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Num ritual já usual, a Academia sueca atribuiu há poucos dias o Prémio Nobel 2007 da Literatura à escritora britânica Doris Lessing. O facto de se tratar de uma autora relativamente desconhecida e de ser a 11.ª mulher a receber o prémio desde a sua criação despertará certamente a curiosidade pela sua obra, mas não deixará de nos fazer reflectir sobre a natureza desta distinção.
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Atribuído pela primeira vez em 1904, a Sully Prudhomme, o Nobel da Literatura contemplou posteriormente inúmeras personalidades de notoriedade variável. Alguns nomes dizem-nos hoje muito pouco e outros ficarão na História por méritos que não propriamente os literários, como foi o caso de Winston Churchill, laureado em 1953. De notar que durante grande parte da II Guerra Mundial o prémio não foi atribuído.
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O Nobel da Literatura tende, aparentemente, a beneficiar autores de língua inglesa em contraste com um outro prestigiado galardão, o Prémio Príncipe das Astúrias, que hoje rivaliza com ele nas áreas ibero-americanas. Mas há uma pergunta para a qual ainda não se encontrou uma resposta cabal: o que é que premeia, na realidade, o Nobel da Literatura? Se em dados períodos o critério utilizado para a sua atribuição parecia ser o de exaltar escritores já muito conhecidos e consagrados (como, entre outros, Rabindranath Tagore, Bernard Shaw, Hemingway, Camus, Octávio Paz, o nosso Saramago e ainda Sartre, que o recusou em 1964), noutras alturas afigurou-se ser seu objectivo estimular autores pouco conhecidos, se bem que promissores. E, no entanto, quantas vezes os nomes e as obras desses autores não regressaram a um discreto limbo após a distinção recebida?
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O que hoje parece ser valorizado nos escritores contemplados não será tanto o estilo literário ou a arte de bem escrever e descrever, mas o testemunho por eles dado, a mensagem social e política implícita nos seus conteúdos e o respectivo impacto na sociedade contemporânea, o que constitui igualmente um objectivo meritório. Daí a expectativa que sempre rodeia o anúncio dos nomes premiados
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in Correio da Manhã 2007.10.20
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» Comentários no CM on line
Sabado, 20 Outubro
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- nuno magalhães Relativamente desconhecida a Doris Lessing? O senhor embaixador devia ler mais. Vinte e dois livros publicados em Portugal não fazem dela uma autora desconhecida, nem mesmo por cá, num país pouco dado às leituras. Outra questão é a da queda de alguns autores na indiferença geral. Gostava que me apontasse um prémio em que isso não aconteça.
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