13/08/2010António Dias Lourenço, um camarada inesquecível.Zillah Branco *
Choro com os camaradas do PCP a morte de Antonio Dias Lourenço. Recordo os tempos felizes que vivemos no início da Revolução dos Cravos. Conservo o calor daquele encontro, daquele momento vivido, da aprendizagem que fizemos, da solidariedade e do amor que nos uniu para sempre cimentando a confiança na luta e na humanidade. . Antonio Dias Lourenço, um ser humano pleno, feito da mais dura realidade. Herói em Portugal, valoroso comunista no mundo. Nasceu em 25 de Março de 1915 em Vila Franca de Xira, de pais operários. Aos 14 anos iniciou sua carreira de torneiro mecânico e começou a procurar todas as formas de participação social, cultural e política. Aos 19 anos entrou para o PCP tornando-se logo funcionário clandestino para desempenhar as tarefas necessárias em qualquer lugar de Portugal, sempre andando de bicicleta. . Destacou-se como ativista nas grandes greves que abalaram Portugal nos anos 1942 e 1943. Estimulado pelo movimento neo-realista por dois grandes escritores portugueses – Soeiro Pereira Gomes e Alves Redol – promoveu encontros e debates sobre a literatura que retratava a vida do povo pobre e oprimido pelo fascismo de Salazar. . Cresceu na pobreza dela extraindo a maior riqueza. Foi operário metalúrgico, militante sindical, comunista perseguido, sempre estudando e aprendendo, sobretudo observando com amor os seres humanos. Destacou-se na luta pela coragem e pela tenacidade, moldou na prisão a figura heróica do fugitivo audaz e inteligente que escapa da masmorra no Forte Militar de Caxias, para o mar aberto e frio. Das ondas procura refúgio junto a trabalhadores como ele, anônimos. É acolhido pela solidariedade eterna dos que sofrem juntos. . Três anos depois foi novamente preso e torturado. Construiu no seu rosto um sorriso para não dar satisfação aos torturadores que nunca conseguiram arrancar-lhe qualquer informação. . Somando as várias prisões, ficou detido 17 anos. Da sua libertação em Maio de 1974 disse sentir “uma alegria incrível”, que nunca mais perdeu até aos 95 anos quando morreu. . Orador cativante formou milhares de seguidores. Exerceu todas as funções necessárias à luta do PCP fazendo-se dirigente do Partido, diretor do jornal “o Avante” (de 1974 a 1991, com a experiência adquirida como responsável pelo “o Avante”clandestino de 1957 a 1962), deputado na Assembléia da República de 1975 a 1987, escritor da história profunda de Portugal publicou “Alentejo – legenda e esperança”, “um trajeto marcado pela determinação e a energia de um povo ao longo do qual se foi corporizando e adquirindo contornos precisos uma velha legenda escrita a fogo e sangue no mais fundo da alma camponesa – a terra a quem a trabalha!”, como registrou com documentação que vai desde a Baixa Idade Média até a realização da Reforma Agrária alcançada em Abril de 1975. . Incansável, dirigia adormecido sem errar as estradas e sem causar acidentes. Caminhava sempre, adiando o descanso, sem nunca esquecer de ajudar quem encontrava. . Era um forte, uma rocha no cumprimento das tarefas, um comunista cabal. Nesta fortaleza habitava um coração terno que se comovia com a expressão de um rosto de criança, com o afeto sincero que lia no olhar de companheiros de caminhada. . Deixou saudade no nosso coração, de todos que de alguma maneira o amaram. .
Deixou o exemplo de um homem digno, de um comunista inteiro, de um amigo inesquecível, de um dos muitos heróis portugueses que o PCP gerou. Adeus Dias Lourenço,
* Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.
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Tudo certo…13/08/2010 5h42 Só um pequeno detalhe: a fuga de Dias Lourenço foi no forte de Peniche. Aí sim, é que há mar. Um abraço, em vésperas da maravilhosa «Festa do Avante!».
António LopesLisboa-Portugal - EX.
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