Adital - Quarta-Feira, 04 de agosto de 2010
20.11.08 - AMÉRICA LATINA |
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Justicia y Paz / Sicsal *
Adital -
Como Basura del Mundo 9 A cifra dos mortos na tentativa de cruzar a malha que separa o México dos Estados Unidos, de 1994 até 2008 superou 5 mil pessoas. A última década do século XX reforçou o fechamento da fronteira e mudou a rota migratória das cidades fronteiriças para o deserto do Arizona. Cada vez é mais férrea a vigilância que a polícia migratória estadunidense impõe para impedir a entrada de latinos em seu país. No entanto, a vigilância extrema, a cada dia, pressionados pelo desemprego, pela fome, pela violência faz com que se lancem na aventura de buscar uma vida melhor. Os dados oficiais informam que a presença de cerca de 40 milhões de imigrantes nos EUA, a grande maioria sem documentos.
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As histórias são terríveis. Dezenas de mulheres mães solteiras que deixaram seus filhos e tentam buscar trabalho nos Estados Unidos, são abusadas sexualmente na viagem e acabam destruídas emocionalmente. Até 3 mil homens, mulheres, crianças de diversos países da América Central, penduram-se no trem para chegar até a fronteira, com o risco de cair e morrer, como já aconteceu em várias ocasiões, devido ao cansaço. Há pais de família do México ou de qualquer país que, empurrados pela necessidade, partem sozinhos para correr os riscos do cruzamento da fronteira. Quando conseguem, vão trabalhar na construção civil, nas colheitas ou em empresas de carnes que não encontram mão de obra nacional que queira fazer esse serviço. Arrecadam dinheiro mensalmente para enviar a sua família, depois podem aventurar-se a recolher suas companheiras em uma viagem de volta por terra que pode durar até 45 dias caminhando, deixando seus filhos com os avós e após um ou dois anos, quando conseguiram alguma estabilidade voltam para pegar seus filhos.
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As histórias são terríveis. Dezenas de mulheres mães solteiras que deixaram seus filhos e tentam buscar trabalho nos Estados Unidos, são abusadas sexualmente na viagem e acabam destruídas emocionalmente. Até 3 mil homens, mulheres, crianças de diversos países da América Central, penduram-se no trem para chegar até a fronteira, com o risco de cair e morrer, como já aconteceu em várias ocasiões, devido ao cansaço. Há pais de família do México ou de qualquer país que, empurrados pela necessidade, partem sozinhos para correr os riscos do cruzamento da fronteira. Quando conseguem, vão trabalhar na construção civil, nas colheitas ou em empresas de carnes que não encontram mão de obra nacional que queira fazer esse serviço. Arrecadam dinheiro mensalmente para enviar a sua família, depois podem aventurar-se a recolher suas companheiras em uma viagem de volta por terra que pode durar até 45 dias caminhando, deixando seus filhos com os avós e após um ou dois anos, quando conseguiram alguma estabilidade voltam para pegar seus filhos.
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.Um exemplo, um desses pais, voltou de Austin Minnesota, longe da fronteira, até Chiapas para recolher a seus filhos de 5 e 9 anos; chegou a Reinosa, México, esperou 3 dias até que se juntasse um grupo de 25 pessoas para cruzar a fronteira. Pagou 1.200 dólares aos ‘coiotes’ por cada criança; caminharam até McAllen, nos EUA e dali empreenderam uma viagem de 45 dias até Houston, Texas. Entregou seus filhos a ‘coiotes’ desconhecidos, que seguiram viagem com outras crianças. Dos 25 adultos que viajavam por terra, 20 foram presos pela migração, e somente 5 conseguiram chegar ao encontro de seus filhos pequenos, em Houston.
