Discurso de Lula da Silva (excerto)

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terça-feira, 6 de julho de 2010

PCP - Homenagem a Alex

 

Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral, Loures, Comício

Homenagem a Alex

Tem um profundo significado a evocação do crime brutal que constituiu o assassinato de Alfredo Diniz perpetrado pela PIDE. 
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Em primeiro lugar, porque ao evocá-lo estamos a dizer que não deixaremos que a história seja branqueada e apagada, que houve fascismo e resistência antifascista em que os comunistas tiveram um papel corajoso, decisivo e ímpar durante décadas e até à revolução libertadora de Abril, na luta pela liberdade, pelos direitos dos trabalhadores e do povo português. 
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Em segundo lugar, esta evocação é também uma forma de demonstrar que as gerações actuais de comunistas prosseguem hoje essa luta, com a convicção profunda de que as gerações futuras também a hão-de prosseguir. 
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Porque é que a PIDE assassinou cobardemente Alfredo Diniz? Por ser comunista. Por ser um lutador e fundamentalmente por ser um dirigente operário que organizava a luta. 
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Entrando para as juventudes comunistas aos 19 anos, foi preso tinha 21 anos. Com um comportamento corajoso perante a polícia, foi condenado a 18 meses de prisão. Quando Alex (pseudónimo da clandestinidade) foi libertado regressou imediatamente à actividade revolucionária assumindo responsabilidades no Secretariado de Célula da Parry & Son, no Comité Local de Almada, no Comité Regional de Lisboa e posteriormente eleito para o Comité Central no III Congresso integrando o seu Bureau Político. 
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Organizador nato, teve um papel destacado nas lutas de 1942 e posteriormente nas grandes vagas de greves de 1943 e 1944 na Região de Lisboa, Margem Sul e Ribatejo. Assim como nas grandiosas manifestações de vitória sobre o nazi-fascismo de Maio de 1945. 
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Mais do que o valor histórico tem uma grande actualidade a avaliação feita por Álvaro Cunhal que, na sua obra “Rumo à Vitória”, ao sublinhar o papel da organização do Partido nas empresas e da organização das lutas reivindicativas económicas e políticas afirmou: “As greves não se decretam, mas decidem-se e declaram-se. Para o fazer com êxito é necessário conhecer de perto a disposição das massas conhecer a evolução da luta e escolher o momento justo. 
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A percepção revolucionária e a audácia dos militantes representam um importante papel. O êxito de algumas grandes greves dirigidas pelo Partido devem-se em grande parte à acção de um militante destacado: Alfredo Diniz, operário da Parry & Son assassinado pela PIDE em 1945. Alfredo Diniz conhecia profundamente os problemas da classe operária, conhecia a classe, acompanhava dia a dia as lutas dos sectores que lhe estavam confiados, era um óptimo organizador das lutas reivindicativas e mais de uma vez foi ele a dizer audaciosamente ao Partido: o momento para a greve é agora. E acertava!
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As organizações operárias do partido devem trabalhar como trabalhava Alfredo Diniz e acrescentava o camarada Álvaro Cunhal (no Rumo à Vitória): tal como ele, ao organizarem as pequenas lutas reivindicativas devem olhar audaciosamente em frente. Procurando incansavelmente alargar as lutas, unificá-las, fundi-las, conduzi-las a etapas superiores, encontrando em cada fase as formas eficientes de organização. 
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Alex tombou assassinado pelos esbirros do fascismo, mas outros pegaram no seu exemplo durante a clandestinidade. Outros combatentes tombaram mas outros levantaram de novo a bandeira comunista e lutaram e organizaram a luta que foi determinante para a vitória da Revolução de Abril, para a conquista de direitos, para alcançarem uma vida melhor para os trabalhadores e para o povo. 
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40 anos passados desde que Álvaro Cunhal escreve o “Rumo à Vitória”, num quadro de uma ofensiva económica e social encetada pelo capitalismo a nível internacional, a que se associaram as forças da política de direita no plano nacional, o valor do trabalho passou a ser o alvo a abater e a luta e o seu desenvolvimento o que mais os faz temer. 
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Como sempre e mais do que nunca os trabalhadores e as classes populares precisam deste Partido, único a estar nas fábricas, nas empresas, nos locais de trabalho, plenamente identificado com os interesses e aspirações dos trabalhadores, que não os substitui na luta mas que está na linha da frente do combate face à escalada que, a pretexto da crise e da redução do défice, penaliza a vida dos portugueses e agrava os problemas nacionais – o desemprego, a precariedade, promove a destruição da capacidade produtiva nacional, gera o endividamento e empobrecimento do povo e o aumento da dependência do país. 
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Esse PEC sempre a ser alterado para pior, por um Governo PS que é seu dedicado executante, por um PSD seu apoiante que, tal como o actual Presidente da República, na hora de salvar a política de direita e tudo aquilo que é estratégico para os grupos económicos e financeiros, assinam por baixo para depois fazer umas demarcações tácticas, algumas picardias a pensar mais em resultados eleitorais no futuro do que nos problemas do País no presente, porque se lá estivessem fariam o mesmo, para pior, do que faz o PS. 
