feito.

- E quando a sua rotina é alterada tem ataques de ansiedade?

- Não gosto quando ela é quebrada. Quer dizer, sou capaz de quebrar a minha rotina, mas sem a destabilizar. Se quero ser produtivo, tenho de aceitar essa rotina.

- Muitos dos seus filmes, tal como ‘O Sonho de Cassandra’, têm um papel importante na dicotomia de crime e castigo. Alguma vez cometeu algum pequeno crime ou alguma ilegalidade?

- Quando somos jovens, todos nós roubamos pequenas coisas, sejam doces em lojas ou um livro de quadradinhos. Não porque tenhamos necessidade ou porque não possamos comprar, mas para imitar outros miúdos ou porque é divertido fazê-lo. Mas nunca fiz nada ilegal por necessidade, pelo menos nada de sério. É verdade que teria sido interessante uma vida de crime. Tem o seu lado romântico, artístico e estimulante. O acto de executar roubos perfeitos, a fraude perfeita é um desafio interessante. Agora, não sei se teria a coragem para o fazer, mas seria mais interessante para mim do que trabalhar num escritório todo o dia. Mas talvez gostasse.

- Depois de ‘Match Point’, porque escolheu fazer outro filme sobre a cobiça? O que o interessa tanto nesse tema?

- É uma das vertentes do drama, tal como o adultério, homicídio, a cobiça, o desengano, a paixão. São elementos que enriquecem as histórias. E a cobiça é uma boa motivação, pois toda a gente tem ambição e deseja progredir, têm os seus sonhos e fantasias. É isso que promove grande parte das histórias.

- Ainda vai muito ao cinema?

- Sim, apesar de o estado do cinema americano não ser o melhor. Há muita gente talentosa, mas que tem algumas dificuldades em fazer os seus filmes. Talvez por isso os melhores filmes que vejo nos Estados Unidos sejam aqueles que vêm de fora. Um dos melhores que vi nos últimos tempos foi ‘A Vida dos Outros’. A indústria do cinema americano tornou-se completamente comercial, no pior sentido. Para já, não vejo uma alternativa ao que se faz. O futuro, no entanto, repousa nos jovens cineastas que tentam fazer coisas novas, mas lutam contra tremendas adversidades.

- Nos anos 60 fez ‘stand-up comedy’. É algo que só pertence ao passado? Não gostaria de voltar a fazer esse tipo de espectáculos?

- Não sinto saudades de subir ao palco para fazer comédia, porque nessa altura estava no negócio do cabaret. Era esgotante pois tinha de fazer dois espectáculos por dia, e três ao fim-de-semana. Era uma actividade itinerante durante 40 semanas num ano, fazendo todos os dias os mesmos números. Ia sempre para a cama às cinco da manhã, dormia parte do dia. Agora, talvez até gostasse de fazer algo semelhante, até porque poderia seleccionar melhor o meu espectáculo.

- Sente alguma nostalgia

- Pode ser, mas não é fácil. Até porque a escrita para este tipo de humor é muito exigente, pois tem de segurar-nos durante uma hora, sempre a fazer as pessoas rir. É muito difícil manter esse nível de gargalhadas do público durante tanto tempo. E claro que não tenho disponibilidade para fazer isso agora, mas é tentador e dá uma sensação óptima ter as pessoas diante de nós a rir. Melhor é impossível.

"PARA MIM O IMPORTANTE É TER SAÚDE"

- Pode dizer-se que os filmes são um pouco sobre a procura do sentido da vida? É algo que sente que já encontrou?

- Não, e o problema é que quanto mais velhos ficamos, mais esse problema se agrava. Tudo se torna mais deprimente.

- O que é que hoje em dia dá mais valor na sua vida?

- Bom, acho que é o ar. Para mim, o importante é ter saúde. É o meu valor prioritário. O conhecimento seria a minha segunda escolha, depois o dinheiro e, a seguir, o amor. Serão essas as quatro coisas mais importantes para mim.

- Tem algum plano para voltar a filmar na América?

