Discurso de Lula da Silva (excerto)

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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Voltaire e o iluminismo

Voltaire, biografia e pensamentos

voltaire

Biografia e idéias de Voltaire – . O autor (1694-1778) nasceu em Paris. Seu nome verdadeiro era François Marie Arouet. Seu pai era tabelião e possuía pequena fortuna. Sua mãe tinha origem aristocrática. Ela morreu depois do parto. François foi franzino durante a infância e teve saúde fraca durante toda a vida. Tinha um irmão mais velho, Arnaud, que entrou para um culto herético jansenista. François revelou talento literário e sensibilidade poética logo na infância. Ele comprou livros com a herança de uma senhora que havia visto nele futuro cultural. Com esses livros, e com a tutela de um abade, começou sua educação. O abade lhe mostrou o ceticismo e as orações religiosas. O pai de François queria um futuro prático para o filho. Achava que a literatura não rendia dinheiro nem prestígio. Com o intuito de tornar o filho advogado do rei, coloca-o num colégio jesuíta. Os jesuítas eram padres com formação militar, que usavam para difundir o evangelho no mundo todo. Eram membros da Companhia de Jesus, que havia sido fundada por Inácio de Loyola. Os jesuítas ensinaram a Voltaire a dialética, arte de dialogar progressivamente, para provar as coisas. Ele discutia teologia com os professores, que reconheciam Voltaire como um “rapaz de talento mas patife notável”.

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Seu padrinho o introduziu numa vida desregrada. Conheceu escritores, poetas e cortesãos. Ficava na rua até tarde, divertindo-se com fanfarrões epicuristas e voluptuosos. Seu pai, homem sério, não viu com bons olhos as atividades do filho. Manda-o para a casa de um parente, para mantê-lo quase preso. Mas o parente, quando o conhece, gosta tanto dele que lhe dá liberdade.

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Quando François termina o colégio, seu pai arranja para que se torne pajém do marquês de Châteauneut. Parte em missão diplomática com esse embaixador para Haya, Holanda. Logo que chega lá encontra uma moça: Olympe Runoyer, a Pimpette. François teve encontros amorosos com a moça e queria que ela fosse morar com ele na França. O caso foi descoberto. François escrevia cartas apaixonadas, dizendo:”não há dúvida de que irei amá-la para sempre.” Mandam-o de volta para a casa de seu pai.

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Compõe uma ode a Luís XIII, com a qual participa de um concurso, que não vence. Luís XIV morre, e seu filho é muito jovem para ser rei. O poder ficou com um regente. Sem um governador legítimo,a vida em Paris corria sem controle e François corria com ela.

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François começa a ficar conhecido por ser brilhante, imprudente e turbulento. É malicioso e tem os olhos vivos e perpicazes. Vira amante de Susanne de Livry, faz versos galantes e poemas cômicos. Ele aspira ser o grande trágico da época, e não são poucas as suas tragédias. Suas obras somadas dão noventa e nove volumes. É um espírito versátil, dono de uma cultura notável, que o ajudava a ser fecundo. Em 1715 escreve a peça Édipo e o poema Henríada, um épico sobre Henrique IV. Sua fama aumenta e todas as coisas espirituosas e maliciosas são atribuídas a ele, inclusive algumas anedotas, contra o regente que governava, duque de Órleans. As anedotas falavam que o regente conspirava para usurpar o trono. Em 1717, o regente manda-o para a Bastilha, a prisão parisiense. Na Bastilha adota o nome de Voltaire. Depois de quase um ano de prisão, o regente o soltou. A tragédia que escrevera, Édipo, é produzida em 1718, e fica em cartaz quarenta e cinco noites seguidas, um recorde para a época. Se enconta com Fontenelle. Com um lucro de 4000 francos da peça, Voltaire faz investimentos financeiros, empresta dinheiro, e financia o tráfico de escravos, que era um negócio rentável. Assim , fez render seu dinheiro e pode viver com folga.

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Então, uma briga com o duque de Sully, cavaleiro de Rohden, o obriga a ir para o exílio. O nobre não aceita seu desafio para um duelo, e dispõe de meios para prendê-lo de novo. O cavaleiro mandou seus homens baterem nele, depois que Voltaire o respondeu. Preso por um curto período, preferiu o exílio na Inglaterra. Depois de ter ficado e alcançado o sucesso com Édipo e a Henríada, ele passa (de início a contragosto) três anos na Inglaterra.

