Discurso de Lula da Silva (excerto)

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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Desfolhada (Ary dos Santos) - Simone de Oliveira


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olidisk 22 de Agosto de 2008 — Tema interpretado ao vivo no programa especial de homenagem a Herminia Silva
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MigMeira 21 de Agosto de 2008 — Simone de Oliveira interpreta "Desfolhada" no Festival RTP 1969, classificando-se em 1º lugar com 94 pontos.
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Ary dos Santos - Desfolhada



Corpo de linho
lábios de mosto
meu corpo lindo
meu fogo posto.
Eira de milho
luar de Agosto
quem faz um filho
fá-lo por gosto.
É milho-rei
milho vermelho
cravo de carne
bago de amor

filho de um rei
que sendo velho
volta a nascer
quando há calor.

Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.

Minha raiz de pinho verde
meu céu azul tocando a serra
oh minha água e minha sede
oh mar ao sul da minha terra.

É trigo loiro
é além tejo
o meu país
neste momento
o sol o queima
o vento o beija
seara louca em movimento.

Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.

Olhos de amêndoa
cisterna escura
onde se alpendra
a desventura.
Moira escondida
moira encantada
lenda perdida
lenda encontrada.
Oh minha terra
minha aventura
casca de noz
desamparada.
Oh minha terra
minha lonjura
por mim perdida
por mim achada.



Ary dos Santos (Poeta português, 1937-1984)

Escrita em 1968. Foi inicialmente patenteada com o título Desfolhada Portuguesa, modificado pelo autor em 1969 para Desfolhada.
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Este poema foi musicado por Nuno Nazareth Fernandes e interpretada por Simone de Oliveira.

.Concorreu ao Festival da RTP em 1969, obtendo o 1º lugar e foi representar Portugal à Eurovisão.
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http://palavrasquemetocam.blogspot.com/2008/09/ary-dos-santos-desfolhada.html
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NOTA VN - Estando proibido de concorrer pela Censura, Ary dos Santos apresentava-se com pseudónimo. Esta canção na altura levantou grande celeuma e escândalo por causa do verso "Quem faz um filho, fá-lo por gosto"
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setembro 12, 2007
Milho Vermelho
É milho-rei
milho vermelho
cravo de carne
bago de amor
filho de um rei
que sendo velho
volta a nascer
quando há calor...
Photo Sharing and Video Hosting at 
PhotobucketEm 1969, os versos de Ary dos Santos na voz de Simone de Oliveira desafiaram o antigo regime durante o Festival RTP da Canção. 
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Evocando o milho-rei milho vermelho, autêntico objecto de desejo nas rodas de rapazes e raparigas durante as desfolhadas em tempos de antanho, o poema cantava o amor de uma forma proibitiva para a época, podendo afirmar-se que na Desfolhada, Ary dos Santos atreveu-se a descamisar as mentes conservadoras e puritanas usando palavras nunca antes proclamadas pública e livremente e que insinuavam o amor carnal [corpo de linho/lábios de mosto/meu corpo lindo/meu fogo posto ... quem faz um filho/fá-lo por gosto].

Os tempos mudaram. A Revolução dos Cravos aconteceu e muito por sua culpa as mentalidades modificaram. Também se alterou esta prática de desfolhar ou descamisar o milho nas noites quentes de Verão (de Agosto) em rodas de jovens e adultos de ambos os sexos e onde o milho vermelho, por raro, era rei quando aparecia. Não se pense, contudo, que o reino deste rei era pavimentado a ouro salpicado de safiras e diamantes, a única riqueza ao dispor deste rei era a atribuição de poderes, qual lâmpada de Aladino, à feliz criatura que o tinha entre mãos. Esses poderes afinal reduziam-se a um só, um apenas, mas no entanto ele transportava consigo uma enorme força: a liberdade de poder distribuir um beijo a cada um dos elementos do sexo oposto... sim, um beijo apenas, e na face de certeza, o que naqueles tempos de liberdades amputadas certamente faria alguns elevarem-se mais alto que o Nirvana.
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Juramentos de amor se teriam feito e casamentos se teriam realizado, mas não vá o leitor ajuizar que as antigas desfolhadas se resumiam à busca desenfreada do milho-rei a que nós só demos tanto ênfase por complemento ao poema Desfolhada, que aqui pode ser lido e também ouvido pela voz da inigualável Simone.
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Uma desfolhada à moda antiga era mais, muito mais, como nos mostram dois textos que seleccionámos para vós.
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Num deles, que vem acompanhado de um álbum de fotos, a desfolhada é parte integrante de um
Domingo na Aldeia e traz a chancela do amigo Agostinho do Arte por um Canudo.
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O outro texto, cujo título Desfolhada à moda antiga justifica desde logo a sua chamada, não navega ainda e infelizmente pela rede das redes. É artigo de jornal (O TABUENSE) que por obra do acaso nos veio ter às mãos. Não nos fizemos rogados em colocar o dito artigo no ar já que é da autoria de uma jovem santacombadense nossa conhecida, Cristina Correia Pinto, que lá do outro lado do Atlântico se está a iniciar nas lides jornalísticas. A leitura do referido artigo, transformado por nós em dois documentos imagem, deve ser
iniciada aqui e depois complementada por uma segunda parte.

Arrematando, e como se impõe, aproveitamos esta deixa para divulgar alguns trabalhos da Cristina aqui sim a navegar na internet pela mão do seu
Sábios e Mestres.
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Neves, AJ | setembro 12, 2007 02:10 PM | Casa-Mãe | Voz no SAPO.pt
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http://vozdoseven2.weblog.com.pt/arquivo/2007/09/milho_vermelho.html
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