- A verdade é que consigo arranjar financiamento nos Estados Unidos, só que a diferença é as pessoas que financiam também querem participar. Não gosto de trabalhar assim. Gosto de escrever o guião, mas não gosto que o leiam, nem de dizer quem vou contratar. Na Europa, isso não constitui problema.

- Como encara os seus filmes antigos? Há algum que goste particularmente?

- Há alguns de que me sinto particularmente orgulhoso. É o caso de ‘A Rosa Púrpura do Cairo’, ‘Maridos e Mulheres’, ‘Balas Sobre a Broadway’. Mais recentemente, ‘Match Point’ e ‘O Sonho de Cassandra’, possivelmente porque são os mais negros.

- Não gosta do ‘Annie Hall’?

- Não desgosto, teve de resto um enorme sucesso comercial. Mas acho até que essa é logo uma das razões para desconfiar (risos). Deu enorme prazer fazê-lo, mas não é um dos meus preferidos.

- E o ‘Manhattan’?

- Não lhe posso responder porque nunca o vi, pelo menos desde que o fiz. Não volto a ver os meus filmes porque sei que apenas me irão destroçar o coração.

PERFIL

Alan Stewart Konigsberg nasceu a 1 de Dezembro de 1935, em Brooklyn, Nova Iorque. Cedo percebeu que o espírito humorístico lhe poderia render algum dinheiro. Assim começou a uma carreira de ‘stand-up comedy’, nos anos 60, até que se estreia como realizador, em 1966, com a paródia ‘What’s Up Tiger Lily?’ A sua filmografia, com mais de 40 títulos, está cheia de pérolas como ‘Annie Hall’ (1977), onde ganhou o Óscar pela realização e Melhor Filme, para além de ‘Manhattan’ (1979) ou ‘A Rosa Púrpura do Cairo’ (1985). Vive há dez anos com Soon-Yi Previn, a filha adoptiva de Mia Farrow, actriz com quem teve uma longa ligação e um filho.
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in Correio da Manhã 2007.12.29
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Foto de WA clarinetista - Pedro Catarino

sábado, 29 de dezembro de 2007

Hoje há musica (22) - Canção do Expedicionário

Ouvir aqui a canção do expedicionário
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Guilherme de Almeida
Melody - Spartaco Rossi

Você sabe de onde eu venho?
Venho do morro, do Engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais,
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Dos pampas, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal.

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Eu venho da minha terra,
Da casa branca da serra
E do luar do meu sertão;
Venho da minha Maria
Cujo nome principia
Na palma da minha mão,
Braços mornos de Moema,
Lábios de mel de Iracema
Estendidos para mim.
Ó minha terra querida
Da Senhora Aparecida
E do Senhor do Bonfim!

Por mais terras que eu percorra...

Você sabe de onde eu venho ?
E de uma Pátria que eu tenho
No bôjo do meu violão;
Que de viver em meu peito
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.
Deixei lá atrás meu terreno,
Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacaranda,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina,
Onde canta o sabiá.



retirada daqui:

http://ingeb.org/home.html

Hoje há «música» (21) - Revolução Russa - 90 º aniversário

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Oscar Niemeyer fez cem anos - O importante é a Vida



Oscar Niemeyer fez cem anos
O importante é a vida

É com esta simplicidade que Oscar Niemeyer, desenrolando as evidências com a mesma certeza da mão que risca no papel um dos seus projectos extraordinários, se revela o Homem em que vive, em estreita convivialidade, o comunista e o arquitecto. Realidades que nunca se dissociam, surgindo a cada passo da sua vida evidenciando uma genialidade e uma generosidade, ambas legendárias.

