Discurso de Lula da Silva (excerto)

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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sérgio Nobre: por que o trabalhador não pode ter uma TV?


Mídia

Vermelho -2 de Agosto de 2010 - 14h06

A exemplo de 1° de janeiro de 2003, quando de forma pioneira um operário assumiu a Presidência da República, 6 de agosto de 2010 entrará para a história da classe trabalhadora com a estreia da primeira emissora de televisão dos trabalhadores, a TVT.

Por Sérgio Nobre, no portal da CUT

A conquista foi suada e repleta de percalços. Foram necessárias mais de duas décadas de luta contra interesses políticos, burocracia e muito preconceito até que o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC obtivesse essa vitória sem precedentes, que abre um novo espaço para que outras categorias e movimentos sociais possam se expressar.

O ponto de partida e de chegada dessa conquista tem o mesmo nome: Luiz Inácio Lula da Silva. Em 1987, como deputados constituintes, Lula e Vicentinho (presidente do Sindicato à época), fizeram o primeiro pedido oficial de concessão de uma emissora de TV ao então ministro Antonio Carlos Magalhães. Em 2005, já presidente da República, Lula assinava o decreto de outorga do canal 46 UHF para a Fundação Sociedade Comunicação, Cultura e Trabalho, da qual o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC é legalmente instituidor e mantenedor.

Vencidas essas etapas, a TVT passa a existir e a ser, além de uma nova alternativa de canal educativo, importante marco no urgente processo de democratização dos meios de comunicação no Brasil. Torna-se vanguarda em um País cuja mídia está sob o domínio histórico de meia dúzia de grupos familiares vinculados a elites políticas, que se recusam a reconhecer a importância dos movimentos sindicais e sociais na construção da democracia.

O momento é de comemoração, porém temos consciência de que apenas iniciamos uma longa jornada rumo à consolidação do nosso projeto de comunicação e do desafio de disputar a preferência da audiência no “País das Novelas”.

A TVT começa com uma programação enxuta, mas consistente e arrojada, que garantirá vez e voz à classe trabalhadora e aos movimentos sociais. Emissora educativa, não exibirá novelas, seriados ou reality show. Com criatividade, buscará o dialogo e a interlocução dos trabalhadores, por meio de linguagem e signos que eles entendem, querem e precisam ver e ouvir.

Sabemos que muitos olhos estarão voltados à TVT. Parte deles não torcerá pelo sucesso da emissora, como prova a avalanche de críticas, opiniões e repercussões negativas que sucederam o anúncio do decreto da concessão, em 2009. Torcida contrária que abusou da ignorância e do preconceito e que suscita a seguinte questão: por que os trabalhadores, representados por um sindicato legítimo e combativo, não podem ter uma emissora de televisão?

Não seriam o sindicato e os trabalhadores tão dignos de um canal quanto o são as poderosas e lucrativas redes Globo, Bandeirantes, Record, SBT, Rede TV? Juntas, elas somam 927 emissoras de televisão, número que extrapola o limite legal fixado pelo Decreto Lei nº 236/67, segundo publicações especializadas. Escoradas em brechas e ambigüidades legais, essas redes monopolizam os meios de comunicação no País, apesar de a Constituição Brasileira, em seu Parágrafo 5º do Artigo 220, determinar o contrário.

Os trabalhadores não têm direito a uma emissora de TV, quando é fato público que, no Brasil, mais de duas centenas de políticos são, ilegalmente, sócios ou diretores de 300 veículos de comunicação?

Buscamos a nossa TV de forma incansável durante 23 anos, busca potencializada e priorizada a partir de 2008, pela atual direção do Sindicato. Participamos de quatro concorrências de concessão de radiodifusão e fomos preteridos em todas, apesar de o Sindicato e a Fundação terem cumprido, sem exceção, os requisitos exigidos por lei.

O sindicato representa 100 mil trabalhadores de uma das regiões mais produtivas e importantes do Brasil e da América Latina. Temos, portanto, o direito legítimo e legal a uma emissora de televisão, reivindicação histórica de uma categoria que foi referendada em sucessivos congressos. Por isso, as especulações e críticas políticas que se formaram por conta de o canal ter sido concedido durante o governo de um presidente operário só escancaram o preconceito contra a classe trabalhadora no Brasil.

Informação é cultura, é história, é educação. Informação deve combater e derrubar preconceitos. E televisão é, também, informação. A Rede TVT será um canal de informação, cultura, educação e história do trabalhador e para o trabalhador, de forma realmente democrática.

* Sérgio Nobre é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
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