Discurso de Lula da Silva (excerto)

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Medicinas Alternativas - Associação Cépticos de Portugal


Medicina Alternativa 
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A Origem da Medicina Moderna
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Durante muitos séculos as doenças foram encaradas como algo sobrenatural. A Bíblia refere a lepra como castigo divino, os epilépticos eram considerados possuidos por demónios e mesmo hoje em dia muitas culturas consideram que a feitiçaria ou espiritos maléficos são a principal causa das doenças.
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Salvo algumas excepções, os tratamentos não eram desenvolvidos com base em conhecimentos práticos adquiridos por observação. Em vez disso eram derivados das crenças de cada cultura e de explicações mágicas. Uma cura podia ser uma reza ao espírito responsável, um encantamento para proteger o doente da feitiçaria ou uma poção feita duma parte sugestiva de um animal -- e tudo isto para a mesma doença.
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Mesmo na idade média o sistema era semelhante. Não se recorria tanto a espíritos para explicar a doença, mas sangrava-se a torto e a direito, com cortes ou sanguessugas, para retirar os "humores" prejudiciais. Tudo isto porque séculos antes Hipócrates lembrou-se de escrever que todas as doenças são causadas por desiquilibrios entre os quatro fluídos que acreditava formar o corpo humano (sangue, fleuma, bilis amarela e bilis negra).
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O factor comum era a forma de pensar: alguém antigamente tinha inventado uma explicação e agora todos seguimos o mestre e nunca vamos ver se a explicação está certa ou não.
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Só por volta do século 17 é que se começou a generalizar a idéia de testar hipóteses com experiências e observações. Ou seja, inventar uma explicação era apenas o primeiro passo; a seguir era preciso ver se era de facto correcta. Esta inovação metodológica marca o início da ciência moderna.
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Inicialmente apenas a física beneficiou deste novo método, mas em breve outras àreas da ciência poderam também aplicá-lo. Na medicina Edward Jenner criou a primeira vacina em 1796, demonstrando a sua eficácia contra a varíola. No século XIX Robert Koch, Louis Pasteur e Joseph Lister lançaram as bases da microbiologia e retiraram bastante do sobrenatural na medicina.
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Com os avanços na genética, no design de fármacos e em tecnologia de diagnóstico e terapias (e.g. Raios X, Radioterapia, Ressonância Magnética) a medicina moderna assenta agora numa sólida base experimental. Daí o seu enorme sucesso, quando comparada aos métodos antigos.
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As Alternativas
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Os termos "medicina complementar" ou "medicina alternativa" são muito usados pelos defensores destas práticas para as distinguir do que chamam "medicina convencional". A distinção é importante, mas chamar a todas "medicina" é enganador.
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A diferença é que as alternativas não respeitam as exigências da medicina moderna, considerando desnecessário comprovar a eficácia de cada tratamento em testes devidamente controlados. Na verdade, a "medicina" alternativa está aínda na idade média (ou antes), e os seus "tratamentos" são propostos não com base no que de facto funciona mas apenas em teorias nunca testadas.
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Como exemplo, consideremos a Homeopatia. Os príncipios básicos que a regem são:
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1. A Lei dos Semelhantes, que diz que qualquer mal é curado por algo semelhante. Com base nisto os medicamentos têm o propósito de agravar os sintomas de qualquer doença.
2. O Princípio da Dose Mínima, segundo o qual uma diluição extrema amplia os efeitos benéficos dum medicamento e reduz os efeitos secundários. Ou seja, quanto menos se tomar melhor é.
3. Prescrição Holística, em que qualquer medicamento para tratar qualquer problema deve considerar a pessoa como um todo.
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A partir daqui os homeopatas concebem todos os seus remédios. Munidos de tão maravilhosa teoría, já não precisam de gastar tempo e dinheiro em ensaios clínicos, em testes de eficácia ou coisas do género. Na verdade, nem sequer acham necessário testar a própria teoría; o mestre disse, está dito e assim é.
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Não só faltam dados que apoiem a teoría como há informação que a contradiz. A Lei dos Semelhantes não pode ser uma lei geral; niguém vai curar uma perna partida tomando algo que aumente a dor ou partindo a outra perna. As diluições usadas fazem com que a dose que o paciente tome muitas vezes nem contenha um único àtomo ou molécula do princípio activo.
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É sempre arriscado fiar-se só na teoria e não confirmar se as coisas funcionam na prática. O caso destas alternativas é aínda pior: em muitas delas até já se sabe que não funcionam.
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Se não funcionam, porque são tão populares?
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Muitos pensarão que, se tanta gente recorre a medicinas alternativas e se sente melhor, então é porque alguma coisa funciona. Infelizmente, não é bem assim...
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Em primeiro lugar qualquer doença grave é quase sempre tratada num hospital. Um acupunctor ou iridologista, ao contrário dum cirurgião, nunca terá um paciente a morrer-lhe nas mãos. E normalmente uma pessoa que recorre a estes serviços continua o seu tratamento médico convencional. Assim o tratamento alternativo pode ficar com os louros no caso da cura, e esquivar-se das responsabilidades se a doença persiste.
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Doenças menos sérias normalmente curam-se sozinhas -- mal de nós se o nosso organismo fosse incapaz de nos livrar duma gripe. Se uma gripe passa em três dias, então é garantido que após um tratamento homeopático de três dias vai estar curado. A cura não deve nada ao tratamento, mas o paciente vai pensar que sim. Mais uma victória para as alternativas...
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Finalmente, o consumo de serviços médicos também é uma questão de mercado. Um hospital do estado tem que tratar todos os doentes, e por vezes a lista de espera pode ser grande. Um praticante duma qualquer alternativa, livre da responsabilidade de tratar o doente, pode dedicar-se a recebê-lo bem, a agradar e, no fundo, a vender melhor o seu serviço. É inegável que o atendimento num consultório de terapia por florais de Bach será muito mais agradável que num hospital público.
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Compreende-se assim a popularidade destas alternativas -- apesar de em geral não terem qualquer utilidade prática, são um produto muito mais apetecível para quem se pode dar ao luxo de gastar mais dinheiro e arriscar a saúde.
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E se já há mil anos atrás os imperadores chineses usavam a acupunctura, porque não usa-la hoje? Talvez porque a esperança média de vida deles era de 45 anos e nós sempre gostaríamos de viver mais alguns...

Ludwig Krippahl 2002

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