Discurso de Lula da Silva (excerto)

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sexta-feira, 10 de julho de 2009

Gay Talese critica jornalismo atual e enaltece a blogosfera

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A passagem de Gay Talese no Brasil ainda rende assunto. O escritor e jornalista, maior nome do new journalism — movimento criado na década de 60 que incorporou características do texto literário às estruturas da linguagem jornalística — atraiu mais de 400 pessoas na noite desta terça-feira (7), no Masp (Museu de Arte de São Paulo), em evento promovido pela revista Piauí.

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Dias antes, o escritor foi um dos convidados da 7ª edição da Flip (Feira Literária Internacional de Paraty), na qual foi ouvido e reverenciado por centena de pessoas. “Fiquei impressionado com o evento”, declarou Talese. “Nunca havia visto tantas pessoas reunidas pela literatura — parecia um concerto de rock. Não existe isso em Nova York ou Washington.”

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Sabatinado pelo jornalista-mediador Illan Kow e pela platéia — formada na maioria por estudantes de jornalismo —, o veterano jornalista de 77 anos (50 como escritor) descreveu em detalhes suas histórias, calma e pausadamente. Durante a toda a conversa, permaneceu sentado de pernas cruzadas, e a maior parte do tempo, brincava com um pedaço de papel entre as mãos enquanto falava.

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Blogs

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Para espanto de alguns, Talese comentou sobre sua experiência no mundo dos blogs, desfazendo a ideia de ser contrário ao jornalismo produzido na internet. O autor escreveu para o blog do diário americano The New York Times e para outro assinado por Tina Brown, jornalista britânica radicada em Nova York. “Estava motivado para fazer os posts, assim como na primeira matéria que descrevi. Estava curioso. Curiosidade é fundamental no jornalismo", afirmou.

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Um dos posts, em especial, deu o que falar ao descrever uma tarde de liquidação de calças da marca Diesel, em Nova York. Em uma de suas andanças pela cidade, Talese observou uma longa fila de pessoas ávidas por comprar pares de jeans da marca preferida de muitos endinheirados. Ao saber que estava sendo cobrado US$ 200 — o preço original era de US$ 400 — para cada par, ficou impressionado. "Isso é uma liquidação? Que loucura!", disse.

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O lado cibernético do escritor, no entanto, para por aí. Ele não tem e-mail, não usa a internet e sequer tem celular. Para o escritor, o jornalismo online não faz parte de sua vida e tampouco tomará o espaço do jornal impresso. “Quando a televisão chegou, acharam que acabaria o jornal. No entanto, ele continua no mercado. Enquanto houver reportagens honestas, haverá dinheiro para apoiar a qualidade delas.”

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A diferença, segundo ele, é que os jornalistas da atualidade têm mais conteúdo dos que os de sua época, mas são menos combativos. “Os jornalistas do NYT hoje são mais inteligentes — têm mais estudo —, e a linguagem é mais sofisticada do que quando eu trabalhei lá. Mas hoje os jornalistas são tão educados quanto os que estão no poder. Eles não são capazes de criticá-los.”

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Gay Talese é autor de 11 livros, entre os quais Fama e Anonimato e o mais recente Vida de Escritor, título em que o autor conta como concebia o texto jornalístico sob perspectiva diferenciada já no início da carreira. Todos eles são relatos não-ficcionais, com aspecto literário, muito semelhante à ficção. No momento, está escrevendo uma obra que vai contar os 50 anos de seu casamento com a editora Nan Talese.

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“Não queria ser apenas outro escritor de ficção — queria ser único. Por isso optei pela não-ficção”, declarou Talese sobre o interesse pela literatura. Entre os autores que lhe despertam interesse, o jornalista citou os norte-americanos Frances Scott Fitzgerald, autor de O Curioso Caso de Benjamin Button; Ernest Hemingway, que escreveu Por Quem os Sinos Dobram; e Tom Wolfe, do livro A Fogueira das Vaidades.

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Contador de histórias

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A primeira matéria do mestre do jornalismo literário foi escrita quando ele ainda era o "copy boy" da redação do The New York Times, no começo dos anos 50. Sua mudança para a reportagem aconteceu depois de publicarem um texto seu, que contava em detalhes os afazeres do funcionário responsável por trocar as manchetes luminosas do NYT. O velho senhor exercia a mesma função há mais de 25 anos, mas ninguém nunca o havia notado.

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Sua perspicácia em mostrar detalhes da vida de pessoas comuns, com lirismo sem igual, chamou atenção dos editores. Nos anos seguintes, seu talento foi se aperfeiçoando na redação e fora dela, nos livros.

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Mais do que um retratista da realidade, Talese assumiu durante a palestra que já interferiu na vida de pessoas quando uma boa ideia lhe passou pela cabeça. Ao ver mendigos nas ruas de Nova York segurando uma placa e pedindo dinheiro, como de costume, resolveu mudar o "slogan da mendicância".

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"Pensei que eles (os mendigos) precisavam trocar a placa, porque todas as pessoas estavam acostumadas com aquilo. Eles deveriam ser mais contemporâneos. Como o presidente (Barack) Obama fala muito em estímulo, pensei que eles deveriam escrever nas plaquinhas algo assim: ‘Eu faço parte do programa de estímulo, uma grana pode me estimular também’.", disse.

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Com a ideia na cabeça, Talese conta que fez 12 cópias impressas da frase em sua casa e saiu distribuindo pelas ruas da cidade. Para um dos mendigos, disse ter oferecido até dinheiro para que ele adotasse a frase em sua placa. O feedback da "ideia" veio depois de telefonar para alguns mendigos — sim, em Nova York alguns possuem telefone celular — e ter certeza de que sua ideia funcionou pelo menos para alguns. A resposta de dois deles foi positiva: eles conseguiram levar mais dinheiro para suas casas.

Sobre a polêmica do diploma de jornalista, Talese reafirmou emitiu sua opinião: “Não acho que jornalista precisa de diploma. O principal é a curiosidade e a habilidade de perguntar a estranhos e conseguir que eles respondam a um estranho.”

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Da Redação, com informações da Folha Online

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in Vermelho - 9 DE JULHO DE 2009 - 12h07

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