Discurso de Lula da Silva (excerto)

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domingo, 6 de março de 2011

A frente ribeirinha da cidade entre comerciantes, militares e as pessoas. O lado azul de Setúbal.

Setúbal - Cais da Conceição
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• 19-11-2010 •
Património
por Rogério Vieira de Almeida
(Arquitecto e Investigador Universitário)


I. A frente de Setúbal ao longo do Sado resulta, hoje, de uma série de operações que se estendem ao longo de décadas e séculos.

II. No início era a cidade medieval rodeada pelas muralhas. Dentro as casas e as ruas, lá fora a areia, a terra e a água. No século XVI e, depois XVII, novas muralhas, modernas ao tempo, vêm criar uma nova barreira mais avançada junto à água. De então restam o baluarte do, até há poucos anos, Quartel de Infantaria nº11 e futura escola de turismo e, ainda, um outro baluarte junto ao mercado do Livramento. É nesse novo espaço conquistado ao rio que, mais tarde se iria estender a Avenida Luísa Todi. No século XX a água que vinha até aos baluartes começa a ser repelida para mais longe. Com o início de uma série de aterros deu-se forma à frente que hoje conhecemos. Onde, antes, era água e areia, hoje é chão firme e junto à água foram surgindo as docas, os passeios, novos edifícios administrativos e industriais e arruamentos. Mais a nascente, já fora da frente da cidade, novos aterros bem mais pesados iriam surgir numa segunda vaga destinada a receber barcos de grande calado.

III. Lentamente, o aterro inicial tem vindo a perder algumas das suas funções. A alfândega está parcialmente inactiva, alguns pequenos edifícios sem uso, como a antiga bilheteira junto ao rio. Pelo meio muitos edifícios semi-abandonados, oficinas, pequena indústria remanescente, estacionamento automóvel e ruas. Mais ruas e vias de circulação.

IV. Fala-se frequentemente de revitalizar estas antigas zonas portuárias ou de frentes ribeirinhas. É assunto frequente desde os anos 80 na Europa. Em Setúbal o mesmo se tem vindo a passar, mais recentemente. Arranjos exteriores, jardins, alguns novos edifícios e uma intervenção do programa Polis. Uma tentativa de estabelecer uma frente de rio mais vivida e mais acessível aos setubalenses. No entanto a Setúbal das pessoas e da vida urbana está demasiado longe. Operações de "simples" animação urbana - bares, restaurantes, comércio ocasional - mostraram já em várias cidades serem ineficazes.  E nos terrenos que eram antes do rio serão sempre escassas as hipóteses de construir novas habitações.

V. Um provérbio diz "Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha". As intervenções humanas de alteração de elementos naturais são frequentes ao longo da história. Os aterros ribeirinhos das cidades são disso exemplo; neles a água e a terra são deslocadas e vêm as suas posições originais mudadas. Passado o tempo "natural" dessas mudanças, ou seja quando a dinâmica económica e social faz com que estes territórios percam a sua utilidade e função, fica a questão se devem ou não alguns destes aterros dar de novo lugar à água. Será que "Se a cidade não vem, já, ao rio... poderá ir o rio, de novo, à cidade?"

Rogério Vieira de Almeida - 19-11-2010 11:55
http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=13345
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