Digestivo nº 467 >>> Foi a Piauí que, fazendo piada, primeiro localizou o “último assinante” do JB. Mas, desde o dia 13 de julho, é oficial. Nelson Tanure – que já havia matado a Gazeta Mercantil em junho de 2009 – anunciou que o Jornal do Brasil “deixará de circular em papel” (em 2010). “Deixar de circular” se tornou um eufemismo para sinalizar que um jornal deixou de existir fisicamente. Morreu. Tanure também anunciou que o JB “continua na internet”, mas isso nem sempre diz muita coisa. Afinal, a Gazeta igualmente “sobreviveria” dentro do portal InvestNews – uma hipótese levantada na ocasião de sua morte –, mas até agora... (nada de ressuscitar). A Gazeta Esportiva aventurou-se com sucesso pela internet e a Tribuna da Imprensa é mantida, em formato de blog, por Hélio Fernandes. Enfim, o que é melhor: morrer dignamente, sem espasmos, ou arriscar-se entre um portal e um blogspot? O mais surpreendente, contudo, não foi nem a morte de mais um jornal (algo que já vinha sendo previsto desde a década passada) – mas, sim, as reações coligidas pelo Blog do Noblat. Na redação do mesmo JB, por exemplo, diz-se que “o clima foi de tristeza e nervosismo”. Enquanto o Sindicato dos Jornalistas quer “discutir o futuro dos empregados”. A redação e os sindicatos que nos perdoem, mas alguém que trabalha em jornal de papel, em pleno século XXI, ainda achar que deve ter “emprego garantido”, além de ser jornalista desinformado, deveria merecer demissão por justa causa. Já a Associação Nacional de Jornais apontou, como causa mortis do JB, “equívocos empresariais”. “Equívoco empresarial”, se houve, foi Nelson Tanure ter adquirido a Gazeta Mercantil, que encerrou suas atividades com 200 milhões em dívidas trabalhistas, e o Jornal do Brasil, que fecha suas portas com dívidas estimadas em 100 milhões de reais. Enquanto os “homens de visão” como esse continuarem adquirindo, lançando ou inventando coisas como “jornais do futuro”, outros “equívocos”, como esse, terão lugar. Afinal de contas, quando será que os jornalistas vão enxergar que o problema está, justamente, nos jornais
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Enviado por Ricardo Noblat -
13.7.2010
|9h15m
Deu em O Globo
JB: apenas versão na Internet
Tanure diz que ‘decisão de acabar com o papel está sendo tomada esta semana’
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O "Jornal do Brasil", um dos mais antigos do país — que teve a sua primeira edição impressa em 1891 —, vai deixar de circular.
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A data para o fim da versão em papel será decidida entre amanhã e quinta-feira, disse ontem o empresário Nelson Tanure, dono da marca.
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Com dívidas estimadas em R$ 100 milhões e vendo a circulação despencar, Tanure tentou encontrar um comprador para o jornal. Sem sucesso na sua empreitada, decidiu manter o jornal só na internet.
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— A decisão de acabar com o papel está sendo tomada esta semana. Teremos uma decisão na quarta-feira ou na quinta-feira. Provavelmente, seremos o primeiro jornal a estar apenas na internet. É algo que está acontecendo no mundo todo — disse Nelson Tanure.
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Ontem, Tanure confirmou a saída de Pedro Grossi, que ocupava a presidência do "JB" há apenas quatro meses: — Eu demiti o Pedro Grossi porque ele era a favor de continuar no papel — disse.
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Em carta a editores e diretores do "JB", e reproduzida no site "Janela Publicitária", Grossi diz que "Em almoço realizado hoje (ontem), na presença do Dr. Ronaldo Carvalho e da Dra. Angela Moreira, o Dr. Nelson Tanure informou que publicará na edição de amanhã (hoje) do Jornal do Brasil (JB) uma notificação assinada pela direção da empresa e dirigida aos leitores na qual explica a transposição do jornal escrito para o tecnológico.Considerando que isto contraria a razão pela qual fui contratado, solicito, sem perda de meus direitos, que o expediente do jornal e de todas as revistas não conste mais meu nome".
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Procurado pelo GLOBO, Grossi, no entanto, diz que só deixará o cargo de diretor-presidente do "JB" assim que a empresa anunciar o fim da publicação impressa.
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— Enquanto tiver jornal impresso, eu continuo presidente. Quando for comunicada a transposição do papel para a internet, eu estou fora. Não fui contratado para isso — afirmou Grossi.
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Segundo a sua assessoria de imprensa, o "Jornal do Brasil" conta com 180 funcionários, sendo 60 jornalistas, que trabalham na redação. O "JB" tem hoje tiragem de 17 mil exemplares nos dias de semana e de 22 mil aos domingos.
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Na redação do jornal, o clima é de tristeza e nervosismo. Ontem, dois funcionários passaram mal e voltaram para casa.
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Até agora só foram depositados R$ 800 na conta dos empregados referentes ao mês trabalhado em junho. Ainda não houve comunicado formal sobre o destino do jornal.
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O diário é editado na Casa Brasil e em seu prédio anexo, no Rio Comprido. Segundo funcionários, a Casa Brasil, onde ficavam os executivos da empresa, será devolvida.
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A presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio, Suzana Blass, disse que pedirá audiência com Tanure para discutir o futuro dos empregados: — Queremos garantir uma empregabilidade mínima e o pagamentos da rescisão.
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Diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, lamentou o fim da versão impressa do "JB", mas fez questão de frisar que este é um caso isolado e que aposta no crescimento da circulação dos jornais no país este ano:
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— É lamentável que o JB termine. Foi um processo de equívocos empresariais que resultaram em decadência editorial.
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Em 2009, a circulação diária de jornais pagos no país foi de 8,193 milhões, recuo de 3,46% em relação a 2008, quando a circulação crescera 5%. Os números incluem a tiragem do "JB", apesar de o jornal ter deixado a associação em 2004.
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A ANJ não fornece dados específicos sobre qualquer jornal.
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Segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC), no primeiro quadrimestre deste ano, o setor já registrou um crescimento de 1,5%. Desde setembro de 2008, o "JB" não era mais auditado pelo IVC.
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O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, também lamenta o processo de decadência do jornal.
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— É uma notícia triste e mostra o momento nocivo por que passa o mercado jornalístico — diz ele.
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Azêdo lembra que o "JB" era um paradigma para coberturas importantes e recorda edições memoráveis, como a de 13 de dezembro de 1968, data do Ato Institucional Número 5 (AI-5), que acabou com garantias constitucionais e deu ao presidente da República poder de fechar o Congresso.
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Naquele dia, o "JB" publicou a previsão do tempo na primeira página, dizendo que as condições climáticas eram adversas.
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Nelson Tanure arrendou o "JB" em 2001. Entre 2002 e 2003, o empresário teve os direitos de publicação da revista americana especializada em economia "Forbes" no Brasil. Em 2003, arrendou o diário econômico "Gazeta Mercantil".
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Em grave crise e com dívida trabalhista superior a R$ 200 milhões, Tanure rescindiu o contrato de licenciamento do uso da marca e devolveu o jornal a seu antigo dono Luiz Fernando Levy.
Em junho de 2009, a "Gazeta" deixou de circular.
.http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/07/13/jb-apenas-versao-na-internet-307709.asp
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