Discurso de Lula da Silva (excerto)

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domingo, 31 de maio de 2009

Corpo achado em Berlim pode ser de Rosa Luxemburgo

30 DE MAIO DE 2009 - 10h08


Um cadáver guardado por décadas no porão do hospital universitário Charité, uma das mais importantes instituições científicas da Alemanha, pode ser o da famosa revolucionária germano-polonesa Rosa Luxemburgo, segundo a revista Der Spiegel. A fundadora do Partido Comunista Alemão, em dezembro de 1918, foi assassinada e jogada num canal um mês depois, 15 de janeiro de 1919, pelos ultradireitistas dos Freikorps.


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''Há semelhanças espantosas com Rosa Luxemburgo'', disse diretor do departamento de medicina legal do hospital, Michael Tsokos, após exames minuciosos feitos no corpo.

O torso de mulher, sem cabeça, mãos e pés, foi submetido a diversos exames, incluindo tomografia computadorizada. ''A mulher sofria de artrose e tinha pernas de comprimentos diferentes, exatamente como Rosa Luxemburgo'', acrescentou Tsokos.

De acordo com resultado de análises laboratoriais para determinar a idade, a morta tinha entre 40 e 50 anos. Rosa tinha 47 anos quando foi assassinada, junto com Karl Liebknecht, também fundador do Partido Comunista.

''Socialismo ou barbárie''

Rosa Luxemburgo nasceu em 1871, numa família judaica da Polônia, na época pertencente ao Império Russo. Iniciou a militância aos 13 anos, numa escola feminina em Varsóvia. Em 1897 mudou-se para a Alemanha, onde se desenvolvia o mais importante movimento operário da época.

Rosa foi uma mulher de ação revolucionária – pagando por isto com anos de cárcere – e também uma teórica marxista. Seu texto Reforma ou revolução?, escrito aos 28 anos de idade, é tido como uma obra clássica. Na Carta a Junius, escrita da prisão, durante a 1ª Guerra Mundial, ela formulou o célebre dilema ''socialismo ou barbárie''.

Quando o movimento operário alemão e europeu se cindiu, em 1914, com sua ala direita participando da guerra mundial interimperialista, Rosa colocou-se decididamente do lado dos revolucionários. Foi uma das principais líderes da Liga Spártacus, que em seguida daria lugar ao Partido Comunista da Alemanha.

O apelo de Bertolt Brecht

A militante marxista foi assassinada com um tiro na cabeça em janeiro de 1919, após ser sequestrada e espancada a coronhadas por membros da organização paramilitar de ultradireita Freikorps, que mais tarde apoiaria os nazistas. Depois, o corpo foi jogado em um canal fluvial de Berlim.

Os comunistas alemães sempre acusaram o governo social-democrata da época de mandante do crime. Em 1999, uma investigação do governo alemão concluiu que os Freikorps de fato haviam recebido ordens e dinheiro dos governantes social-democratas para matar Rosa Luxemburgo.

Um corpo encontrado no canal no dia 31 de maio de 1919 foi enterrado como sendo o de Rosa Luxemburgo, em meio a forte comoção do movimento operário alemão e mundial. O epitáfio da sepultura foi escrito pelo poeta e dramaturgo comunista Bertolt Brecht:
Epitáfio de Rosa Luxemburgo
Aqui jaz
Rosa Luxemburgo,
judia da Polônia,
vanguarda dos operários alemães,
morta por ordem dos opressores.
Oprimidos,
enterrai vossas desavenças!

Esquerda exige investigação

Os assassinos jogaram o cadáver da revolucionária num curso d'água em Berlim, o Landwehrkanal. Para Tsokos, a falta de pés, mãos e cabeça seria resultado dos arames de aço que foram amarrados com pesos nos pulsos, tornozelos e no pescoço de Rosa para que o corpo não retornasse à superfície. Ele acredita ser possível que os fios metálicos e a correnteza da água tenham provocado a separação dos membros.

Deputados do partido de esquerda Die Linke (A Esquerda), reivindicaram nesta sexta-feira a intervenção do governo federal alemão para que o mistério seja esclarecido rapidamente. A revolucionária é padroeira da agremiação, formada em 2007 pela fusão do Partido Comunista com a ala esquerda da social-democracia.

Corpo enterrado seria de outra mulher

O médico legista diz crer, com base na análise do relatório da autópsia realizada na época, que o corpo enterrado como sendo o da revolucionária pertencia a uma outra mulher, provavelmente alguém que se suicidou no mesmo canal.

As anotações, os legistas da época não apontam uma diferença no tamanho das pernas do cadáver, nem outras características físicas peculiares a Rosa Luxemburgo.

Ela apresentava uma deformação na coluna, que fazia com que andasse mancando. A cabeça da autopsiada também não apresentava marcas de tiro. O túmulo de Rosa se encontra vazio, depois de ter sido saqueado pelos nazistas em 1935.

''Sob a pressão dos militares, que tinham pressa em resolver o caso, os médicos emitiram o atestado usando uma outra morta afogada'', avalia Tsokos.

Ele reconhece, no entanto, que só poderá ter a prova definitiva por meio de exames de DNA. ''Só assim poderemos ter uma identificação inequívoca'', afirma.

Tsokos espera poder comparar o material genético com mostras retiradas de uma sobrinha de Luxemburgo, que viveria em Varsóvia, para comprovar a identidade do corpo.

Da redação, com agências
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in Vermelho -
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Ética, presunção de inocência e privacidade



por Venicio A. de Lima*
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O novo Código de Ética dos Jornalistas – aprovado no Congresso Nacional Extraordinário dos Jornalistas, realizado em Vitória, de 3 a 5 de agosto –, a recente transformação dos acusados do "mensalão" em réus pelo Supremo Tribunal Federal, e a divulgação de ações privadas de alguns dos juízes recolocaram na ordem do dia a cobertura que a grande mídia fez – e continua a fazer – da crise política iniciada a partir das evidências de corrupção nos Correios, reveladas pela revista
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Veja
e pelo Jornal Nacional em maio de 2005.

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As alterações no Código de Ética ratificaram a presunção de inocência como um dos fundamentos da profissão. O novo código reforça o preceito constitucional de que qualquer pessoa é inocente até prova em contrário, com o objetivo de "coibir a ação de meios de comunicação que, em sua cobertura jornalística, denunciam, julgam e submetem pessoas à execração pública. Isto é crime, mas muitas vezes sequer o direito de resposta é concedido aos denunciados" [ver "Jornalistas brasileiros atualizam Código de Ética"].

