Calendário Histórico | 12.06.2009
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O Diário de Anne Frank já foi editado em mais de 50 idiomas e vendeu, desde sua publicação em 1947, dezenas de milhões de exemplares. O livro foi adaptado para o palco e, entre 1959 e 2001, inspirou 11 filmes de cinema e TV, da Holanda a Hollywood.
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Nascida em 12 de junho de 1929, a autora faleceu com apenas 15 anos de idade no campo de concentração nazista de Bergen-Belsen. Valor literário à parte, o maior mérito de Anne foi, postumamente, ter dado um rosto ao Holocausto.
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Pois, se Otto Frank não houvesse decidido publicar os registros íntimos dessa adolescente, feitos durante os dois anos em que a família esteve escondida dos nazistas em Amsterdã, ela seria apenas mais uma entre os 6 milhões de judeus exterminados.
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Um rosto no Holocausto
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Mais do que assassiná-los, o regime nazista apagou milhões de existências, condenando os mortos ao anonimato. Isso permite que, até os nossos dias, haja quem tente não só negar a dimensão da carnificina ("Certo, mataram alguns judeus, mas 6 milhões?!"), mas também racionalizar o injustificável, procurando motivações políticas e econômicas, enfim, a "culpa" dos judeus por seu destino.
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Felizmente, é quase impossível manter essa pretensa objetividade, ao ouvir de uma adolescente – que se expressa no tom singelo de uma irmã, amiga ou filha – os efeitos da campanha assassina de Hitler sobre o cidadão comum. Ao ler seu diário, nos damos conta que quem sofreu tantas frustrações, humilhações e outros atos de violência poderia ser qualquer um de nós, judeu ou não.
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Thomas Heppener, da Casa Anne Frank, em Amsterdã, acredita que a menina tornou-se "um símbolo e a vítima mais conhecida dessa época". Apesar de tudo o que já foi dito, escrito e mostrado sobre o período de 1933 a 1945 na Europa, "esse diário é a melhor forma de penetrar nas esperanças e desejos das pessoas", afirma.
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Nazistas fecham o cerco
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Os Frank mudaram-se de Frankfurt para a Holanda exatamente em 1933, ano em que os nacional-socialistas subiram ao poder. Otto, pai de Anne, fundou uma firma em Amsterdã. Durante sete anos, a família levou uma vida normal e pacífica.
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Esse quadro se transformou de um só golpe quando os nazistas ocuparam a Holanda, em 1940, segundo ano da Segunda Guerra Mundial. Assim como os outros judeus, a família foi sendo pouco a pouco cerceada, o acesso à escola e às piscinas públicas lhes foi cortado, e o pai de família não pôde mais gerir seus próprios negócios. Todos os judeus tinham que portar o estigma da estrela amarela em público, sob ameaça de severas penas.
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Quando, em 1942, Margot, uma das irmãs, foi convocada para trabalhar no Leste Europeu, os Frank decidiram entrar para a clandestinidade. Enquanto nos escritórios e depósitos "oficiais" continuavam as atividades usuais da firma de Otto, eles passaram a habitar, juntamente com uma família amiga, as salas vazias nos fundos do prédio.
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Uma escada unia as duas partes da casa, e a passagem era camuflada por uma estante móvel. Ao todo, oito pessoas passaram 25 meses nesse esconderijo, totalmente isoladas do mundo exterior. Isto só foi possível com a conivência de quatro funcionários, que traziam comida e livros, e os mantinham informados sobre os acontecimentos políticos.
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"Kitty", o confidente
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Anne Frank: tom singelo de uma irmã, amiga ou filha
Um diário, denominado "Kitty", tornou-se o confidente de Anne nesse exílio e fuga mental para as limitações do dia-a-dia. A ele, a menina confiava suas idéias e aspirações, sua opinião sobre os inevitáveis atritos interpessoais ditados pela convivência longa e forçada no esconderijo.
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De forma tocante, ela falou de seu desenvolvimento físico, das relações com o pai e a mãe, e do amor. Revelou detalhes cotidianos aparentemente insignificantes, como a restrição de ir ao banheiro somente à noite, quando a firma estava fechada. Mas também narrou momentos de pavor, noites em que a capital holandesa foi bombardeada, ou a presença de estranhos na loja, que forçava os fugitivos à imobilidade quase total.
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Símbolo universal contra a intolerância
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Porém, em 1944, alguém – até hoje não se sabe exatamente quem – denuncia os clandestinos. Poucos dias depois, a SS revistava a firma, levando os oito embora, de início para um campo de trabalho forçado na Holanda.
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Mais tarde, foram transportados num trem de carga até Auschwitz, e de lá a Bergen-Belsen, na Baixa Saxônia. Em março de 1945, poucas semanas antes da libertação desse campo, Anne e Margot morreram de tifo.
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Dos oito clandestinos da Prinsengracht 263, apenas Otto Frank sobreviveu ao Holocausto. A casa onde a família se ocultou durante dois anos foi transformada em museu em 1957, recebendo uma média de 900 mil visitantes por ano, sobretudo jovens.
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Ela é um monumento palpável contra o antissemitismo e outras formas de intolerância. Na África do Sul, por exemplo, Anne foi transformada num símbolo do combate ao racismo. Segundo Jan van Kooten, da Fundação Anne Frank: "Ela nunca será esquecida. Quer no Chile, no Brasil ou na Bolívia, ela é conhecida e amada em todo o mundo".
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