Teatro
Contar a Bíblia sem fazer catequese
por MARIA JOÃO CAETANO
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Estreia-se hoje, no Teatro Nacional de São João, no Porto, 'Breve Sumário da História de Deus', de Gil Vicente, com encenação de Nuno Carinhas
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Do pecado original à última tentação de Cristo. A Bíblia pode até ser o "manual de maus costumes", como lhe chamou Saramago, mas o encenador Nuno Carinhas prefere olhar para o texto como uma oportunidade para pensar naquilo que somos hoje. "O que mais me interessa aqui é tratar a condição humana, não quero fazer catequese", diz, referindo-se ao Breve Sumário da História de Deus, texto de Gil Vicente que hoje se estreia no Teatro Nacional de São João, no Porto.
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O São João tem, como se sabe, "uma tradição vicentina" que Nuno Carinhas tem acompanhado. A sua primeira colaboração com o teatro aconteceu precisamente em 1996, a convite de Ricardo Pais, para fazer os figurinos de A Tragicomédia de Dom Duardos. "Gil Vicente é um autor maior. Nós estamos habituados ao dramaturgo das farsas e das brejeirices, mas nem sempre é assim. Ele costuma ser tratado como um autor light mas aqui temos um Vicente mais sombrio", afirma.
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Para a sua primeira encenação como director do teatro do Porto, cargo que ocupa desde Fevereiro deste ano, Nuno Carinhas escolheu um dos textos menos conhecidos de Gil Vicente. "Estranhamente, pois é um texto muito saboroso do ponto de vista da linguagem e que não nos fala só da história de Deus mas também do teatro e da condição humana." Em Breve Sumário da História de Deus, Gil Vicente parte "de um poema", que é a Bíblia, para criar um outro poema. A peça percorre as Sagradas Escrituras, revelando a misteriosa condição de criaturas cuja desesperada humanidade se redime na esperança de Deus.
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Apesar de no palco estarem figuras bíblicas (Moisés, João Batista, Abraão, Lúcifer...) ao lado de figuras alegóricas (Anjo, Morte, Mundo e Tempo), ao longo do texto, abordam-se temas que a todos dizem respeito - as expectativas, a dor, a enfermidade, "inevitavelmente, a morte" . "Gosto muito da economia do autor, das opções que vai fazendo em relação aos episódios e às personagens que escolhe, culminando com a aparição de Cristo e a necessária redenção", diz o encenador.
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Às referências bíblicas e ao texto de Gil Vicente, Nuno Carinhas juntou três poemas - o Salmo 139 mudado para português por Herberto Hélder, Palavras de Jacob depois do sonho de Ruy Belo e Reconcliação de Else Lasker-Schüler - sublinhando, assim, a contemporaneidade e humanidade do que em palco se vê. Para que não restem dúvidas.
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Com encenação e cenografia de Nuno Carinhas e um elenco composto por 17 nomes, entre os quais António Durães, João Cardoso, João Pedro Vaz, Lígia Roque, Alberto Magassela e Miguel Loureiro, Breve Sumário da História de Deus vai ficar em cena no Porto até 20 de Dezembro, viajando em Janeiro até ao Teatro Nacional de D. Maria II, em Lisboa.
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