Discurso de Lula da Silva (excerto)

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quarta-feira, 3 de junho de 2009

Ambientalismo e Socialismo: lutas indissociáveis

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por Regina Abrahão*

Sempre que o homem transformou a natureza houve prejuízos ao ambiente natural. As pirâmides do Egito utilizaram quantidade formidável de pedras, extraídas das regiões próximas, modificando consideravelmente o bioma antes existente. O solo da Babilônia foi exaurido pela cultura de cevada e do trigo (uma variedade chamada espelta). Vários povos já utilizavam barragens para irrigação em solos pouco férteis. Os rios da Europa desde a Idade Média sofreram com a contaminação por curtumes e dejetos urbanos, e as cidades da época eram mal cheirosas, insalubrese contaminadas.

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A partir da revolução industrial o mundo conheceu a poluição industrial. As guerras sempre tiveram efeito devastador sobre a natureza, mesmo funcionando como elemento de controle populacional. As primeiras experiências atômicas, porém, tiveram não só o efeito de arrasar as regiões atingidas, mas também o de provocar mudanças genéticas nos seres vivos por várias gerações. O uso de napalm na guerra do Vietnam comprometeu grande parte da área agricultável do
país.

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A revolução verde, ocorrida a partir da década de 70 no mundo todo provocou outro tipo de poluição. O uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos transformou terras pouco produtivas em férteis e com produção abundante, mas por pouco tempo. Em contrapartida, trouxe a contaminação nos alimentos, o fortalecimento de pragas antes controladas de forma biológica e o empobrecimento do solo.

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A monocultura decorrente do latifúndio completou o quadro, com a desertificação de vastas áreas no planeta, uma vez que terras impróprias para a agricultura foram transformadas, com o uso de nsumos químicos, em campos de plantações. Por dez ou doze colheitas. Depois, a terra volta a tornar-se imprópria para a agricultura, trazendo a erosão, mudanças climáticas e alterações profundas na fauna e flora locais. Mas talvez o efeito mais perverso do agronegócio seja a substituição da agricultura voltada para a alimentação pela agricultura voltada para a exportação, notadamente de oleaginosas, cana-de-açúcar e matéria prima para celulose e carvão.

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A plantação de árvores exóticas no Brasil tem mais de cem anos. O eucalipto, inicialmente, foi plantado em áreas alagadiças a fim de permitir seu uso para outros fins, devido ao grande consumo de água que necessita (de 30 a 50 litros por dia). Aos poucos, foi sendo usado para moirões, como lenha, e a partir da década de 70 inicia-se o uso do eucalipto para a fabricação da pasta de celulose. O processo de
fabricação da pasta está entre os mais poluentes da indústria. Além de consumir grande quantidade de nutrientes, água, inviabiliza qualquer outra cultura durante ou após (cerca de 30 anos) seu plantio. Os únicos animais que conseguem coexistir com o eucalipto são cupins, aranhas e caturritas.

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Uma área de 50 ha, que sustenta economicamente uma família de quatro ou cinco pessoas anualmente produzindo alimentos para cerca de 50 pessoas ocupa, no primeiro ano, um trabalhador. Entre o segundo e o sétimo ano um único trabalhador dá conta de uma área de 1.000 ha, unicamente para aplicação de fertilizantes. No sétimo ano, um trabalhador, operando máquinas de corte, trabalha cerca de 500 ha. A pasta de celulose é processada em empresas nem sempre próximas da região de plantio; depois do processamento sofre o processo de lareamento, a base de cloro. E depois de pronta para ser transformada em produto final é exportada. Esta situação ocorre hoje na África e no Brasil. Atualmente, o Brasil possui 5,3 milhões de ha plantados com eucalipto. As empresas planejam ainda ampliar esta área em mais 2,6 milhões de ha.

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A sociedade capitalista bem poderia chamar-se sociedade do esperdício.

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Afinal, nos países ricos, entre 30 e 40% de todos alimentos comprados são postos no lixo. O que inclui o desperdício de toneladas de água potável gastas na produção destes alimentos. Isto enquanto existem no mundo cerca de um bilhão de famintos e desnutridos crônicos, e uma criança morre a cada cinco minutos vítima de doenças decorrentes de problemas relacionados ao mau uso da água e falta de saneamento.

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A promoção do consumo, carro-chefe do capitalismo, exige a produção de artigos em quantidades cada vez maiores, para usufruto de uma pequena parcela da população. Para garantir a circulação de bens e mercadorias, uma das táticas é a produção de produtos com pouca durabilidade, ou de uso único; outra tática é a artificalização de necessidades, visando produção e venda de supérfluos. O preço deste processo, é exaustão de recursos, a geração de resíduos além da capacidade de eliminação e a criação de mazelas sociais próprias do capitalismo. Afinal, na sociedade do ter, onde em uma única estação climática são produzidas duas coleções de moda, e mesmo o papel higiênico deve passar por cloramento e receber estampas, a efemeridade é o tom dominante.

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Esta situação toda não passou despercebida nem mesmo aos olhos do capital. Ciente que a luta pela preservação ambiental pode se transformar em ferramenta valiosíssima contra o sistema econômico vigente, o sistema encampou, com relativo sucesso, o discurso ambientalista. Apesar de cumprir, em certa medida, a função de denúncia e de promover medidas protetivas à natureza, este modo de luta se torna inócuo por estar descolado do enfrentamento ao modelo econômico e social que o mundo vive hoje. Seria cômico, não fosse trágico, ver as transnacionais poluidoras investindo em publicidade...

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Defendendo a natureza! Assim como o discurso dos ''verdes'' que nãotocam no centro do problema: Consumo, lucro e exploração.

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A simples luta pela preservação, se não lincada à luta pelo socialismo, por outro modo de produção, pela diminuição do consumo, pelo fim do latifúndio, terá o mesmo efeito do perfume antes do banho. Sem esquecer que a miséria que degrada o homem é também uma das responsáveis pela degradação ambiental.

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O problema, finalmente, não é ''cada um fazer a sua parte'' e a sensação de dever cumprido. Não basta reciclar o próprio lixo, embora seja impensável não fazê-lo. Não basta economizar água no banho, manter-se alheio aos debates nacionais e internacionais. A luta ambiental não acontece isolada, não é individual. Só funcionará se, ao lado da indispensável mudança de atitudes individuais, houver um comprometimento coletivo com a construção de uma nova sociedade.




*Regina Abrahão, é do Rio Grande do Sul, funcionária pública estadual, dirigente de políticas sociais do Semapi, da CTB e do PCdoB de Porto Alegre, coordenadora do núcleo Cebrapaz, estuda Ciências Sociais na UFRG.



* Opiniões aqui expressas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
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in Vermelho - 2 DE JUNHO DE 2009 - 20h02
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