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Aprendeu o inglês. Em Londres, conseguiu desenvolver sua intelectualidade. Se relaciona com os poetas Young e Pope; com o escritor Swift e o filósofo empirista Berkeley. Admira-se com a liberdade de expressão dos ingleses, que escrevem o que querem. A filosofia inglesa, que vinha desde o início da modernidade, com Bacon, Hobbes e Locke e os deístas, o agradou. Estuda a fundo a obra de Newton, e mais tarde propaga suas idéias na França, com as Cartas filosóficas, de 1734.

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Voltaire absorve rapidamente a cultura e a ciência inglesa. Gosta da tolerância religiosa. Começa a amar a marquesa de Châtelet, Emile de Bretiul. A marquesa é culta, traduzira Newton e apresentou Leibniz a Voltaire. Ela lhe dá proteção no seu castelo de Cyrei. Acha Voltaire interessante, o mais belo ornamento da França. Ela tinha vinte e oito anos, e ele quarenta. Graças a ela e às grandes damas, acredita na igualdade mental inata entre os sexos. No castelo de Cyrei, passavam o dia estudando, pesquisando e fazendo experimentos no laboratório. Voltaire, com sua amante, aprofundou-se em física, metafísica e história. O castelo tornou-se um centro cultural. Voltaire aprefeiçoa seu estilo ionico e frívolo. Escreve Alzire, Mérope, O filho pródigo, Maomé, O mundano, O ingênuo e Cândido.São romances com bom humor. Will Durant diz que os heróis desses romances são idéias, os vilões são superstições e os acontecimentos são pensamentos.

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Em O ingênuo, um princípe huroniano chega na França e submete-se aos costumes franceses, tornando-se católico. Para isso um abade lhe deu um exemplar do Novo Testamento. Se apaixona pela madrinha de seu batismo. O romance mostra as diferenças entre o cristianismo primitivo e eclesiástico.

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No romance Micrômegas, Voltaire narra a visita de um enorme habitante de Sirius a Terra. Com oito léguas de altura, e mil sentidos, essa raça costuma viver mais de dez mil anos. Sob essa perspectiva vem a tona a finitude e a pequenez da Terra e seus habitantes. O ET diz que é na Terra que a felicidade mora, se dirigindo aos humanos, átomos inteligentes e imateriais. Um filósofo humano expõem ao visitante a brutalidade da existência carniceira na Terra, provocando ira e decepção no alienígena. O filósofo o dissuade de seu impulso de matar a todos com suas passadas.

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Em Zadig, Voltaire conta a história de um sábio babilônio. Ao defender a sua amada, Zadig é ferido no olho. Perde a visão desse olho. A amante, Samira, comprometre-se com outro homem. Zadig casa-se com uma camponesa. Testa a fidelidade da camponesa com um amigo, fingindo-se de morto. Traído, foge para o bosque. Adquirindo sapiência, torna-se amigo e ministro do rei. A rainha se apaixona por Zadig. O rei planeja matá-los e Zadig foge. Num transe vislumbra a ordem imutável do universo. A trajetória de Zadig prossegue. Ele é feito escravo, mas depois torna-se assessor de seu senhor.

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A correspondência de Voltaire é numerosa. Não só as cartas sobre os ingleses, mas também com inúmeras personalidades da época, como Frederico, o Grande, da Prússia, de quem foi amigo.

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Aos poucos, Voltaire volta a ter contato com Paris. Graças à proteção de madame Poiapadeur, vira historiógrafo real. Em 1745, Voltaire e a marquesa vão para Paris. Ele se torna candidato à Academia Francesa. Em 1746, é eleito e faz um belo discurso de posse. Em Paris escreve muitos dramas. Inicialmente fracassa, mas depois alcança sucesso com Zaire, Nahomet, Mírope, Semiramas.

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Depois de quinze anos, sua relação com a marquesa torna-se difícil. Em 1748, a marquesa começa um caso com Saint Lambert. Em 1749, a marquesa morre.

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Frederico II, da Prússia, o convida para fazer parte da corte, em Postdam. Ele é convidado a ser professor de francês do monarca, que manda dinheiro para a transferência. O convite se deve ao fato de ser Voltaire querido por todos, e admirado por sua inteligência e seus escritos. A estada lhe agrada, mas não de todo. Foge das cerimônias oficiais. Frederico lhe é gentil e amável e juntos mantiveram altas conversas. Voltaire tinha a sua disposíção uma boa suíte. Frederico e Voltaire se tornam muito amigos, e Voltaire não poupa elogios ao monarca falando para terceiros.