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Por outro lado, a recepção pelo STF de boa parte das denúncias feitas pelo procurador-geral da República é celebrada quase unanimemente como uma espécie de aval tardio à cobertura que tem sido realizada, eximindo jornalistas e empresas de mídia de qualquer responsabilidade por julgamentos e condenações antecipadas, excessos ou omissões. É como se a prática do jornalismo pairasse acima de certas garantias constitucionais.

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E mais: a divulgação de atos privados de juízes – sejam eles correspondência eletrônica ou conversa telefônica – tem sido justificada como dever e obrigação do jornalista.

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"Lerdeza corporativista"

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Por que não se aplicaria ao jornalista o princípio da presunção de inocência, que tem sua origem na Revolução Francesa e está consagrado na Constituição de 1988? O texto constitucional diz, no seu art. 5º, inciso LVII: "Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória".

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Não seria a obediência a este princípio dever elementar de qualquer cidadão e, sobretudo, dos jornalistas, independente das informações que obtiver e de sua convicção pessoal?

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A possibilidade de que, em data futura, a presunção de culpa venha, eventualmente, a se confirmar correta prevalece sobre o direito dos acusados de serem tratados como inocentes até que a Justiça prove o contrário?

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Quando se estaria colocando em risco a garantia da privacidade individual em nome da liberdade de imprensa?

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Não há dúvida de que boa parte da nossa grande mídia opera como se alguns dos princípios que valem para os cidadãos comuns não se aplicassem a ela.

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Um bom exemplo é o texto "Opinião" publicado pelo jornal O Globo, ainda em 12 de agosto de 2006, durante a campanha eleitoral. O minieditorial com o título "Coerência" ironizava a posição do Partido dos Trabalhadores em relação aos parlamentares de vários partidos suspeitos de participar na venda fraudulenta de ambulâncias.

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"Não se pode acusar o PT de incoerência: se protege mensaleiros, também acolhe sanguessugas. Sempre com o argumento maroto de que é preciso esperar o julgamento final".

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Segundo o texto, o argumento do PT era "maroto" – isto é, malandro, velhaco – porque "o julgamento político e ético não se confunde com o veredicto da Justiça" e, na verdade, a esperança do PT era que "mensaleiros e sanguessugas sejam salvos pela lerdeza corporativista do Congresso e por chicanas jurídicas".

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Há limites?

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Se essa é a postura editorial do Globo, que implicações ela teria na cobertura política que oferece desses fatos aos seus leitores? Qual é exatamente a diferença entre os julgamentos políticos e éticos e o veredicto da Justiça? Quais seriam os fóruns apropriados para que os julgamentos políticos e éticos sejam feitos? E quem os faz? Quais os mecanismos de defesa disponíveis para aqueles que sofrem antecipadamente o julgamento político e ético na mídia?

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É preciso que fique claro que a observação crítica democrática que se faz da cobertura da mídia sobre determinados fatos não pode ser necessariamente confundida com a negação de sua existência ou com uma posição prévia sobre eles.

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Por outro lado, no clima de polarização irracional de posições que o debate sobre o papel da grande mídia acaba sendo realizado (a quem interessa essa polarização?) é preciso que não se confunda a liberdade de imprensa e a responsabilidade do jornalismo em oferecer a cobertura dos fatos com uma carta branca para se colocar acima dos direitos e garantias individuais.

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Existe algum limite para a atuação dos jornalistas e do jornalismo? No campo da observação da mídia, essa é a discussão que se coloca e precisa ser democraticamente enfrentada.

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Nota

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Artigo originalmente publicado no Observatório da Imprensa:
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=449IMQ002

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in Vermelho - 7 DE SETEMBRO DE 2007 - 18h56

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Há 20 anos ... morte de Salvador Dali

Cultura | 23.01.2009

Há 20 anos, o mundo perdia Salvador Dalí

Ícone do surrealismo, o artista catalão é uma das maiores autoridades da arte contemporânea. Para marcar duas décadas de sua morte, o museu que leva seu nome faz exposição especial.

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"Sou o surrealismo", dizia Salvador Dalí. Egocêntrico, excêntrico, rebelde e provocador, o artista foi um dos expoentes mundiais da arte contemporânea. Na manhã do dia 23 de janeiro de 1989, morria o homem que, acima de qualquer coisa, tentou – e conseguiu com grande êxito – nunca passar despercebido. Dalí tinha 84 anos e já fazia parte da história universal quando faleceu, há 20 anos, no hospital de sua cidade natal, Figueras, na Espanha.

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Para marcar o aniversário de sua morte, o Museu Dalí de Figueras expõe até o dia 18 de março uma das obras mais emblemáticas do artista catalão: A persistência da memória, pintada em 1931, quando Dalí tinha 27 anos. Popularmente conhecido como Os relógios moles, o quadro em que esses objetos parecem derreter-se foi cedido pelo Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA).

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'A persistência da memória', uma das mais emblemáticas obras de DalíBildunterschrift: 'A persistência da memória', uma das mais emblemáticas obras de Dalí"Por que os relógios são moles?", perguntaram certa vez a Dalí, em referência à obra, considerada um ícone do surrealismo. "O importante não é que sejam duros ou moles, e sim que marquem a hora exata", respondeu.

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Legado

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Para a história, ficou a vida de um homem que alguns consideram um gênio, e outros, um artista extravagante. No entanto, duas décadas depois, seu legado e sua lembrança se mantêm graças a entidades como a Fundação Gala-Salvador Dalí e sua Casa-Museu, em Port Ligat, o Teatro-Museu de Figueras, onde está enterrado, e a Casa-Museu Castelo Gala-Dalí, em Púbol, onde o artista se recolheu depois da morte de sua musa e companheira, em 1982.

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Atualmente, novos títulos presentes nas livrarias lembram o autor. Entre eles ¿Por qué se ataca a la Gioconda? (Por que ataca-se a Monalisa?), uma compilação de textos que Dalí escreveu entre 1927 e 1978 e que publicou na revista francesa Oui. A mesma editora, Siruela, pôs também no mercado outras duas outras obras em sua homenagem: El camino de Dalí (O caminho de Dalí), de Ignacio Gomez de Liaño, e El fenômeno del éxtasis (O fenômeno do êxtase), de Juan José Lahuerta.

