Discurso de Lula da Silva (excerto)

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segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Tereza Costa Rego, 80 anos: uma identidade à arte comunista


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Tereza é uma tríade. Filha da aristocracia rural já decadente, cresceu como a Terezinha Barros Costa Rêgo destinada a uma vida mais de tafetá e porcelanas que de pele, alma e secreções. Casou-se segundo a genética social para seguir, como ela gosta de dizer, enfeitando o piano da sala. Mas, se destino existe, quis ele que Tereza cruzasse a existência com Diógenes Arruda. Neste 5 de maio, uma das melhores pintoras do Brasil completou seus 80 anos.
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Descobriu o amor, suas nuances, imposições e glândulas. Também a pobreza, a discriminação e o exílio ao lado do companheiro e personagem de primeira hora do comunismo no Brasil. Fez-se então Joana, nome de guerra e paz durante a clandestinidade, até se consagrar como Tereza Costa Rêgo. Um calibre grosso, artista sem necessidade de maiores apresentações. Uma mulher que pariu a si própria por pelo menos três vezes. Neste 5 de maio, uma das melhores pintoras do Brasil completou seus 80 anos.

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O primeiro parto se deu num 28 de abril, há quase 80 anos. Filha mais nova de cinco irmãos intelectualizados, habituados ao convívio pessoal com personagens da política e da arte, Terezinha teve como segunda morada a eterna lista das mais elegantes da sociedade pernambucana. Imposição do talento, começou a pintar ainda criança. Fez o que faziam as finas. Foi para a Escola de Belas Artes. Mas a mesma família que patrocinava as lições a proibia de ver modelos nus. “Eu fui criada com muita repressão, tinha muito medo quando era criança. Medo das freiras do colégio. Se eu tirasse 9,5, levava um carão. Depois, na ditadura, tinha medo da polícia”, lembra.

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Repressão entranhada, seu primeiro nu só foi pintado depois dos 50 anos. A tela Mulher nua com gatos, de 1983, é pioneira. Insígnia da sua obra, a nudez viraria uma obsessão, lastreada pela paixão estética e pelo protesto tardio. “A nudez é a coisa mais pura, mais linda do ser humano”, defende Tereza. Mas, evocação do passado de freiras e bedéis, dualidade primeira, a nudez na obra de Tereza nunca está totalmente impune. É o que disse o escritor Raimundo Carrero, no texto de apresentação da série Imaginário do bordel: “...Nos quadros de Tereza, há sempre um impedimento, uma dificuldade, uma imposição...”

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A pintora lembra da primeira vez em que entrou num bordel. Foi em sua própria e aristocrática casa no bairro das Graças, entre os irmãos e os 11 empregados. “Gostava de deitar no colo de meus irmãos, aparentemente para cochilar, ficava escutando as histórias. Eu sabia o nome das mulheres, das donas das pensões: Alzira, Djanira, Edite, Maria Maga... O Chantecler, o Bar do Grego, a Festa da Mocidade...”. Mais tarde, sua memória de historiadora abrigou relatos da comemoração do fim da Segunda Guerra num bordel de Paris. “Comecei a achar que todas as coisas importantes só podiam acontecer no puteiro”, diz. Mas ela nunca chegou de fato a pisar num bordel. Havia, claro, o risco crucial de desidealizá-lo. Arquétipos, afinal, são matéria-prima preciosa.

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Diógenes Arruda e o PCdoB

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O segundo parto de Tereza aconteceu em 1962, quando ela conheceu Arruda. Um dos fundadores do PCdoB, o pernambucano já era um personagem envolto em certa mística. Em sua fase vermelha, Jorge Amado dedicou ao “camarada Diógenes Arruda” uma das obras da trilogia Os subterrâneos da liberdade. Era irmão de uma amiga de Tereza. “Encontrei com ele, achei simpático e tal... Tinha ouvido muito falar nele. Era uma figura muito lendária, aqui no Recife se falava muito. Ele me disse que na hora que me viu pensou: ‘Eu vou casar com essa mulher de qualquer jeito. Uma loucura, porque eu era uma pessoa com um carro preto e um chofer, toda arrumada”.

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Mas não foi a mítica ou a militância que os uniu. A imposição foi mais hormonal. Tereza diz ter ficado refém daquele cheiro. “Eu não disse que sou um bicho? Foi uma coisa muito violenta. Fiquei doida e ele também, e a danação foi enorme. Foi forte demais e resolvi me separar”, diz ela, que conheceu cada naco de carne do preconceito.

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Com duas filhas, foi para a casa da mãe e viu portas, uma a uma, se fecharem. “Até os cronistas sociais, que viviam me paparicando, me viraram a cara. O único que sempre me foi fiel foi Alex”, conta. Animal de raça, a atração por Arruda era mais forte. “Foi mais que uma paixão, foi uma doença grave.”

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Uma amiga traiu Tereza. Entregou a correspondência entre ela e Diógenes ao então marido. “Aí perdi todos os direitos do que eu queria dizer a ele, de que a gente tinha duas filhas e que eu queria um desquite civilizado. Ele ficou doido, porque nunca pensou na vida que eu pudesse ir embora. O divórcio foi da Idade Média. Eu perdi as meninas e tudo.”

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Sua mãe morreu pouco depois. Culpa que ela nunca apagou. “Tenho certeza que ela morreu por minha causa. Nunca tinha sofrido antes”. Com propriedades pelo Brasil, inclusive a mansão de praia onde Ruy Guerra filmou “Os cafajestes”, os irmãos estavam em São Paulo. Vieram ao funeral num avião fretado.

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Só não havia lugar para Tereza. Foi obrigada a embarcar num voo comercial da extinta Pan Air. “No velório, as pessoas falavam com um, com outro, quando chegavam perto de mim, voltavam. Uma mulher que nem lembra fez isso comigo. Hoje faz a maior festa quando me vê”.

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Vivendo na clandestinade com Arruda em São Paulo depois do golpe de 1964, percebeu que o companheiro era irreversível em sua vida. “Vendi um vestido para conseguir me manter por alguns meses”, lembra. A vida clandestina durou até 1969, quando o companheiro foi preso. Nesse tempo, Tereza formou-se em história pela USP. Deu aulas para vestibulandos. Apesar das notícias de tortura, ela tinha certeza de que ele sairia vivo da prisão. “Era muito doloroso, não podia chegar perto dele. Eu não existia oficialmente em sua vida”, conta.

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A certeza da sobrevivência veio inusitadamente. “Fui a todas as macumbas possíveis”, lembra. Em Santos, um pai de santo reconheceu a foto do companheiro. “É Arruda?! Fomos companheiros de sindicato!”, disse o homem. “Ele queimou uma pólvora e um mapa se formou no chão. Ali, o homem me mostrou que íamos para o exílio”, diz, com um riso contido na boca. “Eu passava o dia chorando, antes de Diógenes aparecer. Era aquele vazio, aquelas roupas de ouro não me vestiam mais, não tinha nada a ver com aquilo, aquelas mulheres high society, aquelas coisas de filantropia de que eu tenho horror. Era melhor eu ir e ser feliz e depois voltar, porque aí eu voltava com condições de ajudar. E eu voltei”, avalia Tereza, hoje proa de duas filhas, três netos e uma bisneta. “Apesar de aristocrática, a família da minha mãe sempre teve vida intelectual ativa. Por isso, nunca se viu naquela vida fútil”, diz a filha e jornalista Maria Tereza Rozowykwiat.

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Exílio

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Exilado, o casal seguiu para o Chile. Mas o golpe que matou Allende atingiu também Arruda, abrigado na embaixada da Argentina. Numa noite em que corria do toque de recolher, descobriu que estava grávida quando o sangue desceu pelas pernas. Abortou.

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O golpe de Pinochet os levou a Paris, residência por seis anos. Vinte e sete telas ficariam perdidas no Chile. Acabou empreendendo um doutorado sobre a história do proletariado brasileiro na Sorbonne. Nunca foi, aliás, a simples companheira de Arruda. “Eu era – e ainda sou – militante. Nunca participei de operações arriscadas. Era a motorista do partido”, lembra. Outra de suas funções: disfarçar companheiros clandestinos. Colocou muita peruca na cabeça de quem ia pro Araguaia.

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Durante toda a existência clandestina, usou o nome de Joana. “O partido me pediu para escolher um nome e eu escolhi esse. Além de salvaguardar Tereza, a identidade batizou também sua neta. Na casa da filha Tereza, uma tela traz o grande suvenir do período: a assinatura Joana. A outra filha, Laura, herdou a vocação para a pintura.

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Com a anistia, voltaram ao Brasil em 79. No dia 25 de setembro, foram ao aeroporto de São Paulo encontrar o companheiro João Amazonas, recém-chegado do exílio. Saíram em carros separados. De lá, Arruda saiu para o hospital. Chegou morto de um infarto.

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De volta à terra uterina, Tereza encontrou Olinda, sua última e definitiva pátria. “Quando acabou o exílio, que eu voltei, eu não vim para o Recife, nem para o Brasil, eu vim para Olinda, lucidamente. Quando Diógenes morreu, eu fiquei muito só, com uma dor muito grande, aí percebi que eu era uma pessoa muito forte. Então eu resolvi voltar, minhas filhas estavam aqui”, diz Tereza, que se define como filha de Olinda e da Joana encarnada no exílio. “Eu sempre fui a irmã dos meus filhos, a mulher do meu marido, a companheira de Arruda, a militante do partido. Olinda me deu minha identidade como artista”, diz ela, que de sua janela, todos os anos, reúne os amigos, uns copos de uísque e muitas conversas para saudar, no Carnaval, o Homem da Meia-noite. O calunga, confidencia a artista, é seu noivo. Encanta todas as mulheres que nela habitam.

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Leia abaixo entrevista com Tereza Costa Rego.

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Qual seu sentimento em relação aos 80?

Tereza – Essa história de 80 anos era uma coisa que eu não tinha registrado. Sou muito diferente das pessoas dessa idade. Para mim, esse número “oito” nunca cairia na minha frente e, de repente, quando fui conversar com o rapaz que está fazendo o meu livro, lembrei. Fiquei muito indignada, porque não tinha 80 anos... Mas fui fazer as contas e tinha. Passei uma noite angustiada, um mês sem dormir. Agora, a minha cabeça é muito doida, porque o corpo velho pede socorro de vez em quando. Estou me adaptando a esta nova fase, um pouco perturbada ainda. É uma idade que marca o princípio do fim. É muito difícil você fazer 90 anos. E não pretendo morrer nem tão cedo, vou aperrear muita gente ainda, dar muita risada. Minha cabeça vai muito rápido, eu só tenho amigo jovem, doido...

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Sua obra tem uma sensualidade, um erotismo...

Tereza – Eu não vejo como erotismo, não. Acho que é sensualidade, que é diferente. Sensualidade é uma coisa muito ligada com o corpo. Erotismo é mais uma coisa elucubrada na cabeça. Eu me sinto muito bicho. Mais do que gente. Um gato andando, dormindo, é de uma sensualidade enorme. O movimento do gato, as mãos... Para mim, nesse movimento do gato, ou de outro animal qualquer, eu vejo a curva. A curva é uma coisa que leva ao prazer, mas não ao erótico, é um prazer suave. As pessoas não separam, é tudo uma coisa muito séria. Acho, então, que a minha pintura beira mais essa sensualidade.

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Você uma vez falou que cada pintura é como um parto sangrento de fórceps. Criar é doloroso?

Tereza – Não acredito nesse negócio de inspiração. Isso é uma invenção. Acredito que a pintura é como qualquer ofício. Tenho o ofício de pintar. Só sinto não poder fazer isso, porque preciso trabalhar no museu (do Mamulengo, em Olinda). O verdadeiro pintor tem aquele ofício em que trabalha. Por exemplo, o marceneiro. Ele faz 30 cadeiras, mas tem uma que é melhor do que as outras. Não é porque naquele dia ele tivesse um sopro divino, não. A prática vai levando ao aprimoramento e acho que a pessoa sempre tem condições de melhorar. Como não tenho nenhuma pretensão de morrer cedo, espero melhorar mais a cada dia.

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Como tem sido sua rotina de trabalho como pintora?

Tereza – Suicida.

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Fale melhor sobre isso.

Tereza – É quando vem a história dos 80 anos. Não tenho idade para fazer as coisas que faço. Eu vou para supermercado, para banco, arrumo minha casa, moro sozinha. E me sinto muito doida, porque pinto quadros muito grandes, não é? Outro dia, fui correndo para o ateliê e escorreguei. Aí compreendi que realmente podia ter acontecido de eu meter a cara na escada. Essa exposição (do Museu do Estado de Pernambuco) me deu um limite de tamanho de quadro. Por exemplo, estou pintando um quadro de 12 metros. Não tenho mais força para isso. Percebo que daqui a quatro anos não vou poder mais. Não quer dizer que um quadro menor não seja bom, que vá piorar minha pintura. Essa loucura desses quadros grandes eu faço mais à mão, do que com o pincel. É um ato quase sexual para mim. A arte é uma coisa muito física, sangra.

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Por que essa obsessão por grandes dimensões?

Tereza – Eu pintava quadros pequenos quando fiz Escola de Belas Artes. Aí quando houve a campanha política de Miguel Arraes, nos anos 80, fui para as ruas com a Brigada Portinari, uma coisa muito importante nessa história de pintura. A gente não tinha compromisso com uma tela de três metros, ou se ia estragar. Você pintava a parede com um pincel grosso e a mão ia sozinha. Então, eu percebi que o que eu fazia gestualmente era muito melhor do que pintura e desenho. Eu sou da Escola de Belas Artes, consigo fazer uma mão assim, assim ou assim. Isso às vezes fica acadêmico e tenho que lutar contra. Não tenho uma pintura acadêmica, tenho uma pintura mais modernista. Com a Brigada Portinari, comecei a perceber que meu movimento maior era muito mais sincero, muito mais espontâneo e melhor como forma. Porque para mim pintura é cor, textura e forma. A história do quadro acho que é secundário.

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Mas seus quadros são muito narrativos.

Tereza – São. Câmara diz que meus quadros são na primeira pessoa do singular, mas eu não acho isso, não. Mas também não deixa de ser narrativo. Aquela série, por exemplo, “Sete luas de sangue”, não tem nada de pessoal. De toda forma, todo artista se põe no meio.

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Quando você atentou para o fato de que não queria ser mais uma pintora acadêmica?

Tereza – Na Escola de Belas Artes era assim: modelo de gesso, pintura de natureza morta, paisagem. A gente tinha nota. Tinha que fazer paisagem com os coqueirinhos levando vento. Mas a escola tinha mudado um pouco. Quando eu entrei, já tinha Vicente do Rêgo Monteiro e Lula Cardoso Ayres, os professores que mais me influenciaram lá. Então comecei a fazer algumas deformações, sair da regra três e os professores acharam que estava muito melhor do que antes. Eu comecei a me soltar e isso me fazia muito bem. Nessa época, pintava muita criança, marinheiros, umas figuras. Eu pintava de forma muito sazonal, para uma exposição, para o salão, mas eu não era uma profissional, que acorda, lava os dentes e vai para o ateliê pintar.

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Mas a sua pintura não é uma atividade diária, é?

