Discurso de Lula da Silva (excerto)

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domingo, 30 de dezembro de 2007

Uma semana de Natal cigano


Porto: Festa no bairro do Cerco juntou 200 numa tenda
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* João Carlos Malta
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Quem está habituado a um Natal tradicional, em que na Consoada todos ficam sentados solenemente a comer as tradicionais iguarias da quadra, pode sentir-se deslocado, mas para o povo cigano a festa não é um dia; é uma semana e é para ser vivida e gozada sem limites. Muita cor, muita alegria e música suficiente para que as ancas não parem de abanar. No Porto, a família Melo, uma das mais tradicionais do Norte, juntou 200 pessoas que festejam até amanhã no pavilhão do Bairro do Cerco.
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De copo na mão, os convivas enchem a tenda construída para a ocasião e repartem o tempo entre a pista de dança e as mesas onde a cor dos cabazes de fruta se mistura com os aromas picantes das várias carnes.

Para pôr de pé a celebração, pelo sexto ano consecutivo realizada na freguesia de Campanhã, foi necessária a módica quantia de 20 mil euros. Os números parecem impressionantes, mas reflectem o esforço para garantir que nada falte. Foram comprados 104 quilos de bacalhau, 30 cabritos e 22 quilos de polvo. E as bocas não tiveram hipótese de ficar secas porque os 25 barris de cerveja não deram tréguas aos copos.

“Isto é a altura mais importante para os ciganos. É a festa a que mais damos valor. Há dois dias que não durmo, mas não me importo. Aliás, os únicos que descansam nesta altura são as crianças”, diz Samério Gavarras, filho do patriarca da família Melo.

“É beber até não poder mais. Por isso é que temos esta cerveja toda. O povo cigano só quer festa e paz, não gosta de confusões. Esta é, aliás, uma ocasião em que se houver alguma quezília antiga, fica logo esquecida”, acrescenta.

Enquanto isso, a sua mulher, Mónica Leite, não tem descanso. Na cozinha a azáfama não pára e há que saciar o apetite que cresce ao ritmo da dança. A alegria é contagiante e o sistema de som, com karaoke, não deixa que ninguém fique parado durante muito tempo.

“Não sou cigana de nascença. Casei há nove anos com um e posso dizer-lhe que aqui o Natal é mais divertido, há mais alegria e também se come mais. Gosto bastante mais deste do que do tradicional”, sustenta Mónica.

Para esta festa não é preciso ter convite: basta ser cigano e trazer boa disposição. “Isto é como um minicasamento com a simples diferença que não é preciso ser convidado ”, explica Samério.

No que diz respeito à culinária, não é o bacalhau que está no trono. Esse é ocupado por um legume. “Para o cigano o mais importante é o feijão” , revelou o patriarca Manuel Melo.

O ícone dos ciganos do Porto, o futebolista Ricardo Quaresma, não esteve presente, com muita pena de Samério. “Ele tem muito orgulho em ser cigano e costuma vir sempre às nossas festas e casamentos, mas no Natal vai para Lisboa porque a família dele é de lá”, explica.

PORMENORES

FELICITAÇÕES

A Associação Cultural Recreativa Desportiva Ciganos de Portugal, presidida por Alberto Melo, recebeu felicitações de Natal, entre outras personalidades, do Presidente da República e do primeiro-ministro.

RELIGIÃO

O Natal é a festa mais importante para a comunidade, sendo que a maior parte pertence à Igreja Evangélica. Há também uma percentagem significativa de católicos.

MÚSICA

A música nunca pára durante toda a noite. Os decibéis é que vão diminuindo a partir da 01h00. “Nunca tivemos queixas”, disse Samério Gavarras. O pavilhão, onde se tem realizado a festa nos últimos seis anos, é cedido pela Junta de Freguesia de Campanhã.

APONTAMENTOS DE UMA FESTA DIFERENTE

Apesar dos espectáculos musicais não darem azo a grandes paragens, a tradição manda que as festas sejam feitas em tendas, o que nesta época leva a que as baixas temperaturas sejam difíceis de suportar. Para tal, o braseiro foi o fiel companheiro dos mais friorentos.

O povo cigano gosta de festas por natureza. Em qualquer comemoração não pode faltar uma boa aparelhagem e órgão que, comandados pela voz arrastada do artista de serviço, leva a que mulheres e homens dancem até ao sol raiar.

As crianças são o sal de qualquer Natal. E nas celebrações ciganas não faltam. No pavilhão do Bairro do Cerco eram às dezenas aqueles que, em correrias sem fim e de sorriso fácil, começaram a perceber a importância da festa para a sua comunidade.

Não faltava nada na mesa da festa organizada pela família Melo. A fartura de carnes ia desde as mais invulgares, como os ouriços, até aos tradicionais leitões. As cozinheiras é que não tiveram mãos a medir, mas não houve quem se pudesse queixar de estar a passar fome.

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in Correio da Manhã 2007.12.27
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Foto - José Rebelo - (Alegria, cor e música são ingredientes que não faltam na festa cigana organizada pela família Melo, uma das mais tradicionais do Norte)

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