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A conquista da Lusitania pelo Império Romano e a posterior destruição de Jerusalém em 70 d.C., que obrigou os judeus a se dispersarem pelo mundo ("Diáspora judaica"), fez com que um grande contingente de hebreus buscassem um novo lar na Península Ibérica (ou para ali fossem deportados, como ocorreu no tempo do imperador Adriano). Embora não se saiba exatamente quando se iniciou tal movimento migratório, a presença de judeus no território que futuramente constituiria Portugal pode ser comprovada a partir do século VI d.C., pela descoberta de inscrições funerárias na freguesia de Lagos da Beira.
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Perseguições aos judeus
Com o advento do Cristianismo, leis discriminatórias contra os judeus começaram a ser aprovadas - primeiro, pelos romanos, e depois pelos bárbaros Visigodos que invadiram a península em 409 d.C.. Entre outras coisas, foram proibidos os casamentos mistos entre judeus e cristãos e até mesmo instituída uma conversão forçada ao cristianismo (a qual não parece ter surtido grande efeito, visto que outras conversões em massa foram realizadas ao longo da História).
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Em 711 d.C., tropas mouras invadem a Península Ibérica e derrotam os visigodos. Os mouros foram encarados como libertadores pelos judeus, uma visão até certo ponto correta, visto que cristãos, judeus e sabeus (uma categoria nebulosa que incluía os hindus, por exemplo), eram incluídos pelos muçulmanos no grupo dos "Povos do Livro" (Bíblia, Torá etc). Os indivíduos que professavam tais crenças podiam continuar a praticá-las sob domínio islâmico, desde que pagassem uma taxa (a jizya) aos governantes e respeitassem as leis islâmicas.
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Da Reconquista ao sequestro dos inocentes
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Com a Reconquista da Península Ibérica pelos cristãos, os judeus passaram a temer novamente pela sua sorte. Todavia, pelo menos em Portugal até meados do século XV, eles gozaram de relativa liberdade, embora tivessem de pagar impostos escorchantes. Obtiveram mesmo grande destaque na vida pública portuguesa, como diplomatas, conselheiros reais, administradores, médicos, matemáticos, astrônomos, comerciantes e banqueiros (embora a maior parte da população judaica fosse composta de pessoas com profissões bem mais modestas, a saber, alfaiates, sapateiros, tecelões, pastores e pequenos comerciantes). Tal projeção começou a gerar descontentamento entre o povo, que sentia estar "a cristandade submetida à jurisdição judaica" (conforme queixou-se um frade em carta a Dom Afonso V). Tal clima de insatisfação generalizou-se e os judeus começaram a ser vítimas de perseguições e violência por parte de populares.
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A situação na Espanha a partir de meados do século XIV já prenunciava o destino que esperava os judeus portugueses. Em Toledo, em 1355, 12 mil judeus morreram vítimas de perseguição religiosa; o número atingiu 50 mil em Palma de Mallorca, em 1391. Com o início das operações da Inquisição em 1478, o temor se espalhou entre os judeus da Espanha. Temendo pela própria sorte, milhares se converteram ao catolicismo, enquanto outro tanto buscou refúgio em Portugal. O volume de refugiados aumentou dramaticamente quando em 1492 foi decretada a expulsão dos judeus da Espanha.
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Esse grande contigente de fugitivos sem bens e dinheiro (alguns historiadores avaliam que após a Expulsão, os judeus constituíam cerca de 1/4 da população portuguesa), acirrou os ânimos dos portugueses. Além da ira popular, os imigrantes tiveram de lidar com a esperteza de Dom João II, que vislumbrou uma oportunidade de lucrar com a desgraça alheia: o rei instituiu a cobrança de dois escudos por cada imigrante, para que pudessem permanecer em Portugal por oito meses. Como ao fim do prazo de permanência os judeus não conseguiram sair de Portugal (não havia navios suficientes para transportá-los - ou assim foi dito), o rei ordenou que fossem vendidos como escravos. As crianças entre dois e dez anos foram tiradas de seus pais, batizadas e levadas para colonizar a ilha de São Tomé e Príncipe (onde ainda vivem seus descendentes, os quais, como prova de extrema resistência cultural, ainda conservam alguns costumes judaicos).
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Da Expulsão ao Pogrom de Lisboa
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Com a ascensão de Dom Manuel I ao trono português, em 1495, os castelhanos escravizados foram libertados. Todavia, o casamento anunciado do rei com a princesa Isabel da Espanha colocou os judeus novamente em clima de tensão. Isto porque o contrato de casamento incluía uma cláusula que exigia a expulsão dos hereges (mouros e judeus) do território português. O rei tentou fazer com que a princesa reconsiderasse (já que precisava dos capitais e do conhecimento técnico dos judeus para o seu projeto de desenvolvimento de Portugal), mas foi tudo em vão. Em 5 de Dezembro de 1496, Dom Manuel assinou o decreto de expulsão dos hereges, concedendo-lhes prazo até 31 de Outubro de 1497 para deixar Portugal. Aos judeus, o rei permitiu que optassem pela conversão ou desterro, esperando assim que muitos se batizassem, ainda que apenas "pro forma".