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Menino mimado

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Nascido em 11 de maio de 1904 em Figueras, Dalí nunca foi uma criança comum. "Quando tinha 6 anos, eu queria ser cozinheiro e aos 7 anos, Napoleão. Desde então, minha ambição foi aumentando sem parar", escreveu no prólogo de Vida secreta. A morte de um irmão que nunca conheceu e que tinha o seu nome fez com que os pais o educassem como um menino mimado, consentindo todos os seus caprichos e o superprotegendo.

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A obra 'Metamorfose de Narciso'


Bildunterschrift: A obra 'Metamorfose de Narciso'

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Descobriu a pintura quase por casualidade, na casa de amigos da família. Sem técnica alguma, começou a pintar quadros com óleo e aquarela, surpreendendo os que viam seu trabalho.

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Seu caráter rebelde fez com que fosse expulso de todos os centros de ensino nos quais se matriculou, entre eles a Academia Real de Belas Artes de São Fernando, em Madri. O ingresso na instituição havia sido uma condição imposta pelo pai para que Dalí pudesse ser pintor.

García Lorca e Buñuel

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Teatro Museu em Figueras

Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Teatro Museu em Figueras

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A estadia na capital espanhola marcou sua vida. Foi onde experimentou o cubismo e o dadaísmo e conheceu o poeta Federico García Lorca e o diretor de cinema Luis Buñuel, dos quais se tornou amigo íntimo na residência de estudantes. Com Buñuel, realizou os filmes surrealistas Un chien andalou (Um cão andaluz) e L'Âge d'or (A idade de ouro).

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Dalí não se dedicou somente à pintura. Sua obra abrange também o cinema, a escultura, o desenho e a escrita. Sua primeira exposição individual de pintura aconteceu em 1925, em Barcelona. Com ela, Dalí conseguiu chamar a atenção de dois grandes artistas, Pablo Picasso e Joan Miró. Um ano depois, encontrou Picasso em Paris. "A arte somos Picasso e eu", chegou a afirmar.

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A imagem estrambótica de Dalí com bigode comprido e costeletas, vestido com casaco, meias e bombacha, é mundialmente conhecida. "Sabia vender melhor a si mesmo do que a sua obra. Foi um ícone da cultura de massa", segundo Javier Pérez Andújar, um de seus biógrafos. "Era um grande pintor, mas não um gênio" e acabou convertendo-se num "showman obcecado", opina o hispanista irlandês Ian Gibson.

Dalí e sua musa, Gala

Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Dalí e sua musa, Gala .

Depois de sua passagem por Paris, onde se integrou no círculo surrealista e se casou com Gala, a musa e companheira com a qual esteve até sua morte – apesar da infidelidade e das manias de ambos – Dalí foi aos Estados Unidos, forçado a deixar a França, em 1940, com o avanço das tropas alemãs. Regressou à Espanha oito anos depois.

Polêmico

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Anticomunista radical, apesar de ter circulado pela esquerda em sua juventude, era acusado por alguns de direitista. Contudo, há especialistas que afirmam que Dalí teria sido um oportunista, que utilizou o direitismo para fazer com que o ditador espanhol Francisco Franco lhe deixasse trabalhar em paz.

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Outra sombra que ronda a sua figura é a atração desmedida que tinha pelo dinheiro. De fato, seus últimos anos estiveram mais marcados pela comercialização de sua obra do que pela inovação.

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Os trabalhos de Dalí se converteram num negócio mundial, assim como suas falsificações. Dalí se importava tanto com essas cópias ilegítimas que até mesmo favoreceu suas produções, assinando folhas em branco. Na imitação de sua obra, via uma prova de sua grandeza.

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dpa (jba)

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Mais artigos sobre o tema

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Há 90 anos..morriam Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht


Há 90 anos...
Cravos vermelhos encobrem a lápide de Rosa Luxemburgo em Berlim

Alemanha | 11.01.2009

Berlim lembra 90 anos da morte de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht

Anualmente, milhares de pessoas peregrinam para o cemitério Friedrichsfelde, em Berlim, onde estão enterrados os revolucionários socialistas Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, brutalmente assassinados há 90 anos.

Todos os anos, no segundo domingo de janeiro, milhares de pessoas visitam o Memorial dos Socialistas, no cemitério berlinense de Friedrichsfelde. Ali estão enterrados os políticos social-democratas Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, cofundadores do Partido Comunista da Alemanha (KPD).

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Neste domingo (11/01), milhares de pessoas voltaram a jogar cravos vermelhos nos túmulos dos dois socialistas, assassinados há 90 anos. À frente do cortejo estava o presidente do partido A Esquerda, Lother Bisky, como também o chefe da bancada parlamentar do partido, Gregor Gysi.

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Egon Krenz, chefe de Estado da extinta Alemanha Oriental (RDA), também estava presente. Na época da RDA, a tradicional peregrinação era um evento. A liderança do partido A Esquerda, no entanto, afirmou que a lembrança anual da morte dos dois socialistas nada teria a ver com "nostalgia da RDA"

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Análises do capitalismo "incrivelmente atuais"

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Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo foram um casal

Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo foram um casal

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Em 15 de janeiro de 1919, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht foram mortos brutalmente. Os assassinos foram soldados voluntários de tendência de direita, engajados pelo então governo social-democrata, que lhes dera carta branca. Após o fim da Primeira Guerra Mundial, o medo de que uma guerra civil pudesse levar a Alemanha a se tornar uma república socialista nos moldes da Rússia comunista levou ao assassinato de Luxemburgo e Liebknecht, cujos enterros foram acompanhados por protestos em massa.

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"Os mortos nos exortam", está escrito na coluna em pedra de quatro metros de altura, ponto central do Memorial dos Socialistas. Um mar de coroas e cravos vermelhos encobre o espaço circular onde estão as placas em memória dos socialistas mortos, entre eles Liebknecht e Luxemburgo.

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Bisky e outros conhecidos políticos de esquerda reúnem-se anualmente diante dos revolucionários mortos. Apesar de realizadas há mais de 90 anos, as análises do capitalismo feitas por Luxemburgo e Liebknecht seriam "incrivelmente atuais", afirmou Bisky em alusão à crise financeira e suas consequências.

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"Liberdade é sempre também a liberdade de quem discorda de nós"

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'Os mortos nos exortam' está escrito no ponto central do Memorial

Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: 'Os mortos nos exortam' está escrito no ponto central do Memorial

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Na época da RDA, a participação na cerimônia era um exercício obrigatório. Após a queda do Muro de Berlim, em 1989, o evento continuou a acontecer, mas voluntariamente. Todos os anos, por diferentes motivos, milhares de pessoas atendem ao chamado do partido A Esquerda e de outros partidos. "Rosa Luxemburgo foi uma mulher excepcional, que não deve ser esquecida. Acho bom o fato de muitas pessoas irem à rua para lembrar-se dela", afirmou uma participante.