«A Arquitectura? Vale a pena repetir:
o importante é a vida, os amigos,
este mundo injusto que devemos mudar.
O resto…Vivemos num regime capitalista,
e os seus governantes,
por mais progressistas que sejam,
nada de essencial nos oferecem.
Representam essa sociedade de classes,
de ricos e pobres, de sem-terra,
de sem-tecto,
que só a revolução pode modificar.»
(1)


Generosidade transbordante não só nos gestos mais triviais, cujo relato incomoda Oscar, mas os mais grandiosos, como o de ter prescindido de ser o titular do projecto do edíficio-sede das Nações Unidas em favor de Le Corbusier, por saber do extremo empenho desse seu mestre, amigo e admirador, em o realizar. Deixar de ser autor desse projecto emblemático para se tornar um quase anónimo colaborador, depois de ter ganho o concurso público internacional quando Niemeyer, embora já sendo conhecido, ainda estava muito longe da fama que uns anos depois adquiriu por mérito próprio, é certamente incompreensível para a esmagadora maioria dos arquitectos contemporâneos, cavalos de raça: arquitectura, prémio, medalha no dizer pitoresco de Paulo Mendes da Rocha, gente que se morde sem olhar a meios à porta de papel couché das revistas do glamour arquitectónico e que considera os concursos prescindíveis a favor da entrega directa de obras desde que seja a si-próprio, a mais das vezes em função de um mérito adquirido em suado marketing.
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Nos antípodas dessa gente está o comunista, o arquitecto, o homem Oscar Niemeyer, a infinita grandeza de alma num corpo fisicamente pequeno de incomensurável estatura humana, de trasbordante imaginação e criatividade que o tornam no arquitecto do século XX, no político sem desvios ideológicos, numa das figuras centrais do seu tempo e da História de todo o sempre.
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A arquitectura de Niemeyer rapidamente começou a ser conhecida. Logo nas primeiras obras o arquitecto libertava-se dos frios constrangimentos da função, sem deixar de a cumprir com rigor, para expandir a imaginação explorando até ao limite as possibilidades técnicas proporcionadas pelos novos materiais de construção. Libertava-se dos espartilhos do modernismo mais extremo, com uma linguagem muito própria que fazia a leitura dos lugares geográficos, da sua realidade física para dar corpo a objectos arquitectónicos incomparáveis. Quando Niemeyer diz que a natureza desconhece a linha recta, não está a fazer retórica, está a estabelecer um diálogo aberto entre a arquitectura e a natureza e a transpor esse diálogo para um desenho substantivo que desenvolve com mestria sem supérfluos. Nada é dispensável e tudo se torna e descobre coerente. Niemeyer não desenha contra a natureza, esteja ela virgem de sinais construídos ou poluída por ordenamentos ou desordenamentos edificados. Recupera-a para fazer da natureza material de arquitectura. É assim dos seus primeiros aos últimos projectos: na Pampulha, a deslumbrante curva parabólica da Igreja de S. Franscisco de Assis a fazer desaparecer paredes e cobertura unindo-as numa forma única; o edifício Copan, em S. Paulo, corpo ondulante de movimento sublinhado pela sobreposição de finas linhas horizontais, ameaçando ir até à lua, fronteira entre o interior e o exterior de grande delicadeza e sensualidade que adquire uma enorme força visual atirando para segundo plano a solução técnica encontrada para, em curva e contracurva, contraventar o corpo edificado e resolver a dificuldade de construir com aquela dimensão sem recurso a pesada estrutura; continua a ser assim na sede do Partido Comunista Francês em Paris onde o terreno onde está implantado é radicalmente transformado por um edifício que parece flutuar atrás de uma cúpula que marca a confluência de duas avenidas limítrofes que fazem duro e apertado ângulo agudo; continua a ser assim no Museu de Arte Contemporânea em Niteroi, flor-ovni suspenso no extremo de uma falésia à beira mar. Quase cem anos entre o primeiro e o mais recente projecto, a imaginação que se plasma nos desenhos contínua jovem para assombro do mundo. Poder-se-ia desfiar o resto do rol de projectos de arquitectura que continuam a sair da mão, sobretudo da cabeça genial de Niemeyer para continuar a descobrir em cada um deles a extraordinária inventiva que se, por um lado, libertou a arquitectura dos espartilhos funcionais que a esqueletizavam, apagando o valor da forma arquitectónica para se satisfazerem na aridez de ver o tubo digestivo funcionar com precisão relojoeira, por outro, nunca resvalou nos maneirismos patéticos que subalternizam o uso para que se projecta acenando com as gloríolas de frustres iconografias, um decorativismo de adereços que enxameiam até ao bocejo as revistas de arquitectura. Próximo do seu modo de pensar e fazer arquitectura estiveram os construtivistas soviéticos explorando novos materiais, novas técnicas levando o «espaço arquitectural» aos limites da imaginação desamarrando-se do racionalismo funcional sem perder o seu sentido.

