por Eron Bezerra*
Lamentavelmente a opinião desse seringalista (os conquistadores da Amazônia) não é um fato isolado. Aqui e ali encontro pessoas, de diferentes camadas sociais, que ainda hoje verbalizam opiniões semelhantes.
Afora essas aberrações o Brasil seguiu em frente. No momento, portanto, em que a jovem nação brasileira inicia o 6º século de sua existência é oportuno que se passe em revista a sua peculiar trajetória, especialmente no que diz respeito à sua formação cultural e a sua composição antropológica básica: índios, africanos e europeus.
Juntamos num único território três culturas completamente distintas e a resultante foi um país dinâmico, de um povo trabalhador, criativo e inventivo como poucos no mundo. Até hoje, cinco séculos depois, os traços fundamentais de nossa cultura ancestral continua presente. Embora a maioria de nossos ancestrais indígenas tenha sido eliminada (e com eles a sua língua), ainda se fala mais de 200 línguas na Amazônia e seus hábitos e costumes se incorporaram à nossa vida.
Talvez alguns achem estranho se falar de cultura e associar tal palavra aos índios, na medida em que para esses os índios são bárbaros incultos. Mas a cultura indígena, assim como a africana e européia continuam presentes em todas as nossas manifestações. Da música à culinária, passando por hábitos comezinhos como tomar banho diariamente ou fazer a sesta após o almoço a cultura de nossos ancestrais está presente.
A mistura desses grupos formou um povo mestiço, geneticamente melhor adaptado ao meio ambiente, conhecido como povo brasileiro. A nação brasileira, portanto, deve muito a cada uma dessas matrizes antropológicas que lhe deu vida. O mínimo que pode fazer é tratá-las com respeito e assegurar meios adequados para que tenham uma existência plena.
A eventual miscigenação entre esses grupos, o que é desejável do ponto de vista genético e cultural, é uma opção não uma imposição. A integração, portanto, só ocorrerá se forem respeitadas as tradições, a cultura, o legitimo direito às terras e o seu modo de vida.
Ainda falta muito, mas não podemos deixar de registrar os avanços, dentre eles o que acaba de ser anunciado pelo governo do Amazonas em criar, provavelmente, a primeira secretaria de Assuntos Indígenas do país.
*Eron Bezerra, Engenheiro Agrônomo, Professor da UFAM, Deputado Estadual Licenciado, Secretário de Agricultura do Estado do Amazonas, Membro do CC do PCdoB.
* Opiniões aqui expressas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
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