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O presidente do partido A Esquerda se lembra, especialmente, da cerimônia realizada em 1988, quando ativistas de direitos civis da antiga RDA protestaram no evento em memória de Luxemburgo e Liebknecht. Na ocasião, o lema foi: "Liberdade é sempre também a liberdade de quem discorda de nós", uma famosa frase de Rosa Luxemburgo.

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Flores aos revolucionários que não venceram

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Duas décadas após a reunificação alemã, multidões ainda se reúnem em torno do Memorial dos Socialistas. "Acho que essa é a forma respeitável com a qual as pessoas de esquerda dizem: 'Nós lembramos nossos ícones, personalidades do movimento trabalhista. Mesmo que não nos exijam, mesmo que não sejamos obrigados. Honrar Karl e Rosa é uma necessidade'", afirmou Bisky.

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Pouco antes de ser assassinada, após a repressão da Revolução de Novembro de 1918, Luxemburgo escreveu que o regime dos seus opositores estava "construído sobre areia" e que a revolução iria reerguer-se, rapidamente – um erro, como demonstrou a história.

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No entanto, também no século 21, as idéias de Luxemburgo e Liebknecht são compartilhadas por muitas pessoas, como provam os milhares de peregrinos que, ano após ano, jogam cravos vermelhos nos jazigos dos revolucionários que não venceram sua causa.

DW/Agências (mf/ca)

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Aquecimento global já afecta 325 milhões de pessoas por ano


Clima: Koffi Annan diz que este é «o maior desafio humanitário do nosso tempo»
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Clicar na imagem para ler
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in Público 2009.05.30
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sábado, 30 de maio de 2009

Tim Maia & Gal Costa - Um Dia De Domingo (Eu Preciso Te Falar ) 1985


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Tim Maia & Gal Costa - Um Dia De Domingo
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Eu preciso te falar
Te encontrar de qualquer jeito
Pra sentar e conversar
Depois andar de encontro ao vento
Eu preciso respirar
O mesmo ar que te rodeia
E na pele quero ter o mesmo sol que te bronzeia
Eu preciso te tocar e outra vez te ver sorrindo
E voltar num sonho lindo
Já não dá mais pra viver
Um sentimento sem sentido
Eu preciso descobrir a emoção de estar contigo
Ver o sol amanhecer e ver a vida acontecer
Como um dia de domingo
Faz de conta que ainda é cedo
Tudo vai ficar por conta da emoção
Faz de conta que ainda é cedo
E deixar falar a voz do coração

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BIOGRAFIA
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Tim Maia, nascido Sebastião Rodrigues Maia (Rio de Janeiro, 28 de setembro de 1942 — Niterói, 15 de março de 1998) foi um cantor e músico brasileiro. Alcançou o sucesso a partir da década de 1970 e tornou-se um dos mais influentes cantores brasileiros. Morreu vítima de uma infecção generalizada, após a tentativa de um show em condições de saúde debilitada.

Gal Costa, nome artístico de Maria da Graça Costa Penna Burgos, (Salvador, 26 de setembro de 1945) é uma cantora brasileira.

Gal Costa é filha de Mariah Costa Pena, falecida em 1993 que foi sua grande incentivadora, e Arnaldo Burgos. Sua mãe contava que durante a gravidez passava horas concentrada ouvindo música clássica, como num ritual, com a intenção de que esse procedimento influísse na gestação e fizesse que a criança que estava por nascer fosse, de alguma forma, uma pessoa musical. Gal jamais conheceu o seu pai, que faleceu quando ela tinha por volta de 15 anos. Por volta de 1955 se torna amiga das irmãs Sandra e Dedé (Andréia) Gadelha, futuras esposas dos compositores Gilberto Gil e Caetano Veloso, respectivamente. Em 1959 ouve pela primeira vez o cantor João Gilberto cantando Chega de saudade (Tom Jobim/Vinícius de Morais) no rádio; João também exerceu uma influência muito grande na carreira da cantora, que também trabalhou como balconista da principal loja de discos de Salvador da época, a Roni Discos. Em 1963 é apresentada a Caetano Veloso por Dedé Gadelha, inciciando-se a partir uma grande amizade e profunda admiração mútua que perdura até hoje.
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Em 1985 grava o disco "Bem Bom", com os sucessos "Sorte" (Celso Fonseca - Ronaldo Bastos), cantada em dupla com Caetano Veloso, e "Um dia de domingo" (Michael Sullivan - Paulo Massadas), em dupla com Tim Maia.
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Enviado por Zeca Martins (hi5)
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Existe jornalismo independente?



por Venicio A. de Lima*
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A Reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) promove na quarta-feira (27/5), um seminário sobre ''Jornalismo Independente'' no contexto do debate em torno da liberdade de imprensa, do direito à informação e da democracia no Brasil. (1)


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A velha questão está mais atual do que nunca: a Lei de Imprensa do período autoritário foi revogada, estamos em ano pré-eleitoral e a mídia tradicional passa por profundas transformações provocadas pela revolução digital. O tema merece, portanto, reflexão renovada. Esboçamos algumas linhas mestras para ela, nos limites deste pequeno artigo.

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Primeiro, para que a reflexão não caia no idealismo abstrato recorrente, é necessário registrar que o jornalismo é uma atividade exercida por profissionais, em empresas de mídia, sejam elas de jornalismo impresso – jornais ou revistas – ou de jornalismo eletrônico – o serviço público de rádio e televisão – podendo estas pertencer aos sistemas privado, público ou estatal (não vamos discutir aqui o ''jornalismo'' das assessorias de imprensa e nem o jornalismo da internet). Outro ponto de partida é que, na expressão ''jornalismo independente'', o adjetivo ''independente'' significa ''livre de qualquer sujeição, autônomo''.

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Considerando que existe entre nós uma hegemonia histórica do sistema privado de mídia, tanto impresso como eletrônico, poderíamos, então, formular a seguinte questão: o jornalismo praticado nas empresas privadas brasileiras de mídia é independente, autônomo? A pergunta remete imediatamente a outra: independente, autônomo, em relação a que, ou, mais precisamente, a qual poder?

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O Estado como ameaça única
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Talvez por um vício de origem do embate sobre a liberdade de impressão – que não é idêntica à liberdade individual de expressão e nem à liberdade de imprensa – ainda nos tempos do absolutismo político e religioso europeu, geralmente se equaciona independência e autonomia do jornalismo em relação ao poder do Estado.