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Por causa de uma interpretação de um ponto da teoria newtoniana, Voltaire polemiza com um protegido do rei, Malpertuis, presidente da academia de Berlim. Voltaire dirige seu ataque a Malpertuis num panfleto, Diatribe do dr. Akakia, em 1752. Quando o panfleto foi publicado, Frederico, o grande, manda queimá-lo (o panfleto) e Voltaire deixa a Prússia, escapando da raiva real. Em Frankfurt foi preso pelos agentes do rei. Fica preso durante semanas. Quando vai para a França, descobre que está proibido de entrar em Paris. Vai para Genebra, onde adquire uma propriedade chamada “As delícias”. Ali ele termina suas maiores obras históricas: Um ensaio sobre o costume e o espírito das nações e sobre os principais fatos da história, de Carlos magno a Luís XIII. Ele começou essa obra em Cyrei. E A era de Luís XIV.

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Nas suas obras históricas, Voltaire não dedicou um enorme espaço à Judéia e ao cristianismo, e relatou com imparcialidade a gigantesca cultura oriental. O Oriente tinha mais tradição que o Ocidente. Sob nova perspectiva, descobriu-se nesse mundo, e os dogmas europeus puderam ser questionados.

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Nas Delícias, tem boas relações com os evangélicos. Os enciclopedistas do Iluminismo Francês, encabeçados por Diderot, pedem sua contribuição. Escreve alguns artigos para a Enciclopédia. Ocorre então uma ruptura entre Voltaire e Diderot, por desavença de opiniões. Voltaire ironiza a defesa do estado de natureza de Rousseau (o famoso bom selvagem) dizendo que o que difere o homem dos animais é a educação e a cultura.

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Voltaire sai de Genebra e vai para Ferney, onde permanece quase que o resto da vida. Cuidava de sua propriedade rural e escrevia muito. Plantou milhares de árvores. O lugar rapidamente se tornou um centro cultural, a exemplo do que acontecera com o castelo da marquesa. Alguns Iluministas iam para lá. como Helvetius e d’Alembert. Voltaire mantém em Ferney vasta correspondência, com gente de todos os tipos, incluindo muitos governantes.

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Em 1755 soube do terremoto em Lisboa, onde morreram umas trinta mil pessoas. Ficou revoltado ao saber que os franceses consideravam aquilo castigo divino. Lamentou a desgraça do destino dos vivos em um poema. Voltaire sempre lutou contra o preconceito e as superstições , preferindo em lugar delas a razão e a cultura elucidativa.

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A adoração a um Ente Supremo e a submissão às suas leis eternas, sem conhecê-las por completo, resulta em rituais que não fazem sentido, não tem eficácia. Os preconceitos , para Voltaire podem ser maus, medíocres, ou ter um fim útil, como amar o pai e a mãe. Preconceito é uma opinião desprovida de julgamento. Podem ser:

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a) dos sentidos- como por exemplo: o sol é pequeno, pois vejo-o assim.

b)físicos – “a Terra está imóvel”.

c)históricos – por exemplo a lenda da fundação de Roma, por Remo e Rômulo.

d)religiosos – por exemplo: Maomé viajou nos céus.

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Voltaire tem um tratamento racional para desvendar os mistérios da consciência humana . Dá a entender que Descartes estava errado com seu inatismo, e prefere a teoria de Locke, de que tudo deriva das sensações. A sensação é tão importante quanto o pensamento, e o mundo é uma sensação contínua. Ele faz paralelos com a cultura grega e romana, nos verbetes do Dicionário Filosófico.

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As crenças tem um lado subjetivo muito forte. Nos esforçando para ver a crença, ela acabará por existir, para nós.

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Os sonhos são um mistério, portanto fonte de superstições, como os que sonham com acontecimentos futuros e pensam ser Deus o responsável. O fato de não podermos usar a razão enquanto vivemos um sonho, e de ele ser um estado alternativo, de percepção etérea, é o que faz suscitar dúvidas de interpretação. Os sonhos não tem valor objetivo, para Voltaire. A moral vem de Deus, como a luz. As superstições são trevas.

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O dicionário filosófico foi publicado em 1764 . Foi o primeiro livro de bolso da história e alcançou muito sucesso. As idéias nele contidas são revolucionárias, pois criticam o Estado e a religião. Voltaire faz muitas citações de grandes autores, e o livro tem uma parte histórica grande. Voltaire faz parte desse movimento de renovação da cultura e crítica da política absolutista chamada Iluminismo. Suas idéias foram propagadas na Revolução Francesa e refletiam os ideais dessa revolução, durante a qual foi muito lembrado. Voltaire não despreza a cultura pagã e oriental, como fazem outros autores.

