Discurso de Lula da Silva (excerto)

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domingo, 14 de março de 2010

História da Cidade de Setúbal - Maria da Conceição Quintas

Porque, como e quando surge o Club Setubalense - Inserção 
histórico-geográfica
A Europa dos meados de Oitocentos
A Revolução Industrial Inglesa agitou o século XIX não apenas no Reino Unido como também em todo o continente europeu. A evolução dos transportes, associada ao desabrochar da agricultura, trouxe aos povos do velho continente novos objectivos, novos rumos.
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A Europa agitava-se no vasto movimento de 1848, ao mesmo tempo que se assistia à tentativa de afirmação de nacionalidades e ao surgimento de movimentos ligados à luta de classes como, por exemplo, a génese, afirmação e desenvolvimento das Internacionais Operárias, nomeadamente a conhecida Internacional que se fundou oficialmente em Londres no ano de 1864.
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Os impérios, como o austríaco, o russo e o otomano, lutavam pela consolidação, enquanto que na Alemanha as massas influenciadas pelo liberalismo procuravam pôr fim ao feudalismo, que cerceava a ascensão da burguesia, e romper as barreiras que separavam os vários estados e asfixiavam as relações comerciais dentro do país. Em 1871, data a partir da qual se pode falar definitivamente de Alemanha, realizou-se, em Frankfurt, o Armistício que pôs fim à guerra que havia sido declarada pela França em 1870 e terminou com a rendição de Napoleão III em Sédan. Foi então que se deu também a ligação dos restantes estados alemães à Prússia e consequente formação do império alemão.
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Em França, o Segundo Império fora restaurado em 1852 por Luís Napoleão, sobrinho de Napoleão Bonaparte, que foi aclamado com o nome de Napoleão III em 1855. Este colabora na Guerra em Itália em 1859 e intervém no México em 1863. A guerra com a Prússia precipitou a sua queda, que aconteceu em Paris quando se soube da sua capitulação em Sédan. Foi feito prisioneiro em 4 de Setembro de 1870. Então, em França nascia a III República.
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Em Espanha, em 1854, uma revolução militar põe no poder um governo dominado pela figura de Espartero, mas violentas desordens sociais põem rapidamente fim a este “intervalo progressista”. De 1858 a 1863 decorreu um período mais moderado sob a direcção da União Liberal, durante o qual se deu uma campanha contra Marrocos, a intervenção no México e ainda algumas manifestações republicanas. Mas a situação evoluiu para a área conservadora sob a égide de Isabel II. A repressão reforçou-se e, em 19 de Setembro de 1868, o general Prim, vindo de Londres, desembarca em Cádiz e depõe Isabel II. As Cortes eleitas em 1869 aprovam uma Constituição mais liberal. Mas a efervescência continua com os republicanos federalistas, com os carlistas, com os afonsistas e, finalmente em 1869, com os socialistas e mais tarde com os anarquistas.
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O século XIX em Portugal
O processo político português, que viveu até meados de Oitocentos, fez um percurso de intermitentes oscilações e de tensos conflitos sociais e experimentou, a partir de 1851, alguma estabilidade com a aplicação e prática de regras de acção política. O equilíbrio do sistema consolidar-se-á, porém, de acordo com o funcionamento regular das instituições. Quão longa e espinhosa foi esta caminhada!...
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O golpe militar liderado pelo Duque de Saldanha triunfara no Norte do País, depois de progredir ao longo dos meses de Abril e de Maio de 1851. O governo de Costa Cabral foi deposto e os chefes do movimento triunfante formaram o novo governo constitucional regenerador, em 22 de Maio deste mesmo ano. O presidente do Conselho e Ministro da Guerra foi o general Saldanha, o Ministro do Reino foi Rodrigo da Fonseca Magalhães, enquanto que o cargo de Ministro da Marinha, da Fazenda e da Indústria era atribuído a António Maria Fontes Pereira de Melo. Embora cartista de origem, este governo teve o apoio dos progressistas regeneradores que tomaram esta atitude animados pela viabilização do Portugal moderno que então era prometido. A Regeneração, vocábulo que sempre fora associado aos liberais que defendiam uma mudança de rumo a vários níveis da vida nacional, acabou por se tornar numa regeneração burguesa e, de algum modo, conservadora.
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Em 16 de Setembro de 1855, completando 18 anos, foi aclamado rei D. Pedro V que recebeu o poder de seu pai D. Fernando Saxe-Coburgo-Gota, regente do reino durante a sua menoridade com o título de D. Fernando II de Portugal após o falecimento de D. Maria II, com apenas 34 anos.
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Foi D. Pedro V quem, em 19 de Abril de 1860, assinou a carta régia que elevou Setúbal à categoria de cidade. O primeiro governo regenerador, que se manteve até 1856, teve em António Maria de Fontes Pereira de Melo um dinâmico interventor político. Voltou a passar pelo poder em 1859 e 1860. Reassumiu os cargos políticos em 1871 nos quais se manteve até 5 de Março de 1877.
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Este governo encarna, “toda uma tensão humana e criadora das propostas de desenvolvimento […] e representa, muito mais, um ponto e uma atitude de viragem”[12]. Acontece, então, a concentração da acção estatal na realização do programa das vias de comunicação, da acção privada no comércio pela melhoria das comunicações e a rentabilização dos campos. Consequentemente verificou-se a afirmação da classe média e o aumento do consumo e do nível de vida da burguesia. Por outro lado a emigração, nomeadamente para o Brasil, multiplicou-se.
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As diferenças sociais acentuam-se e surge a nova nobreza: a nobreza do dinheiro. Compram-se títulos nobiliárquicos e inicia-se o “culto” do luxo onde a ostentação impera. Surgem os “passeios nas avenidas”, os concertos musicais nos coretos, as “praias de banhos”, os “clubs”, “as soirés dançantes”, os estrangeirismos. Enfim, tantas e tantas novidades, mas que apenas estavam acessíveis às “bolsas” mais bem recheadas. “Era bem”, era “chic” utilizar palavras francesas e até inglesas para se parecer culto[13].
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“A mania das grandezas e a melomania, doenças hereditárias na sociedade portuguesa”[14], distintivos de uma pequena e média burguesia em luta ascensional, exprimia-se através de manifestações pomposas e exibicionistas, numa tentativa de imitação do fausto das restantes cortes europeias. Era uma imagem de incapacidade, de falta de imaginação e de cultura, que Ramalho Ortigão nas Farpas ou mesmo Fialho D’Almeida nos Gatos, deixam transparecer com pena[15].
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No dia 11 de Maio de 1870 começou a publicar-se um novo periódico que ousou denominar-se de A República título que soou, entre os meios políticos, como uma provocação. Era redigido por Antero de Quental, Eça de Queirós, Batalha Reis, Oliveira Martins e António Enes.
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O jornal O Século apareceu aquando das comemorações do tricentenário de Camões, em 1880, e dos protestos populares contra as cláusulas vexatórias do Tratado de Lourenço Marques. O número-programa foi divulgado em 15 de Dezembro de 1880 e o primeiro número em 4 de Janeiro de 1881, tendo como redactor principal e director Sebastião de Magalhães Lima. Aparecem também as célebres caricaturas do Zé-Povinho da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro e que visam publicitar, junto das pessoas menos instruídas, os ideais republicanos.