Trabalhar é possível para o migrante, desde que consiga documentos legais; não importa que não sejam os seus. O tráfico de documentos é um grande negócio conhecido pelas grandes empresas que os empregam e por autoridades das cidades receptoras dos Estados Unidos. Compram no mercado clandestino os três documentos indispensáveis para ser admitidos: um número no sistema de seguridade social; a certidão de nascimento e o carnê de cidadania; todos podem custar ao redor de 2.000 dólares a cada migrante que pretende trabalhar. Depois vão às transnacionais, como as processadoras de carne de porco QPP y HORMEL, em Austin, Minnesota, que lhes paga um pouco mais de 12 dólares por hora, salário muito maior do que o recebido no México ou em qualquer cidade latino-americana, por desempenhar esse ou outro ofício similar.
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O problema é sustentar-se nos Estados Unidos. As fiscalizações nas casas são freqüentes. Caso possuam um carro, o utilizam para ir somente de casa para o trabalho; por não terem a carteira de habilitação não podem ir a outros lugares. Vários têm sido presos ao trocar um pneu à margem das estradas.
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Em todo caso, abrigam a longínqua esperança de que o novo presidente Barack Obama, mude alguma coisa a seu favor; apesar do silêncio sobre o tema dos migrantes, na campanha, foi eloqüente, em um país em crise econômica, que abre as portas ao dinheiro e aos trabalhadores que vendem barato sua mão de obra ao setor produtivo estadunidense nessa esquizofrenia do mercado.
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As que não cruzam
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Ciudad Juárez, México, que se tornou famosa devido à industria montadora, chegou a ter 400, como pelos crimes de que têm sido vítimas meninas, adolescentes e mulheres jovens. Muitas famílias são devolvidas a esta cidade após uma tentativa frustrada de entrar aos Estados Unidos, por um tempo permanecem para sobreviver e arriscar sua vida. Uma delas partilhou, no encontro do Sicsal México-Estados Unidos, que teve que se prostituir porque não havia trabalho nas montadoras, que estavam se transferindo para a China e "quando entramos no quarto, não sabemos se saímos vivas ou mortas, porque a brutalidade é grande", em uma cidade onde, em 2008, os meios de comunicação informam ao redor de mil assassinatos.
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Os crimes contra as mulheres, conhecidos como feminicídios, são brutais e ferem a consci~encia da humanidade, sua história é longa nessa cidade fronteiriça, como testemunha uma valente mulher da Fundação de Vítimas de Feminicídios de Ciudad Juarez: Tudo começou com o sequestro de "Lilia Alejandra, de 17 anos, no dia 14 de fevereiro de 2001. Começamos a difundir seu desaparecimento nos meios e foi encontrada 8 dias depois com marcas de violência, seu corpo foi jogado diante da montadora onde trabalhava. Depois dela, centenas foram seqüestradas e aparecem com marcas de violações múltiplas, torturas. Temos sérios indícios da cumplicidade da polícia que joga as crianças nos pastos; também dos grandes empresários implicados no narcotráfico. São os que mandam; Ciudad Juarez está atingida pelo narcotráfico e quem não se submete pode perder a vida; os assassinatos de mulheres já são famosos na cidade, temos 20 prêmios internacionais por opor-nos, por denunciar e buscar justiça. Se não conseguimos que seja feita justiça, que pelo menos os habitantes de Ciudad Juarez conheçam a verdade".
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As hipóteses sobre a causa desses crimes são diversas, como declara "Casa Tabor": "tráfico de pessoas ou de órgãos, sacrifícios satânicos de gangues ou de grupos de narcos, negócios de filmes sádicos ou cometidos por um dos sexual preditors conhecidos; porém, apenas "controlados", em El Paso.
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Graças à coragem e à tenacidade das mães e acompanhantes, em novembro de 2007, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos admitiu os casos dos anos de 2002 e se espera uma futura resolução contra o Estado mexicano por sua responsabilidade diante desses crimes que não param. Em 2008 foram seqüestradas, ultrajadas e assassinadas 84 mulheres.
