Cultura | 18.07.2009
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Deutsche Welle: Uma versão completa de Metrópolis, de Fritz Lang, foi descoberta em 2008 na Argentina. Você trabalhará na restauração digital do filme, na Fundação Friedrich-Wilhelm Murnau de Wiesbaden. O que é tão importante assim nessa versão longa?
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Anke Wilkening: Todas as versões que conhecemos hoje são consideravelmente mais curtas. O filme foi originalmente cortado em aproximadamente 30 minutos pela Paramount, e os estúdios UFA [Universum Film AG] igualmente o abreviaram de forma semelhante para a distribuição na Alemanha e exportação, cerca de quatro meses após a estreia alemã. Os distribuidores decidiram que ele era longo demais por razões econômicas. A restauração da meia hora que falta mudará completamente o filme em relação à forma como o conhecemos até agora.
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Uma das cenas antológicas da película
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Quando se encurta uma película, é mais fácil eliminar cenas envolvendo personagens secundárias do que protagonistas, e foi precisamente isso o que ocorreu com Metrópolis. Neste caso, três coadjuvantes masculinos – muito importantes para a obra por sua relação com uma das personagens principais, Freder – foram quase eliminados, reduzidos à figuração. Em todas as versões anteriores a relação ficara sempre obscura.
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Metrópolis é muito bem documentado, temos o roteirosde Thea von Harbou, a partitura de Gottfried Huppertz, temos numerosas fotografias, as críticas da estreia. Portanto era fácil imaginar como essas cenas teriam sido. Mas ter a metragem original é bem diferente.
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De que forma a versão editada modificou a mensagem de Lang?
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Metrópolis parecera sempre um filme muito bombástico, uma estranha mistura de ficção científica e outras coisas. Agora toda a estrutura narrativa mudará. Fritz Lang aborda aqui seu tema favorito: a amizade entre homens e como ela fracassa.
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Como ocorre a restauração digital? Pode explicar a técnica?
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Em 2001, a Fundação Murnau já realizara uma restauração digital de Metrópolis, baseada nos negativos de câmera remanescentes. Na época, não era possível restaurar o filme completo, claro. Os negativos foram escaneados em resolução de 2K [2.048 pixels na horizontal], e esses arquivos serão a base para a nova restauração. Escanearemos as duplicatas em 60 mm que se encontram agora em Wiesbaden, as restauraremos o máximo possível e as integraremos nos arquivos digitais de 2001.
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Então, restaurar o filme significa escanear e armazenar no computador?
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Cineasta austríaco Fritz Lang
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Esse é o primeiro passo para tudo o que seja novo na versão da Argentina. O seguinte, e mais difícil, é a correção digital dos estragos. A cópia está em péssimo estado, e é só uma duplicata. Após a distribuição na Argentina, o original fora exibido em cinematecas por um colecionador particular, até a década de 1960. Como pode imaginar, ele estava realmente gasto, após mais de 35 anos de projeções.
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Todos os defeitos no material foram copiados na duplicata de 60 mm, o que significa que são agora parte da imagem. É muito difícil, mesmo na restauração digital, lidar com esse tipo de dano. O problema mais sério são linhas que atravessam todo o quadro, da esquerda para a direita. E temos problemas de estabilidade de imagem. Toda a sujeira da cópia foi também reproduzida.
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Também enfrentamos alguns problemas de contraste. A cada nova geração de um elemento fílmico, há sempre perda de nitidez e contraste e um aumento de granulação.
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Mas há programas de computador capazes de corrigir esses defeitos?
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Esperamos poder melhorar o contraste, aumentar a estabilidade e provavelmente eliminar parte da sujeira. Mas contamos que o dano sério, as linhas horizontais, permanecerão mais ou menos. Estão sendo realizados testes em diferentes laboratórios, para ver o que se pode alcançar no campo digital. Aí temos que decidir, antes de tudo, qual deles será encarregado da restauração, em segundo lugar, até que ponto vamos interferir no filme.
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Metrópolis é considerado um clássico, e muitos estudantes de cinema têm que assisti-lo. Qual é a sua relevância para o ensino?
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Por um lado, Fritz Lang é um dos mais importantes diretores alemães (austríacos), mesmo internacionais, da era do cinema mudo. Metrópolis é muito típico de sua época. A UFA estava tentando competir com os Estados Unidos, ostentando a técnica elaborada que tinha à disposição. É também uma mescla dos problemas mais cruciais daquele tempo: questões políticas e ideológicas se misturam e se fundem nessa película. Encontram-se elementos de ficção científica, romance, combinados à tecnologia avançada dos estúdios da UFA.
Bildunterschrift: Cartaz do clássico do cinema mudo
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Ele foi um modelo cinematográfico por longo tempo. Há elementos de Metrópolis em muitos filmes de ação, como Blade Runner e O quinto elemento; mesmo em videoclipes como Express yourself da Madonna, ou Radio Gaga do Queen. Ou a ideia do cientista louco, que foi um modelo para os filmes de terror da Universal na década de 30.
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O outro motivo é que essas cenas preciosas estiveram perdidas por tanto tempo. E tantas pessoas diferentes reviraram arquivos por todo o mundo, procurando seriamente esses 30 minutos, por razões científicas, sensacionalismo, ou por mera curiosidade. Sempre houve especulações sobre essa cena, e como ela poderia modificar o filme. E esta é uma razão importante por que Metrópolis é tão famoso.
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Autor: Louisa Schaefer
Revisão: Alexandre Schossler
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