Discurso de Lula da Silva (excerto)

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sábado, 29 de agosto de 2009

"Quem é essa Elise?": Beethoven, uma peça e um enigma

DW World - Cultura | 27.08.2009


Durante anos pensou-se que ela fosse "Therese". Agora, um musicólogo alemão pretende ter resolvido o mistério sobre a identidade daquela a quem o compositor natural de Bonn dedicou uma de suas obras mais populares.

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A Bagatela para piano em lá menor, WoO 59 de Beethoven é uma das peças clássicas mais conhecidas que existem. Composta em 1810, ela traz uma dedicatória íntima: "Para Elise em 27 de abril em recordação de L.v. Bthvn".
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Do jazz ao hardrock, do cabaré ao toque de celular, passando pelo hit italiano (Maledetta Elisa!), poucas melodias são tão onipresentes quanto essa. Não há dúvida: caso Ludwig van Beethoven (1770-1827) ainda recebesse direitos autorais, bastaria Für Elise para torná-lo milionário.
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Porém durante longos anos uma questão extramusical permaneceu em aberto: quem era a homenageada? Até há pouco, pensava-se tratar-se de uma jovem e bela amiga do compositor, uma certa Therese Malfatti. O que, do ponto de vista lógico, não faz muito sentido, admita-se.
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Agora, o musicólogo alemão Klaus Martin Kopitz crê haver encontrado a resposta. Não que tivesse essa intenção: a descoberta foi mero subproduto de seu trabalho mais sério de pesquisa historiográfica.
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Marca de uma despedida?
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Há anos Kopitz trabalhava numa edição do livro Beethoven no olhar de seus contemporâneos, contendo relatórios de gente que conheceu o compositor pessoalmente, diários, poemas, lembranças. "Algumas mulheres são presenças constantes. E uma delas é Elisabeth Röckel."
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Montagem de 'Fidelio' em Leipzig, 2005.


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Nascida em 1793, ela era a irmã caçula do cantor Joseph Röckel, que em 1806 cantou o papel de Florestan na única ópera de Beethoven, Fidelio, sob a regência do próprio compositor. Assim como seu irmão, a graciosa bávara, que os amigos chamavam "Elise", afeiçoou-se ao excêntrico gênio nascido em Bonn.
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Alegre e despreocupada, ela possuía também talento musical, tocava piano e mais tarde tornou-se cantora. Na primavera europeia de 1810, mudou-se de Viena para Bamberg, em seu primeiro contrato teatral. E este é mais um argumento de Kopitz: se Beethoven escreveu a peça "em recordação", é de se supor que ocorreu uma separação.
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Beliscões carinhosos
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O compositor e a jovem conheciam-se bem, sem dúvida, já que ele dedicou a obra não a "Fräulein Röckel", mas sim a "Elise". A amizade entre os dois está bem documentada, inclusive pela possível musa. A um conhecido, ela contou, por exemplo, de uma noitada na casa do celebrado violonista Mauro Giuliani.
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Apesar de acompanhada por seu futuro marido, o compositor Johann Nepomuk Hummel, "Beethoven, em sua extroversão renana, não cansava de cutucá-la e de brincar com ela. Tanto que, ao fim, ela não sabia como se livrar dele: de tanto carinho, ele não parava de beliscá-la no braço", cita Kopitz.
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O fato de Elisabeth haver se decidido por Hummel não abalou a amizade do casal com Beethoven. Poucos dias antes da morte do músico, em março de 1827, ela o visitou, cortou um cacho da cabeleira do compositor e ganhou como suvenir suas últimas penas de escrita.
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Elisabeth Röckel em retrato de 1814.
Bildunterschrift: Elisabeth Röckel em retrato de 1814
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Elise? Ou Therese?
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Resta a pergunta: como pôde Elisabeth Röckel permanecer ignorada por musicólogos e historiadores durante quase dois séculos? E como foi que sua "rival", a Malfatti, entrou nessa história?
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Os responsáveis foram Ludwig Nohl e Max Unger, estudiosos confiáveis da vida e obra beethovenianas. Nohl descobriu e publicou a Bagatela em lá menor em 1865, mas não conseguiu localizar o nome "Elise" no contexto da vida do compositor.
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Unger foi quem rebatizou arbitrariamente a peça como Para Therese, sob o pretexto de que o original, desaparecido por um certo tempo, estivera temporariamente em mãos de Therese Malfatti.
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Teoria novelesca
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E esse é mais um mistério: por que Therese estaria de posse de uma peça dedicada "a Elise"? Uma possibilidade é que, já que ambas se conheciam, tivessem trocado partituras entre si. Klaus Kopitz arrisca uma outra hipótese, ainda que não cem por cento científica. Tenha-se em mente que, segundo certas fontes, em abril de 1810 Malfatti e o compositor de 39 anos estavam noivos.
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"Suponhamos que Therese fizesse uma visita a Beethoven – aqui estou dando asas à imaginação – e visse sobre o piano a peça com a dedicatória. E perguntasse: 'Quem é essa Elise? Tu querias casar comigo, ou não?' Uma situação um tanto constrangedora: escrever uma peça 'para Elise' quando se pretende casar uma Therese!"
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Para quem quiser saber o fim da novela: Kopitz publica um ensaio completo sobre Beethoven e Elisabeth Röckel na próxima edição dos Bonner Beethoven-Studien.
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Autor: Anastassia Boutsko / Augusto Valente
Revisão: Rodrigo Rimon
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