As atenções voltam-se de novo para o bairro da Bela Vista e desta vez é por boas razões
25.05.2010 - 10:20 Por Natália Abreu, com Lusa
No Bairro da Bela Vista, em Setúbal, os nomes das zonas residenciais são coloridos, mas a realidade dos cerca de 4500 habitantes que ali moram, distribuídos pelos bairros azul, amarelo e cor-de-rosa é bem menos alegre. No último ano, este aglomerado populacional foi notícia pela insegurança, violência, agitação social. Desta vez, não. A Câmara de Setúbal aprovou um plano de recuperação dos espaços públicos nos bairros amarelo e cor-de-rosa, um sinal de esperança para moradores que, porém, recebem a boa nova com alguma desconfiança.
Em 2009, a Bela Vista foi notícia por causa de confrontos (Nuno Ferreira Santos)
"Promessas há muitas, mas obras não vejo nada. Só vendo. Só acredito vendo", diz Cristina Costa, uma moradora. "Os bairros todos aqui à volta já foram arranjados. Só a Bela Vista é que há 30 anos não leva uma tinta", acrescenta António Mendes.
A primeira empreitada custará 1,6 milhões de euros e vai arrancar daqui a dois meses. É a única com concurso. O restante, 1,9 milhões em obras, será entregue por ajuste directo, repartido em dezena e meia de empreitadas que, no entanto, deixa de fora o bairro azul, o mais problemático em termos de conflitos sociais. Por agora, a sorte cabe apenas aos habitantes das zonas amarela e cor-de-rosa. Para o outro, fala-se num destino bem diferente: a demolição. Antes disso, é preciso encontrar alojamento alternativo. Há responsáveis que admitem este cenário, mas ninguém fala em prazos.
Em Maio de 2009, a Bela Vista chamou a atenção do país por causa de tumultos ocorridos na sequência da morte de um filho do bairro. Muita gente mobilizou-se para, depois disso, tentarem sacudir a má imagem que ficou colada à Bela Vista. Um ano depois, parte dessa mesma população voltará a ser chamada a ajudar o bairro, porque a requalificação dos prédios será feita pelos próprios moradores, que depois terão de zelar pela manutenção, salienta a presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira. A autarquia limitar-se-á a recuperar espaços comuns, passeios, iluminação pública, pavimentos, e a plantar árvores. Na imagem virtual que tenta dar uma ideia da Bela Vista pós-obras, vêem-se duas dezenas de logradouros e pátios recuperados e luminosos, no meio de prédios que aparecem a cinzento. Certamente ajuda a destacar o que vai mudar - ao mesmo tempo que lembra que outro tanto continuará na mesma.
O pólo da biblioteca também será reabilitado. O programa de intervenções é vasto, o prazo de conclusão aponta para 2011. No programa está também a recuperação de espaços desportivos e parques infantis. Apenas um edifício privado será recuperado. Esta é, aliás, uma das principais queixas da autarquia. "O Estado não tem qualquer programa que permita a recuperação de habitações", explica o vereador Carlos Rabaçal. Os anos de 2000, 2002, 2007 e 2009 foram profícuos em notícias sobre a Bela Vista. Geralmente com imagens de chuvadas de pedra, de caixotes do lixo a arder e cargas policiais. Da última vez, a autarquia prometeu cuidar da Bela Vista. A promessa começa a cumprir-se, mas há uma dúvida a moer ainda os moradores: quando é que a Bela Vista pode fazer jus ao nome?
A primeira empreitada custará 1,6 milhões de euros e vai arrancar daqui a dois meses. É a única com concurso. O restante, 1,9 milhões em obras, será entregue por ajuste directo, repartido em dezena e meia de empreitadas que, no entanto, deixa de fora o bairro azul, o mais problemático em termos de conflitos sociais. Por agora, a sorte cabe apenas aos habitantes das zonas amarela e cor-de-rosa. Para o outro, fala-se num destino bem diferente: a demolição. Antes disso, é preciso encontrar alojamento alternativo. Há responsáveis que admitem este cenário, mas ninguém fala em prazos.