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Esse PEC que rouba nos salários de duas maneiras, pela via do IRS e pelo esquema do aumento dos preços aumentando o IVA, o imposto mais cego que penaliza mais quem menos pode e menos tem, que projecta já para Agosto o mais injusto e desumano ataque a todas as prestações sociais que atinge as camadas mais fragilizadas da população, desde os desempregados aos doentes acamados, desde as crianças aos deficientes, dos pensionistas de mais fracos rendimentos aos excluídos e marginalizados. 
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Como exemplo da injustiça, é no tempo em que as estatísticas revelam que o desemprego aumentou o Governo corta nos apoios aos desempregados. 
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Esse PEC que não só amnistia os responsáveis da crise, a oligarquia financeira e os grandes grupos económicos como ainda lhes oferece um festim de privatizações, milhões de benefícios fiscais, faz vista grossa à evasão fiscal com milhares de milhões de euros a pousar nos offshores. Num assomo de defensor do interesse nacional Sócrates, pronunciando-se sobre a questão do negócio da PT em relação à VIVO, considerou que a UE tem uma posição ultra-neoliberal. Então acerte o discurso com a prática! Abandone o ultra-neoliberal processo de privatizações de empresas públicas ou com participações do Estado em defesa da nossa soberania.
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Esse PEC que vê nos serviços públicos, em particular no Serviço Nacional de Saúde, um empecilho, encerrando serviços, cortando às cegas na rede hospitalar, aumentando os custos da saúde. 
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Este PEC que despreza a agricultura e o mundo rural e os pequenos agricultores, que abandona os micro e pequenos industriais e comerciantes que dependem do mercado interno e são asfixiados pelos custos dos factores de produção, pela dificuldade de acesso ao crédito e rede de distribuição da produção. Este PEC que concebe a cultura e o ensino como uma despesa e não como uma factor de emancipação e desenvolvimento social e como vertente do regime democrático. 
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Este PEC e esta política de direita que alienam cada vez mais parcelas da nossa soberania económica e política e se rendem aos ditames do directório de grandes potências da União Europeia e do capitalismo. Este PEC e esta política de direita que, servindo a quem servem e penalizando quem não devem, revelam com crueza uma opção de fundo e de classe. Salvam e apoiam os interesses de uma minoria que concentra e centraliza a riqueza e atingem em primeiro lugar e duramente os trabalhadores e todas as classes e camadas anti-monopolistas. 
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Aqui, quando evocamos um lutador, evocamos e convocamos a luta como factor decisivo para alcançar a ruptura e a mudança, construir uma uma política patriótica e de esquerda e um governo capaz de a concretizar. E, estamos conscientes de que é uma luta e é um objectivo de grande fôlego, de que temos de lutar o tempo que for preciso, num tempo em que por vezes resistir é já vencer para a construção da política alternativa e de uma alternativa política. 
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Como fez Alex, como fizeram milhares de comunistas, como fizeram outras gerações de trabalhadores, na luta pequena ou grande, na reivindicação concreta, com a consciência que, neste quadro, com este poder, com esta classe dominante pela natureza do capitalismo, não há direitos e conquistas seguras e eternas, o que pressupõe ter as vistas mais largas e lutar por uma democracia avançada, pelo socialismo como a alternativa ao capitalismo. 
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Por vezes perguntam-nos como é possível ter confiança no futuro e na luta quando a situação é tão difícil, se vale a pena agir e lutar nesta relação de forças tão desfavorável. Mais difícil era no tempo de vida de Alex. Mas animado por esse ideal indestrutível, pelas fortes convicções de revolucionário comunista, ele sabia que valia a pena lutar. E valeu, como Abril valeu. E continua a valer a pena lutar. Demonstraremos isso no próximo dia 8 de Julho, esclarecendo, mobilizando e participando na Acção Nacional de Protesto e luta convocada e organizada pela central sindical dos trabalhadores portugueses, a CGTP-IN. 
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Demonstraremos isso em todos os dias que aí vêm, justificando a razão de ser, a causa, o ideal, o projecto deste partido, que está e estará, em todos os momentos, em todas as frentes, a dar ânimo e confiança. Lá onde existe o problema, lá onde pulsa a aspiração de uma vida melhor, lá onde estão os trabalhadores e o povo, afirmando-lhes que sim, podem contar com o PCP, mas lembrando que nem o PCP, nem ninguém, os pode substituir na luta que, sendo também nossa, é sua. Que é a sua força imensa que pode decidir um outro rumo para Portugal. 
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Viva o Partido Comunista Português.
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Há 60 anos a PIDE assassinou Alfredo Dinis (Alex) criar PDF versão para impressão enviar por e-mail
30-Jun-2005
Há 60 anos a PIDE assassinou Alfredo Dinis (Alex)

Maria Piedade Morgadinho

«Escondidos atrás da furgoneta os homens esperavam silenciosamente, como numa caçada. Em breve o viram aparecer. Aproveitava a descida para dar velocidade à bicicleta, naquele seu jeito destemido e moço de saborear a rapidez da corrida, o vento nos cabelos, a alegria de viver.