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Cândido, sua obra principal, foi escrito em três dias. Conta com otimismo pessimista a história de um simples rapaz, filho de um barão. Seu mestre, Pangloss, inverte a lei da causalidade, ao afirmar que as pedras foram feitas para construir castelos e o nariz para suportar óculos. No entanto, se acha muito culto.

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O exército búlgaro invade o castelo onde Cândido mora e o transforma em soldado. Entre morrer e ser açoitado, Cândido prefere o açoite. Aguenta as chibatadas de todo o regimento durante um tempo. Os pais de Cândido são assassinados, e o castelo é destruído. O rapaz consegue fugir para Lisboa, e no barco que o leva até lá, encontra Pangloss. Em Lisboa ocorre o terremoto. A Inquisição durou mais tempo em Portugal, que se manteve católico e não aderiu ao protestantismo. Cândido, fugindo dela, vai para o Paraguai, país onde há muita diferença social.

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Cândido acha ouro no interior virgem do Paraguai, mas é enganado e fica sem quase nada. Vai para Bordeaux com o que sobrou. E Cândido prossegue, sofrendo males a aventuras. Vai para a Turquia. No livro, Voltaire critica a teologia medieval e o otimismo de Leibniz, que diz ser esse o melhor dos mundos possíveis. Certa feita, um jovem defendeu Leibniz, criticando Voltaire, que replicou: “Se esse é o melhor dos mundos possíveis, por que existem tantos males e injurias?” Apesar disso, o mal, para Voltaire, não é metafísico, mas sim social. Deve-se superá-lo com trabalho e com a razão. O homem deve estar sempre ocupado, para não ficar doente e morrer. Voltaire era muito ativo e combateu o ócio. Rousseau via críticas pessoais no trabalho de Voltaire.

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Para Voltaire a metafísica é uma quimera. Pode-se escrever mil tratados de sábios e não desvendar o segredo do universo, ou questões como: O que é a matéria? Porque as sementes germinam na terra?

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Voltaire difundiu o conhecimento e filosofia. Suas obras foram muito lidas. Ele comenta outros autores e dá sua opinião. Torna claro os complexos sistemas filosóficos, pois é inteligente e escreve bem. O ceticismo de Voltaire é uma atitude espiritual, contra a metafísica. Voltaire fala que o Ser Supremo, cuja crença veio depois do politeísmo, é válido. Disso resulta num paradoxo, pois Deus existe e não podemos conhecer os mistérios do universo. Voltaire aceita os argumentos para a existência de Deus de São Tomás de Aquino. É a causa primeira de tudo, Inteligência suprema.

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Contrariarmente ao Deus judaico-cristão, O Deus de Voltaire fez o mundo em tempos remotos e depois abandonou-o ao próprio destino. Por isso Voltaire é deísta.

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Para os Iluministas, Deus não existe e é o mal da humanidade. A ignorância e o medo criaram os Deuses, e a fraqueza os preserva. É um empecilho para a civilização. O materialismo é preferencial à teologia. Essas idéias foram defendidas na Enciclopédia, cujo principal autor é Diderot. Os enciclopedistas chamavam Voltaire de fanático, por esse acreditar em Deus. Lembre-se que Voltaire participou da Enciclopédia. Voltaire via Deus na harmonia inteligente entre as coisas. Mas negava o livre arbítrio e a providência. Respondeu ao Barão d’Holbach, notório ateu, que o título de seu livro O sistema da natureza, demonstra a inteligência superior.

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Voltaire foi um defensor da justiça. Defendeu muitos que estvaam em desgraça e lutou contra a tirania. Não se entusiasmava com as formas de governo. Achava os legisladores reducionistas. Como viajou muito, não era patriótico. Não confiava no povo e não gostava da ignorância, que estava muito difundida. Levantava dúvidas, muitas de suas obras são repletas de perguntas. Numa carta a Rousseau, no qual comenta o Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade, disse que o livro de Rousseau fazia surtir o desejo de voltar a ser animal, e andar de quatro patas, mas ele já havia abandonado esse hábito há sessenta anos.

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Aos oitenta e três anos, viajou para Paris, para rever a cidade-luz, depois de tanto tempo. Teve calorosa recepção. Assistiu uma peça sua encenada. Foi até a Academia de Letras de Paris, recebendo uma homenagem. Morreu não muito depois e toda a população parisiense saiu na rua, para participar do cortejo fúnebre.

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IDÉIAS de Voltaire, Clique aqui para ler outro resumo, de Abbagnano

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