Discurso de Lula da Silva (excerto)

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sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Adriano Correia de Oliveira - Tributo ao cantor proibido


* Miguel Azevedo

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Ele cantava em qualquer sítio. Desde que houvesse uma viola ele até cantava em cima de um tractor. Adriano Correia de Oliveira, o herói dos cantores de intervenção, da resistência antifascista e do Portugal de Abril, “o mais corajoso de todos, o primeiro a cantar os versos proibidos, a canção que punha em causa o regime e a guerra colonial”, segundo Manuel Alegre, morreu há 25 anos, precocemente, aos 40 anos de idade.

O seu legado poucas vezes foi lembrado à altura da sua importância mas sempre teve a particularidade de despertar o fascínio de quem o descobre pela primeira vez.

Algumas das canções mais emblemáticas de Adriano Correia de Oliveira estão agora reunidas, em jeito de tributo e homenagem, num disco que junta uma nova geração de músicos, alguns deles que, curiosamente, ainda nem eram nascidos quando, à data de 16 de Outubro de 1982, o cantor faleceu, na sua terra natal.

O disco, que na próxima segunda-feira chega ao mercado nacional, conta, entre outros, com as vozes de Tim (Xutos & Pontapés), Ana Deus (Ban e Três Tristes Tigres), Raquel Tavares, Miguel Guedes (Blind Zero), Vicente Palma (filho de Jorge Palma), Nuno Prata e Margarida Pinto (Coldfinger). Para ouvir estão temas como ‘Tejo que Levas as Águas’, ‘Trova do Vento que Passa’, ‘E Alegre se Fez Triste’, ‘Para Rosália’ ou ‘Rosa de Sangue’.

Nascido na cidade do Porto a 9 de Abril de 1942, Adriano Correia de Oliveira cedo se mudou para a vila de Avintes, para viver numa quinta a que chamava “o sítio mais bonito do Mundo”. Começou nos fados de Coimbra mas, devido aos movimentos estudantis, achou que devia fazer mais alguma coisa. E fez. De norte a sul do País, deu centenas e centenas de espectáculos, todos eles camuflados do ponto de vista da mensagem política para que a censura não percebesse.

Recordado pelos amigos como um homem que “vendia saúde, um calmeirão do Norte com umas rosetas na cara de fazer inveja”, e pelas filhas como “um pai muito meigo que as obrigava a dar 14 beijos antes de ir para a cama”, Adriano Correia de Oliveira faleceu nos braços da mãe, vitimado por uma hemorragia no esófago. Ana Deus, um dos cantores que colaboram no disco de tributo, ressalva: “Haverá algo mais nobre do que falecer nos braços daquela que nos deu a vida?”

TIM CANTA 'TEJO QUE LEVAS AS ÁGUAS'

O vocalista dos Xutos & Pontapés dá voz a uma versão que nada tem de eléctrico. Neste tema o músico é acompanhado pelo baixo de Fernando Júdice (Madredeus) e pelo acordeão de Manuel Paulo (Ala dos Namorados).

'UMA CANÇÃO MUITO DO POVO'

“Cantar Para Um Pastor” foi o tema escolhido pela fadista Raquel Tavares. “É uma canção muito do povo”, diz, “e que nos transporta para uma época muito importante da nossa História”.

'SÓ ESPERO TER-LHE FEITO JUSTIÇA'

Estava indeciso por três canções mas acabou por descobrir uma “pérola”, como diz. Vicente Palma gravou ‘Para Rosália’, tema que saiu quase à primeira ao piano. “Só espero ter-lhe feito justiça”, remata.

'BENDITA ÉPOCA EM QUE SE PENSAVA'

Na companhia dos Dead Combo, Ana Deus gravou ‘Trova do Vento Que Passa’, o mais célebre dos temas de Adriano. “Bendita a época em que os músicos pensavam e cantavam. Isso perdeu-se”.

