Digestivo nº 435 >>> Das mentiras que executivos de jornal contam a si próprios
Numa verdadeira encruzilhada, entre desaparecer como papel, vender seu conteúdo ao Kindle da Amazon e fechar seus sites na internet, os jornais, como empresas que são, talvez tenham um problema ainda maior: de cultura. Quem afirma é Judy Sims, uma blogueira de Toronto, que se especializou em mídia on-line. Em “10 mentiras que os executivos de jornal estão contando a si próprios”, Sims conclui que talvez os jornais não tenham mesmo salvação – por um problema, como diz o pessoal da publicidade, “de DNA”. Primeiro, os executivos de jornal disseram que poderiam administrar a “mudança de paradigma” mantendo a organização unida. Judy Sims discorda: as operações de internet dos jornais nunca vão deixar de ser deficitárias, se ficarem eternamente sob o “guarda-chuva” da edição em papel... Em segundo lugar, as forças de vendas dos jornais não estão conseguindo vender anúncios para a edição impressa junto com anúncios on-line. O ideal, segundo Sims, seria, justamente, separar as forças de vendas. Conclusão: juntar “impresso” mais “internet”, tanto para jornais quanto revistas, gera acomodação nos sites (dessas empresas), que desistem de lutar para sobreviver (sendo que o papel vai acabar...). Em terceiro lugar, o Google não está matando os jornais, como muitos dizem – se alguém matou os jornais, lá atrás, foi o Craigslist (o maior site de anúncios da internet). Quarto: “fechar o nosso site criará ‘escassez’ e valorizará seu conteúdo” – outra mentira, segundo Sims, porque quando não conseguirem entrar, os internautas vão simplesmente procurar (e ler) em outro lugar... Quinto: “nossos leitores já pagaram por notícias antes; um dia voltarão a pagar” – Sims ironiza: “Será que pagaram? E será que um dia eles vão voltar?”. Sexto: “receitas on-line não são suficientes para sustentar as nossas redações” – verdade, brinca Sims; por isso os jornais têm de diminuir suas redações... Sétimo: “ninguém faz reportagens como nós, jornalistas” – Sims: “O blogueiro que melhor cobre a parte policial de Chicago, hoje, tem... 16 anos!”. Oitava mentira: “nossos leitores não são confiáveis, quanto mais essa história de ‘jornalismo colaborativo’...” – Sims: “seus leitores só irão se desenvolver se um dia vocês mesmos deixarem...”. Nona: “a democracia estará ameaçada sem os jornais” – Sims? “Lamento informar que esse ‘vácuo’ será preenchido, de algum modo...”. Décima (e última): “eu, como jornalista, posso dar um banho nesses blogueiros de agora, mesmo estando off-line”. Sims? “Pare de sonhar, jornalista, e olhe em volta: você acaba de ficar obsoleto”.
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