9. Titulatura régia
Ao longo da história, o título oficial dos Reis de Portugal foi sendo alterado. Os Reis de Portugal (e antes deles, os Condes de Portucale) tiveram os seguintes títulos:
Período | Título | Usado por | Motivo |
---|---|---|---|
1096-1112 | Conde de Portucale (Comes Portugalensis) Pela Graça de Deus, Conde e Senhor de Todo o Portucale (Dei Gratiae, Comes et Totius Portugalensie Dominus) | Henrique de Borgonha | |
1112-1128 | Rainha de Portucale (Portucalensis Regina) | Teresa de Leão | De acordo com a tradição peninsular, as filhas dos reis podiam-se intitular sempre rainhas, ainda que não o fossem de facto. |
1128-1140 | Duque de Portucale (Dux Portugalensis) | Afonso Henriques | Sendo neto do Imperador Afonso VI, D. Afonso Henriques usará a intitulação de Dux, e já não a de Comes, como fez seu pai. |
1140-1189 | Pela Graça de Deus, Rei dos Portugueses (Dei Gratiae, Rex Portugalensium) | D. Afonso Henriques, D. Sancho I | Afonso Henriques proclamado rei. |
1189-1191 | Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e de Silves (Dei Gratiae, Rex Portugaliae & Silbis) Pela Graça de Deus, Rei de Portugal, de Silves e do Algarve (Dei Gratiae, Rex Portugaliae, Silbis & Algarbii; esta intitulação surge em dois documentos nos quais D. Sancho restaura a diocese de Silves em favor de D. Nicolau) | D. Sancho I | Tomada de Silves (1189). |
1191-1211 | Pela Graça de Deus, Rei dos Portugueses (Dei Gratiae, Rex Portugalensium) | D. Sancho I | Perda de Silves, retomada pelos Almóadas (1191). |
1211-1248 | Pela Graça de Deus, Rei de Portugal (Dei Gratiae, Rex Portugaliae) | D. Afonso II, D. Sancho II | |
1248-1259 | Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e Conde de Bolonha (Dei Gratiae, Rex Portugaliae & Comes Boloniae) | D. Afonso III | Afonso, casado com Matilde II, condessa de Bolonha, ascende ao trono por morte do irmão sem herdeiros. |
1259-1267 | Pela Graça de Deus, Rei de Portugal (Dei Gratiae, Rex Portugaliae) | D. Afonso III | Pela morte de D. Matilde, Afonso III abandona o título de Conde de Bolonha (1259). |
1267-1369 | Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e do Algarve (Dei Gratiae, Rex Portugaliae & Algarbii) | D. Afonso III, D. Dinis, D. Afonso IV, D. Pedro I, D. Fernando I | D. Afonso III recebe o senhorio do Algarve pelo Tratado de Badajoz (1267). |
1369-1371 | Pela Graça de Deus, Rei de Castela, de Leão, de Portugal, de Toledo, da Galiza, de Sevilha, de Córdova, de Múrcia, de Jáen, do Algarve, de Algeciras e Senhor de Molina | D. Fernando I | Pretensão de D. Fernando à Coroa de Castela. |
1371-1383 | Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e do Algarve | D. Fernando I | Renúncia aos títulos castelhanos após a Paz de Alcoutim (1371). |
1383-1385 | Pela Graça de Deus, Rainha de Castela, de Leão, de Portugal, de Toledo, da Galiza, de Sevilha, de Córdova, de Múrcia, de Jáen, do Algarve, de Algeciras e Senhora da Biscaia | D. Beatriz I e João I de Castela | Pretensão de D. Beatriz à Coroa de Portugal. |
1385-1415 | Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e do Algarve | D. João I | Renúncia aos títulos castelhanos após a derrota de João I de Castela na Batalha de Aljubarrota (1385). |
1415-1458 | Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e do Algarve, e Senhor de Ceuta | D. João I, D. Duarte, D. Afonso V | Conquista de Ceuta (1415). |
1458-1471 | Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e do Algarve, e Senhor de Ceuta e de Alcácer em África | D. Afonso V | Conquista de Alcácer Ceguer (1458). |
1471-1475 | Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África | D. Afonso V | Conquista de Arzila e Tânger (1471) e elevação do senhorio do Norte de África à condição de Reino d'Além-Mar. |
1475-1479 | Pela Graça de Deus, Rei de Castela, de Leão, de Portugal, de Toledo, de Galiza, de Sevilha, de Córdova, de Jáen, de Múrcia, dos Algarves d'Aquém e d'Além Mar em África, de Gibraltar, de Algeciras, e Senhor da Biscaia e de Molina | D. Afonso V | Pretensão de D. Afonso V à Coroa de Castela, pelo seu casamento com Joana, a Beltraneja. |
1479-1485 | Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África | D. Afonso V, D. João II | Renúncia aos títulos castelhanos após a Paz das Alcáçovas-Toledo. |
1485-1499 | Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, e Senhor da Guiné | D. João II, D. Manuel I | Criação do senhorio da Guiné abrangendo as possessões portuguesas que se estendiam pelo Golfo da Guiné. |
1499-1580 | Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc. | D. Manuel I, D. João III, D. Sebastião, D. Henrique, D. António | Após o regresso de Vasco da Gama da Índia, em 1499, o título régio é reformulado e atinge a sua plenitude. |