'FOI ALGUÉM QUE NUNCA SE CANSOU'

A Pedro Laginha (Mundo Cão) coube dar uma nova voz ao tema ‘Rosa de Sangue’. O tema motivou a pesquisa do músico sobre a vida de Adriano. “Ele foi alguém que nunca se cansou”, diz.

HENRIQUE AMARO: RESPONSÁVEL DA SELECÇÃO DAS BANDAS DO DISCO

'SEM ELE SE CALHAR NEM OS XUTOS EXISTIRIAM'

- Correio Êxito – Conhecia a obra de Adriano Correia de Oliveira antes de partir para o disco?

- Henrique Amaro – Confesso que não a conhecia na totalidade. Tinha na cabeça uns 4 ou 5 temas. Da mesma forma, também quase todos os músicos que participam no disco não conheciam bem o Adriano. Por isso, a feitura deste trabalho acabou por ser um processo mútuo de aprendizagem.

- E isso mudou a sua opinião em relação ao cantor?

- Sim. Depois de conhecer a obra, não encontro explicação para o País ter esquecido aquele homem. Sem ele se calhar nem os Xutos existiriam.

- Este disco pode avivar memórias?

- Claro. Este disco é universal e intemporal.

CANÇÕES, TESTEMUNHAS E HISTÓRIAS

Além de contar com Tim, Raquel Tavares, Vicente Palma, Ana Deus e Pedro Laginha, o disco ‘Adriano - Aqui e Agora - o tributo’ conta ainda com Cindy Cat (‘E Alegre se fez Triste’), Celina da Piedade (‘Tu e Eu, Meu Amor’), Micro Audio Waves (‘O Sol Perguntou à Lua’), Mazgani (‘Balada da Esperança’), Miguel Guedes (‘Sou Barco’), Margarida Pinto (‘Charamba’), Nuno Prata (‘Fala do Homem Nascido’), Sebastião Antunes (‘Canção do Linho’) e Valete (‘Menina dos Olhos Tristes’). O CD é acompanhado por um DVD que conta com depoimentos de amigos e familiares que falam da vida, da obra e das histórias de Adriano.
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in Correio da Manhã 2007.10.13
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Foto - Na área do canto de intervenção, Fausto considerou-o “o melhor de todos nós”. Adriano Correia de Oliveira morreu há 25 anos. Era um bom amigo, tímido e um pai babado.
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» Comentários no CM on line
Terça-feira, 16 Outubro
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- Joao de Barros Sim Adriano Correia de Oliveira foi o pioneiro em Portugal da canção de intervenção, que na juventude dele,acompanhou o "MAio de 68". Alcunhado de "O Correio do Oliveira" dúvido que alguma mensagem dele tenha chegado ao destino pretendido. Tem mais um mérito,nunca ao modo de alguns, abandonou o barco e foi cantar (de galo)lá para a Argélia.
- Adao Com esta idade, nada melhor que vir aqui e enaltecer o "gozo" que nos dava irmos para a cave da EScola Industrial de Luanda a ouvir Adriano, Zeca, Fanhais e outros, em surdina. O Chico Pina tinha as chaves da cave porque pertencia ao grupo de lideres da Escola e pela noite la iamos nos escutar estes genios que nos davam força para o dia seguinte. Era e foi o inicio da Revoluçao/74. - Canada
- Pedro Martins Tem toda a razão Teresa. Já perdi um filho e isso nada tem de nobre. É a inversão da sequência da vida. É um sofrimento eterno que não desejo ao meu pior inimigo. Lisboa
- Atomina Aqui fica a minha homenagem a um cantor que muitas saudades me deixou. Ímpar e inconfundível!
- Teresa Almeida - Coimbra Adriano Correia de Oliveira foi e será sempre um dos meus cantores de eleição. Mas dizer o que Ana Deus disse, só de quem nunca soube o que é perder um filho; pior: pegar num filho morto. Garanto que não tem nada de nobre! Fale de música, que é o que conhece!!

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