Discurso de Lula da Silva (excerto)

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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

RESISTÊNCIA, AS VOZES DE UMA GERAÇÃO






Edição dia 27 de fevereiro de 2012
“Há canções que acompanham a vida de gerações. Há outras que falam sobre isso”

in Ao Volante do Éter, 1993
Vinte anos passados sobre a concerto de estreia da Resistência no S. Luiz, é altura de celebrar o aparecimento pioneiro supergrupo um caso exemplar e um momento irrepetível da História da música portuguesa.
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A Resistência durou apenas dois anos e dois meses mas esse tempo foi mais que suficiente para fazer desta banda um nome incontornável na história de música português, mesmo que, depois deles e muitas vezes por causa deles, tenham sido inúmeros os supergrupos que apareceram a seguir.

“As vozes de uma geração” é uma edição limitada constituída pelos álbuns “Palavras ao Vento” e “Mano a Mano”a que se juntam os temas “Voz-Amália-De-Nós” do álbum “Variações: As Canções de António”), “Chamaram-Me Cigano” do álbum “Filhos da Madrugada”, “Mano A Mano” e “Finisterra”, ambos retirados do álbum “Ao Vivo no Armazém 22” e um livro que inclui um texto biográfico do jornalista António Pires, dezenas de fotos de Augusto Brázio, muitas delas raras ou inéditas e as letras de todas as canções.
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Na Resistência, e de forma absolutamente inesperada, juntaram-se músicos e cantores de grupos rock que aparentemente pouco ou nada tinham em comum – Tim (Xutos & Pontapés), Miguel Ângelo e Fernando Cunha (Delfins), Pedro Ayres Magalhães (ex-Heróis do Mar, na altura já à frente dos Madredeus) e Olavo Bilac (dos novíssimos Santos & Pecadores) – e ainda músicos vindos de outras áreas como a música popular – Fernando Júdice e José Salgueiro (ambos recém-saídos dos Trovante) – e o jazz, em que foram recrutados o baterista Alexandre Frazão e os guitarristas Fredo Mergner e Rui Luís Pereira (Dudas), que devido ao seu virtuosismo foram os responsáveis pelos memoráveis solos das canções da Resistência. Depois, porque na Resistência se celebrava o legado musical de alguns dos grupos referidos (e ainda de outros da música portuguesa como os Sitiados, os Rádio Macau e José Afonso) mas com uma roupagem visceralmente acústica, quase folk e com inúmeros ganchos lançados a outras músicas, que contrastava com o lado mais duro e rock dos originais. E, principalmente, porque o foco principal das suas versões eram – ainda mais do que a música e as melodias – as palavras que eram cantadas.
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Este programa ideológico da Resistência – dar o protagonismo aos poemas que eram interpretados -- surgia já, aliás, numa versão anterior e embrionária do projeto, quando Pedro Ayres Magalhães convidou as cantoras Filipa Pais, Teresa Salgueiro (Madredeus) e Anabela Duarte (Mler Ife Dada) para um recital na Feira do Livro de Lisboa, em junho de 1990. Nesse concerto, “Resistência – As Primeiras Páginas (Canções Ilustradas)”, surgiu já o inédito “Liberdade” – de Pedro Ayres, posteriormente gravado no primeiro álbum da Resistência – e as palavras das canções interpretadas foram projetadas numa tela, de modo a dar-lhes maior visibilidade. A semente estava lançada.
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Uma semente que daria novos frutos um ano e meio depois, mas já sem vozes femininas no projeto. Convidados para dar um concerto num comício de um partido político no Rossio, em outubro de 1991, os Delfins recusaram-se a participar porque o cachet não era suficiente. Mas dois deles – Fernando Cunha e Miguel Ângelo – aceitaram e levaram mais dois amigos: Tim e Pedro Ayres Magalhães (que, por coincidência, acumulava então o papel de guitarrista e principal compositor dos Madredeus com o de baixista dos Delfins). O grupo apresentou-se sob a designação All-Stars, interpretou temas em formato acústico dos Xutos & Pontapés, Heróis do Mar e Delfins… e logo ali perceberam que havia algo de muito especial a acontecer. Mais uma coincidência: com um crédito de muitas horas de ocupação do Êxito Estúdio (mercê de um acordo entre a União Lisboa, agência dos Delfins e dos Madredeus, e este estúdio de gravação), os quatro juntam-se para registar as bases daquilo que viria a ser o primeiro álbum da Resistência, “Palavras ao Vento”.
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Na gravação do álbum de estreia participaram – para além destes quatro músicos e cantores – Olavo Bilac, os guitarristas Fredo Mergner e Rui Luís Pereira (mais conhecido como Dudas) e, numa fase posterior, uma secção rítmica constituída por dois músicos brasileiros ligados ao jazz, o baterista Alexandre Frazão e o baixista Yuri Daniel, que gravaria as partes de baixo em dois temas do álbum, ficando os outros por conta de Fernando Júdice. “Palavras ao Vento” seria editado em vésperas do Natal de 91, mas antes disso, a 29 e 30 de novembro, a Resistência pré-apresentou o álbum ao vivo no Teatro Municipal de S. Luiz, no âmbito do festival outono em Lisboa, perante uma plateia rendida a esta fórmula nova na música portuguesa: a reinterpretação de temas vindos do cancioneiro rock nacional dos anos 80, mas apresentados de uma forma mais crua e simples, prontos a ser cantados por todos tal como todos eles (incluindo dois habituais não cantores como Fernando Cunha e Pedro Ayres) também os podiam cantar. E com as palavras a serem escutadas por cima de uma “parede de som” feita de cinco guitarras, baixo e bateria.