1580-1640 | Pela Graça de Deus, Rei de Castela, de Leão, de Aragão, das Duas Sicílias, de Jerusalém, de Portugal, de Navarra, de Granada, de Toledo, de Valência, da Galiza, de Maiorca, de Sevilha, da Sardenha, de Córdova, da Córsega, de Múrcia, de Jáen, dos Algarves, de Algeciras, de Gibraltar, das Ilhas de Canária, das Índias Orientais e Ocidentais, Ilhas e Terra Firme do Mar-Oceano, Conde de Barcelona, Senhor da Biscaia e de Molina, Duque de Atenas e de Neopátria, Conde de Rossilhão e da Cerdanha, Marquês de Oristano e de Gociano, Arquiduque de Áustria, Duque da Borgonha, do Brabante e de Milão, Conde de Habsburgo, da Flandres e do Tirol, etc. | D. Filipe I, D. Filipe II, D. Filipe III | Com o domínio filipino, juntam-se os demais títulos dos Áustrias à titulatura portuguesa. |
1640-1815 | Pela Graça de Deus, Rei (ou Rainha) de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor(a) da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc. | D. João IV, D. Afonso VI, D. Pedro II, D. João V, D. José I, D. Maria I (com D. Pedro III) | Com a Restauração da Independência (1640), regressa-se ao velho estilo adoptado por D. Manuel I. |
1815-1825 | Pela Graça de Deus, Rei (ou Rainha) do Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor(a) da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc. | D. Maria I, D. João VI | O Brasil é elevado a Reino dentro do Império Português (1815). |
1825-1826 | Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc. | D. João VI | Após o reconhecimento da independência do Império do Brasil por D. João VI (1825), retorna-se à fórmula anterior. |
1826 | Por Graça de Deus e Unânime Aclamação dos Povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc. | D. Pedro IV | Durante o seu breve reinado de oito dias, embora mantendo a destrinça entre os dois Estados, o título reflectiu a união das duas coroas sobre a cabeça do mesmo dinasta. |
1826-1910 | Pela Graça de Deus, Rei (ou Rainha) de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor(a) da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc. | D. Maria II, D. Miguel I, D. Maria II (com D. Fernando II), D. Pedro V, D. Luís I, D. Carlos I, D. Manuel II | Após a abdicação de D. Pedro em favor da filha, retorna-se definitivamente à fórmula anterior, que vigorará agora até ao fim da Monarquia. |
Quanto ao estilo usado nas formas de adereçamento ao monarca, também ele evoluiu da seguinte maneira:
Período | Estilo | Usado por | Motivo |
---|---|---|---|
1140-1577 | Sua Alteza Real (SAR) | D. Afonso I, D. Sancho I, D. Afonso II, D. Sancho II, D. Afonso III, D. Dinis, D. Afonso IV, D. Pedro I, D. Fernando I, D. João I, D. Duarte, D. Afonso V, D. João II, D. Manuel I, D. João III, D. Sebastião | |
1577-1578 | Sua Majestade (SM) | D. Sebastião | Por ocasião da entrevista de Guadalupe (1577), concedida por Filipe II de Espanha a seu sobrinho D. Sebastião, e do tratamento majestático que lhe foi concedido pelo tio, D. Sebastião passa a usar a fórmula de adereçamento Sua Majestade, prenunciando o seu desejo imperial de conquista de África. |
1578-1580 | Sua Alteza Real (SAR) | D. Henrique, D. António | Com a morte de D. Sebastião em Alcácer-Quibir, o Cardeal-Rei regressa à fórmula anterior, por considerar o tratamento majestático apenas adequado para o divino. |
1580-1748 | Sua Majestade (SM) | Filipe I, Filipe II, Filipe III, D. João IV, D. Afonso VI, D. Pedro II, D. João V | Com a incorporação de Portugal nos domínios dos Habsburgos da Espanha, onde, devido à influência de Carlos V, rei de Castela e imperador da Alemanha, se havia difundido o tratamento de Majestade, este passa também à órbita portuguesa, mantendo-se mesmo após a Restauração da Independência (1640). |
1748-1825 | Sua Majestade Fidelíssima (SMF) | D. João V, D. José I, D. Maria I (com D. Pedro III), D. João VI | D. João V consegue da Santa Sé o reconhecimento do título de Majestade Fidelíssima para a Coroa Portuguesa, por contraponto ao uso de Sua Majestade Católica em Espanha e Sua Majestade Cristianíssima em França. |
1825-1826 | Sua Majestade Imperial e Fidelíssima (SMI&F) | D. João VI, D. Pedro IV | Com o reconhecimento da independência do Brasil, em 1825, D. João VI reserva também para si, ao abrigo das disposições do Tratado do Rio de Janeiro, o título de Sua Majestade Imperial; com a sua morte no ano seguinte, e a subida ao trono do filho mais velho, também ele imperador do Brasil (D. Pedro IV, mantém-se o uso da fórmula dúplice, até à sua abdicação em favor da filha D. Maria da Glória. |
1826-1910 | Sua Majestade Fidelíssima (SMF) | D. Maria II, D. Miguel I, D. Maria II (com D. Fernando II), D. Pedro V, D. Luís I, D. Carlos I, D. Manuel II | Após a abdicação de D. Pedro IV, retorna-se ao anterior estilo. |
10. Bibliografia
- FERNANDES, Isabel Alexandra. Reis e Rainhas de Portugal (5a. ed.). Lisboa: Texto Editores, 2006. ISBN 972-47-1792-5
- .
- .http://wapedia.mobi/pt/Anexo:Lista_de_reis_de_Portugal?p=1
- .
- .
Sem comentários:
Enviar um comentário