Discurso de Lula da Silva (excerto)

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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Botas alentejanas - Feitas à medida na era da internet





As botas alentejanas protegiam os pés e parte da perna dos rigores da vida no campo. Hoje, as botas, são mais um adorno do que um sapato de trabalho. Perderam peso e ganharam um desenho mais moderno. Mário Grilo começou a fazer botas alentejanas por medida aos 12 anos e nunca mais deixou. É com prazer que fala da sua actividade tradicional, onde gosta de inovar. De Cuba, no Alentejo, chegou ao mundo através da persistência.

Sara Pelicano | sábado, 9 de Janeiro de 2010
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Na vila de Cuba, Alentejo, há 25 anos atrás, enquanto os jovens de 12 anos lançavam o peão, brincavam ao berlinde, Mário Grilo passava as férias de Verão a trabalhar com um sapateiro. Deu, assim, os primeiros passos na arte de fazer sapatos. Rápido, os sapatos tornaram-se a actividade diária de Mário Grilo. Passados 25 anos, o sapateiro tem um negócio de sucesso produzindo botas alentejanas por medida, entre outros sapatos. É com orgulho que fala do seu ofício e, vincando este gosto, brinca comentado que «continua de férias». Isto porque continua a entregar-se à sua profissão com o entusiasmo de um jovem de 12 anos numas férias de Verão.
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A oficina deste sapateiro de 37 anos localiza-se numa típica casa alentejana: rés-do-chão, fachada pintada de branco com friso azul a contornar porta e janelas. O silêncio da rua é quebrado quando se abre a porta da casa. Mário trabalha ao som da música que o rádio emite como é comum em casa de sapateiro. Amontoa-se o couro, sobretudo de vaca, linhas de coser sapatos, canos de botas já talhados à espera de um pé para fazer a base e, por fim, numa prateleira uma pequena mostra do que são as botas alentejanas deste jovem sapateiro.
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«Tudo o que faço já está vendido», conta Mário Grilo revelando que «já teve de abandonar algumas feiras porque depois não consegue responder a todas as encomendas». ‘Não tem ninguém que o ajude?’
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«Já tive alguns colaboradores. Mas tirar medidas de pés, alguns com problemas, e moldar os materiais não são tarefas fáceis. E, depois, há as dores nas costas, que ninguém gosta. Ora, hoje em dia poucas pessoas estão predispostas para este trabalho», diz. Após uma pequena pausa no discurso, remata: «O ofício está dentro da pessoa».
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A vila alentejana onde nasceu e tem vivido grande parte do tempo é o local «onde faz sentido fazer as botas alentejanas», confessa o artesão. Contudo os largos quilómetros que o separam dos grandes centros urbanos não o impediram de levar a sua arte a todo o país e também além fronteiras. Mário afirma orgulhoso: «Sozinho, consegui chegar a 31 países». Todos os meses ruma ao Norte para comprar material de fabrico. É lá que se encontram as fábricas e «como não há sapateiros, não há vendedores que se desloquem às terras».
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Quebrar distâncias parece, assim, ser uma outra arte deste jovem artesão. O recurso à Internet tem sido uma outra forma de ‘sair’ de Cuba. «Tenho as minhas botas espalhadas em muitos sítios da Internet. Uma rápida pesquisa e encontra-se logo o meu nome», comenta enquanto retoma o trabalho. A pele que molda é semelhante à de uma zebra. Mário sabe que é estranha e antes mesmo da pergunta diz: «Gosto de inovar».
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Este ano quero pegar no tradicional e dar-lhe nova confecção, brincar com as cores. Afinal tudo o que seja calçado eu faço porque gosto» e continua: «As actividades tradicionais pecam por não querer inovar por não saber brincar e, às vezes, basta mudar a cor da pele».
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Um par de botas alentejanas hoje em dia-a-dia é mais um adorno do que um sapato de trabalho. Procuradas por diversos estratos sociais, Mário Grilo vai respondendo às exigências dos seus clientes em encomendas muitas vezes feitas por telefone.
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«Faço vários pares ao mesmo tempo. Um par levaria dois dias sempre mais do que oito horas de trabalho. Eu entendi que devia começar o maior número de pares e ir acabando, assim é possível ter sempre um par de botas. Dou assistência durante toda a vida das botas». Antigamente este calçado chegava a pesar três quilos, hoje um número 40 pesa perto de dois quilogramas.
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Mário Grilo confessa que nunca teve apoios ou incentivos à sua actividade. E revela que quando começou o ofício existia mais aptidão dos municípios para mostrar as artes tradicionais do concelho de Cuba e lamenta que esse interesse se tenha desvanecido. «Nessa altura [há 20 anos atrás] gostavam de ter em feiras uma representação daquilo que era o nicho do artesanato do concelho. Os anos passaram e essa apetência desapareceu um pouco. O que é pena porque se o município divulgar um pouco essas actividades gera emprego e trabalho e, assim, este saber fica um pouco no meu segredo».
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Mário considera que as artes tradicionais vão sobreviver quando houver uma mudança de mentalidade na sociedade e se coloque o gosto por um ofício à frente dos lucros. Este trabalho «para ser rentável é preciso meter o coração à frente do dinheiro e esquecer todas as horas de trabalho».
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Nunca tive apoios de ninguém e não há grandes incentivos. A nível local já tivemos uma pessoa na câmara. Há 20 anos, um pessoa que tinha aptidão por estas coisas. Nessa altura gostavam de ter em feiras uma representação daquilo que era o nicho do artesanato do concelho. Os anos passaram e essa apetência desapareceu um pouco. Se o município divulgar um pouco essas actividades gera emprego e trabalho e assim fica um pouco no meu segredo. Para ser rentável é preciso meter o coração à frente do dinheiro e esquecer todas as horas de trabalho.
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2 comentários:

Mário Grilo disse...

Sem dúvida um especatdor atento das minhas Botas Alentejanas , quando me deparo com momentos como este , dá vontade de continuar esta tradião que já levo á 26 anos .
Sinceros cumprimentos , Mário Grilo
http://alentejanaspormedida.blogspot.com,

Unknown disse...

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