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Vingança estrutural
Bush aprovou a construção de um muro para a fronteira, cada milha (1.6 quilômetros) desse muro custará 7 milhões de dólares e aprovou a contratação de uma empresa particular para administrar as prisões para onde são enviados os migrantes, produzindo mudanças significativas no tratamento dos sem documentos capturados, como analisou a Ir. Katerin, do Texas, religiosa da Misericórdia que trabalha acompanhando as prisioneiras nos centros de detenção para migrantes. Há 5 anos, nessas prisões havia 6 mil camas; hoje, há 30 mil, com uma projeção para 60 mil camas nos próximos três anos.
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A mudança radica no fato de que as autoridades migratórias processavam os migrantes e os deportavam. Agora, os mantêm mais tempo presos porque as corporações contratistas que estão construindo os centros e os administram recebem 90 ou 95 dólares diários por cada migrante recluído. Esses mercenários da migração recebem pessoas detidas, somente porque cruzaram a fronteira sem documentos; agora estão criminalizando a passagem da fronteira, estão dando tratamento de terroristas aos sem documentos. Após o dia 11 de setembro, o governo dos Estados Unidos construiu a entidade "Home Land Segurity" (segurança nacional), da qual depende a estrutura migratória e carcerária. "As mulheres me dizem: não sei porque estão me tratando como criminosa; me sinto como uma barata, que podem fazer qualquer coisa comigo", testemunho de Katerin. Anualmente, chega a 450 pessoas, os migrantes mortos ao cruzar a fronteira através do Estado do Texaas.
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Resistentes acompanhadas
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Boa parte da verdade que as vítimas gritam as vítimas dos crimes de mulheres e da injustiça social estrutural que se expressa nas migrações, está apoiada pelo acompanhamento de um punhado significativo de mulheres e homens do México e dos Estados Unidos, que resistem á política migratória de seu país que gera exclusão e morte.
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Em Ciudad Juarez, México, Emilia, Peter e Betty, há 13 anos formaram a comunidade Casa Tabor. Em sua casa, em um bairro popular da cidade fronteiriça acolhem e recolhem. É um lugar de passagem de peregrinas/os, a maioria estadunidenses que querem conhecer a realidade de morte das/os migrantes assassinados, desaparecidos ou mortos por inanição. As paredes de seu oratório estão cheias com os nomes dos/as que morreram na tentativa de franquear o abismo fronteiriço. Depois, somente a alguns centímetros se conectam com a onda das mulheres e homens que entregaram suas vidas em resistência ou nos acompanhamentos: Monsenhor Romero, Gerardi, Gerardo Valencia, Jesuítas de El Salvador, Rutilio Grande, 141 assassinados de Curvaradó e Jiguamiandó, 85 de Cacarica, 200 de Dabeida, na Colômbia, tantos e tantas que em toda América Latina têm sido testemunhas de esperança e de dores, vítimas da injustiça em sua busca pela Justiça. A Memória e as articulações, podemos situar atrevidamente, marcam a missão desses velhos herdeiros da t eologia da libertação, do mais autêntico dos sonhos libertários que fizeram missão na Guatemala, El Salvador e Nicarágua. Ali ficam, em outro destino, o das migrações.
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Em Austin, Minnesota, duas irmãs Franciscanas de Lourdes, Ruth, entre elas, resistem à injusta legalidade das cidadanias para alargar o tempo de estadia dos "molhados" que sobreviveram ao cruzamento do Rio Bravo ou Grande e de centenas que se aventuraram pelo deserto até chagar ao que consideram sua redenção. Dão aulas de inglês, servem de tradutoras nos hospitais, avisam quando a migração vai fazer suas rondas de fiscalização, ajudam a tramitar permissões para os trabalhadores das fábricas para evitar que seja demitidos caso faltem um dia, buscam vagas nas escolas de crianças, são centro de circulação de abrigo para redistribui-lo entre os migrantes. Com elas, o apoio das Franciscanas de Lourdes, de sua presidenta, Tierney Truman, aberta, visionária, solidária que facilita as condições e abre espaços para que possam continuar com seu trabalho, enquanto ela mesma apóia defensoras de direitos humanos que fogem da morte e a prisioneiros de todo tipo, em uma das prisões de Rochester, Minnesota.
