Segunda-feira, 12/10/2009
Cinema
Julio Daio Borges
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Digestivo nº 128 >>> As veias abertas Pense globalmente, aja localmente. Uma frase de Yoko Ono que virou slogan da IBM. Do mesmo jeito, no cinema. Há filmes que nos tocam por sua universalidade e há outros que nos tocam, justamente, por seu regionalismo. "Frida", com Salma Hayek, está nessa última categoria - e talvez, por isso, seja mal compreendido por brasileiros que não mantêm quaisquer laços com a América Latina. Impressionante como a história de amor e a trajetória de vida, de Frida Kahlo e Diego Rivera, remetem a muitos dos dilemas do artista no Brasil. A cisão entre a metrópole e a colônia; e o contraponto dos Estados Unidos. O abrigo de uma arte primitiva, instintiva, e a sofisticação ameaçadora do além-mar, diluindo a identidade e os motivos. O desequilíbrio entre as "causas" e ideologias e o bafo sedutor da consagração, da glória, tão mundanas, tão burguesas e tão mesquinhas. Afinal, está no longa de Julie Taymor. As lutas de Diego e Frida pelo México e por seu povo. Os apelos da "Gringolândia" e as raízes com o comunismo e com a Rússia. O mural pintado para Rockefeller e a proteção oferecida a Trostki. A pintura como ideal supremo e a carne como fio condutor da existência. Claro: a sucessão de eventos é a mesma do videoclipe, superficial e opressiva. E claro: o cinema nunca deu conta das angústias de uma vida inteira. Mas os elementos estão lá, a caracterização é impecável, a música, deslumbrante, e o apelo, para os latino-americanos de coração mole, irresistível. Um filme não deve ser mais que uma isca para outros mergulhos intelectuais e para outras "viagens". E isso "Frida" é. Deve passar "uma idéia" do que teria sido - e nada mais. Ao mesmo tempo, deve se equilibrar entre as pressões da indústria e a desinformação do público. Portanto, Julie Taymor cumpre muito bem o seu papel. Há de haver produções mais densas, sobre os mesmos protagonistas, nesse ou naquele aspecto - no entanto, esse é o longa que poderia ter sido feito na nossa época, é do que dispomos e o que precisamos ver para entender quem somos e de onde viemos. Viva Friducha e Pánzon. >>> Frida |
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