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http://www.vidaslusofonas.pt/alvaro_cunhal.htm
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http://www.citi.pt/cultura/artes_plasticas/desenho/alvaro_cunhal/biografia.html
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Pintura de óleo sobre madeira dos projectos «Eu gostaria de saber pintar» de Álvaro Cunhal - Projecto 1
Pintura de óleo sobre a madeira dos projectos "Eu Gostaria de saber pintar" - Projecto 2 - de Álvaro Cunhal
Pintura a Óleo sobre a madeira, dos projectos "Eu Gostaria de Saber pintar" de Álvaro Cunhal - Pintura 4
Pintura de Óleo sobre a madeira dos Projectos "Eu Gostaria de Saber Pintar" de Alvaro Cunhal - Projecto 6
Os desenhos conhecidos de Álvaro Cunhal são os "Desenhos da Prisão", publicados em álbum, em Dezembro de 1975, pela Editorial Avante!. Esta publicação foi uma iniciativa do PCP e teve como objectivo a recolha de fundos.
Os desenhos são feitos a lápis sobre papel e foram executados entre 1951 e 1959, numa cela da Penitenciária de Lisboa, onde passou oito anos em total isolamento, e no Forte de Peniche, de onde se evadiu em Janeiro de 1960.
Durante cerca de dois anos (1949-1951) não teve acesso a qualquer material de escrita ou de desenho, mas em 1951 passou a ser autorizado a receber papel e lápis. Para efeitos de controle, o papel era numerado folha a folha e assinado pelo chefe dos guardas da Penitenciária de Lisboa - Lino -, pelo que há alguns desenhos em que se pode ver uma assinatura, que não é do autor dos desenhos, mas do tal Lino.
Alguns destes desenhos conseguiram sair da prisão. Há muitos de que não se conhece o paradeiro, pois foram vendidos para obter fundos para o PCP, mas os que tinham sido enviados para a família ou os que foram recuperados depois do 25 de Abril, por entrega dos soldados que ocuparam as fortalezas onde estavam apreendidos, foram reunidos e publicados.
Os desenhos de Álvaro Cunhal não têem título porque não têm que ter, transmitem uma mensagem que não precisa de título para ser percebida por quem a recebe.
O povo é a temática de todos eles, o trabalho, a luta, o sofrimento, a miséria, mas também a alegria, a festa, a dança, são os ambientes representados.
Curiosamente foi o povo camponês o escolhido como personagem central, não havendo qualquer referência ao operariado urbano.
Os cenários, não tendo qualquer elemento concreto, real, remetem na sua generalidade para o campo ou para a aldeia.
Em Álvaro Cunhal o central é a personagem Povo, seja ela representada individual ou colectivamente. A paisagem é totalmente secundária, surgindo apenas como elemento simbólico ou de composição, ou não existindo de todo. A única referência concreta em termos de paisagem é um forte, que lembra o forte de Peniche, nos desenhos alusivos à festa de Carnaval. Estes desenhos datam de Fevereiro de 1959, o que indicia terem sido inspirados em imagens reais que o autor terá presenciado através das grades do forte, onde estava preso nesta data.
Se a grande maioria dos desenhos é dedicada ao Povo como elemento colectivo, tanto na luta - vários desenhos são dedicados à luta contra a opressão, o povo que enfrenta corajosamente as cargas da GNR - como no trabalho, ou, mesmo, na festa, na alegria da dança ou do Carnaval, outros representam episódios da vida do povo, em que as personagens são individuais e, então, surgem com uma muito maior definição e uma expressão dramática ou lírica muito mais forte.
Nesta categoria de desenhos a mulher é quase sempre a protagonista, sendo representada duma forma mais lírica e expressiva que o resto das personagens. O olhar e os traços da camponesa sentada, das duas camponesas de pé, abraçadas, ou da mulher que segura a vela no velório de alguém, são de uma expressão tão forte que, na minha opinião, constituem toda a dinâmica desses desenhos.
A representação da mulher em Cunhal é muito importante, ela ocupa um lugar especial, apresentando-se forte, corajosa, trabalhadora, mas sobretudo feminina. Esta importância é patente mesmo nos desenhos em que a personagem é colectiva, pois a mulher está sempre presente, lutando ou trabalhando ao lado do homem, mas também dançando. Aliás, nas cenas de festa e de dança, a leveza e graciosidade da mulher são um dos elementos fulcrais de toda a dinâmica característica destes desenhos.
Os desenhos de Álvaro Cunhal, executados a grafite ou carvão sobre papel, apresentam um dramático jogo de luz/sombra, através do qual o autor ultrapassa as limitações da representação monocromática.
Cada desenho é uma narrativa e essa narrativa tem como fio condutor aquele jogo. Através dele o autor diz-nos quem são os protagonistas, qual é a acção central, onde é que está o bem e onde é que está o mal, e principalmente, consegue imprimir aos desenhos uma dinâmica e uma sensação de movimento fortíssimas, que constituem, na minha opinião, a sua característica mais marcante.
O traço de Cunhal pode ser mais carregado ou mais fluído, conforme o plano é mais aproximado, existindo uma maior preocupação com o pormenor, ou é um plano geral, em que a personagem é colectiva, e a fluídez dos contornos serve precisamente para apagar as fronteiras de cada individuo e acentuar a sua fusão numa entidade única e solidária - o Povo.
A desenvoltura e segurança do traço, que caracterizam o trabalho de Cunhal são resultado de uma evolução que é visível se observarmos os primeiros desenhos de 1951 e os compararmos com os dos últimos anos.
O ponto de vista do pintor é, ora frontal, ligeiramente elevado, podendo este não ser um mero espectador, mas estar no meio da acção, ora muito elevado, e aí o pintor é um espectador da heroicidade do povo.
As influências neo-realistas, em termos formais, são mais evidentes nos primeiros desenhos. O exagero no volume dos braços, pernas, mãos e pés, instrumentos de trabalho do povo, vai-se atenuando e os últimos desenhos revelam uma clara evolução formal em relação aos estereótipos desta corrente estética.
De qualquer forma, os desenhos de Álvaro Cunhal integram a corrente estética neo-realista e, segundo João Pinharanda "se não fossem um capítulo sem continuidade" "constituíriam um dos mais interessantes casos do neo-realismo português" (João Pinharanda, 1991).
[ CITI ]
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