Em Maio de 2009, a Bela Vista chamou a atenção do país por causa de tumultos ocorridos na sequência da morte de um filho do bairro. Muita gente mobilizou-se para, depois disso, tentarem sacudir a má imagem que ficou colada à Bela Vista. Um ano depois, parte dessa mesma população voltará a ser chamada a ajudar o bairro, porque a requalificação dos prédios será feita pelos próprios moradores, que depois terão de zelar pela manutenção, salienta a presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira. A autarquia limitar-se-á a recuperar espaços comuns, passeios, iluminação pública, pavimentos, e a plantar árvores. Na imagem virtual que tenta dar uma ideia da Bela Vista pós-obras, vêem-se duas dezenas de logradouros e pátios recuperados e luminosos, no meio de prédios que aparecem a cinzento. Certamente ajuda a destacar o que vai mudar - ao mesmo tempo que lembra que outro tanto continuará na mesma.
O pólo da biblioteca também será reabilitado. O programa de intervenções é vasto, o prazo de conclusão aponta para 2011. No programa está também a recuperação de espaços desportivos e parques infantis. Apenas um edifício privado será recuperado. Esta é, aliás, uma das principais queixas da autarquia. "O Estado não tem qualquer programa que permita a recuperação de habitações", explica o vereador Carlos Rabaçal. Os anos de 2000, 2002, 2007 e 2009 foram profícuos em notícias sobre a Bela Vista. Geralmente com imagens de chuvadas de pedra, de caixotes do lixo a arder e cargas policiais. Da última vez, a autarquia prometeu cuidar da Bela Vista. A promessa começa a cumprir-se, mas há uma dúvida a moer ainda os moradores: quando é que a Bela Vista pode fazer jus ao nome?
.
.
População jovem, pobre e pouco instruída
Um mercado social para ajudar os mais necessitados
Para que não se diga que a intervenção é apenas cosmética de fachada, o pacote de obras para o Bairro da Bela Vista vem acompanhado de iniciativas de cariz imaterial e social.
Um dos principais projectos é a construção do Mercado Social, uma plataforma que facilitar a recolha e entrega de bens não perecíveis aos mais carenciadas. Num espaço de mais de 400 metros quadrados, o Mercado Social vai ter ainda zonas de oficinas que podem, no futuro, vir a empregar habitantes.
O Bairro da Bela Vista é um dos 13 bairros sociais do concelho de Setúbal e um dos mais complicados do ponto de vista social. A média de idades da sua população é inferior a 35 anos, e o nível de escolaridade é, geralmente, também baixo. Mais de 25 por cento dos habitantes estão desempregados. Dados de um estudo do Observatório da Bela Vista, realizado em 2006, dão conta que mais de metade da população vivia em situação de pobreza. O bairro caracteriza-se também por ser habitado por pessoas de várias origens e etnias, o que, não raras vezes, se tem traduzido num foco de problemas e tensões sociais.
Talvez por isso a autarquia aposte também numa forma de prevenir comportamentos de risco junto da comunidade mais jovem. Um centro interactivo com informação sobre os comportamentos de risco, abordados de forma original e numa lógica de proximidade, será a ferramenta a utilizar.
Em 2005, a Câmara de Setúbal criou o Gabinete da Bela Vista, um espaço com instalações no próprio bairro e com atendimento em horário de expediente. Para os técnicos, esta "estratégia de maior proximidade, permite entender quais as acções que devem ser desenvolvidas". N.A.
Um dos principais projectos é a construção do Mercado Social, uma plataforma que facilitar a recolha e entrega de bens não perecíveis aos mais carenciadas. Num espaço de mais de 400 metros quadrados, o Mercado Social vai ter ainda zonas de oficinas que podem, no futuro, vir a empregar habitantes.
O Bairro da Bela Vista é um dos 13 bairros sociais do concelho de Setúbal e um dos mais complicados do ponto de vista social. A média de idades da sua população é inferior a 35 anos, e o nível de escolaridade é, geralmente, também baixo. Mais de 25 por cento dos habitantes estão desempregados. Dados de um estudo do Observatório da Bela Vista, realizado em 2006, dão conta que mais de metade da população vivia em situação de pobreza. O bairro caracteriza-se também por ser habitado por pessoas de várias origens e etnias, o que, não raras vezes, se tem traduzido num foco de problemas e tensões sociais.
Talvez por isso a autarquia aposte também numa forma de prevenir comportamentos de risco junto da comunidade mais jovem. Um centro interactivo com informação sobre os comportamentos de risco, abordados de forma original e numa lógica de proximidade, será a ferramenta a utilizar.
Em 2005, a Câmara de Setúbal criou o Gabinete da Bela Vista, um espaço com instalações no próprio bairro e com atendimento em horário de expediente. Para os técnicos, esta "estratégia de maior proximidade, permite entender quais as acções que devem ser desenvolvidas". N.A.
.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário