Discurso de Lula da Silva (excerto)

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domingo, 12 de julho de 2009

História de vítimas do terrorismo da RAF chega aos cinemas na Alemanha

Cultura | 11.07.2009

Se é alto o número de filmes que vem tematizando o universo dos terroristas da RAF desde os anos 1970, só agora chega aos cinemas 'Schattenwelt', um longa sobre as vítimas do terrorismo na Alemanha.

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Nos anos 1970, foram vários os filmes que tematizaram o terrorismo na Alemanha, entre eles Alemanha no Outono, Anos de Chumbo ou A Terceira Geração. Todas essas obras tratavam das razões que moveram, naquele momento histórico, os representantes da RAF (Fração do Exército Vermelho).

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Eram filmes que questionavam por que essas pessoas combatiam o Estado e quais ideais elas supostamente seguiam cegamente. Desde então, foi sendo criado quase um mito em torno de ex-terroristas como Ulrike Meinhof, Andreas Baader ou Gudrun Ensslin, o que explica o interesse de cineastas pelo assunto, que se perpetua até o século 21.

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Em 2002, por exemplo, o diretor Christoph Roth rodou Baader. No ano passado, o produtor Bernd Eichinger lançou O Complexo Baader-Meinhof, que foi inclusive indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro. Todos esses filmes têm algo em comum: eles contam suas histórias exclusivamente a partir da perspectiva dos terroristas.

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Rompendo com a tradição

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O filme Schattenwelt, (Mundo de sombras) com roteiro de Uli Herrmann e dirigido por Connie Walther, que chega agora aos cinemas alemães, é o primeiro a romper com essa tradição, ao delinear como um ex-terrorista deixa a prisão e se vê confrontado com seu passado por uma vítima de seus atos.

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No filme, um ex-terrorista da RAF, cujo nome na história é Widmer, deixa, sob os olhares curiosos da opinião pública e de uma multidão de jornalistas, a penitenciária onde passou 22 anos. Estes jornalistas, no entanto, embora à espreita, têm suas atenções desviadas e acabam perdendo o ex-terrorista de vista. Sozinho, ele se vê numa rua deserta, entra num carro e é levado para um arranha-céu nas imediações de Freiburg.

Cartaz do filme

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Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Cartaz do filme

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Naquele momento, quando ele certamente teria podido dar início a uma vida no anonimato, aparece a vizinha do lado, que já o espera. Trata-se de Valerie, uma mulher de aproximadamente 30 anos, que presenciou, na infância, como seu pai, um jardineiro, foi morto "sem querer" num dos atentados da RAF.

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Notoriedade

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"Por um lado, há esses terroristas notórios. Eles deixam a prisão e, mesmo depois de terem cumprido suas penas, não saem dali sem ser ninguém, pois serão sempre conhecidos. Esse é um lado: eles não podem se ver livres de suas histórias. E as vítimas? Elas podem menos ainda se livrar de suas histórias", diz Walther.

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Em Schattenwelt, a personagem Valerie, interpretada pela atriz Franziska Petri, provoca em seu vizinho, somente por um rápido momento, dúvidas a respeito de sua identidade. "O que é aquela arma em cima da sua cama?", pergunta Widmer, para receber a resposta: "Arrumei quando soube que você se mudaria para cá", responde a misteriosa vizinha.

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Vítimas atônitas e sem voz

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O que Valerie quer, no enredo, é saber qual dos terroristas do grupo atirou em seu pai no passado. A fim de se preparar para o papel, a atriz Franziska Petri leu diversos relatos, entrevistas e um livro escrito pela filha de uma das vítimas do terrorismo da RAF.

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"Mas, no fim, tudo era relativamente insatisfatório. Senti que essas pessoas se mantinham, de alguma forma, atônitas. O que mais me tocou foi a sensação de que elas não tinham voz. Com esse papel no filme, tive pelo menos um pouco a chance de ser essa voz ou esse espaço. Isso me motivou muito a fazer o filme. Li também muita coisa sobre crianças que passaram por alguma espécie de trauma", conta Petri.

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Schattenwelt é quase como um filme em preto-e-branco, já que as cores foram extremamente reduzidas. As imagens emanam uma certa dureza, parecem quase históricas, e ao mesmo tempo como se os protagonistas vivessem nesse mundo pela metade, ou seja, nesse mundo de sombras. O medo, de qualquer forma, não os deixa. Perguntas ficam no ar e o medo domina o cotidiano.

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Ligações com histórias reais

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O filme chega aos cinemas poucos meses depois da libertação do ex-terrorista Christian Klar da prisão, fato que desencadeou na Alemanha um debate acirrado a respeito de confissões de culpa, arrependimento e da conduta em relação ao terrorismo. Ulli Hermann escreveu o roteiro com a ajuda de Peter-Jürgen Boock, ex-representante da RAF, que cumpriu 17 anos de pena por homicídio.

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Em Schattenwelt, os atores Franziska Petri e Ulrich Noethen levam adiante um duelo tenso, embora o filme perca sua força de convencimento na segunda parte. Pois a caminho de Berlim, onde Widmer quer se encontrar com seu filho, tem início um showdown e Valerie quase se transforma numa psicopata, o que lembra demais os clichês da cinematografia norte-americana.

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Autor: Bernd Sobolla
Revisão: Augusto Valente

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