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Em Antony, Novo México, Katerin acompanha desde os centros de detenção do regime, os latinos que cometeram o delito de desafiar a exclusão, pretendendo incluir-se forçosamente em um país que os repele como às baratas. Ela mostra com sua solidariedade que a dignidade e a humanidade não é dada para quem fala inglês, tem olhos claros ou nasceu nos Estados Unidos e tem a pele branca.
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Desde Washington, Scott Wrigth, de Épica e o Sicsal estendem pontes à solidariedade que não perdeu a força apesar dos bombardeios que presenciou em plena guerra em El Salvador. O punhado de mulheres e homens do povo dos Estados Unidos que, impulsionados por sua fé, puseram sua vida a serviço da solidariedade na tentativa de libertação desse povo, o mesmo que, 15 anos depois, arrisca sua vida na denúncia da injustiça presente no êxodo dos migrantes e no anúncio de processos de transformação das estruturas sociais que conduzam a minimizar os processos de exclusão.
Elas e eles, junto a outros, tornaram possível encontros como a Missa do dia 1o de novembro, que partilhou altar no território mexicano (Ciudad Juárez) e território dos Estados Unidos (El Paso, Texas) para pedir que o muro que Deus não fez nessa parte do planeta, fosse derrubada e que impossibilitou que o abraço da paz, ao qual os bispos celebrantes convidaram, pudesse ser dado entre os dois povos presentes. Nesse dia, em meio a cantos, orações, bênçãos e homilias bilíngües, 25 mexicanos saltaram a estrutura metálica para os Estados Unidos, 5 deles foram presos nesse momento pela "migra", e se desconhece a sorte dos demais.
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Novembro de 2008
Trabalhar é possível para o migrante, desde que consiga documentos legais; não importa que não sejam os seus. O tráfico de documentos é um grande negócio conhecido pelas grandes empresas que os empregam e por autoridades das cidades receptoras dos Estados Unidos. Compram no mercado clandestino os três documentos indispensáveis para ser admitidos: um número no sistema de seguridade social; a certidão de nascimento e o carnê de cidadania; todos podem custar ao redor de 2.000 dólares a cada migrante que pretende trabalhar. Depois vão às transnacionais, como as processadoras de carne de porco QPP y HORMEL, em Austin, Minnesota, que lhes paga um pouco mais de 12 dólares por hora, salário muito maior do que o recebido no México ou em qualquer cidade latino-americana, por desempenhar esse ou outro ofício similar.
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O problema é sustentar-se nos Estados Unidos. As fiscalizações nas casas são freqüentes. Caso possuam um carro, o utilizam para ir somente de casa para o trabalho; por não terem a carteira de habilitação não podem ir a outros lugares. Vários têm sido presos ao trocar um pneu à margem das estradas.
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Em todo caso, abrigam a longínqua esperança de que o novo presidente Barack Obama, mude alguma coisa a seu favor; apesar do silêncio sobre o tema dos migrantes, na campanha, foi eloqüente, em um país em crise econômica, que abre as portas ao dinheiro e aos trabalhadores que vendem barato sua mão de obra ao setor produtivo estadunidense nessa esquizofrenia do mercado.
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As que não cruzam
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Ciudad Juárez, México, que se tornou famosa devido à industria montadora, chegou a ter 400, como pelos crimes de que têm sido vítimas meninas, adolescentes e mulheres jovens. Muitas famílias são devolvidas a esta cidade após uma tentativa frustrada de entrar aos Estados Unidos, por um tempo permanecem para sobreviver e arriscar sua vida. Uma delas partilhou, no encontro do Sicsal México-Estados Unidos, que teve que se prostituir porque não havia trabalho nas montadoras, que estavam se transferindo para a China e "quando entramos no quarto, não sabemos se saímos vivas ou mortas, porque a brutalidade é grande", em uma cidade onde, em 2008, os meios de comunicação informam ao redor de mil assassinatos.