Arquitectura e política

Lá está Brasília para o mostrar! O tempo em que se projectou a cidade, quatro anos apenas, ainda continua a espantar o próprio Niemeyer e é bem reveladora da espantosa intuição, feita de muito e muito trabalho, do arquitecto que, com um traço despojado, desenha com extraordinária clareza edifícios monumentais e blocos habitacionais dando corpo ao plano piloto de Lúcio Costa. É igualmente emocionante olhar para os projectos construídos e olhar para os desenhos desses projectos. O que desilude Óscar é que a «sua» cidade que só será «sua» quando houver uma outra política mais justa, uma sociedade sem classes. Essa sociedade burguesa, capitalista que rasteirou miseravelmente o que projectou e construiu em Brasília conseguindo com um artificio malévolo na aplicação das celebradas leis do mercado impor a discriminação social entre as duas alas habitacionais com tipologias rigorosamente iguais, impondo preços de venda e aluguer brutalmente diferentes entre a ala nascente e a poente. Será porque o sol que nasce de um lado é diferente do que se põe no outro? Não, o sol quando nasce neste mundo não é igual para todos.
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«Você é arquitecto para fazer o quê? Uma excepção ou outra!? No Brasil faltam doze milhões de habitações e você é arquitecto para esperar por um cliente rico, para fazer um palácio, um teatro, um museu? Você vai fazer uma casa diferente de outra, de “arquitecto”? Ter obras de arquitectura como facto isolado, não faz sentido», diz Paulo Mendes da Rocha. Assim pensa também Óscar Niemeyer a fazer centenas de obras de excepcionais, sejam as escolas que acaba de desenhar para oferecer a Cuba em que ele quer que a arquitectura seja um incentivo para o prazer de aprender seja na catedral de Brasília, deslumbrante vista do exterior mais deslumbrante, se possível, quando se percorre um corredor enterrado, obscurecido para, subitamente, se ter uma explosão de luz coada por vitrais fantásticos ou na forma aparentemente simples do Hotel Casino do Funchal, que marca a paisagem e o turismo da Madeira de forma diferente, exemplar.

A luta vale a pena

A revolta de Niemeyer cresce com as injustiças, com a exploração, a violência, legal ou ilegal, que é o ADN desta sociedade. «Às vezes o (José Aparecido) nas suas idas às cidades-satélites. Logo um grupo de moradores o cerca, aflito por velhas promessas – promessas centenárias – a implorar ajuda dos sucessivos governantes. Pedidos humildes, mas fundamentais para os que lutam por subsistir, dentro dessa discriminação odiosa que o capitalismo institui. Não reivindicam casa para morar, mas apenas um pedaço de terra que também lhes pertence e que nada representa num país imenso, um verdadeiro continente. Passei a compreender então como nós, arquitectos, estávamos enganados quando pensávamos nos grandes complexos populares, nas casas pré-fabricadas, moduladas e económicas, que a técnica actual oferece. E senti, dentro da realidade brasileira, que a miséria do povo é maior, muito maior – tão grande que os nossos irmãos mais pobres só reclamam um pequeno lote onde possam construir seus míseros barracos.» (2)
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A arquitectura?
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Indigna-se com a sociedade capitalista, indigna-se quando partidos comunistas perdem o espírito revolucionário, acomodando-se até miserável apagamento. O seu compromisso enquanto homem e arquitecto é, sempre foi, político e social.
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«Afinal o que vocês comunistas pretendem? Mudar a sociedade respondi. O homem dirigiu-se ao rapaz que batia á máquina: escreve aí… mudar a sociedade. E o dactilógrafo, voltando-se para mim, retrucou: Vai ser difícil.» (3)
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Pois vai, camarada Niemeyer, pois vai mas olhando para ti, olhando para a tua arquitectura, para os cem anos de vida que acabaste de celebrar, sabemos que, sem nenhuma esperança teológica, se fará. Não se pode é desistir de lutar.
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(1) O comunismo, os comunistas continuam a incomodar muita gente. Um tal Rui Caruana, arquitecto, deduz, no Ypsilon do Público, que «o Óscar escolheu entre dois monstros. Entre Estaline e Hitler, escolheu seguir aquele que não defendia a supremacia de uma raça sobre a outra». O jornalista conclui que isto é contextualizar. Quando se levanta um pouco a tampa da cabeça dessas criaturas o fedor é insuportável e revela imediatamente o seu conteúdo.