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É neste contexto cultural, conjugado com o aparecimento de novas elites sociais e com o próprio incentivo do governo que ressurge o espírito associativo e fundam-se sociedades de índole política, literária, desportiva, recreativa, artística, profissional, de elites, e muitas mais! São as assembleias, as associações, os grémios, as sociedades, os centros, os clubes, entre outros. Apenas a título de exemplo recordemos a Assembleia Portuense (1834), as Associações Comerciais de Lisboa e do Porto (1834), a Assembleia Filarmónica de Lisboa (1840), o Grémio Literário de Lisboa (1846), a Sociedade Arqueológica Lusitana, fundada em Setúbal, em 1849, para promover as escavações nas antigas ruínas romanas em Tróia, o Grémio Popular (1857), a Associação Central da Agricultura (1860), a Associação Industrial Portuguesa (1860), a Sociedade Histórica da Independência Nacional (1861), a Sociedade de Geografia (1875), a Voz do Operário (1883), e tantas, tantas mais!
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Inserção geográfica e histórica da actual cidade de Setúbal
A união entre a terra e o mar
A região natural a que vulgarmente se chama Península de Setúbal foi-se desenvolvendo ao longo dos séculos. Era inevitável, tendo em conta as características favoráveis – morfológicas, hidrográficas e climáticas – que a envolvem. Mas, em todo este contexto geográfico, destacou-se uma baía na margem Norte do estuário do Rio Sado, cujas extraordinárias condições proporcionaram o aparecimento e rápido crescimento de uma povoação que originou o aglomerado urbano de Setúbal. Esta vila, depois cidade, não ficou indiferente ao movimento regenerador que alastrava por todo país no século XIX e acompanhou-o. Era um espaço privilegiado, não podemos esquecê-lo.
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Origem e crescimento de Setúbal
Abrigada pela serra da Arrábida e pela Península de Tróia, a povoação que mais tarde deu origem a Setúbal, situada na foz do Rio Sado, foi contactada pelos fenícios, pelos gregos e pelos romanos que aqui estabeleceram feitorias comerciais. A presença fenícia está bem documentada em Abul e a romana em Tróia e em Setúbal nomeadamente na Praça de Bocage, na Quinta da Alegria, na Cachofarra, no Moinho Novo, na Ponta da Areia e em muitos outros pontos espalhados pelo concelho, onde existiam cetárias e fornos de cerâmica nos quais eram produzidos potes e ânforas utilizados para exportação do peixe e seus derivados.
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No período da Reconquista, nos finais do século XII, esta povoação foi considerada como um ponto estratégico para os cristãos, nomeadamente para os seus monarcas. D. Afonso Henriques encontrou a povoação já estabelecida na margem direita do rio Sado mas totalmente arruinada e despovoada. Mandou reedificá-la e repovoá-la.
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O foral que lhe fora concedido em 1149 por D. Afonso Henriques foi confirmado pelos reis D. Sancho I, D. Afonso III (1249) e D. Dinis. Em 1343 Setúbal recebeu a categoria de vila. No século XIV, por ocasião da guerra da sucessão, o porto e a povoação foram ocupados pelos castelhanos, o que levaria mais tarde o Mestre de Avis, D. João I de Portugal, a fortificá-la, mandando construir também a fortaleza de Sant’Iago do Outão. No ano de 1514 D. Manuel procedeu à reforma dos forais nacionais e concedeu o Foral Novo à então vila de Setúbal.
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O porto[16], excepcionalmente bem localizado, permitiu a explosão económica e, consequentemente, as manifestações sociais e culturais subjacentes. Face à situação geográfica, às condições climáticas e marítimas, as bases do crescimento económico do aglomerado urbano de Setúbal assentaram na agricultura, principalmente nos laranjais e nas vinhas, cujo produto se celebrizou além fronteiras; na extracção do sal, que pelas suas características – cristais grandes e brilhantes – se tornou indispensável no Norte da Europa; e na pesca[17] que fornecia o peixe para alimentação das populações das redondezas e ainda era exportado através do porto.
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Estas actividades mostraram-se de extrema importância para a economia nacional, quer no plano interno quer no plano externo, até se iniciar a industrialização no País que, no caso setubalense, pela sua situação geográfica e excelentes condições do porto que o servia, se baseou, fundamentalmente, na conservação de peixe. Tal facto deveu-se à abundância de matéria-prima que atraiu mão-de-obra oriunda de várias regiões de Portugal e o próprio capital estrangeiro, especialmente o francês.
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Setúbal continuava a crescer. Em 1848 foi feita a terraplanagem para a construção da Avenida Luísa Todi. Posteriormente, arborizaram-se as ruas, melhorou-se o porto, após estudos realizados pelo engenheiro John Rennie, contratado para o efeito em Maio de 1855, construíram-se estradas, estabeleceu-se o telégrafo, ergueu-se o farol e foi estabelecida uma linha de vapores entre Lisboa e Setúbal. Em 1861 o caminho-de-ferro que terminava no Pinhal Novo prolongou-se até à jovem cidade.
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Já em 1854 nascera, pela mão dos setubalenses Manuel José Neto e Feliciano António da Rocha, a indústria da conservação do peixe, pelo método Appert. Este participou na Exposição Internacional de Paris em 1855, tendo recebido uma menção honrosa pela qualidade do fabrico das suas conservas. Também nesta exposição, o vinho Moscatel produzido por José Maria da Fonseca foi premiado com a medalha de 1ª Classe.
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Neste mesmo ano foram extintos os concelhos de Azeitão e de Palmela e o seu território integrado no concelho de Setúbal[18]. Foi também feita a ligação da antiga rua da Conceição, hoje avenida 5 de Outubro, com o largo do Matadouro. Era, então presidente da edilidade Agostinho Rodrigues Albino.
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O ano de mil oitocentos e cinquenta e cinco pode ser considerado bombástico na vila, cinco anos depois cidade, de Setúbal. Até uma receita de bolachas, a “Bolacha Piedade”, foi inventada por uma família setubalense e teve grande sucesso. O produto, puramente artesanal e familiar, não tinha posto de venda fixo pois fora idealizada para ser vendida apenas na feira de Santiago. Ela “passeava-se” pela feira em tabuleiros pendurados ao pescoço de jovens vendedores. O seu símbolo é ainda, passados 150 anos, o rapaz de tabuleiro ao pescoço, embora já seja vendida num estabelecimento, cujo proprietário promete manter a receita em segredo.
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Foi também em 1855, em 26 de Abril, que reabriu o teatro Bocage, após novas remodelações, nomeadamente o seu belo pano de boca pintado pelo famoso setubalense Francisco Augusto Flamengo. Admitia 364 espectadores distribuídos por vinte e três camarotes de primeira ordem e outros tantos de segunda, três plateias e uma geral superior. A peça que se exibiu na sua inauguração foi representada pela companhia do Ginásio de Lisboa. E, em 15 de Agosto de 1863 teve início na já cidade de Setúbal, a iluminação a gás, na sequência de um contrato realizado entre a edilidade e o empresário Luís Louge. De realçar ainda, nesta década, a inauguração solene de uma lápide comemorativa na casa onde nascera Bocage, em 10 de Abril de 1864, situada na rua S. Domingos (actual Edmond Bartissol), em Setúbal e o facto de a Câmara Municipal desta cidade ter recebido, em 27 de Maio deste mesmo ano, uma medalha de prata como prémio pelas maravilhosas rendas de bilros apresentadas na exposição de indústria nacional, no ano transacto.
