9-2008: Sra do Almortão
A romaria da Senhora do Almurtão, fervorosamente celebrada pelas gentes do concelho de Idanha-A-Nova, era certamente, e continua a ser, a maior manifestação religiosa da Raia Perdida.
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À capela, construída no sítio da Água Murta onde, segundo a lenda, "- Milagre! Milagre! - apareceu aos pastores uma linda e resplandecente imagem da Virgem em cima de um murtão (moita de murtas)" chegavam, nos dias de romaria, milhares de romeiros para, numa devoção matriarcal, assistir às celebrações eucarísticas em louvor da virgem padroeira do concelho e Lhe "dar as alvíssaras" com cantares ao toque do adufe, instrumento musical que é o símbolo máximo da tradição idanhense.
À capela, construída no sítio da Água Murta onde, segundo a lenda, "- Milagre! Milagre! - apareceu aos pastores uma linda e resplandecente imagem da Virgem em cima de um murtão (moita de murtas)" chegavam, nos dias de romaria, milhares de romeiros para, numa devoção matriarcal, assistir às celebrações eucarísticas em louvor da virgem padroeira do concelho e Lhe "dar as alvíssaras" com cantares ao toque do adufe, instrumento musical que é o símbolo máximo da tradição idanhense.
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Em tempos passados, terminadas as celebrações religiosas, famílias inteiras partilhavam um farnel composto das mais variadas iguarias, preparadas atempadamente (galinha dourada, almôndegas e pastéis de bacalhau, ovos verdes e outras), bem regadas com tintol da região. De sombra em sombra dava-se a salvação aos amigos, provava-se-lhe o repasto e fazia-se a festa.
Em tempos passados, terminadas as celebrações religiosas, famílias inteiras partilhavam um farnel composto das mais variadas iguarias, preparadas atempadamente (galinha dourada, almôndegas e pastéis de bacalhau, ovos verdes e outras), bem regadas com tintol da região. De sombra em sombra dava-se a salvação aos amigos, provava-se-lhe o repasto e fazia-se a festa.
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Era o extravasar de toda a alegria reprimida durante a vivência Quaresmal, terminada apenas 15 dias antes.
Era o extravasar de toda a alegria reprimida durante a vivência Quaresmal, terminada apenas 15 dias antes.
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Promessas saldadas, fazia-se viagem de regresso a casa, cada qual à sua terra, conscientes do dever cumprido.
As alvíssaras com o acompanhamento dos acordeonistas Tónho Coto, ti Brás (do Salvador) e ti General. No bombo a Serraninha marca o compasso.
Mas os tempos mudaram.
Promessas saldadas, fazia-se viagem de regresso a casa, cada qual à sua terra, conscientes do dever cumprido.
As alvíssaras com o acompanhamento dos acordeonistas Tónho Coto, ti Brás (do Salvador) e ti General. No bombo a Serraninha marca o compasso.
Mas os tempos mudaram.
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Se o progresso encurtou a viagem, reduziu também a devoção.
Se o progresso encurtou a viagem, reduziu também a devoção.
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Com melhores acessos e o automóvel, rios de gente desaguam na romaria da Senhora do Almortão, formando um mar fervilhante pelo recinto da festa. Mas a fé, de um modo geral, já não é a mesma.
Com melhores acessos e o automóvel, rios de gente desaguam na romaria da Senhora do Almortão, formando um mar fervilhante pelo recinto da festa. Mas a fé, de um modo geral, já não é a mesma.
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Chega-se, dá-se uma volta pela feira, assiste-se à missa porque fica bem e, terminada a procissão, numa pressa, ruma-se a casa "a ver do almoço" ou mata-se a "malvada larica" numa das muitas barracas de comes e bebes, quais restaurantes improvisados.
Chega-se, dá-se uma volta pela feira, assiste-se à missa porque fica bem e, terminada a procissão, numa pressa, ruma-se a casa "a ver do almoço" ou mata-se a "malvada larica" numa das muitas barracas de comes e bebes, quais restaurantes improvisados.
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Só os mais tradicionalistas, certamente mais devotos, ainda se mantêm fiéis ao piquenique à moda antiga, em cima da manta de arêlos que outrora, para além de servir de toalha, servia também para enfeitar a albarda do meio de transporte.
Só os mais tradicionalistas, certamente mais devotos, ainda se mantêm fiéis ao piquenique à moda antiga, em cima da manta de arêlos que outrora, para além de servir de toalha, servia também para enfeitar a albarda do meio de transporte.
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Hoje tudo é diferente.
Hoje tudo é diferente.
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Falta a sobriedade e o respeito.
Falta a sobriedade e o respeito.
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Por estes valores que se impõem em qualquer local de culto, e aqui a Confraria, como organizadora do evento, tem a sua quota de responsabilidade, talvez não se devesse permitir o ambiente abarracado que hoje se apoderou da envolvência da festa, contaminando mesmo a capela, tão bem pintada com as palavras de Eugene Galateanu (Poeta Romeno).
Por estes valores que se impõem em qualquer local de culto, e aqui a Confraria, como organizadora do evento, tem a sua quota de responsabilidade, talvez não se devesse permitir o ambiente abarracado que hoje se apoderou da envolvência da festa, contaminando mesmo a capela, tão bem pintada com as palavras de Eugene Galateanu (Poeta Romeno).
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Entende-se que as receitas originadas pelo aluguer de espaço aos feirantes deixam tolerar uma certa anarquia no "armar das tendas" dentro do recinto e fora dele. É só ver a parafernália de artigos espalhados pelas zonas de circulação a atrapalhar quem passa, ou mesmo a barulheira infernal dos muitos sistemas de amplificação sonora apelando ao consumismo, que às vezes têm de ser mandados calar pela autoridade, por interferirem com a solenidade da missa campal.
O que não se entende, é que se pense menos em quem visita o local, deixando-se transmitir ao visitante a sensação de negligência e de desleixo.
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Mas como critérios são de quem os deixa, este é apenas um desabafo.
Estou em crer que a Senhora do Almortão, nem se importaria que o custo do valioso manto que lhe é oferecido ano a ano, ricamente trabalhado, uma vez por outra mais modesto, seja aplicado de forma a dignificar um pouco melhor este local, uma referência para tantos Raianos da Beira.
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Entende-se que as receitas originadas pelo aluguer de espaço aos feirantes deixam tolerar uma certa anarquia no "armar das tendas" dentro do recinto e fora dele. É só ver a parafernália de artigos espalhados pelas zonas de circulação a atrapalhar quem passa, ou mesmo a barulheira infernal dos muitos sistemas de amplificação sonora apelando ao consumismo, que às vezes têm de ser mandados calar pela autoridade, por interferirem com a solenidade da missa campal.
O que não se entende, é que se pense menos em quem visita o local, deixando-se transmitir ao visitante a sensação de negligência e de desleixo.
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Mas como critérios são de quem os deixa, este é apenas um desabafo.
Estou em crer que a Senhora do Almortão, nem se importaria que o custo do valioso manto que lhe é oferecido ano a ano, ricamente trabalhado, uma vez por outra mais modesto, seja aplicado de forma a dignificar um pouco melhor este local, uma referência para tantos Raianos da Beira.
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