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No caso brasileiro, é verdade que o nosso jornalismo, desde os poucos anos em que existiu durante o Brasil Colônia, ao longo do Império e desde a proclamação da República, sempre manteve uma relação de interdependência com o Estado. Esta interdependência se materializa através de subsídios, empréstimos bancários e financiamentos oficiais; de isenções fiscais, publicidade legal obrigatória ou publicidade oficial e, mais recentemente, até mesmo pela compra volumosa – e sem licitação – de material didático.

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Por óbvio, essa interdependência histórica, muitas vezes fez com o jornalismo se submetesse aos interesses do Estado, sobretudo nas relações da mídia regional e local com os governos estaduais e municipais.

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Por outro lado, é verdade também que, em diferentes momentos, floresceu um jornalismo de combate ao Estado autoritário e defesa das liberdades democráticas como, por exemplo, aquele da chamada ''imprensa alternativa'' dos anos 1970 e 80; ou da campanha pelas ''Diretas Já'' em 1984-85 ou da campanha pelo impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992.

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Outros poderes

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Mas constituiria o Estado, de fato, a única ameaça à independência e autonomia do jornalismo? No debate público que a mídia propõe de questões como liberdade de imprensa ou qualquer forma de regulação do setor de comunicações, afirma-se que sim. O Estado é sempre identificado como único poder que ameaça – por sua própria natureza – as liberdades individuais e, por extensão, a liberdade do exercício do jornalismo.

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No mundo contemporâneo, todavia, há fartas evidências de que as ameaças à independência e autonomia do jornalismo podem vir tanto do Estado como do poder econômico, como dos próprios conglomerados empresariais dos quais alguns grupos de mídia fazem parte. Essas ameaças podem vir, inclusive, da autocensura praticada pelos próprios jornalistas profissionais que internalizam regras empresariais de atuação – não necessariamente escritas – formuladas no interesse dos proprietários dos grupos de mídia.

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No caso brasileiro, há se acrescentar ainda a ameaça a independência e à autonomia do jornalismo que decorre da imbricação histórica existente entre as oligarquias políticas regionais e locais com as concessões de radiodifusão, agravada por dispositivos da Constituição de 1988 que fazem de alguns parlamentares, ao mesmo tempo, poder concedente e concessionários desses serviços públicos.
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Subcultura e rotinas produtivas

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Há ainda que se registrar que os estudos sobre linguagem, a sociologia do jornalismo e sobre a construção da notícia (newsmaking), o enquadramento (framing) e o agendamento (agenda setting), apesar de diferenças significativas, revelam que a prática do jornalismo profissional ocorre no contexto de uma subcultura própria; de rotinas produtivas que se transformam em normas; e de interferências editoriais – explícitas ou não – que tornam sem sentido qualquer pretensão à existência do mito da objetividade jornalística ou de uma prática jornalística neutra e isenta.
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Como se vê, a questão do jornalismo independente é complexa e comporta um amplo leque de considerações que, embora apenas indicadas neste texto, apontam para a impossibilidade da existência de uma prática jornalística inteiramente livre de constrangimentos – vale dizer, um jornalismo que pairasse acima das disputas de poder que existem no seio da sociedade. Pode-se, no entanto, afirmar com segurança que as limitações à independência e autonomia do jornalismo não se originam apenas no Estado, mas estão presentes, inclusive, no interior dos grupos de mídia e no próprio exercício da profissão de jornalista.

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Nota
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(1) Seminário "Jornalismo Independente"
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Artigo publicado originalmente no Observatório da Imprensa
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*Venicio A. de Lima, Pesquisador sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília. Autor/organizador, entre outros, de ''A mídia nas eleições de 2006'' Editora Fundação Perseu Abramo - 2007
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* Opiniões aqui expressas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
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in Vermelho - 29 DE MAIO DE 2009 - 19h04
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Editora de Berlusconi recusa livro de Saramago



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A editora italiana Einaudi, propriedade do primeiro-ministro italiano, recusou-se a publicar a tradução italiana de O Caderno, de José Saramago, por conter duras críticas a Silvio Berlusconi, classificando-o de "delinquente, corrupto, um líder mafioso". A Einaudi teve até hoje o exclusivo da publicação dos livros de Saramago em Itália, mas desta vez o seu livro ficará a cargo de outra editora.


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A notícia é avançada pelo diário italiano Corriere della Sera. O livro mais recente de Saramago - O Caderno - que reúne vários textos publicados no seu blogue, não vai ser publicado pela editora que já tinha feito sair 20 títulos do prêmio nobel na Itália. A razão é simples: a Eunadi é propriedade de Silvio Berlusconi e pediu a Saramago para eliminar algumas passagens do livro, algo que o escritor português recusou. A obra deverá agora ser publicada pela Bolatti Boringhieri, uma editora importante, mas pouco conhecida.
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A Eunadi não publica o livro principalmente pelo artigo intitulado "Berlusconi e Companhia", em que Saramago escreve: "Realmente, na terra da mafia e da camorra, que importância poderá ter o fato provado de o primeiro-ministro ser um delinquente?" E prossegue: "Numa terra em que a justiça nunca gozou de boa reputação, que mais dá que o primeiro-ministro faça aprovar leis à medida dos seus interesse, protegendo-se contra qualquer tentativa de punição dos seus desmandos e abusos de autoridade?"
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Um dos últimos textos de Saramago sobre Berlusconi chama-se "Suborno", referindo-se ao caso em que o primeiro-ministro italiano teria subornado o advogado britânico David Mills para "se limpar", tendo este advogado sido condenado a quatro anos e meio de prisão, sem que nada acontecesse a Berlusconi. Saramago termina desta forma o artigo: "Que uma vez digam e que se ouça em todo o mundo: "Demasiado abusaste de nós, Berlusc, a porta está ali, desaparece". E se essa porta for a da prisão, então poderemos dizer que justiça terá sido feita. Finalmente."
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Reagindo à decisão da Einaudi, citado pela revista L'Espresso" José Saramago mostrou-se conformado. "Simplesmente acontece que a editora é propriedade de Silvio Berlusconi, compreendo, entendo muito bem que a editora não queira editar livros que atacam o proprietário, atacam ou criticam". E acrescenta: "Isto não é nada dramático, é assim, até tenho a informação de que a Einaudi sofreu por se ter atrevido a publicar livros contra Silvio Berlusconi". No entanto, é na própria obra que Saramago trata com ironia a editora. "Uma vez que estou publicado na Itália pela Einaudi, que é propriedade de Berlusconi, fi-lo ganhar algum dinheiro", afirma o escritor.