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A partir de 1880, os franceses vieram revolucionar a economia setubalense, abrindo novos mercados internacionais que modificaram radicalmente a economia, o tecido social e a cultura do aglomerado urbano de Setúbal. Consciente da importância da indústria para o desenvolvimento da povoação, já elevada a cidade desde 1860, a administração local esteve sempre presente no processo que aqui se desenrolou, apoiando as reivindicações dos industriais, junto do Governo Central e mesmo a nível internacional. Não podemos esquecer a polémica gerada pelo facto de outros países enlatarem peixes que não pertenciam à mesma família das sardinhas, dando-lhe, incorrectamente o título de “sardines”[19].
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A Câmara Municipal oficiou ao Governo Central, solicitando a intervenção deste para a resolução do problema, embora com pouco êxito.
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Também, quando a Associação Comercial e Industrial, por intermédio da secção de conservas denominada sindicato das conservas de peixe, não conseguiu resolver os conflitos entre os próprios industriais e ainda entre estes e os operários, a intervenção da edilidade, junto dos elementos em contenda, foi sempre preciosa[20]. Mesmo quando verificava a sua incapacidade para solucionar as questões, era o Município[21] que apelava ao Governo Central para, através de legislação ou de arbitragem, criar condições para restituir a normalidade à indústria setubalense.
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A mecanização das empresas provocou o aumento de produção e melhores condições de trabalho, embora lançasse no desemprego avultado número de trabalhadores, provocando agitação e descontentamento entre o operariado que reforçou as suas reivindicações no campo laboral.
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Por seu turno, o desenvolvimento do comércio local deu mais vida à cidade, atraindo forasteiros que muito contribuíram para o crescimento económico deste aglomerado urbano, embora as condições de vida do proletariado se mantivessem pouco satisfatórias.
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Em consequência da industrialização, embora tardia – finais do século XIX, início do século XX –, verificada no aglomerado urbano de Setúbal[22], o tecido social deteriorou-se, situação que provocou a necessidade de associações, quer patronais, quer laborais, com funções mutualistas de início mas, com o evoluir da situação, apareceram também as associações de classe, com funções sindicais.
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Inseridas no movimento associativo[23], que em Setúbal começara a dar os primeiros passos, as entidades patronais pensaram em associar-se, desde 1835, não apenas para se defenderem das reivindicações operárias, ainda débeis, mas também para organização do mercado interno local, das relações com o exterior e ainda da protecção contra a concorrência, destruidora dos interesses da classe.
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Para promover a organização da Associação Comercial de Setúbal[24] foi criada, no dia 13 de Agosto de 1835 por portaria régia, a Comissão Comercial da Praça de Setúbal que, de imediato, procedeu à elaboração dos estatutos que foram aprovados no dia 9 de Outubro do mesmo ano, mantendo-se, desde então, em plena actividade.
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Nos finais do século XIX encontramos referências a associações ligadas ao comércio e à indústria, que nos são apresentadas através da imprensa local. Umas vezes surgem-nos como se de uma única instituição se tratasse, enquanto que noutras ocasiões aparecem como organizações concorrentes.
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Tal facto deve-se a que, de início, o espírito de classe estava ainda imbuído de uma filosofia corporativa que favorecia a criação de associações sectoriais, cujos dinamizadores eram incapazes de perceber o alcance e os benefícios que lhes traria a união de todos os comerciantes e industriais da praça de Setúbal.
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Em 1899 criou-se a Associação Comercial e Industrial mais conhecida; era a Associação dos Lojistas e Industriais de Setúbal, no seio da qual se fundou, no mesmo ano, o Sindicato das Conservas.
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Em 1911, numa tentativa de união das várias associações, nasceu a Associação Comercial e Industrial de Setúbal, que tinha como uma das suas secções o sindicato das conservas, acima referido.
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As associações laborais iniciaram os primeiros passos nesta povoação no ano de 1855, com a fundação da Associação das Classes Laboriosas, com funções mutualistas e, em 1891, com a formação da Associação de Classe dos Soldadores[25], já com estatutos que visavam a defesa da classe no campo laboral. Muitas outras se lhe seguiram, dinamizando paralisações do trabalho que atingiram proporções dramáticas, quer para a economia local, quer para a resolução favorável das reivindicações operárias, que chegaram a ver cair mortos camaradas em luta (por exemplo: Março de 1911, na Avenida Luísa Todi). Assim, as associações nascidas neste aglomerado urbano, quer patronais, quer laborais, revolucionaram o contexto social da cidade.
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As mudanças verificadas tiveram como suporte a luta pela melhoria de condições de produção e relações de trabalho, a criação de escolas, especialmente profissionais, a dinamização de actividades socioculturais, a imprensa operária, a imprensa burguesa e o mutualismo, além de outras associações de beneficência e de utilidade pública, de que se salienta a Associação dos Bombeiros Voluntários, nascida em 1883[26].
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Esta associação humanitária e as associações de cultura e recreio, que iniciaram as suas actividades no aglomerado urbano de Setúbal desde meados do século XIX, humanizaram a população setubalense, enfraquecendo o muro que separava as classes sociais residentes na cidade. A primeira associação de cultura e recreio de que temos conhecimento denominava-se Sociedade Filarmónica Marcial nascida nos anos de 1830 e reformulada em 1847, passando a chamar-se Momentânea, ou Vermelha, uma vez que os seus fundadores eram anarquistas.
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As actividades desportivas, culturais e cooperativas contribuíram, portanto, para que a sociedade setubalense vivesse num ambiente mais livre e fraterno, conseguindo, muitas vezes, reunir elementos de vários estratos sociais, à excepção da alta burguesia que possuía as suas associações de cultura e recreio como, por exemplo, o Club Setubalense.
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Confirmado o crescimento económico do aglomerado urbano de Setúbal, propiciador de um novo contexto social, lógico se tornava verificar o desenrolar das actividades culturais, fruto do processo socioeconómico que modificara estruturalmente a sociedade sadina.
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A nível nacional a educação, embora muita legislação fosse publicada, não sofreu grandes alterações, pois as taxas de analfabetismo continuaram altíssimas. No entanto, a educação feminina, o ensino particular e a educação não formal, ajudados pelas associações de classe, pelas associações revolucionárias, pela imprensa operária e pela Universidade Popular[27], entre outras instituições que promoviam actividades culturais, romperam tabus, limaram arestas, enfim, provocaram danos irrecuperáveis nos conceitos tradicionais.
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Escolas como as Liberais, entre muitas outras dirigidas por republicanos, socialistas, anarquistas e anarco-sindicalistas, formaram jovens com uma mentalidade livre e aberta a novas expressões humanas, sociais e culturais que lhes não permitiriam voltar ao passado.
