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domingo, 31 de janeiro de 2010

Festival de Angoulême Banda desenhada desafia a crise





Público - Sexta-Feira 29/01/2010


Os fãs buscam uma dedicatória nos álbuns dos seus heróis
PATRICK BERNARD/AFP
Festival de Angoulême

Banda desenhada desafia a crise

Por Carlos Pessoa
. Num cenário de restrições e de tensão entre a organização e as instituições apoiantes, começou ontem a 37.ª edição da festa francesa da BD, onde são esperados mais de 200 mil visitantes


O contrato que liga o Festival Internacional de BD de Angoulême à região francesa da Charente termina este mês e a renegociação anuncia-se dura e difícil. A crise económica impôs restrições orçamentais às instituições públicas que viabilizam o festival e aspiram a ter um maior controlo sobre os despesas - um corte de 140 mil euros num financiamento global público de 1,5 milhões de euros -, superadas este ano pelo reforço da participação financeira de entidades privadas, que asseguram os restantes 1,5 milhões do orçamento anual.
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Nada disto deverá interessar muito aos mais de 200 mil visitantes que são esperados na pequena cidade francesa até ao próximo domingo. O que os traz são as grandes exposições, os concertos ou as numerosas iniciativas que animam as ruas, as praças e os edifícios durante os quatro dias do mais importante festival europeu de banda desenhada. E, sobretudo, o contacto directo com uma legião de autores em busca de um desenho ou de uma dedicatória nos álbuns dos seus heróis preferidos.
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Há na programação motivos de interesse para todos. A chamada BD de "grande público" está presente através de uma exposição "lúdica e familiar" consagrada a Léonard (de Turk e De Groot), uma série de humor desconcertante que já vendeu mais de seis milhões de álbuns. A trajectória dos Túnicas Azuis (de Raoul Cauvin e Willy Lambil) é outro exemplo de concessão aos gostos populares, devidamente reconhecida por um público fiel que é responsável por tiragens superiores a 160 mil exemplares de cada novo álbum.
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O Mangá Building (antigo Espace Franquin) acolhe a exposição One Piece, sobre a série com o mesmo nome, mas também todas as novidades nos diversos segmentos da BD japonesa, cinema de animação ou jogos de vídeo. É o terceiro pilar do edifício dedicado à BD comercial.
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A obra de Blutch, consagrado em 2009 com o Grande Prémio da Cidade de Angoulême, é dada a conhecer através de uma grande exposição que recorda as duas décadas do seu percurso pessoal. Pela mão deste autor original é apresentado pela primeira vez em Angoulême Fabio Viscogliosi e o seu universo poético, numa antecipação à publicação pelo editor L"Association de Da Capo, uma recolha de 400 pranchas do seu personagem animal (um gato) mais conhecido.
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Para o investigador e enciclopedista francês Patrick Gaumer, a exposição colectiva dedicada à BD russa contemporânea é um dos mais fortes motivos de curiosidade. "Estou ansioso por descobri-la", confessou ao P2 na véspera de partir para Angoulême. "O festival também é isso - o prazer de descobrir coisas novas e autores novos. Darmo-nos conta também de que a banda desenhada é verdadeiramente um modo de expressão internacional."
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Os nomes destes jovens autores de um país onde o mercado da BD não tem expressão real - pelo menos nos termos em que o entendemos no Ocidente - nada dizem, mesmo aos mais conhecedores. O desafio que lhes foi proposto é sugestivo: como pôr em imagens uma identidade nacional que emergiu de um mundo (o universo soviético) praticamente desaparecido?
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Cent pour Cent é a exposição que poderá levar os visitantes ao novo Museu da BD, inaugurado em Junho. Será seguramente o caso do estudioso Dominique Petitfaux, para quem esta é a "grande novidade de Angoulême": "Cem desenhadores contemporâneos fizeram uma prancha de banda desenhada que é a reinterpretação de um grande autor clássico; podemos comparar as duas pranchas (Muñoz reinterpretando Pratt, etc.)". São mais de 700 originais do fundo do museu, a que se juntam as 100 pranchas concebidas expressamente para esta exposição.
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Outro núcleo que vale a pena explorar é o da Expo Louvre. Reúne os trabalhos de quatro autores de grande nível (Nicolas de Crécy, Marc-Antoine Mathieu, Eric Liberge e Bernard Yslaire) que há um ano deram corpo à exposição que pela primeira vez fez entrar a banda desenhada no Louvre com o seu olhar criativo e livre sobre a realidade do famoso museu.
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Uma exposição monográfica permite conhecer melhor Fabrice Neaud, um jovem autor já premiado, em 1997, pelo primeiro volume da sua obra. O desenho de humor e satírico é o corpus da mostra Desenhadores de Humor, que reconstitui a cronologia deste género desde o seu aparecimento na imprensa.
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Mais autores vivem da BD
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Entre as iniciativas paralelas, são aguardadas com expectativa os Concertos de Desenho, cujo cenografia é assinada este ano por Zep (criador de Titeuf) para a performance de Blutch e do seu espectáculo de lápis na mão acompanhado pela música de Irène e Francis Jacobs. Bilal assegura Cinémonstre, um documentário que revisita as suas três primeiras longas-metragens. A dupla Schuiten-Peeters, por seu lado, irá explorar os arcanos das Cidades Obscuras, megaciclo de banda desenhada desenvolvido por ambos há mais de 25 anos.
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Os já tradicionais Encontros Internacionais anunciam, este ano, um leque muito sugestivo de participantes - Joe Sacco, Ivan Brunetti, Dash Dash Shaw, Davis Heatley, Kevin O"Neill, Alan Martin, Seiichi Hayashi, Bilal ou Floc"h & Rivière - que irão reflectir sobre os caminhos presentes e futuros da BD mundial.
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À laia de contextualização, o relatório anual de Gilles Ratier, secretário-geral da Associação de Críticos e Jornalistas de BD, faz o balanço de 2009. Apesar da crise mundial, diz, o ano foi marcado pela manutenção do dinamismo da edição de BD de língua francesa; a convergência com outros meios de expressão (a chamada estratégia media-mix que engloba a edição digital, ainda incipiente, mas também suportes como o DVD ou os jogos de vídeo); e a diversificação dos leitores tradicionais.
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Registou-se uma desaceleração da produção (mais 2,4 por cento, contra os 10,04 registados em 2008 comparativamente ao ano anterior), traduzida em 4863 livros, dos quais 3599 novidades. A tendência de concentração manteve-se, com nove grupos a assegurarem 60 por cento da produção. O número de autores a viverem da BD aumentou (1439, contra 1416 em 2008). Em contrapartida, o número de revistas especializadas em BD sofreu uma nova redução (64 contra 71 em 2008).
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Quase uma centena de séries (99, mais quatro do que no ano anterior) "beneficiaram de enormes presenças no mercado [mais de 50 mil exemplares de tiragem] e continuaram a manter-se entre as melhores vendas de todos os tipos de livros", escreve Ratier. A coroa de glória vai para os 1,2 milhões de cópias do álbum comemorativo dos 50 anos de Astérix, havendo mais nove álbuns que superaram os 220 mil exemplares de tiragem.
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