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Conheci o Adriano em 1959, quando chegou a Coimbra. Tinha ele apenas 17 anos e na altura ainda devia pensar em tudo menos em cantar fado, já que vinha de vários agrupamentos onde tocava guitarra eléctrica
.Recordo-me como hoje do dia em que ele foi bater à porta da sala onde ensaiava o conjunto ligeiro da Tuna Académica e nos perguntou se podia tocar. Como o lugar da guitarra eléctrica já estava ocupado por mim, ele acabou por seguir o destino dos fados.
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Começou ali uma grande amizade entre nós. Fui eu quem mais compôs para ele. Talvez uns 15 temas. Um dia, em Angola, em plena Guerra Colonial, recebi uma encomenda do Adriano com um disco. Carreguei com ele durante meses, porque no mato não tinha maneira de chegar a um gira-discos. Quando o consegui finalmente ouvir em Luanda constatei, com surpresa, que ele tinha gravado temas meus à minha revelia. Uma das canções chamava-se ‘Cantar de Emigração/Este Parte, Aquele Parte’, que foi um enorme sucesso.
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O Adriano tinha uma voz única, de grande carga dramática. Era uma excelente pessoa, com uma capacidade enorme de fazer amigos, muito alegre e sempre bem-disposto. Recordo-me de uma viagem que eu, ele e o Zeca fizemos à Suécia e que foi um choque para nós, portugueses, que íamos de um regime fechado.
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Uma tarde descobrimos uma máquina de moedas na rua que pensávamos que dava chocolates mas que afinal dava preservativos. Decidimos ficar a ver, e qual não foi o nosso espanto quando constatámos que eram as mulheres quem mais comprava. Foi o Carlos do Carmo quem me deu a notícia da morte do Adriano e fui eu que a dei ao Manuel Alegre.
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in Correio da Manhã 2007.10.13
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