Discurso de Lula da Silva (excerto)

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quarta-feira, 3 de junho de 2009

O papel das religiões na opressão da mulher (final) 3/3

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por Regina Abrahão*

Mais um produto do caldo cultural religioso brasileiro, as igrejas evangélicas misturam em seus cultos elementos do cristianismo protestante, da umbanda e do espiritismo. Como não existe um órgão ou poder centralizador, cada igreja na prática é uma religião autônoma e independente, com culto, liturgia e regras morais próprias.

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O resgate do pecado original

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Originária da reforma protestante, com ênfase em conceitos bíblicos patriarcais, reproduz a opressão masculina mais arcaica. ''Mulheres, sujeitai-vos aos vossos maridos'', parece ser o dogma central norteador das relações entre homens e mulheres. Como os evangélicos acreditam em possessões e realizam exorcismos, episódios como estupros e violência sexual podem ser explicados como influência demoníaca e resolvidos através de intervenções espirituais. É comum a culpabilização da mulher neste tipo e casos, como ''provocadora'' da situação: volta-se a idéia da mulher que induz o homem ao erro, ao pecado. Já os casos de violência doméstica tendem a ser caracterizados como problemas a ser resolvidos entre o casal, por meio de preces e orações. A indissolubilidade do casamento é obrigatória. Em sua maioria, mulheres também não ascendem a postos de sacerdócio, entre os evangélicos chamados de pastores. São no máximo obreiras, ou auxiliares.

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Em momentos de crise, quando se acirram as condições de vida, nota-se um ascenso da credibilidade religiosa. Que também é mais forte nas populações mais desfavorecidas de poder econômico e políticas públicas. Quanto maior a ignorância de um povo acerca de seus direitos, maior também a aceitabilidade de dogmas e regras morais rígidas, buscando satisfazer suas raivosas divindades. É a expiação das culpas, o velho pecado original. Afinal, não só a maternidade deverá ser dolorosa: O homem também deverá ''comer o pão com o suor de seu rosto''.

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O recente caso da excomunhão de uma criança de nove anos, grávida em decorrência de estupro, e de toda a equipe que lhe prestou assistência reacende o debate sobre a crueldade de determinados dogmas e de seu impacto sobre a vida das mulheres. Foram culpabilizadas todas as pessoas envolvidas, menos o homem estuprador. Até que ponto a intolerância da igreja teria o direito de obrigar uma criança de nove anos a correr risco de vida para gerar filhos que ela não optou por ter? Quem determina como deverá reagir a mulher vítima de estupro? Mais: Já que se arvora a legislar, porque a Igreja isenta de punição o homem, causador de toda a tragédia?

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Que Deus, caso ele exista, ajude a humanidade a desfazer os conceitos que seus (em tese) filhos criaram para usar em seu nome.


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*Regina Abrahão, é do Rio Grande do Sul, funcionária pública estadual, dirigente de políticas sociais do Semapi, da CTB e do PCdoB de Porto Alegre, coordenadora do núcleo Cebrapaz, estuda Ciências Sociais na UFRG.



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in Vermelho - 2 DE MAIO DE 2009 - 18h42
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