Quinta-feira, 14 de Fevereiro de 2008
Sistemas de defesa costeira na Arrábida
Sistemas de defesa costeira na Arrábida durante a Idade Moderna: uma visão social
PORTOCARRERO, Gustavo
Lisboa, Edições Colibri, 2003
ISBN 972-772-363-2
A obra:
O autor:
Da conclusão:
O índice:
Agradecimentos
Prefácio
1. Introdução
2. A paisagem da Arrábida durante a Idade Moderna
3. O sistema de defesa costeira tradicional
4. Primeiras mudanças
5. A Torre do Outão
6. Pirataria
7. Mudanças arquitectónicas
8. Mudanças ideológicas
9. A reorganização de meados do século XVI
10. A fortaleza do Outão
11. Sesimbra e o novo sistema de defesa costeira
12. A invasão espanhola de 1580
13. O período espanhol
14. Uma nova conjuntura política
15. A reorganização de meados do século XVII: visões tradicionais
16. Santiago, Conceição e a reorganização de meados do século XVII
17. Os portos de Setúbal e Sesimbra e a reorganização de meados do século XVII
18. Os fortes do Portinho da Arrábida e do Cabo Espichel
19. Conclusão
Bibliografia
Imagens
PORTOCARRERO, Gustavo
Lisboa, Edições Colibri, 2003
ISBN 972-772-363-2
A obra:
A obra foi elaborada com base numa tese de mestrado em Landscape Archeology (Arqueologia da Paisagem) apresentada pelo autor, em 2000, na University of Wales (Lampeter).
O autor:
Gustavo Eduardo Gonçalves Pizarro de Portocarrero (Porto, 1974), arqueólogo, é licenciado em História, variante de Arqueologia, pela Universidade do Porto e mestre em Landscape Archeology (Arqueologia da Paisagem) pela University of Wales (Lampeter)
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Entre os trabalhos que realizou como arqueólogo, contam-se as intervenções no âmbito da remodelação no interior do edifício da Óptica Pita em Setúbal (Rua do Bocage n.º 29), e da remodelação do café Muralha, igualmente em Setúbal.
Entre os trabalhos que realizou como arqueólogo, contam-se as intervenções no âmbito da remodelação no interior do edifício da Óptica Pita em Setúbal (Rua do Bocage n.º 29), e da remodelação do café Muralha, igualmente em Setúbal.
Da conclusão:
«(...) procurei transmitir uma abordagem mais integrada e interpretativa como alternativa às análises funcionais, estilísticas e intradisciplinares que são comuns neste género de estudos. Esta abordagem alternativa foi feita dentro de uma perspectiva de paisagem, onde diferentes elementos dos sistemas de defesa costeira foram vistos em contexto e não isoladamente como geralmente se faz. Dentro da perspectiva utilizada, acabei por privilegiar a abordagem que Preucel e Hodder designam de «paisagem como poder», na qual as paisagens são vistas como ideologicamente manipuladas em relações de domínio e resistência (1996: 33). (...)
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O modelo desenvolvido neste estudo pode então ser sumariado como se segue:
O modelo desenvolvido neste estudo pode então ser sumariado como se segue:
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No início da Idade Moderna, por volta de finais do século XV/inícios do século XVI, o sistema de defesa costeira português baseava-se no sistema tradicional de torres e fachos (sinais de fumo ou fogo) espalhados ao longo da costa. Este sistema resultava sobretudo da iniciativa das populações locais. Contudo, por esta altura, a defesa da costa começou a ficar instrumentalizada à medida que a Coroa começou a interferir mais activamente nela. As principais razões para essa interferência foram as tentativas de centralização por parte da Coroa e a formação de uma economia-mundo (da qual a Coroa retirava grandes rendimentos), actuando os portos como principais interfaces dessa actividade comercial. Sendo assim não é surpreendente encontrar nestes últimos os primeiros sinais dessa instrumentalização da defesa costeira. Estes sinais foram materializados pelas chamadas Torres Marítimas (formadas por uma torre de menagem e uma plataforma baixa) construídas à entrada dos portos e onde o uso de artilharia era já evidente. A novidade e a impressão causada por estas estruturas permitiram à Coroa um melhor controlo dos portos onde elas foram construídas. Contudo, esta estratégia limitou-se sobretudo ao porto de Lisboa. Fora dele, somente mais um par de exemplares é conhecido, dos quais um em Setúbal, denotando assim o interesse que a Coroa tinha já então por essa vila.