Um dos homens saltou detrás da furgoneta e com um encontrão fê-lo cair na beira da estrada. Quando se levantou, dum salto, estava cercado. Um tiro deitou-o por terra.

De longe, um camponês presenciara a emboscada em que José Gonçalves acompanhado de Fernando Gouveia e mais um bando de agentes da P.I.D.E., assassinaram cobardemente o comunista Alfredo Dinis.

Por que é que nesse dia 4 de Julho de 1945, na solitária estrada de Bucelas, a P.I.D.E matou esse homem?» (1)

Ao fazer esta interrogação, descrevendo no seu livro «A Resistência em Portugal» esse crime do fascismo, o escultor comunista José Dias Coelho, então na clandestinidade e também ele mais tarde assassinado pela PIDE, apresenta traços da biografia política de Alfredo Dinis.

Alfredo Dinis, que na clandestinidade usou o pseudónimo de Alex, nasceu em Lisboa em 29 de Março de 1917 e tinha 28 anos quando a PIDE o assassinou. Operário metalúrgico da Parry & Son, trabalhava de dia e à noite estudava numa escola industrial.

Aos 19 anos entrou para as Juventudes Comunistas. Preso em Agosto de 1938 pela polícia fascista foi condenado a 18 meses de prisão. Quando saiu da prisão retomou a sua actividade revolucionária. Na qualidade de secretário da célula do PCP na Parry & Son passou a fazer parte do Comité Local de Almada. Em 1943 entrou para o Comité Local de Almada. Também em 1943 entrou para o Comité Regional de Lisboa e pouco depois foi eleito para o Comité Central no III Congresso (1º ilegal) do Partido, realizado nesse mesmo ano, passando a fazer parte do então existente Bureau Político.

Alfredo Dinis desenvolveu uma intensa actividade, participou na organização das lutas de 1942 na região de Lisboa e mais tarde na organização e direcção das grandes vagas de greves de 1943 e 1944 na região de Lisboa, Margem Sul e Ribatejo, assim como nas grandiosas manifestações da vitória sobre o nazi-fascismo de Maio de 1945.

Álvaro Cunhal, na sua conhecida obra «Rumo à Vitória», ao sublinhar o papel da organização, particularmente da organização partidária dentro das empresas e da organização das lutas reivindicativas económicas e políticas, chama a atenção para as características que deve ter um quadro comunista a trabalhar no seio dos trabalhadores e para a importância da sua ligação à classe operária e apresenta o exemplo de Alfredo Dinis:

- «As greves não se decretam, mas decidem-se e declaram-se» – escreve Álvaro Cunhal. «Para o fazer com êxito é necessário conhecer de perto a disposição das massas, conhecer a evolução da luta e escolher o momento justo. A percepção revolucionária e a audácia dos militantes representam um importante papel. Vinte anos atrás, o êxito de algumas importantes greves dirigidas pelo Partido deveu-se em grande parte à acção de um militante destacado: Alfredo Dinis, operário da Parry & Son, assassinado pela PIDE em 1945. Alfredo Dinis conhecia profundamente os problemas da classe operária, conhecia a classe, acompanhava dia a dia as lutas dos sectores que lhes estavam confiados, era um óptimo organizador das lutas reivindicativas e mais de uma vez foi ele a dizer audaciosamente à direcção do Partido: «O momento para a greve é agora!». E acertava. As organizações operárias do Partido devem trabalhar como trabalhava Alfredo Dinis – sublinha Álvaro Cunhal, acrescentando: «Tal como ele, ao organizarem as pequenas lutas reivindicativas, devem olhar sempre audaciosamente em frente, procurando incansavelmente alargar as lutas, unificá-las, fundi-las, conduzi-las a etapas superiores encontrando em cada fase as formas eficientes de organização.» (2)

Passaram mais de 40 anos sobre estas palavras de Álvaro Cunhal. Presentemente desenvolvemos a nossa luta em condições muito diferentes das de então, mas elas continuam a ser tão válidas hoje como o foram ontem. Como válida continua a ser ainda hoje a herança revolucionária que nos legou Alex com o seu exemplo de militante comunista estreitamente ligado à vida e à luta da classe operária e cujo 60.º aniversário do seu assassinato O Militante assinala neste número.


(1) A Resistência em Portugal, José Dias Coelho, Inova, págs. 59, 60.
(2) Rumo à Vitória, Álvaro Cunhal, Edições «Avante!», 2.ª edição, págs. 248, 249.


«O Militante» - N.º 277Julho/ Agosto 2005
   
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