Discurso de Lula da Silva (excerto)

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terça-feira, 5 de maio de 2009

Índios x “Cultura”



por Eron Bezerra*

Conheci um seringalista que negava a existência de índios na sua região argumentando que eles usavam relógio, calça jeans e falavam português melhor do que ele. A sua noção de índios estava claramente associada à falta de conhecimentos e de “cultura”, pelo menos no que ele entendia como cultura. Desconhecia ele que uma etnia não existe ou deixa de existir pelo grau de desenvolvimento econômico ou de conhecimento científico que eventual possui, mas sim pelo fato objetivo de ser um grupo social com peculiaridades próprias.


Lamentavelmente a opinião desse seringalista (os conquistadores da Amazônia) não é um fato isolado. Aqui e ali encontro pessoas, de diferentes camadas sociais, que ainda hoje verbalizam opiniões semelhantes.


Afora essas aberrações o Brasil seguiu em frente. No momento, portanto, em que a jovem nação brasileira inicia o 6º século de sua existência é oportuno que se passe em revista a sua peculiar trajetória, especialmente no que diz respeito à sua formação cultural e a sua composição antropológica básica: índios, africanos e europeus.


Juntamos num único território três culturas completamente distintas e a resultante foi um país dinâmico, de um povo trabalhador, criativo e inventivo como poucos no mundo. Até hoje, cinco séculos depois, os traços fundamentais de nossa cultura ancestral continua presente. Embora a maioria de nossos ancestrais indígenas tenha sido eliminada (e com eles a sua língua), ainda se fala mais de 200 línguas na Amazônia e seus hábitos e costumes se incorporaram à nossa vida.


Talvez alguns achem estranho se falar de cultura e associar tal palavra aos índios, na medida em que para esses os índios são bárbaros incultos. Mas a cultura indígena, assim como a africana e européia continuam presentes em todas as nossas manifestações. Da música à culinária, passando por hábitos comezinhos como tomar banho diariamente ou fazer a sesta após o almoço a cultura de nossos ancestrais está presente.


A mistura desses grupos formou um povo mestiço, geneticamente melhor adaptado ao meio ambiente, conhecido como povo brasileiro. A nação brasileira, portanto, deve muito a cada uma dessas matrizes antropológicas que lhe deu vida. O mínimo que pode fazer é tratá-las com respeito e assegurar meios adequados para que tenham uma existência plena.


A eventual miscigenação entre esses grupos, o que é desejável do ponto de vista genético e cultural, é uma opção não uma imposição. A integração, portanto, só ocorrerá se forem respeitadas as tradições, a cultura, o legitimo direito às terras e o seu modo de vida.


Ainda falta muito, mas não podemos deixar de registrar os avanços, dentre eles o que acaba de ser anunciado pelo governo do Amazonas em criar, provavelmente, a primeira secretaria de Assuntos Indígenas do país.




*Eron Bezerra, Engenheiro Agrônomo, Professor da UFAM, Deputado Estadual Licenciado, Secretário de Agricultura do Estado do Amazonas, Membro do CC do PCdoB.



* Opiniões aqui expressas não refletem, necessariamente, a opinião do site.



in Vermelho .- 4 DE ABRIL DE 2009 - 17h42
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