Discurso de Lula da Silva (excerto)

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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Literatura: Sociedade angolana está à deriva mas em acelerada reorganização - Pepetela


{ts '2008-06-23 00:00:00'}

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A sociedade angolana está "algo à deriva" e "perdeu uma série de referências" na sua história recente marcada pelos conflitos armados, disse em entrevista à Agência Lusa o escritor angolano Pepetela.

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Apesar deste. cenário, o escritor revela-se optimista quanto ao futuro do país, que diz estar a reorganizar-se de forma acelerada, mas chama à atenção para a urgência de criar condições para a "transmissão de valores para a juventude".

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Pouco depois de apresentar em Luanda, na noite de terça-feira, o seu último romance, "O Quase Fim do Mundo", o Prémio Camões 1997, em entrevista à Lusa na capital angolana, mostra-se preocupado com a juventude do país que, como o resto da sociedade, "navega à deriva", mas, pelo que representa quando se olha para o futuro, "merece especial atenção".

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O escritor neste seu último romance narra o confronto de um grupo reduzido de indivíduos com o quase fim do mundo e tudo o que resta da humanidade está numa ínfima parcela de África.

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Admite que, mesmo "de forma inconsciente", a forma como estas pessoas foram ultrapassando as suas diferenças é uma boa metáfora para o "acelerado apaziguamento dos espíritos" que está a acontecer numa Angola a experimentar os primeiros seis anos de paz em 32 anos de independência.

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"Ultrapassar rapidamente situações complicadas é algo muito próprio do povo angolano e estamos a avançar muito bem nesse sentido", aponta.

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Considera, no entanto, "haver problemas graves" e que podem ainda "acontecer sobressaltos graves" com o aproximar das eleições legislativas apontadas pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, para o mês de Setembro.

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Pepetela entende que é importante a "transmissão de valores" para os mais novos e, "apesar de não ser religioso", que as igrejas podem ser importantes nessa tarefa.

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Apesar deste quadro social, apenas seis anos de paz e uma juventude sem referências, o também autor de "Lueji, o nascimento de um império(1990)" admite que Angola está a reorganizar-se de forma "acelerada" e dá como exemplo deste "caminhar acelerado para a normalidade" a "diminuição da tensão" entre as pessoas nos mais variados cenários.

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"Já não há a agressividade que havia há cinco anos nas ruas, onde eram permanentes as discussões por causa do trânsito. Há menos tensão no ar", exemplifica.

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Pepetela vê nisto "um bom augúrio" para o momento histórico que o país vai viver com a realização das segundas eleições legislativas em 32 anos de independência, depois das falhadas eleições gerais de 1992.

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Na entrevista à Lusa, Pepetela reflectiu ainda sobre a recente polémica que envolveu o escritor Angolano José Eduardo Agualusa, quando este disse que o primeiro presidente de Angola e uma das figuras emblemáticas do país independente, Agostinho Neto, era "um poeta medíocre", gerando um redemoinho de críticas na sociedade luandense.

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"O que aconteceu - com Agualusa - é um sintoma de que há ainda muito caminho para fazer", apesar de defender que "as pessoas também têm - referindo-se a Agualusa - que saber onde falam, em que ambiente falam".

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"É preciso ter consciência das consequências das palavras", adverte Pepetela que, sem querer ir muito mais além neste tema, admite que "houve muitos exageros", mas defende que o que se passou pode ser "útil", porque "quando se discute sai sempre algo de útil".

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A forma como as personagens do seu romance "O Quase Fim do Mundo" resolvem pacificamente, apesar das diferenças, os seus problemas é, "mesmo que isso não tenha sido criado de forma muito consciente, uma boa metáfora" para a forma como os angolanos, também nas suas diferenças e perante tudo o que os distingue, estão e devem resolver os seus problemas.

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Apesar do optimismo assumido pelo criador da "Parábola do Cágado Velho" (1996), a Luanda de hoje não é a Luanda que "muitos daqueles que pensam o país há muitos anos e lutaram por ele" queriam ver como realidade.

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"Se calhar, e vendo bem as coisas hoje, o que está a acontecer em Luanda era inevitável", disse, referindo-se ao gigantismo da sua periferia pobre, ao caos urbanístico, ao "trânsito impossível".

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"Mas é preciso mudar isto, fazer um esforço para alterar as coisas", exortou.

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Na narrativa de Pepetela, uma seita religiosa está por detrás do incompleto apocalipse. Essa não é, porém, a parte importante do livro, mas sim a forma como o grupo que restou do quase fim da humanidade interage.

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Um dos exemplos mais claros é o de um boer sul-africano, com as suas características próprias, indivíduo fechado sobre si mesmo, que acaba por se revelar na sua humanidade e é paulatinamente aceite pelo grupo apesar das muitas reticências.

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Foi um exercício de "perdão", resumiu o autor.

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"Os africanos têm traumas históricos porque, durante muito tempo, sofremos as influências nocivas do `apartheid´ da África do Sul, e nós, em particular, sofremos com as guerras e agressões", lembrou.

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"E há - na narrativa - muitas reservas em relação a essa personagem que, aliás, aparece exactamente por causa disso", assinalou ainda, sublinhando que acaba por acontecer um "perdão" na forma como este boer "se torna útil" ao grupo de sobreviventes do quase fim do mundo.

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Ele - disse - "revela-se na sua humanidade" e acaba por ser "apenas mais um no grupo".

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É como se, ao longo das quase 400 páginas de "O Quase Fim do Mundo", Pepetela assumisse a tarefa de proporcionar a catarse para as fricções históricas entre a África do Sul do passado, racista, e os restantes países africanos.

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"Houve uma clara intenção de dizer algo como isto: esta é a humanidade que nós temos, são estas as pessoas, vamos aceitá-las como são", concluiu o escritor.

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UEA-Digital, Ricardo Bordalo, da Agência Lusa

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In União dos Escritores Angolanos -
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