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* Dina Gusmão
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Apanhado entre dois livros, ‘Obras Completas’ e ‘Os Cadernos Secretos de António, Prior do Crato’ (ed. D. Quixote), partilhou connosco vida e obra.~
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“Uma obra completa é sempre uma imagem de conjunto do que se escreve e de quem escreve porque o escritor projecta-se sempre nas personagens. Mesmo quando as critica, mesmo quando elas são o seu oposto. Há personagens que me são profundamente odiosas como as que criei, por exemplo, em ‘A Noite Roxa’ para recriar Portugal em França com todos os seus tabus, as suas contradições... E é impressionante como o país de agora se parece com o de então. Passámos de uma ditadura a outra: da política à económica. Estamos na mesma e eu estou cada vez mais decepcionado”, diz.
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Escritor desde que, em 1952, se estreou com ‘A Porta dos Limites’, é no ofício da escrita que mais e melhor se revê mas guarda a melhor recordação dos seus dias de jornalista e professor.
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“O jornalismo abriu-me muitas portas e deu-me a conhecer o Mundo, mas a literatura e o ensino são as duas dominantes da minha vida. Paralelamente à vocação da escrita, tenho também uma vocação pedagógica que fez de mim um professor cheio de amor pelo ensino”, lembra.
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Recordações não lhe faltam mas, aos 84 anos e com uma série de complicações cardíacas que o debilitam, Urbano Tavares Rodrigues tem da vida uma lucidez feroz que não se compadece com a visão romântica do envelhecimento.“O tempo é o grande inimigo. Mais idade não é sinónimo de maior disponibilidade, não quando vivemos para nos mantermos vivos. Não há uma plenitude, há é pequenas compensações. Acordo às 08h00 para o primeiro tratamento do dia. Seguem-se outros, mais que muitos e todos dolorosos, incomodativos... Os meus dias são actualmente muito tristes”, conta.
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Um dia perfeito é, agora, complicado de idealizar, tantas são as condicionantes. Compensam-no os livros, os amigos e uma alegria chamada António.
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“Já não tenho saúde para ter dias perfeitos. Cansa-me muito andar e, como vivo num terceiro andar sem elevador, quase não saio de casa. Estou a ver muito mal, por isso, também não uso muito a televisão e o computador. Leio e escrevo muito, isso sim. E depois há os amigos que gosto muito de receber e o meu filho (António, 18 meses) com quem brinco muito. É a minha alegria”, revela.
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Escreve muito e à mão. Reescreve muito mais e com muitas dúvidas. Sem qualidade não publica e é o seu maior crítico.
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“Sou um maníaco da escrita, estou sempre a escrever e a reescrever. Poemas, reflexões... Estas, se as publicar, talvez lhes chame ‘O Cornetim Encarnado’ mas, antes, sai em Outubro ‘Os Cadernos Secretos de António, Prior do Crato’, que comecei a escrever com muito receio de não ser capaz. Quando o acabei e o reli pensei que tinha escrito um dos melhores romances da minha vida”, conclui.
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PESSOAL
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UMA QUALIDADE
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“A generosidade. Apesar de ser egoísta como todos os homens, por comparação com os outros, chego à conclusão de que, dentro do género, sou dos menos egoístas”.
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UM DEFEITO
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“Ter levado a vida a correr riscos sem qualquer noção do perigo, o que me lançou numa série de aventuras que só ganhou sentido quando me entreguei à causa da transformação do Mundo, da vida”.
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UMA SAUDADE
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“Sem prejuízo para a minha mulher, de quem gosto muito, tenho uma saudade profunda da minha primeira mulher: Maria Judite de Carvalho... Tínhamos uma relação muito camarada, sim”.
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UMA FRASE GENIAL
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“De Aragon: ‘A mulher é o futuro do homem’. É a Mulher que humaniza a vida e dá ao Homem e à Humanidade uma maior dimensão”.
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in Correio da Manhã 2007.08.24
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» Comentários CM on line
Sexta-feira, 24 Agosto
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* Dina Gusmão
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Urbano Tavares Rodrigues dispensa apresentações. Escritor, jornalista e professor, é uma das mais firmes e consensuais referências da literatura portuguesa.