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Os judeus, no entanto, não se deixaram convencer e em grande maioria resolveram abandonar o país. O rei, ao ver ir por terra sua estratégia, manda então fechar todos os portos de Portugal para impedir a fuga - menos o porto de Lisboa.
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Foi ali que se concentraram cerca de 20 mil judeus, que esperavam transporte para abandonar o país. Em Abril de 1497, o rei manda seqüestrar as crianças judias menores de 14 anos, para serem criadas por famílias cristãs, o que foi feito com grande violência. Em Outubro de 1497, os que ainda assim resistiram a conversão, foram arrastados à pia batismal pelo populacho, incitado por clérigos fanáticos e com a complacência das forças policiais.
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Foram desses batismos em massa e à força que surgiram os marranos, ou cripto-judeus, que praticavam o judaísmo em segredo mas professavam publicamente a fé católica. Os "cristãos novos" nunca foram realmente bem aceitos pela população "cristã velha", que desconfiava (justificadamente) da sinceridade da fé dos conversos. Essa desconfiança evoluiu para a violência explícita em 1506, quando ocorreu o Pogrom de Lisboa. A peste grassava na cidade desde Janeiro, fazendo dezenas de vítimas por dia, e em Abril, insuflados por clérigos fanáticos que culpavam os "cristãos novos" pela calamidade, o populacho investiu contra eles, matando mais de dois mil deles, entre homens, mulheres e crianças.
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A nova diáspora
Para os judeus portugueses, o Pogrom de Lisboa foi a gota d'água final. Iniciava-se nova diáspora judaica, tendo alguns rumado para o norte da Europa, onde fundaram comunidades nos Países Baixos e Alemanha. Outros se dirigiram para o sul da França (Bordéus, Biarritz, Tartas etc), e até mesmo para a Inglaterra. Alguns judeus preferiram retornar ao Oriente Médio, tendo sido bem recebidos pelos turcos otomanos.
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Os judeus portugueses também chegaram com os holandeses na Capitania luso-brasileria de Nova Lusitânia, Pernambuco, e consecutivamente a toda região setentrional do Nordeste brasileiro, outrora conquistado aos portugueses pela Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais, entre os anos de 1630 à 1654, onde fundaram no Recife, capital da Nova Holanda, a primeira sinagoga das Américas, a Sinagoga Kahal Zur Israel, sob a direção do grande Hakham Isaac Aboab da Fonseca, que foi autor dos primeiros textos literários e religiosos escritos em língua hebraica nas Américas. Com a reconquista portuguesa do Nordeste setentrional do Brasil, e a proibição de praticar o judaismo, a comunidade dispersou-se, sendo que alguns voltaram para Amsterdão, outros migraram para outras colonias holandesas nas Américas do Sul, Central e do Norte e uma parcela permaneceu, refugiando-se nos sertões, interior do Nordeste Brasileiro onde se converteram em cripto-judeus.
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Em Nova York, que foi colonia holandesa com o nome de Nova Amsterdão, chegaram do Recife um grupo de 23 judeus em Setembro de 1654, onde fundaram a primeira comunidade judaica dessa cidade.
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Embora a presença judaica no continente americano date de um século e meio antes da conquista da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais ao Nordeste brasileiro, os judeus convertidos (cristãos-novos) fizeram parte da expedição portuguesa que, sob o comando do capitão Pedro Álvares Cabral, "descobriu" o Brasil em 22 de Abril de 1500.
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Na Segunda Guerra Mundial
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Com a tomada dos Países Baixos e da França pelos nazistas em 1940, milhares de judeus buscaram refúgio em Portugal (que se manteve neutro durante o conflito). Estima-se que entre junho de 1940 e maio de 1941, 40.000 judeus tenham passado pelo país.[1]
Este grande fluxo de refugiados havia sido precedido por outro menor, a partir de 1933, quando a ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha fez com que muitos judeus e adversários do nazismo, temendo por suas vidas no crescente clima de anti-semitismo, deixassem o país.[1]
O Estado português, então sob a liderança de Oliveira Salazar, não via com bons olhos esse movimento imigratório e impôs-lhe restrições crescentes, particularmente no tocante a concessão de vistos. A partir de 1942, no auge do conflito e da perseguição aos judeus, o governo determinou a internação em zonas específicas (Caldas da Rainha, Ericeira, Figueira da Foz e Curia) de todos os estrangeiros que houvessem entrado clandestinamente no país. A circulação destes estrangeiros para fora destas zonas de internamento era restrita, e só podia ser efetuada com permissão da polícia política portuguesa, a PIDE.[1]
Referências
- ↑ 1,0 1,1 1,2 João B. Serra. Apresentação de Judeus em Portugal durante a II Guerra. Página visitada em 04-12-2008.
Ver também
Bibliografia
- DIAZ-MAS, Paloma. "Sephardim: The Jews from Spain". Chicago, IL: University of Chicago Press, 1992.
- MENDES DE CARVALHO, Flávio. "As raízes judaicas no Brasil". Nova Arcádia, 1992
- TAVARES, Maria José Pimenta Ferro. "Judaísmo e Inquisição". Estudos, 1987
- WATT, Montgomery. "A History of Islamic Spain". Edinburgh: University Press, 1967.
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Ligações externas
- Judeus em Portugal: Presença e Memória
- Abradjin Associação Brasileira dos Descendentes de Judeus da Inquisição
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