Quarta-feira, 25 de Agosto de 2010
Lisboa, 26 Jan (Lusa) - Em Portugal o busto da República foi aprovado oficialmente em 1911 mas a Comissão para as comemorações do centenário desvaloriza qualquer intenção em alterar a escultura, como ocorreu em França.
Após a libertação de Paris, em 1944, durante a II Guerra Mundial, a Associação dos Autarcas Franceses decidiu mudar periodicamente o busto de "Mariana", adoptando como modelos artistas de cinema e da música francesas contemporâneas, sendo a manequim e actriz Laetitia Casta o modelo actual da escultura.
Em Portugal, a escultura não sofreu alterações e passado um século da Revolução de 05 de Outubro de 1910 a Comissão para as Comemorações do Centenário não prevê a modernização do símbolo.
Fernanda Rollo, Comissária das Comemorações do Centenário da República, disse à Lusa que, ao contrário de França, dificilmente a sociedade portuguesa iria aceitar a mudança e que o importante é conhecer o busto actual.
"Temos dinâmicas diferentes [de França]. Não está prevista pela Comissão qualquer iniciativa no sentido de mudar o busto da República. Estamos mais interessados em conhecer o busto actual e as várias manifestações artísticas que inspirou. Em relação a França, não temos de ter esse quadro de mimetização. Não sei se a sociedade portuguesa aderiria a este tipo de mudanças", disse a historiadora Fernanda Rollo.
António Reis, historiador e grão mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL), também partilha da mesma opinião e sublinha que a mudança poderia significar a "folclorização" de um símbolo histórico.
"Podemos ser fiéis a este busto. Não vejo necessidade da sua modernização. Não sou muito sensível a essa mudança, seria a folclorização do busto. Trata-se de um símbolo histórico. Tenho respeito pelas iniciativas e pela República francesa mas gosto muito dos bustos da República aprovados em 1911 (em Portugal). Mantenho-me fiel a este busto republicano", disse António Reis à Lusa que não põe sequer a hipótese de pensar numa "inspiradora" que, à semelhança do caso francês, poderia servir de modelo a um eventual novo busto da República Portuguesa.
"Uma inspiradora? Nem ponho essa hipótese", acrescentou António Reis.
Também António Arnaut, antigo grão mestre do GOL, considera que alterar o busto da República seria deturpar os símbolos originais da República Portuguesa.
"Os símbolos são representações perpétuas da ideia. Mudar o busto seria um absurdo. Uma profanação", disse António Arnaut à Lusa.
Para o antigo grão mestre do GOL a "imagem, o busto da República, foi a corporização dos republicanos da altura. Foi criada uma bandeira, um hino e um busto. Símbolos que não podem ser alterados sob pena de alterar os valores da República: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, herdados da Maçonaria".
Segundo António Arnaut a figura deve manter-se inalterável, tal como a bandeira e o hino nacionais.
"Assim como não se pode alterar a bandeira e o hino, não se pode alterar o busto da República. Mudar? O penteado? Tirávamos o barrete frígio à República ? Esta é que é a República e, apesar de ter 100 anos, está jovem, e não ainda verdadeiramente realizada", clonclui Arnaut.
Por seu lado, Joaquim Pulga, descendente da mulher natural de Arraiolos, que serviu de modelo à escultura da República Portuguesa, afirma não ter "renitências à adopção do modelo francês" em Portugal, desde que "se conserver a base estética do busto original"
Para o sobrinho bisneto de Ilda Pulga seria possível conseguir um equilíbrio entre o passado e o presente.
"Por princípio, penso que a evolução harmoniosa das sociedades está num equilíbrio entre a tradição e a inovação".
http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/10591652.html
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