No início da Idade Moderna, por volta de finais do século XV/inícios do século XVI, o sistema de defesa costeira português baseava-se no sistema tradicional de torres e fachos (sinais de fumo ou fogo) espalhados ao longo da costa. Este sistema resultava sobretudo da iniciativa das populações locais. Contudo, por esta altura, a defesa da costa começou a ficar instrumentalizada à medida que a Coroa começou a interferir mais activamente nela. As principais razões para essa interferência foram as tentativas de centralização por parte da Coroa e a formação de uma economia-mundo (da qual a Coroa retirava grandes rendimentos), actuando os portos como principais interfaces dessa actividade comercial. Sendo assim não é surpreendente encontrar nestes últimos os primeiros sinais dessa instrumentalização da defesa costeira. Estes sinais foram materializados pelas chamadas Torres Marítimas (formadas por uma torre de menagem e uma plataforma baixa) construídas à entrada dos portos e onde o uso de artilharia era já evidente. A novidade e a impressão causada por estas estruturas permitiram à Coroa um melhor controlo dos portos onde elas foram construídas. Contudo, esta estratégia limitou-se sobretudo ao porto de Lisboa. Fora dele, somente mais um par de exemplares é conhecido, dos quais um em Setúbal, denotando assim o interesse que a Coroa tinha já então por essa vila.
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Em meados do século XVI, novas mudanças tornaram-se evidentes. A elite dirigente portuguesa, confrontada com crescentes pressões internas e externas que ameaçavam o seu poder, optou por soluções autoritárias e repressivas. Uma delas foi utilizar o sistema de defesa costeira para reforçar o seu poder sobre alguns dos mais importantes portos portugueses, cujo controlo era visto como vital para os interesses estratégicos da Coroa. Como tal, uma política coerente de fortificação de alguns portos portugueses tornou-se evidente por esta altura. Elementos de agressividade e desconfiança, reflectindo a ideologia que prevalecia entre a elite dirigente (a «mentalidade de cerco») são típicas deste novo sistema, O baluarte seria o elemento arquitectónico mais característico deste sistema com todo o seu simbolismo de afirmação de valores militaristas e rejeição de valores humanistas. Não obstante, este sistema viria a defrontar-se com alguma resistência local.
Em meados do século XVI, novas mudanças tornaram-se evidentes. A elite dirigente portuguesa, confrontada com crescentes pressões internas e externas que ameaçavam o seu poder, optou por soluções autoritárias e repressivas. Uma delas foi utilizar o sistema de defesa costeira para reforçar o seu poder sobre alguns dos mais importantes portos portugueses, cujo controlo era visto como vital para os interesses estratégicos da Coroa. Como tal, uma política coerente de fortificação de alguns portos portugueses tornou-se evidente por esta altura. Elementos de agressividade e desconfiança, reflectindo a ideologia que prevalecia entre a elite dirigente (a «mentalidade de cerco») são típicas deste novo sistema, O baluarte seria o elemento arquitectónico mais característico deste sistema com todo o seu simbolismo de afirmação de valores militaristas e rejeição de valores humanistas. Não obstante, este sistema viria a defrontar-se com alguma resistência local.
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O carácter político do novo sistema depressa se tornou óbvio durante a invasão espanhola de 1580, quando caiu facilmente ante os ataques espanhóis. Todavia, e numa clara demonstração desse carácter político, os espanhóis decidiram manter o sistema intacto e até mesmo reforça-lo. De facto, durante o período espanhol, o sistema iria atingir um extremo de agressividade e desconfiança, assumindo uma posição particularmente hostil face às populações locais.
O carácter político do novo sistema depressa se tornou óbvio durante a invasão espanhola de 1580, quando caiu facilmente ante os ataques espanhóis. Todavia, e numa clara demonstração desse carácter político, os espanhóis decidiram manter o sistema intacto e até mesmo reforça-lo. De facto, durante o período espanhol, o sistema iria atingir um extremo de agressividade e desconfiança, assumindo uma posição particularmente hostil face às populações locais.
