Segunda-feira, 12/10/2009
Cinema
Julio Daio Borges
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Digestivo nº 66 >>> A brother is a brother Interessante como a crítica se apega a estigmas. Tome-se o caso de “História Real” (The Straight Story), de David Lynch, que acaba de estrear no Brasil. Os críticos não se conformam que o diretor de “Veludo Azul” não desfolhe, desta vez, sua coleção de “anomalias” e “patologias”. Se elas não estão explícitas, como em sua cinematografia anterior, é porque, então, estão escondidas – e dá-lhe especulações sobre “o que ele quis dizer na verdade” ou sobre “o que está por trás de uma cena perfeitamente normal”. É a sanha interpretativa, que impregna todos os que se põem a analisar uma obra-de-arte. O roteiro é singelo (e daí?); bem protagonizado por um ator honesto (e daí?); com um desfecho, desde o começo, previsível (e daí?). Conta a jornada de Alvin Straight, de Iowa a Wisconsin, montado num cortador de grama (isso mesmo), arrastando um trailer, apenas para encontrar seu irmão, com que não fala há dez anos. O filme mostra que, apesar dos meios pouco ortodoxos, empregados por um velho teimoso, realizando talvez seu último grande projeto na vida, existe beleza e graça em simplesmente persistir nas próprias convicções. Embora a maior parte do mundo se revele hostil a elas, sempre haverá pessoas dispostas a ajudar, e a respeitar as decisões (quais sejam) do outro. Eis a mensagem “positiva” do longa, que pode até soar banal mas que tem o seu valor (“construtivo”, ao menos). Infelizmente nos desacostumamos a ver uma rotina tão pacata e calma, na tela grande, sem que, ao longo de duas horas, não haja estrondos: violência, sexo ou humor mórbido. David Lynch parece que plantou seu jardim e, fora um inseto ou outro (importunando quem chega para visitar), nada nos resta a não ser contemplá-lo. >>> The Straight Story |
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