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O aglomerado urbano de Setúbal não esteve, de modo algum, alheio a todo este processo, e aqui se desenrolaram manifestações culturais, fruto da junção das diversas culturas de que os imigrantes eram portadores.
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O Norte e o Sul de Portugal, como que por encanto, interpenetraram-se na cidade de Setúbal, onde os operários, vindos destas regiões, se uniram e permutaram vivências, crenças e superstições, divertimentos e outras actividades culturais, a que se adicionaram ainda as experiências oriundas do estrangeiro, especialmente de França, trazidas pelos operários especializados que daí vinham trabalhar na indústria de conservas de peixe e outras. A imprensa transmitia as notícias locais, nacionais e mesmo estrangeiras, explicava as várias ideologias defensoras dos trabalhadores, ajudava a que se vislumbrasse uma sociedade diferente.
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As vivências religiosas, como romarias, procissões, festas da família e das famílias (Natal, Ano Novo e Páscoa, entre outras) e mesmo profanas como, por exemplo as festas populares, o Carnaval, os bailes, os espectáculos, a música, o teatro, entre tantas e tantas expressões de várias culturas, misturavam-se e confundiam-se em Setúbal[28].
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A tudo isto havia que juntar ainda a instabilidade emocional do marítimo que proporcionava, a qualquer tipo de actividade, uma dinâmica inigualável, pela sua expressividade e fulgor.
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Era o caso do Domingo de Quinzena[29] que transformava a cidade de Setúbal, como se de um milagre se tratasse. Também as manifestações políticas e nacionalistas influenciaram grandemente a produção e expressão culturais na cidade.
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A República instituiu uma nova imagem de festa, que em Setúbal teve a sua expressão máxima nas festas bocagianas, onde se pretendeu que o santo desse lugar ao herói, neste caso um poeta de fama internacional que nascera na cidade, Manoel Maria Barbosa du Bocage.
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Nas festas da cidade (então Círio – Antigo ou Velho – a Nossa Senhora da Arrábida e agora festas bocagianas), o andor de Nossa Senhora da Arrábida, transportado em procissão pelas ruas de Setúbal, no mês de Maio (por vezes Junho, como, por exemplo, no ano de 1905, estando presente o Rei D. Carlos), foi pura e simplesmente substituído por um medalhão de grandes proporções, contendo o busto de Bocage, transportado do mesmo modo mas sob a denominação de cortejo cívico, no dia 15 de Setembro, data do nascimento do poeta[30].
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Enquanto que no andor de Nossa Senhora se vê a imagem rodeada de flores sobre um aglomerado urbano, Setúbal, cobrindo-o com a sua protecção, em que o povo acreditava plenamente; no simulacro de “andor” que tem como centro Bocage, o seu medalhão vê-se envolvido por algumas flores, mas fundamentalmente por colchas, livros e jornais que referem Bocage e a República, sem esquecer, hasteada bem alto, a nova Bandeira Nacional. Os símbolos cívicos pretendiam substituir os religiosos, desde sempre bem firmes na mentalidade dos setubalenses.
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No entanto, apesar de todas as contingências, imposições e exigências, a classe trabalhadora do aglomerado urbano manteve incólumes as suas vivências mais simples e puras, expressando-as em actividades culturais de rua e não só, que se evidenciaram do resto do país.
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Os meios de que os setubalenses se serviam para aquisição e expressão culturais eram imensos e diversos. A leitura, a escrita e a pintura, os espectáculos de casa e de rua, os bailes, as exposições, as excursões, as festas religiosas e profanas, os desportos (incluindo os náuticos), as touradas, os passeios na Avenida, no Bonfim, pela serra e pelo rio eram normalmente praticados e frequentados pelos setubalenses de todas as classes sociais, embora separadamente.
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Quando se dirigiam à Serra da Arrábida, os industriais e os comerciantes iam para as suas quintas, onde os empregados os esperavam, enquanto que os trabalhadores, com a merenda, se espalhavam por debaixo das árvores e aí sim, em comunidade, comiam, bebiam, cantavam e dançavam expressando a alegria que lhes invadia a alma e, misturando as culturas individuais, produziam uma sabedoria que era de todos, que pertencia ao operariado setubalense.
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A serra era inspiradora, a arte brotava, a cultura surgia e proliferava, crescendo, fortalecendo-se e reproduzindo-se em inúmeros pátios, “vilas”, “ilhas” e mesmo bairros dos extremos Este e Oeste da cidade, onde as condições de habitabilidade eram péssimas.
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No pátio, cada família, fosse qual fosse o número de elementos que a compunham, apenas possuía um quarto; podia, no entanto, servir-se da cozinha, dos sanitários e dos tanque comuns, existentes no exterior, local onde se reuniam nos tempos livres, onde produziam descantes, desgarradas, fados, cegadas, teatros, música e, muito especialmente, bailes que tanto agradavam a jovens e a idosos.
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Dali saíam para o bairro e deste para as ruas da cidade, onde desfilavam em marchas, em cortejos carnavalescos, entre muitas outras actividades que surgiam como que por encanto e do mesmo modo se tornavam realidade.
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Apesar da proximidade de Lisboa, verificamos que as produções regionais, fosse qual fosse o tipo de representação (poesia, prosa, pintura, escultura, música, dança), possuíam uma forte componente local, com referências a personagens, situações e motivos setubalenses, sem jamais esquecerem as velhas tradições transmitidas de gerações em gerações e mantidas nos produtos culturais deste aglomerado urbano.
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Não podemos olvidar também o teatro, a pintura, o desenho e a música escritos por autores locais, de que se salienta, sem menosprezar muitos outros, Manuel Envia, Afonso Ventura e Ariovisto Valério na prosa, Agripino Maia no desenho e pintura, e Celestino Rosado Pinto e José Joaquim Cabecinha na composição musical, que continuavam a fazer vibrar os setubalenses que enchiam as salas onde se representavam as produções de artistas locais, como se pode verificar através da imprensa, onde a publicidade a todo o tipo de espectáculos era permanente e exaustiva.
A segunda metade do século XIX foi intelectualmente muito rica. E Setúbal não fugiu a esta evolução.
Em 1855 a vila sadina viu surgir, pela primeira vez, um jornal. O primeiro número de O Setubalense foi publicado no dia 1 de Julho. Era uma folha periódica, noticiosa, com publicação semanal. Os grupos para leitura e debate de textos e de notícias começavam a constituir-se.
Fundaram-se sociedades artísticas como a Sociedade Musical Permanente e a Sociedade Musical Momentânea. Nasceu a Associação Operária das Classes Laboriosas e desenvolveu-se a famosa arte de Talma no Teatro Bocage e outros. Decorridos 21 anos após a fundação dos primeiros liceus pelo então Ministro do Reino, Passos Manuel, a Câmara Municipal de Setúbal, presidida pelo Dr. Aníbal Álvares da Silva, em 1858 decidiu criar o liceu de Setúbal, a expensas próprias, que ficou a funcionar no edifício do extinto convento da Boa-Hora, do qual ocupava metade da parte superior e uma casa no pavimento inferior, onde funcionava a aula de instrução primária do primeiro grau[31]. Neste ano Setúbal foi abalado por um violento terramoto que deixou marcas em toda a cidade.