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Os crimes contra as mulheres, conhecidos como feminicídios, são brutais e ferem a consci~encia da humanidade, sua história é longa nessa cidade fronteiriça, como testemunha uma valente mulher da Fundação de Vítimas de Feminicídios de Ciudad Juarez: Tudo começou com o sequestro de "Lilia Alejandra, de 17 anos, no dia 14 de fevereiro de 2001. Começamos a difundir seu desaparecimento nos meios e foi encontrada 8 dias depois com marcas de violência, seu corpo foi jogado diante da montadora onde trabalhava. Depois dela, centenas foram seqüestradas e aparecem com marcas de violações múltiplas, torturas. Temos sérios indícios da cumplicidade da polícia que joga as crianças nos pastos; também dos grandes empresários implicados no narcotráfico. São os que mandam; Ciudad Juarez está atingida pelo narcotráfico e quem não se submete pode perder a vida; os assassinatos de mulheres já são famosos na cidade, temos 20 prêmios internacionais por opor-nos, por denunciar e buscar justiça. Se não conseguimos que seja feita justiça, que pelo menos os habitantes de Ciudad Juarez conheçam a verdade".
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As hipóteses sobre a causa desses crimes são diversas, como declara "Casa Tabor": "tráfico de pessoas ou de órgãos, sacrifícios satânicos de gangues ou de grupos de narcos, negócios de filmes sádicos ou cometidos por um dos sexual preditors conhecidos; porém, apenas "controlados", em El Paso.
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Graças à coragem e à tenacidade das mães e acompanhantes, em novembro de 2007, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos admitiu os casos dos anos de 2002 e se espera uma futura resolução contra o Estado mexicano por sua responsabilidade diante desses crimes que não param. Em 2008 foram seqüestradas, ultrajadas e assassinadas 84 mulheres.
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Vingança estrutural
Bush aprovou a construção de um muro para a fronteira, cada milha (1.6 quilômetros) desse muro custará 7 milhões de dólares e aprovou a contratação de uma empresa particular para administrar as prisões para onde são enviados os migrantes, produzindo mudanças significativas no tratamento dos sem documentos capturados, como analisou a Ir. Katerin, do Texas, religiosa da Misericórdia que trabalha acompanhando as prisioneiras nos centros de detenção para migrantes. Há 5 anos, nessas prisões havia 6 mil camas; hoje, há 30 mil, com uma projeção para 60 mil camas nos próximos três anos.
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A mudança radica no fato de que as autoridades migratórias processavam os migrantes e os deportavam. Agora, os mantêm mais tempo presos porque as corporações contratistas que estão construindo os centros e os administram recebem 90 ou 95 dólares diários por cada migrante recluído. Esses mercenários da migração recebem pessoas detidas, somente porque cruzaram a fronteira sem documentos; agora estão criminalizando a passagem da fronteira, estão dando tratamento de terroristas aos sem documentos. Após o dia 11 de setembro, o governo dos Estados Unidos construiu a entidade "Home Land Segurity" (segurança nacional), da qual depende a estrutura migratória e carcerária. "As mulheres me dizem: não sei porque estão me tratando como criminosa; me sinto como uma barata, que podem fazer qualquer coisa comigo", testemunho de Katerin. Anualmente, chega a 450 pessoas, os migrantes mortos ao cruzar a fronteira através do Estado do Texaas.
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Resistentes acompanhadas
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Boa parte da verdade que as vítimas gritam as vítimas dos crimes de mulheres e da injustiça social estrutural que se expressa nas migrações, está apoiada pelo acompanhamento de um punhado significativo de mulheres e homens do México e dos Estados Unidos, que resistem á política migratória de seu país que gera exclusão e morte.