.Apanhado entre dois livros, ‘Obras Completas’ e ‘Os Cadernos Secretos de António, Prior do Crato’ (ed. D. Quixote), partilhou connosco vida e obra.~
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“Uma obra completa é sempre uma imagem de conjunto do que se escreve e de quem escreve porque o escritor projecta-se sempre nas personagens. Mesmo quando as critica, mesmo quando elas são o seu oposto. Há personagens que me são profundamente odiosas como as que criei, por exemplo, em ‘A Noite Roxa’ para recriar Portugal em França com todos os seus tabus, as suas contradições... E é impressionante como o país de agora se parece com o de então. Passámos de uma ditadura a outra: da política à económica. Estamos na mesma e eu estou cada vez mais decepcionado”, diz.
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Escritor desde que, em 1952, se estreou com ‘A Porta dos Limites’, é no ofício da escrita que mais e melhor se revê mas guarda a melhor recordação dos seus dias de jornalista e professor.
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“O jornalismo abriu-me muitas portas e deu-me a conhecer o Mundo, mas a literatura e o ensino são as duas dominantes da minha vida. Paralelamente à vocação da escrita, tenho também uma vocação pedagógica que fez de mim um professor cheio de amor pelo ensino”, lembra.
.
Recordações não lhe faltam mas, aos 84 anos e com uma série de complicações cardíacas que o debilitam, Urbano Tavares Rodrigues tem da vida uma lucidez feroz que não se compadece com a visão romântica do envelhecimento.“O tempo é o grande inimigo. Mais idade não é sinónimo de maior disponibilidade, não quando vivemos para nos mantermos vivos. Não há uma plenitude, há é pequenas compensações. Acordo às 08h00 para o primeiro tratamento do dia. Seguem-se outros, mais que muitos e todos dolorosos, incomodativos... Os meus dias são actualmente muito tristes”, conta.
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Um dia perfeito é, agora, complicado de idealizar, tantas são as condicionantes. Compensam-no os livros, os amigos e uma alegria chamada António.
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“Já não tenho saúde para ter dias perfeitos. Cansa-me muito andar e, como vivo num terceiro andar sem elevador, quase não saio de casa. Estou a ver muito mal, por isso, também não uso muito a televisão e o computador. Leio e escrevo muito, isso sim. E depois há os amigos que gosto muito de receber e o meu filho (António, 18 meses) com quem brinco muito. É a minha alegria”, revela.
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Escreve muito e à mão. Reescreve muito mais e com muitas dúvidas. Sem qualidade não publica e é o seu maior crítico.
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“Sou um maníaco da escrita, estou sempre a escrever e a reescrever. Poemas, reflexões... Estas, se as publicar, talvez lhes chame ‘O Cornetim Encarnado’ mas, antes, sai em Outubro ‘Os Cadernos Secretos de António, Prior do Crato’, que comecei a escrever com muito receio de não ser capaz. Quando o acabei e o reli pensei que tinha escrito um dos melhores romances da minha vida”, conclui.
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PESSOAL
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UMA QUALIDADE
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“A generosidade. Apesar de ser egoísta como todos os homens, por comparação com os outros, chego à conclusão de que, dentro do género, sou dos menos egoístas”.
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UM DEFEITO
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“Ter levado a vida a correr riscos sem qualquer noção do perigo, o que me lançou numa série de aventuras que só ganhou sentido quando me entreguei à causa da transformação do Mundo, da vida”.
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UMA SAUDADE
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“Sem prejuízo para a minha mulher, de quem gosto muito, tenho uma saudade profunda da minha primeira mulher: Maria Judite de Carvalho... Tínhamos uma relação muito camarada, sim”.
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UMA FRASE GENIAL
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“De Aragon: ‘A mulher é o futuro do homem’. É a Mulher que humaniza a vida e dá ao Homem e à Humanidade uma maior dimensão”.
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in Correio da Manhã 2007.08.24
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» Comentários CM on line
Sexta-feira, 24 Agosto
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- Tito Livio Mota Lembro, com emoção, a sua passagem pela feira do livro de Paris. A simpatia com que respondeu às perguntas dos assistentes e a delicadeza com que respondeu a uma colega de doutoramento, moça simples e inteligente, filha de imigrantes.Bem haja (O Sr. Saramago ficou-nos na memória, na mesma ocasião, pela antipatia e desprezo que mostrou para connosco). Cada um tem talento para o que pode.
1 comentário:
Acho-o um Escritor ENORME, a quem não se tem dado o devido valor...
E ceio que pior que tudo, tem sido menos dado a conhecer por causa da sua cor política.
Bj.
Maria Mamede
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