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O escol político setubalense depressa percebeu que a situação económica, social e cultural portuguesa lhe era favorável. Compreendia a necessidade de participação no modelo de fomento económico definido para o País mas também entendeu o vazio ideológico que imperava.
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Urgia pôr fim a esta situação. Era preciso criar espaços onde fosse possível debater ideias, criar projectos, fomentar empreendimentos, dinamizar colóquios, cimentar conhecimentos.
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Invocava-se a palavra “civilização”, valorizando o convívio, visando a criação de espaços onde a confraternização e a ilustração daqueles que não queriam “parar no tempo” perseguisse a urgência de proporcionar à comunidade iniciativas de benefício geral. Neste contexto brotou e desenvolveu-se o espírito associativo que marcou claramente a segunda metade do século XIX e princípio do século XX.
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“No ano em que nasceu o poeta Cesário Verde e em que a Exposição Industrial do Porto aparecia como uma espécie de réplica à Exposição Universal que tivera lugar no Palácio da Indústria de Paris, os fundadores deste clube [leia-se o Club Setubalense] adivinhavam o grande dilema do contemporâneo e antecipavam uma solução: a junção de personalidades no ócio criativo […][32]”.
Setúbal em 1855
Data
Evento
Abril
 
Foi fundada a Associação das Classes Laboriosas, com funções mutualistas
26 de Abril
Reabriu o teatro Bocage, após novas remodelações, nomeadamente o seu belo pano de boca pintado pelo famoso setubalense Francisco Augusto Flamengo.
Maio
Eng. John Rennie foi incumbido de realizar um estudo sobre o problema de excesso de lastro no porto
1 de Julho
 
É fundado o jornal O Setubalense
9 de Julho
Nasce uma nova receita de bolachas, até hoje ainda secreta, a Bolacha Piedade
16 de Setembro
Foi aclamado rei D. Pedro V, que, 10 anos depois concedeu a Setúbal a categoria de cidade
24 de Outubro
Foram extintos os concelhos de Azeitão e de Palmela e os seus territórios integrados no concelho de Setúbal
12 de Novembro
 
Foi fundado o Club Setubalense
2 de Dezembro
As conservas de peixe fabricadas por Feliciano António Rocha, pelo método Appert, ganharam uma Menção Honrosa na Exposição Internacional de Paris
2 de Dezembro
O vinho Moscatel fabricado por José Maria da Fonseca ganhou a medalha de 1ª Classe na Exposição Internacional de Paris

Segundo Almeida Carvalho, “Manuel José Neto começou fazendo progressos e obtendo bons lucros [nas conservas de peixe pelo método Appert], próximo à ponte do Livramento ou do Carmo”

A imprensa setubalense
Os grupos para leitura e debate de textos e de notícias começavam a constituir-se. Associações, sociedades, clubes e jornais iniciam as suas actividades na ânsia de propiciarem aos membros das agremiações em que se inserem, uma vivência mais salutar. Neste contexto, nasceram em Setúbal, quase em simultâneo, com a colaboração do mesmo homem, João Carlos de Almeida Carvalho, um jornal, O Setubalense, e um clube, o Club Setubalense. Foi assim que, em 1855, a vila sadina viu surgir, como já referimos, um jornal. O primeiro número de O Setubalense foi publicado no dia 1 de Julho. Era uma folha periódica, noticiosa, com publicação semanal.
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O grupo dirigente era constituído por um redactor principal e editor responsável, João Carlos de Almeida Carvalho e por 4 colaboradores: António Rodrigues Manitto, José Sérgio Capeto Barradas, José Groot Pombo e J. Ramos Coelho.
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Preparava-se, então, o processo que elevaria a vila à categoria de cidade. O Setubalense é, na actualidade, o segundo jornal mais antigo do País, sendo primeiro o Açoriano Oriental, hoje propriedade do grupo Lusomundo. Começou a circular muito antes dos grandes diários de Lisboa como o Diário de Notícias ou o extinto Século.
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“Apesar das intempéries que sofreu como publicação, a maior parte resultado de investidas políticas, é de realçar que a mesma filosofia do seu fundador, raramente foi abandonada. Logo desde o primeiro número publicado a 1 de Julho, O Setubalense impunha-se como uma voz de vanguarda e de progresso, afirmando-se como um órgão de informação regional e nacional, o que demonstrava a largueza de espírito do seu fundador”[33].
A redacção e administração deste bissemanário estavam instaladas na rua do Romeu, nos 27 e 28 e intitulava-se de “bissemanário independente e defensor dos interesses locais”[34]. Era impresso numa tipografia que se situava na antiga rua do Buraco d’Água, nº 7, que fora adquirida por João Carlos de Almeida Carvalho quando decidiu iniciar a publicação do primeiro periódico setubalense.
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A impressão de O Setubalense manteve-se neste estabelecimento até ao terminus da sua primeira fase, com o nº 131 que viu a luz do dia em 27 de Dezembro de 1857. Ao longo deste período, Almeida Carvalho foi sempre seu redactor principal, acompanhado por António Rodrigues Manitto, José Sérgio de Capelo Barradas e José de Groot Pombo.
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Mas, outros periódicos fazem a sua aparição na vila, depois (1860) cidade sadina. Em 1856 aparecem O Disparate e A Traça; em 1858 O Curioso de Setúbal; em 1859 o Cysne do Sado e o Improviso; em 1860 O Correio de Setúbal; em 1864 A Voz do Progresso; em 1866 o Jornal de Setúbal, o Voz da Verdade e o Resposta à Voz da Verdade (de Aníbal Álvares da Silva); em 1869 A Gazeta Setubalense; em 1870 Aspirações; em 1873 a Grinalda Literária; em 1881 A Luz de Setúbal; em 1882 O Marquez de Pombal; em 1886 O Districto, a Semana Setubalense e A Estreia; em 1889 A Opinião; em 1891 O Rato; em 1893 O Elmano e O Echo de Setúbal; em 1894 O Mez; em 1897 a Revista de Setúbal; em 1898 A Folha de Setúbal e A Arrábida; em 1899 o Commercio de Setúbal.
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Muitas destas publicações foram de tiragem efémera, por vezes até acidental ou ocasional, servindo para debate de ideias, para esclarecimento de polémicas, para comemorações de efemérides ou para campanhas de promoção pessoal ou política.
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O século XX aproxima-se e, com ele, novas fronteiras culturais, políticas e sociais se delineiam. A imprensa noticiosa afirma-se e prolifera. Novas filosofias e novas políticas surgem e, com elas, a necessidade de as transmitir para as implantar e formar novas sensibilidades, novos rumos de governação. Os Republicanos, os Socialistas e os Libertários ou Anarquistas servem-se de folhas informativas e noticiosas, de jornais, de folhas volantes, enfim, tudo o que possa levar junto das populações, em grande percentagem analfabeta, as novas ideias, as novas propostas para uma sociedade mais justa e mais fraterna.