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in Vermelho - 29 DE MAIO DE 2009 - 19h52
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sexta-feira, 29 de maio de 2009

Estatueta encontrada na Alemanha é indício de primeiro povo civilizado

Alemanha | 14.05.2009

Estatueta de figura feminina feita de marfim de mamute encontrada por arqueólogos da Universidade de Tübingen na região alemã da Suábia pode ser prova de que nessa região viveu o primeiro povo civilizado.

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Em uma caverna da região da Suábia, no sul da Alemanha, foi encontrada a mais antiga representação de figura humana até hoje conhecida, a "Vênus de Hohler Fels". Esculpida em marfim de mamute, a estátua feminina de apenas 6 centímetros, com seios volumosos e vulva acentuada, tem no mínimo 35 mil anos, calculam os pesquisadores.

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A estatueta foi encontrada por um grupo de arqueólogos dirigido pelo pré-historiador Nicholas Conard, que apresentou o achado ao público nesta quarta-feira (13/05). Em setembro último, Conard e sua equipe encontraram na caverna de Hohler Fels (rochedo oco, em alemão) seis pequenos pedaços, que juntos formam a "Vênus de Hohler Fels".

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Figura em excelente estado

Estátua tem pelo menos 35 mil anos, diz arqueólogo

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Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Estátua tem pelo menos 35 mil anos, diz arqueólogo

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Já há 12 anos, Conard vem encontrando pequenas peças de marfim na caverna de Hohler Fels. O reitor da Universidade de Tübingen, Bernd Engler, denominou os pequenos animais de marfim encontrados pelo historiador na região de "o pequeno zoológico de Conard". Juntamente à Vênus recém-encontrada, tais peças nos possibilitam saber mais sobre os nossos antepassados que viveram há 30 ou 40 mil anos atrás. Assim como outros cientistas em todo o mundo, Conard afirmou que ficou "boquiaberto" diante da "Vênus de Hohler Fels".

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Segundo o arqueólogo, com exceção do braço esquerdo, a figura está completa e em excelente estado. Na parte superior, um pequeno aro substitui o local da cabeça. Isso é uma indicação que "a peça foi usada como um pingente", afirmou Conard. A estatueta foi encontrada nas camadas mais profundas de terreno do período aurignaciano (início do paleolítico superior, que costuma ser associado ao homem moderno na Europa), acresceu o cientista.

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Por esse motivo, o pesquisador de Tübingen acredita que a estatueta foi esculpida por antepassados do homem moderno que vieram para a Europa há 40 mil anos. Quanto a seu significado, afirmou Conard, há apenas especulações. Considerados os atributos sexuais exagerados, a estátua pode ter sido usada como símbolo de fertilidade.

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Cientista contesta "suabiocentrismo"

Venus de Willendorf, encontrada na Áustria em 1908

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Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Venus de Willendorf, encontrada na Áustria em 1908

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Esse também é o caso da Vênus de Willendorf, outra famosa estátua pré-histórica com mais de 20 mil anos de idade, encontrada na Áustria, em 1908. Assim como a estatueta encontrada na região alemã de Schwäbische Alb, na Suábia, a estátua austríaca apresenta formas volumosas e também é considerada símbolo de fertilidade. Outra teoria defendida por historiadores é a de que as mulheres da época sofriam de uma doença chamada esteatopigia, uma hipertrofia das nádegas causada pelo acúmulo de gordura.

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Para alguns pesquisadores, a estatueta encontrada em Schwäbische Alb é uma indicação de que naquela região viveu o primeiro povo civilizado da terra. Essa tese já havia sido defendida há muito tempo por renomados arqueólogos, cuja posição é agora reforçada através da "Vênus de Hohler Fels".

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No entanto, é o próprio Conard quem ironiza o "suabiocentrismo" implícito na explicação de seus colegas. O arqueólogo explicou que o fato de o mais antigo instrumento musical de que se tem notícia também ter sido encontrado próximo à caverna de Hohler Fels tornaria muito simplista a ideia de que o suábio primitivo teria inventado a música. E seu vizinho de caverna, as artes plásticas.

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A "Vênus de Hohler Fels" estará exposta ao público em Stuttgart, entre 18 de setembro próximo e 10 de janeiro de 2010, no contexto da mostra Idade do gelo: arte e cultura.

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CA/dpa/ap

Revisão: Soraia Vilela

Mais artigos sobre o tema

Especial: Os Europeus

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O historiador Matthias von Hellfeld registra os momentos que levaram, desde a Antiguidade greco-romana até a Europa unida, ao que ele define como "o difícil caminho para a liberdade e a democracia".

A série possui 25 capítulos, lançados todas as quartas-feiras e domingos.

Com textos de Frei Betto, Cuba apresenta site dedicado a Che



clicar na imagem para aumentar

Cuba apresentou nesta quinta-feira (29) um site dedicado ao 80º aniversário do revolucionário argentino-cubano Ernesto Che Guevara. A página incluirá fotos, textos e arquivos de áudio do guerrilheiro, além de testemunhos e mensagens de intelectuais latino-americanos, como o teólogo brasileiro Frei Betto.

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Galeria de fotos do site http://www.che80.co.cu/
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Denominada Che 80, o site reúne ainda textos do cantor cubano Silvio Rodríguez e do escritor uruguaio Eduardo Galeano, entre outras personalidades, informou a coordenadora científica do Centro de Estudos Che Guevara de Havana, María del Carmen Ariet, em coletiva de imprensa.

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Dedicado a Che, assassinado em 1967, o site não está voltado apenas à cobertura dos 80 anos de nascimento do revolucionário - que serão celebrados em 14 de junho - mas também para sua importância em todas as lutas e movimentos sociais.

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Escritores e artistas poderão enviar mensagens sobre a importância de Che à página, que também inclui um grupo de testemunhos antológicos do guerrilheiro, como imagens de seus apontamentos de leitura, fotos e dedicatórias de livros.

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Por último, a seção ''Palavra Viva'' oferece a possibilidade de ouvir e baixar arquivos de áudio com fragmentos de discursos de Che, e algumas das canções e poemas que foram dedicados a ele.