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“Palavras ao Vento” rebentou na tabela de vendas da AFP em janeiro de 1992 e manteve-se no primeiro lugar do Top nacional durante largas semanas, acabando por atingir a marca de dupla-platina. E ao sucesso de vendas sucedeu-se o sucesso de inúmeros concertos que levaram a Resistência a variadíssimas cidades do país durante esse ano. Concertos cada vez mais esgotados – já com a presença do percussionista José Salgueiro (outro ex-Trovante) – e em que, de dia para dia, se notava de claramente que canções que até aí tinham passado mais ou menos despercebidas eram agora cantadas e compreendidas por todos. “Nasce Selvagem”, dos Delfins, e “Não Sou o Único” tornaram-se hinos populares obrigatórios. Outras canções destes dois grupos e ainda temas dos Heróis do Mar – como “Fado” e “Nunca Mais” – ocupavam então o éter e começavam a criar uma “memória coletiva” que ainda hoje se mantém
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Embalados pela onda de euforia gerada pela edição de “Palavras ao Vento” e dos espetáculos que se seguiram, os músicos da Resistência começam a gravar as maquetas do segundo álbum, “Mano a Mano”, logo na primavera de 1992. E, entre agosto e outubro desse ano, entram no estúdio Angel II, para o registo definitivo. Com um espectro estilístico ainda mais alargado depois de variadíssimos ensaios e concertos, o segundo álbum não se afasta no entanto dos traços inicialmente definidos: as harmonias de guitarras e de vozes são agora mais importantes, os jogos tímbricos são mais arrojados, mas à frente de tudo continuam as palavras. E, desta vez, palavras (e músicas) que vêm também de outros lados que não apenas os grupos originais dos quatro fundadores da Resistência: em “Mano a Mano” entram também temas dos Trovante, Rádio Macau, Sitiados e José Afonso.
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A apresentação oficial do novo álbum foi marcada para 4 de dezembro de 1992, no Armazém 22 – um hangar inóspito pertencente ao Porto de Lisboa e que, no espaço de um dia, foi transformado numa sala de espetáculos para milhares de pessoas. Os mesmos milhares que se ouvem a cantar em coro com a banda no álbum “Ao Vivo no Armazém 22”, gravado nesse dia e editado no ano seguinte. Um álbum que, para além de muitos dos temas gravados pela Resistência nos seus dois discos de estúdio, incluía ainda dois inéditos: os instrumentais “Mano a Mano” (Nota: apesar de ter dado nome ao segundo álbum do grupo, este tema não aparecia no seu alinhamento) e “Finisterra”, respetivamente de Pedro Ayres e Dudas.
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A carreira da Resistência teve alguns momentos que, para eles e para quem a eles assistiu se tornaram absolutamente inesquecíveis. Os concertos de estreia no S.Luiz, sim, o concerto do Armazém 22, idem. Mas também todos os concertos das suas duas digressões nacionais e alguns especiais, como os que os juntou à Lua Extravagante, na Aula Magna, em fevereiro de 1992, e o Concerto Contra o Racismo, em Loures, janeiro de 1993, que contou com a presença do então presidente da República Mário Soares. Ou ainda a sua participação nos álbuns de homenagem a António Variações e José Afonso (ambos editados em 1994). Mas aquele que ficou como o pico maior desta curta história foi o festival Portugal ao Vivo, que decorreu no Estádio de Alvalade, a 26 de junho de 1993. Nele participaram a Resistência, Madredeus, Sétima Legião, Xutos & Pontapés, Sitiados e Delfins e, nesse dia, estavam lá cerca de 50 mil pessoas a celebrar a música portuguesa e muitas das canções que a Resistência também cantava. Foi nesse dia que o conceito e ideário da Resistência (e o seu próprio nome) ganharam todo um novo sentido.



Alinhamento
CD 1 – "Palavras ao Vento"
1:Nasce Selvagem
2:Não Sou O Único
3:Marcha Dos Desalinhados
4:Nunca Mais
5:Só No Mar
6:Liberdade
7:Aquele inverno
8:No Meu Quarto
9:Fado
10:Circo De Feras

Temas extra
11:Voz-Amália-De-Nós (retirado do álbum “Variações: As Canções de António”)
12: Chamaram-Me Cigano (retirado do álbum “Filhos da Madrugada”)

CD 2 – "Mano a Mano"

1:Um Lugar Ao Sol
2:Amanhã É Sempre Longe Demais
3:Esta Cidade
4:Que Amor Não Me Engana
5:Fim
6:A Noite
7:Traz Outro Amigo Também
8:Prisão Em Ti
9:Perigo
10:Timor

Temas extra
11:Mano A Mano (retirado do álbum “Ao Vivo no Armazém 22”)
12:Finisterra (retirado do álbum “Ao Vivo no Armazém 22”)

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