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E Setúbal não foge a este movimento social, político e cultural que se verifica por todo o País. Muitos são os jornais que então aparecem na cidade, à semelhança do que se passa no resto do País, nomeadamente na sua capital, Lisboa. Apenas para referir os mais significativos em Setúbal, por serem porta-vozes dos partidos políticos em ascensão, diremos que, em 1900 surgiu O Trabalho, correia de transmissão dos ideais socialistas e vários jornais de influência republicana, embora sem explicitarem as suas intenções; em 1903 nasceu o Germinal, expressão dos ideais anarquistas e, em 1910, apareceu A República que se afirma como porta-voz do Partido Republicano.
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A primeira Guerra Mundial e, com a polémica intervenção de Portugal no conflito, as publicações proliferam pois cada ideólogo pretende fazer penetrar nos espíritos menos esclarecidos, a sua própria opinião e a argumentação que a suporta. Em 1916, a par de outras publicações, ressurge O Setubalense, para viver a sua segunda fase, embora pouco altere os objectivos que perseguira em 1855.
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O primeiro número desta segunda fase brotou no dia 10 de Agosto de 1916 e, o número 11 já apresentava como seu director Luís Faria Trindade que imprimiu nova dinâmica ao jornal que se tornou num amplo espaço de debate de ideias. A partir de 10 de Junho de 1918 transita a diário da noite, sob o título Setubalense – Folha da Noite e transformou-se em trissemanário.
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O 28 de Maio de 1926 alterou drasticamente as temáticas e a metodologia dos vários periódicos, situação que conduziu à suspensão de O Setubalense. Seis meses depois do 7 de Fevereiro de 1927 voltou a publicar-se mas com o subtítulo de Diário Republicano da Noite. Era o início da sua terceira fase. Em 27 de Outubro de 1938, tendo como editor Domingues Tavares Roque, o número 8080 deixou de trazer no seu cabeçalho a palavra “Republicano”. “Muita coisa tinha mudado no espírito do jornal”[35].
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Em 13 de Julho de 1944 O Setubalense passa a denominar-se Diário de Informação à Noite para, a partir de 1 de Novembro do mesmo ano, passar a designar-se O Setubalense – Informação do Sul. O editor continua a ser Domingues Roque, enquanto que o director e proprietário era Dinis Bordalo Pinheiro. Em 1945, para festejar a vitória dos aliados na segunda Grande Guerra, passa a ter como título Vitória Setubalense. A 29 de Outubro do mesmo ano vê o seu nome simplificado e chama-se, simplesmente, Vitória. Nesta altura tem como director Domingos Mascarenhas.
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Em 2 de Janeiro de 1946 inaugura a sua quarta fase reaparecendo como órgão informativo e defensor dos interesses do distrito. É trissemanal e tem como director, respectivamente, Domingos Roque e Bordalo Pinheiro. Publicava-se, então, às segundas-feiras, às quartas-feiras e sábados.
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Diniz Bordallo Pinheiro foi director e proprietário de O Setubalense nos anos de 1945 a Janeiro de 1971. A sede deste periódico foi, ao longo deste período, no 1º andar de um edifício ao lado da Igreja de S. Julião com entrada pela actual rua do diário O Setubalense. Quase em frente situavam-se as oficinas, por detrás do antigo Café Central, onde o jornal começou por ser composto. Este proprietário e director providenciou a construção de um novo edifício para sede do jornal. O prédio está situado no gaveto entre a rua Jorge D’Aquino e Gaspar Agostinho, nas traseiras da Igreja de Santa Maria. Faleceu antes de ver inaugurada a nova sede, que veio a concretizar-se posteriormente, sob a égide de seu filho Carlos Bordallo Pinheiro. Era, então, director do periódico Guilherme Faria.
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“Dá-se uma verdadeira revolução para a época. É instalada uma rotativa tipográfica que foi adquirida na Suíça que só contava com uma irmã gémea em Portugal, instalada na Madeira. O edifício bastante moderno tinha aquecimento central a nafta, elevador e na área gráfica o jornal passou a ser composto em linotypes (máquinas que escreviam linha a linha tendo como base o chumbo derretido). Tudo tinha sido pensado e numa altura em que os problemas de qualidade ambiental ainda não eram praticamente um debate público. Chegou-se ao pormenor de se instalar na área gráfica condutas para renovação do ar (extractores), para que os vapores de chumbo derretido pelas linotypes, não afectassem os trabalhadores gráficos. Trabalhava-se, então, em dois turnos, visto que o processo produtivo obrigava a muita mão-de-obra”[36]. Este periódico mantêm-se ainda em funcionamento.
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João Carlos de Almeida Carvalho
Fundador do jornal O Setubalense e sócio fundador do Club Setubalense, João Carlos de Almeida Carvalho nasceu em 5 de Março de 1817, na freguesia de S. Sebastião, em Setúbal. Faleceu no dia 30 de Março de 1897, como o jornal O Elmano, noticiava no seu nº 312, publicado no dia seguinte. Era filho de Ana Rita de Almeida e de António Coelho de Carvalho. O seu sonho era ser militar, carreira a que seu pai sempre se opôs. Muito novo, ainda, concorreu a taquígrafo, no palácio das Cortes e foi admitido. “Entretanto, sempre interessado por assuntos de carácter político, económico e administrativo, [foi] estudando obras de jurisprudência, [tendo conseguido], após estágio em escritório de advogado, ser autorizado a exercer advocacia”. Tornou-se jornalista, escrevendo artigos para vários jornais, como A Revolução de Setembro, e, como membro do Partido Regenerador, fundou, com um grupo de amigos, o jornal O Setubalense, como já foi referido. Em 1860 foi eleito Procurador à Junta Geral do Distrito, como representante “dos concelhos de Setúbal”, entre muitas outras actividades de grande relevância. Ao longo de toda a sua vida tentou escrever as Memórias sobre a História e Administração do Município de Setúbal com cuja intenção recolheu elementos preciosos sobre a história da cidade nos arquivos da Torre do Tombo e da Câmara Municipal de Setúbal[37].
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Legou-nos um riquíssimo acervo documental no qual encontramos transcrições de diplomas que, em 5 de Outubro de 1910, foram consumidos pelo incêndio que destruiu o edifício da Câmara Municipal. Mas, quando a Câmara de Setúbal, então presidida pelo Dr. António Rodrigues Manitto, decidiu mandar escrever o livro, foi escolhido para o fazer Alberto Pimentel, membro da Academia Geral das Ciências mas pouco conhecedor das realidades e da história de Setúbal. Solicitou a colaboração de Manuel Maria Portela que lhe franqueou as pesquisas que, tal como Almeida Carvalho, fizera ao longo de vários anos.
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Foi um desgosto que João Carlos de Almeida Carvalho levou para o túmulo. Deixou-o bem claro em vários escritos. No seu espólio guardou cópia das actas das sessões de Câmara em que o assunto fora tratado. Numa delas pudemos ler a declaração de Joaquim Rasteiro, correligionário de Almeida Carvalho, na qual informa os outros vereadores de que, se estivesse presente na reunião em que havia sido decidido encarregar Alberto Pimentel de escrever a história de Setúbal, teria votado contra.