Tereza – Não consigo, porque trabalho, sou diretora do Museu do Mamulengo. E às vezes venho tão envenenada do museu que não tenho condições de mais nada, arreio. É na sexta, no sábado e no domingo que pinto mais. Gosto de pintar de manhã, não gosto de pintar à noite. A cor muda muito. Eu gosto de acordar de madrugada. As minhas melhores coisas são feitas de madrugada. Agora não tenho tanta coragem de me acordar tão cedo, mas a luz da madrugada me inspira. Depois, o silêncio. O silêncio da madrugada é uma coisa muito bonita. Eu ouço o silêncio. Ouço muito. As árvores balançando e entre as árvores, o silêncio.

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Mas sua obra jamais foi panfletária.

Tereza – Não. Eu conheço a arte da Albânia e da China, da própria ex-União Soviética, e são muito ruins. O realismo socialista é um horror, é uma pintura absolutamente panfletária. Aquela bandeira vermelha. Já os mexicanos muralistas não são.

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Você se aproxima mais deles?

Tereza – Muito mais, apesar de também serem um pouco panfletários. Eu fazia muito esforço de fugir disso. Essa pintura panfletária é muito ruim, porque é acadêmica e óbvia demais. Não tem nenhuma sutileza.

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Dos artistas pernambucanos, alguém influenciou você?

Tereza – Os artistas mais importantes de Pernambuco são Ismael (Caldas) e (João) Câmara. Eles não são acadêmicos, nem abstratos e tiveram a coragem de ter uma forma nova. Eu sinto alguma identidade com eles.

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E de fora de Pernambuco? Portinari, por exemplo?

Tereza – Não. Teve uma época em que tive influência de Portinari. Tenho mais de Matisse.

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Como você vê a arte contemporânea?

Tereza – Existe arte de duas qualidades: a boa e a outra. Quer seja abstrata, surrealista, primitiva, qualquer “ismo”. Da minha geração mesmo, tem pintores que se perderam e outros que ficaram. Na arte contemporânea tem um questionamento válido, mas acho que não é artes plásticas. Existem umas instalações muito fracas. A pessoa não precisa pegar uma peruca, dividir em vários pedacinhos e dizer que é uma instalação. Respeito muito Zé Patrício, Marcelo Silveira, Márcio Almeida, Dantas Suassuna, Joelson, Christina Machado, todos amigos meus, e eu gosto muito da pintura deles. Mas eles não inventam coisas para dizer que é novo. Tem muita gente com talento em Pernambuco, agora tem muita porcaria, como também tinha no passado. Hoje, por exemplo, se eu fosse comprar uma obra, compraria um quadro abstrato de Burle Max, acho uma maravilha.

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Você nunca se satisfaz?

Tereza – Não, sempre acho que falta muito, que tem muita coisa para caminhar. No dia em que um artista disser que chegou no máximo, pode voltar que parou.

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Você consegue expressar adjetivamente a dimensão que você tem?

Tereza – Tenho muita vontade de fazer um autorretrato, tenho dois de quando eu era bem jovem. Sou uma pessoa muito doida e inconveniente, como disse minha filha Tereza, mas uma coisa é muito forte para mim: a relação de amor que eu tenho com as pessoas, as coisas, os bichos. O amor é fundamental, o resto vem depois.

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Quais seus medos e sonhos?

Tereza – Esses 80 anos me fizeram ficar com medo. Essas homenagens todas, faço muita autocrítica, se estou sendo vaidosa, se mereço isso, essas coisas chatas de quem tem repressão judaico-cristã. E meu grande sonho hoje, depois de tudo que vivi, é morrer com dignidade e isso significa morrer pintando até o último dia.

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O que é a morte?


Tereza – Não estou preparada. Quando era jovem, tinha fascínio pela morte, mas agora não. Queria continuar subindo a escada e sinto que tenho que descer. Mas eu não vou morrer tão cedo.

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Fonte: Jornal do Commercio

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in Vermelho - 13 DE MAIO DE 2009 - 20h31

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