Discurso de Lula da Silva (excerto)

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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Woody Allen: um cinema marcado pelo rico universo feminino

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Muitas vezes chamado de egocêntrico, Woody Allen desenvolveu em seus filmes inesquecíveis personagens mulheres que, através de atrizes como Mia Farrow, Diane Keaton, Scarlett Johansson e agora Naomi Watts, compõem uma verdadeira galeria do cinema.

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Por Mateo Sancho Cardial, na Efe


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Watts, que estará no novo projeto londrino do gênio nova-iorquino junto a Antonio Banderas e Anthony Hopkins, poderia ter pertencido décadas atrás ao padrão da loira hitchcockiana, mas agora nos leva a questionar se existe um padrão de musa "alleniana"?

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O cineasta americano não se caracterizou por explorar a sensualidade de suas atrizes como o mestre do suspense, nem por render a elas homenagens estéticas como Pedro Almodóvar, mas sim por se aprofundar, quase sempre através de suas relações sentimentais, nas necessidades e frustrações da mulher da burguesia intelectual.

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Não se pode esquecer que seu filme mais premiado teve nome de mulher na versão original Annie Hall (1977) — Noivo Neurótico, Noiva Nervosa em português — e que um de seus trabalhos mais reflexivos se chamou A Outra (Another Woman, 1988). Também é preciso lembrar que outros levaram no título referências diretas a protagonistas femininas, como Simplesmente Alice (1990) e Melinda e Melinda (2005).

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Também cabe ressaltar que seu primeiro filme "sério", Interiores (1978), foi liderado por portentosas interpretações de Diane Keaton e Geraldine Page e, sobretudo, que durante muitos anos, seu cinema foi evoluindo com suas parceiras na vida real, Keaton e Mia Farrow. "Minha vida amorosa é terrível. A última vez que estive dentro de uma mulher foi quando visitei a Estátua da Liberdade" é uma de suas várias frases célebres.

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Os que o acusam de misógino também têm seus argumentos: dois de seus filmes mais bem-sucedidos, Manhattan (1979), Hannah e Suas Irmãs (1986) ou o mais recente Vicky Cristina Barcelona (2008) giravam em torno de um mesmo homem com várias mulheres. Mas o certo é que nesses três filmes Allen extraiu o melhor de Mariel Hemingway, Diane Wiest e Penélope Cruz.

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Diane Keaton, que também aparecia em Manhattan, foi a primeira grande musa de Allen e manteve um perfil de mulher intelectualmente desafiante e difícil de assustar. Como uma Katharine Hepburn dos anos 70, Keaton revolucionou com sua estética ao público e ganhou um Oscar por Noivo Neurótico, Noiva Nervosa.

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Pessoalmente, foi a relação menos turbulenta de Allen, até o ponto de anos mais tarde participar de A Era do Rádio (1987), junto ao novo amor do diretor, Mia Farrow. Já nos anos 90, aceitou um oitavo trabalho com ele: Um Misterioso Assassinato em Manhattan (1993).

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Farrow adotaria, ao longo de 13 filmes, um perfil mais vulnerável. A atriz de O Bebê de Rosemary (1968), após dois casamentos — com Andre Previn e Frank Sinatra — se apaixonou por Allen e fez interpretações magníficas, como em A Rosa Púrpura do Cairo (1985).

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Farrow influiu notavelmente na carreira de Allen, a quem impulsionou a realizar um de seus projetos mais atípicos e prestigiados, Zelig (1983), enquanto sua crise matrimonial foi a base para uma das produções mais complicadas do gênio nova-iorquino: Maridos e Esposas (1992). O desenlace real foi, como é bem sabido, muito mais folhetinesco que o do próprio filme.

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Woody Allen presenteou a Gena Rowlands, que tinha sido musa e mulher de John Cassavetes, seu melhor papel longe do marido, em A Outra. Foi um de seus filmes com mais referências clássicas a Bergman, sobre os freios emocionais que surgem em uma brilhante professora de filosofia para não mostrar sua vulnerabilidade nas altas esferas intelectuais dominadas pelos homens.

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Na última etapa de sua carreira, e após tentativas fracassadas com Mira Sorvino, Helen Hunt e Cristina Ricci, Allen optou por uma musa de sexualidade muito mais explícita, mais loira e mais jovem: Scarlett Johansson.

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Apesar de seu papel em Match Point (2005) ter sido inicialmente oferecido a Kate Winslet, o entendimento entre ambos foi tal que voltaram a trabalhar em Scoop (2006) e Vicky Cristina Barcelona, no qual explorava as diferentes posturas das mulheres frente ao amor.

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Johansson, Rebecca Hall, Penélope Cruz e Patricia Clarkson encarnavam, respectivamente, a apaixonada, a cerebral, a neurótica e a descrente. As três primeiras, à custa de Javier Bardem.

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in Vermelho - 6 DE JULHO DE 2009 - 16h37

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