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Num pequeno manuscrito existente no acervo documental que nos legou, Almeida Carvalho deixou um gemido de raiva e de desgosto ao dizer que ele faria gratuitamente a história da sua cidade, vontade que havia demonstrado ao Presidente da edilidade, Rodrigues Manitto. Mas este preferiu pagar a Alberto Pimentel e a Manuel Maria Portela, 100 mil réis e duzentos exemplares da obra para cada um deles[38], por um trabalho de qualidade muito inferior àquela que João Carlos de Almeida Carvalho teria produzido, apenas por amor à sua terra natal.
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A Associação Setubalense das Classes Laboriosas, também fundada com a colaboração de Almeida Carvalho, foi a primeira tentativa de associação de cariz puramente mutualista em Setúbal. Nasceu em Abril de 1855. No dia 17 de Junho deste ano foi eleita a mesa provisória presidida interinamente por João Carlos de Almeida Carvalho. Em 15 de Julho, O Setubalense dedicava a primeira página ao projecto da associação dos operários de Setúbal.
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Almeida Carvalho, católico convicto e militante do Partido Regenerador nesta cidade, foi o mentor da iniciativa e, no texto de sua autoria, salientava que a nobilitação das classes trabalhadoras era a demonstração do progresso e da vitalidade de um povo em ascensão. O semanário O Setubalense, ao surgir numa cidade de cariz profundamente operário, como era Setúbal, e dirigido pelo principal impulsionador do projecto da associação, apresenta-se-nos como manifestação clara da intencionalidade dos seus dinamizadores.
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Após um exaustivo historial sobre o trabalho humano e a evolução do seu conceito e ideia que dele se fez, de geração em geração, Almeida Carvalho apelava à associação e à instrução das classes laboriosas para conseguirem a independência e a justa recompensa do seu trabalho. Assim, contribuiriam para o crescimento económico do País e para o fim da guerra entre “o opressor e o oprimido” porque o trabalho possui dignidade por necessário ao cumprimento da determinação divina[39]. A associação que se pretendia oficializar em Setúbal fundamentava-se em dois grandes princípios: “Levar a independência às classes laboriosas pelo estabelecimento de caixas de socorros mútuos e nobilitá-las pelo derramamento entre elas da instrução”[40], sem a qual seria impossível o desenvolvimento industrial desta região ao sul do Tejo.
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Entretanto, no dia 2 de Setembro de 1855, João Carlos de Almeida Carvalho era barbaramente apunhalado na via pública[41], mas os seus companheiros da Mesa Provisória da Associação Setubalense das Classes Laboriosas não desistiram e, em O Setubalense de 16 de Setembro, avisavam os associados de que no cofre tinham entrado 159$700 réis, provenientes da cobrança das quotas referentes aos meses de Julho e Agosto. Informavam ainda que a apresentação e discussão do Projecto de Estatutos tinha sido adiada por causa da agressão de que fora vítima o seu Presidente João Carlos de Almeida Carvalho[42]. Com o restabelecimento deste, retomaram-se os trabalhos e, no dia 28 de Outubro de 1855, a assembleia-geral aprovou a versão definitiva dos estatutos da associação.
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Em Fevereiro de 1856[43], o redactor de um comunicado da agremiação invoca Lamenais, para recordar as vantagens de instituições como esta para a dignificação do trabalho e dos trabalhadores através da assistência que presta aos seus associados e da informação que lhes fornece através do jornal, seu porta-voz[44]. No dia 22 de Junho, O Setubalense publicava um texto introdutório, tão ao estilo de Almeida Carvalho que, mordazmente, insinua a maledicência e má fé dos que utilizaram todos os meios de que dispunham para tentarem destruir a Associação Setubalense das Classes Laboriosas. Mas esta, graças aos seus princípios e objectivos, saiu incólume da teia que lhe fora urdida.
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O Setubalense iniciou então a publicação do Alvará Real, datado de 13 de Maio de 1856, que confirmou a instituição. Nele encontramos a versão final dos estatutos pelos quais se passou a reger a nova associação, constituídos por onze capítulos e setenta artigos e assinados pelos “Ministro e Secretário de Estado interino das Obras Públicas, Comércio e Indústria com a expressa cláusula de ser retirada [...] a aprovação” se a associação se desviasse do fim para que fora instituída e que deveria “ficar sujeita como estabelecimento de beneficência à superintendência do Governador Civil do Distrito nos termos de Direito”[45], com a obrigação de apresentar anualmente, no referido Ministério, o relatório e contas da gerência.
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Para confirmar os seus princípios religiosos, em 1893, Almeida Carvalho exprimia o pensamento dos finais do século XIX, ao afirmar que “a moralidade de uma sociedade se mede menos pelas belas máximas registadas nos livros dos pensadores do que pelo grau de penetração no âmago dessa carne viva, a que se chama povo. Onde aparece um asilo, um albergue, um hospital, ou um qualquer abrigo de pobreza ou socorro do infortúnio aí se ergue um templo sagrado abençoado pelo Céu e onde se respiram os três mais raros e sublimes perfumes da Terra: a caridade, a abnegação e a felicidade [...]”[46].
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Este homem, embora conservador, foi a força avançada da vila, depois cidade, de Setúbal. Deu alma aos primeiros estudos sobre a história de Setúbal e à Sociedade Arqueológica Lusitana que com Manuel da Gama Xaro e o Duque de Palmela, constituíra em 1849. Em 1855, para além de ter ajudado a constituir a primeira associação mutualista de Setúbal, Associação Setubalense das Classes Laboriosas e o primeiro órgão noticioso, O Setubalense, fez também parte do grupo que preparou a fundação da sociedade de cultura e recreio, o Club Setubalense.
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Mas a força da sua vontade jamais conheceu limites. Na autobiografia revela-nos o seu inconformismo, o seu ideal de perfeição. Nunca se sentiu resignado. Queria sempre mais e melhor. Oiçamo-lo, pois: “Confesso que nas minhas pesquisas literárias mostrei, por excepção, muita ambição, porque tudo me parecia pouco e mais sempre queria abarcar. E porque pelas contínuas alterações que eram indispensáveis, em resultado de muitos acrescentamentos que se faziam, a obra cada vez ficava mais desordenada […] o resultado seria ficar tanto trabalho em simples apontamentos, sem a necessária conexão, ordem e correcção, que só nós, talvez, lhe poderíamos dar […] conforme o nosso plano e em harmonia com as nossas ideias de hoje, já em parte mudadas e mui diferentes das que aqui e ali escrevemos”[47]. Mais uma vez a tristeza pelo facto de ter sido preterido nos escritos sobre a história de Setúbal.
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O espólio que nos legou, e que diz apenas ele ser capaz de o ordenar, é um acervo precioso para quem deseja estudar Setúbal nos tempos que antecederam a implantação da República em 5 de Outubro de 1910. O edifício da Câmara Municipal fora destruído por um violento incêndio. Com ele foi o passado, a história de Setúbal até àquele momento. Mas alguém salvou essa história! Almeida Carvalho, em pleno século XIX quando o positivismo e o romance histórico imperavam, foi capaz de nos deixar um arquivo fiável, com documentos identificados nos quais qualquer historiador actual poderá confiar sem receios. Diríamos mesmo, sem medo de errar, que este homem foi o percursor do movimento de História Nova que só no século XX começará a dar os primeiros passos em França com a escola dos Annales. As citações são feitas correctamente, os textos estão identificados. É-nos possível ir consultá-los nas várias bibliotecas e arquivos que cita. Apenas os originais daqueles que foram devorados pelas chamas naquela noite fatídica para a história de Setúbal não estão, obviamente, acessíveis. Mas João Carlos de Almeida Carvalho transcrevera-os, letra a letra, desenho a desenho! Bem-haja pelo seu legado!