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Clique aqui para conhecer o site Che 80. ( http://www.che80.co.cu/ )

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Leia também:

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Argentina faz celebração histórica aos 80 anos de Che Guevara

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Portal Imprensa
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in Vermelho - 30 DE MAIO DE 2008 - 20h48
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Medo do exemplo: estátua de Che é retirada do Central Park


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Assassinado há mais de 40 anos nas selvas bolivianas, com ajuda da CIA, o líder revolucionário Ernesto Che Guevara continua polemizando nos Estados Unidos. O medo de um exemplo de vida que se impõe é tanto que, por pedido de parlamentares republicanos, a prefeitura retirou uma estátua do argentino que figurava em uma das entradas do famoso Central Park, em Nova Iorque.

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Por Fernando Borgonovi

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Parlamentares republicanos enviaram carta à prefeitura da cidade pedindo a retirada alegando que ''o revolucionário foi reconhecido inimigo dos EUA e que acolheu as políticas repressivas da União Soviética''.

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A escultura, que na realidade refletia uma ''estátua viva'', seria retirada de qualquer maneira, já que fazia parte de uma exposição temporária. Mas chama a atenção os queixumes dos republicanos, capazes de enxergar violência na solidariedade e no amor à liberdade, representados por Che, ao mesmo tempo em que apóiam vivamente a matança comandada pelos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão.

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Uma estátua não é capaz de sair andando, mas o exemplo de vida de Che Guevara até hoje se impõe e faz tremer os donos do poder mundo afora.

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- Assista aqui vídeo desta notícia.

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União da Juventude Socialista (UJS)
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in Vermelho -
28 DE MAIO DE 2009 - 19h32
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Foto de autor não identificado
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quarta-feira, 27 de maio de 2009

Cristina Engel Alvarez: A arquitetura contra os nós do mundo



Cristina Engel de Alvarez dedica-se a planejar e erguer construções onde pouca gente poderia viver. Em 1988, chegou à Antártida com a difícil missão de construir o refúgio Emilio Goeldi, primeira base brasileira de pesquisa na Ilha Elefante, no Oceano Antártico. Depois, perdeu as contas de quantas vezes foi para lá. “Umas 15”, diz, como se isso fosse algo normal.
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Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Espírito Santo, Cristina também se dedica atualmente a construir abrigos para pesquisadores em ilhas a milhares de quilômetros da costa, sem a presença de água doce, extremamente selvagens, onde a natureza é quem manda. Paralelamente, desenvolve projetos voltados para locais onde o descaso e a ineficiência do poder público imperam, como áreas de risco ambiental em meio a cidades e grandes favelas brasileiras.

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Como começou esse seu interesse por lugares inóspitos?

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Sempre acreditei na arquitetura como um instrumento para melhorar o mundo. E, quando eu era uma jovem estudante, não podia ver um banquinho que já fazia discurso inflamado sobre os problemas do mundo e sempre colocava a arquitetura como tema central. Até que um dia uma pessoa disse: “Essa maluca acha que não há nada mais importante que a arquitetura. Um dia vai tentar colocar arquitetura até na Antártida”. E aí pensei: “E por que não?” Foi quando resolvi fazer um projeto justamente para construir na Antártida. Isso foi em 1983 ou 1984 e, coincidentemente, na mesma época surgiu um concurso de projetos do governo federal para explorar a região, para a área de biologia. Não dizia nada sobre engenharia ou arquitetura. Eu resolvi participar mesmo sabendo que não tinha a ver com o que eles pediam, pois meu trabalho já estava pronto Arquitetura na Antártida: Origem de uma Nova Arquitetura.

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No lugar certo, na hora certa?

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Acabei indo para uma entrevista em Brasília, uma das últimas etapas do processo. Um dia antes um irmão meu tinha sofrido um acidente grave (Cristina já havia perdido outro irmão), e eu estava muito mais preocupada com ele do que com o concurso. No final das contas, estava cuidando dos outros candidatos, tentando acalmá-los, já pensando que eu não era concorrente. Os examinadores, propositalmente, faziam provocações para ver como as pessoas se portavam sob pressão, testar nossos limites, já que iríamos para locais nessa condição. Na minha vez, havia duas pessoas, uma perguntava e outra ficava em pé. Com cara de mau, o interlocutor em certo momento disse: “Eu não vou ficar levando mulherzinha, ainda mais arquiteta, vai querer deixar tudo cor-de-rosa”. Eu levantei brava, bati na mesa e disse: “Pois fique sabendo que a diferença entre o senhor e eu é que tenho de levar absorvente para lá. E não vejo problema em levar uma mochila maior”.

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E não foi eliminada?

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Acabei sendo selecionada, num primeiro instante dentro da universidade, pois não perceberam que eu estava fora das regras. Quando chegou na última instância, meu projeto foi escolhido. Foi aí que fiquei nervosa. Eu estava há algum tempo falando sobre arquitetura na Antártida e finalmente ia para lá. Hoje perdi as contas de quantas vezes estive na região, talvez umas 15. Foi o incentivo para passar a criar, junto com a equipe da Universidade Federal do Espírito Santo, projetos para outras regiões de difícil acesso, como o Atol das Rocas, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo e a Ilha de Trindade. Todos estão a cerca de mil quilômetros da costa brasileira, são o Brasil mais distante do continente.

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O que é preciso levar em consideração nesse tipo de construção?

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Tudo o que faço em termos de projeto é voltado para três aspectos: logística, segurança e meio ambiente. É um tripé fundamental, pois em primeiro lugar temos de considerar que, como esses lugares são de difícil acesso, ninguém foi lá para destruí-los, tendo se tornado de alto interesse ambiental. Precisamos deixar a menor pegada possível, intervir o mínimo. Aí entra a questão da logística, principalmente de transporte. A melhor arquitetura é aquela que se leva nas costas e não causa impacto ao meio ambiente. Você não dispõe de maquinário, de guindaste, muitas vezes nem de energia elétrica. A segurança também está associada ao meio ambiente: se eles nunca foram ocupados é porque algo muito forte impediu essa ocupação ‐ pode ser gelo, calor, dificuldade de acesso, falta de água doce, entre outras coisas. Na Antártida, onde pesquisadores chegam a ficar um ano, tenho de garantir armazenamento de alimento e planejar os espaços considerando os imprevistos. No caso do arquipélago, precisa ter água potável suficiente para que, mesmo que o dessalinizador pare, eles não fiquem sem água.

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E como fica o conforto em meio a tudo isso?

