Sérgio Lemos
Gangs juvenis atacam nas ruas
Pequenos grupos de rapazes, com idades entre 12 e 16 anos, armados na maior parte das vezes com facas – e que marcam as vítimas mais frágeis que lhes saem ao caminho para assaltar com violência. As pessoas, normalmente, acabam por ficar sem telemóveis, ouro e dinheiro que transportem na rua. Depois dos assaltos à mão armada a estabelecimentos comerciais, é esta a nova tendência do crime na cidade de Setúbal, desde o final de 2009 até agora, segundo a PSP.
- 25 Maio 2010 - Correio da Manhã
O retrato actual mostra uma realidade diferente daquela a que a cidade habituou os habitantes. "Em 2008 e 2009, qualquer estabelecimento que tivesse uma caixa registadora era um alvo, principalmente farmácias e bombas de gasolina. E tivemos imensos estabelecimentos assaltados à mão armada para roubar apenas 20 ou 30 euros", diz ao CM o comandante da PSP local, intendente Bastos Leitão. Mas os dados disponíveis até Abril deste ano indicam que houve uma mudança de registo. "Hoje é mais um crime de rua" (ver entrevista).
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Sentada numa cadeira, na esplanada de um café, está Fátima Silva, de 43 anos, funcionária de caixa num supermercado e residente na avenida Bento de Jesus Caraça, nas imediações do bairro da Bela Vista, há 20 anos. "A partir das 20h00 é muito complicado andar na rua, há muitos grupinhos de rapazes. Todas estas lojas aqui da zona já foram assaltadas, é só perguntar. Quando chego a casa tarde vou sempre a correr, com medo". De facto, não é fácil encontrar nesta zona um estabelecimento que não tenha sido alvo de um assalto. Cristina Paradela, 38 anos, gere uma papelaria e um café. "O estabelecimento já foi assaltado três vezes, a última foi há um ano. As coisas só melhoraram quando coloquei o gradeamento na porta".
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Logo à frente, a gerente da pastelaria Trigo de Mel, Isabel Santana, de 45 anos, conta que num espaço de dois meses foi assaltada duas vezes, com uma semana de intervalo. "Partiram as janelas para entrar. Nunca nos sentimos seguros aqui e também vemos poucas vezes a polícia", queixa-se. Jorge Gomes, 44 anos, reformado, mora mesmo ao lado do bairro. E queixa-se do tráfico. "Aqui há muita droga e é tudo feito à vista desarmada. Por isso é que a polícia tem vindo cá ultimamente fazer algumas rusgas aos cafés, sobretudo à noite".
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DISCURSO DIRECTO
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"MUDANÇA DE PADRÃO": Bastos Leitão, comandante da PSP de Setúbal
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Correio da Manhã – Qual o tipo de crime mais usual na cidade?
Bastos Leitão –Existe em Setúbal uma criminalidade maioritariamente praticada por jovens, cuja idade pode variar entre os doze e os dezasseis anos. É bastante vulgar jovens com estas idades serem detectados por nós no cometimento de crimes.
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– E quais são os alvos destes grupos?
– Na cidade, em 2008 e 2009, os grandes alvos desta criminalidade foram os estabelecimentos comerciais, sem dúvida. Neste momento o padrão é um crime de rua, no espaço público, mais grupal do que era anteriormente, e com recurso a arma branca.
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– Qual o balanço do primeiro trimestre de 2010?
– Muito positivo. Neste momento há um abaixamento na criminalidade grave e violenta em dez por cento. E na criminalidade geral a descida é de dois por cento.
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"DEPOIS DE ESCURECER JÁ NÃO SE VÊ NINGUÉM AQUI"
Toda a zona da Baixa de Setúbal até à zona dos bares, no final da avenida Luísa Todi, é considerada pelas autoridades uma área sensível. Essencialmente uma zona de comércio, por volta das 20h00, nas ruas estreitas, já é raro ver passar alguém, e quem o faz é sempre com o coração nas mãos. Quando está de serviço, de porta aberta (das 20h00 às 22h00), é à Farmácia Lisboa que muitos setubalenses se dirigem em busca de um remédio. Situada na rua Dra. Paula Borba, no centro da Baixa, também esta farmácia já foi assaltada no ano passado.
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"Fomos obrigados a contratar um segurança, pago à hora, para que as pessoas que aqui vêm estejam descansadas e para que quem cá trabalha se sinta seguro", conta ao CM Teresa Chitas, 50 anos. A responsável pela farmácia diz mesmo que era normal ver chegar ali pessoas "completamente assustadas". A própria revela ter receio quando sai tarde, uma vez que "a zona é perigosa pois quando começa a escurecer não se vê absolutamente ninguém".
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Mesmo em frente da farmácia está a Ourivesaria Pedroso, propriedade de Aida Teixeira, 52 anos. E também ela não escapou aos assaltantes, em Janeiro deste ano. "Roubaram todo o ouro, jóias, muitas pratas e os relógios das melhores marcas", conta. Queixa-se da falta de polícias na zona e quando sai à noite da ourivesaria prefere não pensar no que lhe pode acontecer. Mas a PSP garante que os polícias estão lá, mas à civil. "Foi uma táctica que começámos a utilizar durante o ano passado e que continua. Foi eficaz pois os roubos [a estabelecimentos] baixaram, mas já não dá tantos resultados para o crime de rua" (ver texto principal), lamenta Bastos Leitão.
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290 POLÍCIAS EM CINCO ESQUADRAS
A PSP é responsável pela segurança da cidade de Setúbal, que tem cerca de 110 mil habitantes. Conta com cerca de 290 polícias, que se dividem pela 1ª Esquadra, na avenida Luísa Todi; pela 2ª Esquadra, no Bairro da Bela Vista; pela Esquadra de Investigação Criminal, a Esquadra de Intervenção e Fiscalização Policial e a Esquadra de Trânsito. É também na cidade que está o comando desta força e o comando da GNR, além da Polícia Judiciária.
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SAIBA MAIS
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FARMÁCIAS A SAQUE
Setúbal foi o distrito do País que mais registou assaltos a farmácias em 2009.
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35 785
É o número de participações criminais em 2009, em Setúbal, referidas no Relatório Anual de Segurança Interna.
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3001
Ocorrências graves e violentas participadas. Setúbal é o terceiro distrito do País com a criminalidade mais grave.
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ÁREAS MAIS SENSÍVEIS
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BAIRRO DA BELA VISTA
Com uma grande diversidade étnica e socioeconómica, é do bairro da Bela Vista que emerge uma maior fatia da criminalidade na cidade de Setúbal e no distrito.
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AV. BENTO DE JESUS CARAÇA
Nas imediações do problemático bairro da Bela Vista, são poucos os espaços comerciais que ainda não tenham sido assaltados na avenida Bento de Jesus Caraça.
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BAIXA DE SETÚBAL
A partir das 20h00, são poucos os que se aventuram no emaranhado das ruas da baixa setubalense. Em 2009 os assaltos a estabelecimentos foram frequentes.
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AVENIDA LUÍSA TODI
A principal artéria da cidade de Setúbal não foge à regra. A zona dos bares fica numa das pontas da avenida Luísa Todi – e é onde se registam vários desacatos e assaltos.
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BAIRRO DA CAMARINHA
Não é um caso tão problemático como a Bela Vista, mas ainda assim, por vezes, a polícia é chamada ao bairro para pôr termo a confrontos violentos.
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