(2) Citando parte deste texto de Niemeyer, a celebrada historiadora de arquitectura e arquitecta Ana Vaz Milheiro consegue extrair a tese extraordinária que é a do fim da inocência da arquitectura que a aliviam de compromissos ideológicos e sociais que impediam a sua progressão. O resto do texto tem outras teses de jaez equivalente. Ou isto se inscreve na vigarice intelectual normal que permite as mais mirabolantes piruetas ou a velocidade de circulação da senhora é muito reduzida. Provavelmente estão as duas hipóteses correctas.

(3) Relato de Óscar Niemeyer de um interrogatório policial a que foi submetido.
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in Avante 2007.12.27


ver também:


quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Hoje há Música (20) - Cabaret - Money


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Hoje há Música (19) - Life is a Cabaret


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Ícone do canal

GardeniaMana


A music video of the film "Cabaret" with shot of the last scene and "Mein Herr". The music is "Cabaret" of the film. Liza, we love you ^^!!
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Hoje há música (18.1) - Cabaret e Casablanca

Estas são duas das músicas de sentido contrário que me «estremecem». A 1ª é o hino nazi «Tomorrow belongs to Me» no filme «Cabaret»_(Bob Fosse): um fio de voz dum rapaz que vai engrossando com a junção de outras vozes juvenis, até atingir o climax com toda a assistência cantando em coro, incluindo uma criança, perante o evidente desagrado dum velhote e o abandono de cena por três dos principais personagens do filme: o rico judeu estudante de inglês, o inglês vizinho da cantora de cabaret e o «entertainer» do Cabaret.
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A outra, de sentido contrário, é a «luta» entre a canção dos oficiais nazis em «Casablanca»_(Michael Curtiz), à qual se sobrepõe o hino da França Livre - A Marselhesa - que termina com o encerramento pela polícia francesa do café de Rick.
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Tomorrow Belongs to Me" was written by John Kander and Fred Ebb as a pastiche of the rousing German patriotic songs of the period (Die Wacht am Rhein[1] and the Horst Wessel Lied[2], for instance). Sung by a stereotypical Hitler Youth, it often has been mistaken for genuine. This has led to the songwriters (both Jewish, incidentally) being accused of anti-Semitism.


.Speculation continues about the actual singer of "Tomorrow Belongs to Me". Apparently, Bob Fosse's biography states that the song was recorded for the film by Broadway singer/actor, Mark Lambert. Lambert is said to have refused to dye his hair blond for filming so - in one of the film's most powerful scenes - a young German extra stood in for him and mimed the song on camera.


In one case, Kander and Ebb did their job a little too well - the number 'Tomorrow Belongs to Me', which occurs twice during the first act, and acts as an anthem for the Nazi characters is chilling in its theatrical context. However, quite contrary to what the composer and lyricist would have intended, the song was later adopted by a neo-Nazi group, Skrewdriver, principally due to the final verse:


"Oh, Fatherland, Fatherland, show us the time your children have waited to see
The morning will come when the world is mine
Tomorrow belongs to me!"

Originally sung in English, "Tomorrow Belongs To Me" was dubbed in German for the French version of the film(3).

(1)Die Wacht am Rhein http://www.youtube.com/watch?v=6OBwgV...
(2)Horst Wessel Lied http://www.youtube.com/watch?v=bS-pJh...
(3)German song from French Version http://www.youtube.com/watch?v=ZmynVk...

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linuxrodo