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Além de tudo isso, eles têm de ter o menor nível de estresse possível, pois estão lá para trabalhar, longe da família, isolados. É por isso que todas as minhas casas têm de ter cara de casa. Casinha de calendário, sabe? Para que a pessoa tenha a sensação de que vai pra casa. Ao mesmo tempo, ela precisa estar integrada à paisagem, pois não posso pensar em curto prazo, tenho de pensar em no mínimo 50 anos, na paisagem das futuras gerações, nos bichos. Tem animais que não voltam a seu lugar de origem se a paisagem for modificada. E para isso você precisa interpretar o ambiente. Entender o vento, o sol, se vai se proteger dele ou usá-lo como fonte de energia. Quando quero saber como é o comportamento do vento, caso não tenha informações, observo detalhes como o ninho das aves, como elas ficam com o bico, a posição do ninho, pois a maioria delas faz o ninho de forma que tenha o vento contra, para perceber os inimigos chegando.

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Na questão térmica, costumo pensar de forma simples: quando você vai à praia, tira a roupa para o vento refrescá-lo e coloca um boné para tapar o sol. Torno esses abrigos leves e ventilados, e coloco um boné, um telhado grandão, que forme duas varandas. Todos os ambientes têm várias janelas e portas, para que o vento possa circular por dentro, livremente. Se houver lâmpadas e computadores, além das janelas é preciso um sistema de pequenos orifícios que fazem sair o ar quente. A própria pessoa já gera calor, e quando tem um monte de gente isso é perceptível.

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Como você avalia a eficiência desse trabalho?

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Sempre digo para as pessoas que integram minha equipe que é preciso ter consciência de que, quando tudo isso está bem-feito, ninguém percebe. Se algo der errado, logo chega até nós. No primeiro refúgio que fizemos no Atol das Rocas criamos uma mesa, só que em vez de arredondar os cantos deixamos as pontas. Como era tudo muito pequeno, sempre se batia na quina. Ficou todo mundo com perna roxa ‐ nos matamos de fazer cálculos e esquecemos de uma simples mesa... Bastou arrumá-la para tudo ficar uma maravilha. É assim: se der tudo certo ninguém fala nada, mas se der errado todo mundo reclama. Costumo dizer para o pessoal da nossa equipe que o silêncio é nosso melhor elogio.

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Quais outros problemas você já enfrentou por estar à frente disso tudo?

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Não quero ficar fazendo apologia às aventuras, pois tudo é sempre muito planejado. Claro, esses locais oferecem perigos naturais e não é fácil ficar semanas isolado no gelo da Antártida, por exemplo. Mas os problemas que enfrentamos são os básicos. Antes de ter ido para o Atol das Rocas, eu nunca tinha estado num veleiro. Disseram-me que não mareava, mas, como foram vários dias em alto-mar, fiquei tão mal que emagreci vários quilos. Para você ter uma ideia, não me deixaram ver um espelho quando chegamos lá. Eu devia estar realmente horrorosa (risos). Além disso, peguei piolho de ave e sofri com baratas. Confesso que o que mais tenho medo é de barata. Um dia, estava em minha barraca no Atol das Rocas e de repente senti uma cosquinha. Quando acendi a lanterna e vi a barata, fui obrigada a pegá-la com a mão e jogá-la pra fora. Acho que foi o meu ato mais heroico (risos).

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Como é o trabalho em equipe nesses locais? O fato de serem dezenas de pessoas isoladas por longos períodos interfere?

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Quando você junta pessoas que gostam do que fazem, que são voluntárias e estão ali por amor à profissão, tudo fica mais fácil. Muitas vezes nesses encontros é possível ver se formar uma sociedade melhor, principalmente quando você tira a questão do dinheiro, que não existe nesses lugares, e as pessoas não têm de competir. Você se desveste do mundo. Quando se tem um monte de gente de países diferentes, com hábitos diferentes, línguas diferentes, e se tira aquela linhazinha que os divide, é impressionante como surge o princípio da solidariedade, da amizade, da união.

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E o que se aproveita dessas experiências que de ser usado em locais mais próximos, nas cidades?

.Tem um monte de tecnologias que desenvolvemos que pode ser aplicada aqui. Infelizmente temos muitas coisas idealizadas, projetadas, mas poucas construídas, obviamente por falta de interesse do poder público. Desenvolvemos, por exemplo, seis modelos de habitação que não agridem o ambiente. Um deles pensado para ser construído sobre mangues. Tem lugares que hoje são ocupados, áreas de risco ambiental, cujo problema maior, na verdade, não é onde foi feito, mas como, sempre de forma desenfreada. Se houvesse critério, estudos, isso poderia acontecer normalmente. Mas é preciso muita pesquisa, investimento. Se em lugares como a Antártida pode dar certo, por que aqui não poderia? Construir em encostas de morro é a mesma coisa, tem de ter planejamento, mas é possível.

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Nesse sentido, também desenvolvemos um sistema de tratamento de esgoto que utiliza bombardeamento por ultravioleta. Grosso modo, usamos aquelas lâmpadas fluorescentes, só que sem a capinha que nos protege dos raios UV. São prejudiciais a nós, mas auxiliam na eliminação de bactérias presentes no esgoto. Esse modelo nós aplicamos na Estação Emilio Goeldi, mas não conseguimos implantar aqui na cidade.

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Outro exemplo está no atol. O sistema construtivo de madeira que criamos não usa parafusos, ou tantos elementos metálicos, que vão criar problemas de manutenção. Menor número de peças exige menor manutenção. Isso poderia facilmente ser aplicado em outros locais, como parques nacionais e reservas da biosfera, mas, infelizmente, não é aplicado por desinteresse do poder público.

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O que essas experiências mudaram na sua vida?

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Em primeiro lugar, tudo isso me fez pensar que há coisas maiores para fazer, para sonhar. E isso se aplica também a pequenos atos cotidianos. Hoje faço questão de beber em uma caneca, e não em copos descartáveis, pois viver na Antártida me fez entender o quanto custa usar descartáveis. Se você está lá e precisa de um copinho, não vai encontrá-lo no boteco da esquina. Isso faz com que valorizemos o que se tem, nos faz entender o valor de reciclar, e entender o quanto de esforço isso envolve, o quanto é preciso para fazer um copo chegar até seu destino. Depois de passar por vários lugares isolados, selvagens, percebi que o duro é viver aqui. E é isso que me move e me faz continuar a mesma rebelde de sempre, porque essa revolta não pode acabar. Eu ainda acredito que dá para mudar o mundo. E a arquitetura faz parte disso.

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Fonte: Revista do Brasil




in Vermelho - 12 DE MAIO DE 2009 - 22h18
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