Notas
[12] Borges de Macedo, 1990, citado por Maria Manuela Tavares Ribeiro, “A Regeneração e o seu significado”, História de Portugal, dirigida por José Mattoso, Quinto volume, Lisboa, Círculo dos Leitores, 1993, p. 121.
[13] Pena é que hoje se torne a cometer os mesmos erros. É a “rentrée” política” e toda a terminologia usada nos meios de comunicação, nos debates, nas conversas. E tudo isto porquê? Quando a nossa língua é tão rica e bonita!
[14] Ramalho Ortigão, As Farpas, tomo IV, 4ª edição, Porto, Imprensa Portuguesa, 1926, p. 35.
[15] Para mais pormenores veja-se: Maria da Conceição Quintas, Setúbal nos finais do século XIX, Lisboa, Caminho, 1993, p. 209 a 250.
[16] Sobre a história do Porto de Setúbal leia a obra da autoria de Maria da Conceição Quintas, Porto de Setúbal, um actor de desenvolvimento: história de um passado com futuro, Lisboa, APSS, 2003.
[17] Sobre este assunto consulte Maria da Conceição Quintas, Setúbal: Economia, Sociedade e Cultura Operária – 1880-1930, Lisboa, Livros Horizonte, 1998, p. 45 a 84.
[18] Palmela recupera a municipalidade quando, em 22 de Dezembro de 1926 nasce o distrito de Setúbal.
[19] Sobre este assunto consulte Maria da Conceição Quintas, Setúbal: Economia, Sociedade e Cultura Operária – 1880-1930, ed. cit., p. 85 a 117.
[20] Idem, “Movimento Associativo”, p. 215 a 370.
[21] Idem, “Tópicos sobre administração local e comércio”, p. 119 a 214.
[22] Almeida Carvalho informa-nos que, em 1854, Manuel José Neto, “homem de negócio, trabalhador e empreendedor”, se associou com Feliciano António da Rocha, também dedicado ao comércio, e ambos estabeleceram em Setúbal, e numa casa na travessa do Postigo da Pedra, nos 3, 5, 5A e 5B, uma fábrica de conservas de sardinha, contida em caixas de lata, sendo o género aplicado ao consumo do país e à exportação para o estrangeiro - América do Sul e África do Norte. A sociedade, porém, foi dissolvida no fim desse mesmo ano. Manuel José Neto foi então estabelecer uma sua fábrica numa casa situada na Rua da Praia, próxima da ponte do Livramento, do lado do norte e quase junto ao esteiro, ou ribeiro, da mesma denominação. Em 1858 foi impressa, na tipografia do Curioso, a tabela de preços dos seus produtos. “Feliciano António da Rocha estabeleceu a sua fábrica, também na Rua da Praia, mas numa casa, que fazia esquina do lado poente do Largo da Anunciada, tendo frente para este largo e para a mesma Rua da Praia [...]. A fábrica de Feliciano António da Rocha fechou-se por 1876, em resultado de terem escasseado os lucros e aumentado os prejuízos. A fábrica de Manuel José Neto continuou funcionando, com mais ou menos dificuldades e ainda hoje, em 1894 funciona, numa casa nº 32 de polícia, na Ladeira de S. Sebastião, para onde há tempo se transferira”. Ainda em 1855, também, segundo Almeida Carvalho, “Manuel José Neto começou fazendo progressos e obtendo bons lucros [...], próximo à ponte do Livramento ou do Carmo”.
[23] “Movimento Associativo”, Maria da Conceição Quintas, Setúbal: Economia, Sociedade e Cultura Operária – 1880-1930, ed. cit., p. 215 a 370.
[24] Idem, p. 236 a 251.
[25] Idem, p. 257 a 304.
[26] Idem, p. 305 a 322.
[27] Maria da Conceição Quintas, “Universidade Popular de Setúbal”, Dreyfus e a responsabilidade intelectual, Cadernos de Cultura, Lisboa, Centro de História da Cultura, nº 2, 1999, p. 77 a 94.
[28] Maria da Conceição Quintas, Setúbal: Economia, Sociedade e Cultura Operária – 1880-1930, ed. cit., p. 420 a 444.
[29] Idem, p. 441.
[30] Idem, p. 420 a 437.
[31] Sobre educação em Setúbal consulte Maria da Conceição Quintas, Setúbal: Economia, Sociedade e Cultura Operária – 1880-1930, ed. cit., p. 371 a 412.
[32] Luís Graça, A importância dos clubes de cidade, conferência proferida nas celebrações do aniversário do Club Setubalense, 12 de Novembro de 1996, p. 14.
[33] João Carlos Fidalgo, História do jornal O Setubalense, Discurso proferido durante as cerimónias de lançamento da medalha comemorativa dos 150 anos do Club Setubalense, 11 de Março de 2005.
[34] O Setubalense, nº1, 1 de Julho de 1855.
[35] João Carlos Fidalgo, História do jornal O Setubalense, Discurso proferido durante as cerimónias de lançamento da medalha comemorativa dos 150 anos do Club Setubalense, 11 de Março de 2005.
[36] Idem, ibidem.
[37] Almeida Carvalho, Memórias do autor, Setúbal, Junta Distrital de Setúbal, 1968.
[38] Como apenas foram feitos 600 exemplares, a Câmara Municipal ficou somente com 200 livros.
[39] “Setúbal, 14 de Julho”, O Setubalense, Setúbal, Domingo, 15 de Julho de 1855, p. 1.
[40] Idem, ib.
[41]Os seus correligionários apontam como causa deste atentado a oposição que Almeida Carvalho fazia ao executivo camarário. No entanto, somos de opinião de que o móbil do crime fora a tentativa de aniquilar a associação de trabalhadores que este vinha apoiando. Não é por acaso que, pouco tempo depois, se tentou fundar outra associação para dividir o operariado e evitar o seu fortalecimento pela união. ADS, FAC, documento da autoria do próprio Almeida Carvalho.
[42] O Setubalense, Setúbal, 16 de Setembro de 1855, p. 4.
[43]“Comunicado - Associação”, O Setubalense, Setúbal, 3 de Fevereiro de 1856, p. 3.
[44]O Setubalense apareceu exactamente como porta-voz da Associação Setubalense das Classes Laboriosas.
[45] “Associação Setubalense das Classes Laboriosas - Alvará”, O Setubalense, Setúbal, 22 de Junho de 1856, p. 1 e 2.
[46] ADS, FAC, Almeida Carvalho, “Assistência”, 1893, pasta 26, doc. 8.
[47] ADS, FAC, Almeida Carvalho, “Assistência”, 1893.
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http://mcquintas.paginas.sapo.pt/index34.html
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