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Por volta da década de 1630, a conjuntura política começaria a mudar. Motins populares eram constantes. Vários sectores das elites não estavam igualmente satisfeitos com a situação política, vendo na continuidade da união com a Espanha uma ameaça ao seu poder.
Por volta da década de 1630, a conjuntura política começaria a mudar. Motins populares eram constantes. Vários sectores das elites não estavam igualmente satisfeitos com a situação política, vendo na continuidade da união com a Espanha uma ameaça ao seu poder.
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Temiam igualmente uma revolta popular bem sucedida que pudesse resultar na instituição de uma república. Assim, em 1640 organizaram um golpe, expulsando as autoridades espanholas e assumindo o poder. Nas décadas que se seguiram, a situação política, tanto interna como externa, foi bastante delicada para a elite dirigente pelo que esta resolveu reorganizar o sistema de defesa costeira de uma forma que reforçasse efectivamente o seu poder. Como tal, as características agressivas do sistema anterior foram em grande medida abandonadas, optando-se em alternativa pela incorporação de características mais «civis», por forma a facilitar a aceitação pelas populações locais da presença destas fortificações. Outro aspecto destas fortificações é o de que a artilharia e, onde eles se mantiveram, os baluartes, estão agora virados para o mar, enquanto antes estavam igualmente virados para terra para zonas habitadas. Agora, oficialmente, o perigo vinha somente do mar. Este aspecto juntamente com as características mais «civis» das fortificações ajudariam a criar uma ideia comum entre as populações locais de que as fortificações estavam lá para as proteger. O que está então a acontecer aqui é uma insidiosa estratégia de «corações e mentes» com vista a mascarar outras intenções da Coroa, ou seja, um maior controlo a nível local. Outra vantagem de se usar esta estratégia era a de que podia ser utilizada não só para reforçar o poder da Coroa nos portos, mas também para além deles em outras áreas costeiras onde outros grupos sociais podiam resistir às tentativas de centralização da Coroa.(...)»
Temiam igualmente uma revolta popular bem sucedida que pudesse resultar na instituição de uma república. Assim, em 1640 organizaram um golpe, expulsando as autoridades espanholas e assumindo o poder. Nas décadas que se seguiram, a situação política, tanto interna como externa, foi bastante delicada para a elite dirigente pelo que esta resolveu reorganizar o sistema de defesa costeira de uma forma que reforçasse efectivamente o seu poder. Como tal, as características agressivas do sistema anterior foram em grande medida abandonadas, optando-se em alternativa pela incorporação de características mais «civis», por forma a facilitar a aceitação pelas populações locais da presença destas fortificações. Outro aspecto destas fortificações é o de que a artilharia e, onde eles se mantiveram, os baluartes, estão agora virados para o mar, enquanto antes estavam igualmente virados para terra para zonas habitadas. Agora, oficialmente, o perigo vinha somente do mar. Este aspecto juntamente com as características mais «civis» das fortificações ajudariam a criar uma ideia comum entre as populações locais de que as fortificações estavam lá para as proteger. O que está então a acontecer aqui é uma insidiosa estratégia de «corações e mentes» com vista a mascarar outras intenções da Coroa, ou seja, um maior controlo a nível local. Outra vantagem de se usar esta estratégia era a de que podia ser utilizada não só para reforçar o poder da Coroa nos portos, mas também para além deles em outras áreas costeiras onde outros grupos sociais podiam resistir às tentativas de centralização da Coroa.(...)»
O índice:
Agradecimentos
Prefácio
1. Introdução
2. A paisagem da Arrábida durante a Idade Moderna
3. O sistema de defesa costeira tradicional
4. Primeiras mudanças
5. A Torre do Outão
6. Pirataria
7. Mudanças arquitectónicas
8. Mudanças ideológicas
9. A reorganização de meados do século XVI
10. A fortaleza do Outão
11. Sesimbra e o novo sistema de defesa costeira
12. A invasão espanhola de 1580
13. O período espanhol
14. Uma nova conjuntura política
15. A reorganização de meados do século XVII: visões tradicionais
16. Santiago, Conceição e a reorganização de meados do século XVII
17. Os portos de Setúbal e Sesimbra e a reorganização de meados do século XVII
18. Os fortes do Portinho da Arrábida e do Cabo Espichel
19. Conclusão
Bibliografia
Imagens
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