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Em Ciudad Juarez, México, Emilia, Peter e Betty, há 13 anos formaram a comunidade Casa Tabor. Em sua casa, em um bairro popular da cidade fronteiriça acolhem e recolhem. É um lugar de passagem de peregrinas/os, a maioria estadunidenses que querem conhecer a realidade de morte das/os migrantes assassinados, desaparecidos ou mortos por inanição. As paredes de seu oratório estão cheias com os nomes dos/as que morreram na tentativa de franquear o abismo fronteiriço. Depois, somente a alguns centímetros se conectam com a onda das mulheres e homens que entregaram suas vidas em resistência ou nos acompanhamentos: Monsenhor Romero, Gerardi, Gerardo Valencia, Jesuítas de El Salvador, Rutilio Grande, 141 assassinados de Curvaradó e Jiguamiandó, 85 de Cacarica, 200 de Dabeida, na Colômbia, tantos e tantas que em toda América Latina têm sido testemunhas de esperança e de dores, vítimas da injustiça em sua busca pela Justiça. A Memória e as articulações, podemos situar atrevidamente, marcam a missão desses velhos herdeiros da t eologia da libertação, do mais autêntico dos sonhos libertários que fizeram missão na Guatemala, El Salvador e Nicarágua. Ali ficam, em outro destino, o das migrações.
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Em Austin, Minnesota, duas irmãs Franciscanas de Lourdes, Ruth, entre elas, resistem à injusta legalidade das cidadanias para alargar o tempo de estadia dos "molhados" que sobreviveram ao cruzamento do Rio Bravo ou Grande e de centenas que se aventuraram pelo deserto até chagar ao que consideram sua redenção. Dão aulas de inglês, servem de tradutoras nos hospitais, avisam quando a migração vai fazer suas rondas de fiscalização, ajudam a tramitar permissões para os trabalhadores das fábricas para evitar que seja demitidos caso faltem um dia, buscam vagas nas escolas de crianças, são centro de circulação de abrigo para redistribui-lo entre os migrantes. Com elas, o apoio das Franciscanas de Lourdes, de sua presidenta, Tierney Truman, aberta, visionária, solidária que facilita as condições e abre espaços para que possam continuar com seu trabalho, enquanto ela mesma apóia defensoras de direitos humanos que fogem da morte e a prisioneiros de todo tipo, em uma das prisões de Rochester, Minnesota.
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Em Antony, Novo México, Katerin acompanha desde os centros de detenção do regime, os latinos que cometeram o delito de desafiar a exclusão, pretendendo incluir-se forçosamente em um país que os repele como às baratas. Ela mostra com sua solidariedade que a dignidade e a humanidade não é dada para quem fala inglês, tem olhos claros ou nasceu nos Estados Unidos e tem a pele branca.
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Desde Washington, Scott Wrigth, de Épica e o Sicsal estendem pontes à solidariedade que não perdeu a força apesar dos bombardeios que presenciou em plena guerra em El Salvador. O punhado de mulheres e homens do povo dos Estados Unidos que, impulsionados por sua fé, puseram sua vida a serviço da solidariedade na tentativa de libertação desse povo, o mesmo que, 15 anos depois, arrisca sua vida na denúncia da injustiça presente no êxodo dos migrantes e no anúncio de processos de transformação das estruturas sociais que conduzam a minimizar os processos de exclusão.
Elas e eles, junto a outros, tornaram possível encontros como a Missa do dia 1o de novembro, que partilhou altar no território mexicano (Ciudad Juárez) e território dos Estados Unidos (El Paso, Texas) para pedir que o muro que Deus não fez nessa parte do planeta, fosse derrubada e que impossibilitou que o abraço da paz, ao qual os bispos celebrantes convidaram, pudesse ser dado entre os dois povos presentes. Nesse dia, em meio a cantos, orações, bênçãos e homilias bilíngües, 25 mexicanos saltaram a estrutura metálica para os Estados Unidos, 5 deles foram presos nesse momento pela "migra", e se desconhece a sorte dos demais.
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Novembro de 2008
* Justicia y Paz - Colombia - Secretaría Ejecutiva del Servicio Internacional Cristiano
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