Discurso de Lula da Silva (excerto)

___diegophc

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Chiaroscuro





Digestivo nº 257 >>> Chiaroscuro

Pelo menos em matéria de arte, parece que todo mundo tem consciência da importância de períodos como o da Renascença. Ter, tem – mas não quer averiguar. O interessado médio fica naquelas noções básicas sobre Leonardo, Michelangelo e outros dos quais nem se lembra mais. Quando muito apela para um modismo envolvendo algum desses artistas, como foi, de uns tempos pra cá, a leitura, para muitos reveladora, de O Código Da Vinci... Para desembaraçar o emaranhado de hipóteses e suposições, e para aprofundar as mesmas vagas noções artísticas que adquirimos – a princípio – desde a infância, surgem os cursos de – por que não dizer? – História da Arte, da professora Tereza Aline Pereira de Queiroz, na Casa do Saber. Embora temas como o do Renascimento, do Barroco e do Rococó, por exemplo, sejam vastíssimos, Tereza concentra seu saber em algumas aulas, abordando um ou dois artistas, acompanhada de slides, de maneira que seu conhecimento flui e, paulatinamente, a nuvem de ignorância se dissipa. Ultimamente, varreu o pó das nossas idéias sobre os mesmos Leonardo e Michelangelo, reintroduzindo outros mestres esquecidos como Donatello e Rubens, e totalmente nos revelando a dimensão de assinaturas como a de Mantegna e mesmo a presença meio estrambótica de figuras como o Arcimboldo, resgatado pelos surrealistas e seus delírios virtuosísticos. Tereza, ainda que muito culta, não nunca é cerimoniosa e é sempre muito divertida. Em outras palavras: mesmo desfolhando a informação em camadas, não soa pernóstica, rindo do que é forçosamente ridículo e despertando a simpatia dos circunstantes. Em alguns meses de Casa do Saber, já tem seguidoras – discípulas? – que a acompanham, de curso em curso, como sói acontecer com os professores mais populares... E quando se imaginava uma especialista restrita ao domínio da Renascença, eis que Tereza surge ministrando aulas sobre o Romantismo na pintura e até, num considerável salto temporal, sobre o Impressionismo. Impossível captar todas as nuances, e principalmente guardá-las para si, em obras e artífices. Talvez o maior mérito de Tereza Aline Pereira de Queiroz seja, como todo bom professor de artes plásticas, despertar a famosa educação do olhar. Saímos então do nosso vôo cego e partimos para uma visita guiada – pelas mãos da mestra.
>>> Casa do Saber
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Debret em Viagem Histórica e Quadrinesca ao Brasil







Digestivo nº 315 >>> No Largo do Paço
Das homenagens prestadas aos 100 anos do vôo do 14-bis, uma das melhores, e mais criativas, foi a de Spacca, também endereçada a Santos Dumont, no álbum Santô, lançamento da Cia. das Letras em 2005. Parece que na esteira do sucesso dessa realização, fruto de anos de pesquisa histórica do próprio Spacca – embora seja uma “simples” HQ –, a editora lançou, em 2006, Debret em Viagem Histórica e Quadrinesca ao Brasil. Debret, como todo mundo sabe (ou deveria saber), produziu uma das mais ricas iconografias sobre o Brasil do século XIX. Primo e discípulo de Jean-Louis David, o célebre pintor neoclássico, Debret se viu desamparado, com a queda de Napoleão III, e a mudança de ventos políticos na França, quando recebeu um convite para fundar uma Escola de Belas Artes no Rio. Mudou o rumo das artes brasileiras e mudou, inclusive, a maneira como o próprio Brasil era visto no Europa (e se via a si próprio). (Para quem tiver ainda dúvida, a editora Capivara registra isso muito bem num catálogo portentoso...) Spacca, em seu Debret atual, conta um pouco dessa saga, de 15 anos no Brasil, mesmo que de forma mais breve, e menos profunda, se compararmos com o seu quase perfil de Santos Dumont. Ainda que tenha produzido incansavelmente, como um Balzac dos pincéis, Debret não teve seu caminho facilitado no Rio e, como parte da chamada missão francesa, teve muitos dos seus desejos frustrados ou postergados, como a Escola de Belas Artes (que permanece até hoje mas que demorou a se concretizar). O álbum de Spacca, de certa forma, evoca uma seção de seu próprio site em que ele, como cartunista, homenageava mestres do traço. Para a geração conectada da virada do século, que mal conhece a representação de seu País em pintura, Spacca e a Cia. das Letras estariam prestando um enorme serviço se seguissem por essa trilha agora aberta. 
>>> Debret em Viagem Histórica e Quadrinesca ao Brasil


Pedra Filisofal, de António Gedeão, por Manuel Freire



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chrissybluEYES





Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
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Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
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Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão de átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
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Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança


quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Happy New Year 2010 with Music from Abba


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EduPresent
29 de Dezembro de 2008
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PPT from http://www.authorstream.com by Liewchiasen. HAPPY NEW YEAR 2010. Nice pictures with the Happy New Year song by ABBA. The spirit lives on!

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Lyrics - Happy New Year by Abba
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No more champagne
And the fireworks are through
Here we are, me and you
Feeling lost and feeling blue
It's the end of the party
And the morning seems so grey
So unlike yesterday
Now's the time for us to say...
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Happy new year
Happy new year
May we all have a vision now and then
Of a world where every neighbour is a friend
Happy new year
Happy new year
May we all have our hopes, our will to try
If we don't we might as well lay down and die
You and I
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Sometimes I see
How the brave new world arrives
And I see how it thrives
In the ashes of our lives
Oh yes, man is a fool
And he thinks he'll be okay
Dragging on, feet of clay
Never knowing he's astray
Keeps on going anyway...
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Happy new year
Happy new year
May we all have a vision now and then
Of a world where every neighbour is a friend
Happy new year
Happy new year
May we all have our hopes, our will to try
If we don't we might as well lay down and die
You and I
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Seems to me now
That the dreams we had before
Are all dead, nothing more
Than confetti on the floor
It's the end of a decade
In another ten years time
Who can say what we'll find
What lies waiting down the line
In the end of eighty-nine...
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Happy new year
Happy new year
May we all have a vision now and then
Of a world where every neighbour is a friend
Happy new year
Happy new year
May we all have our hopes, our will to try
If we don't we might as well lay down and die
You and I
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Distribuído por E.B. (hi5) e enviado por Flor do Deserto (hi5)

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Cold Play - Have Yourself a Merry Little Christmas


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bromasagrias
20 de Dezembro de 2007
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não sejas rezingão!
Flor do Deserto (hi5)
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Have Yourself A Merry Little Christmas – lyrics

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Have yourself a merry little Christmas,
Let your heart be light
From now on,
our troubles will be out of sight
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Have yourself a merry little Christmas,
Make the Yule-tide gay,
From now on,
our troubles will be miles away.
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Here we are as in olden days,
Happy golden days of yore.
Faithful friends who are dear to us
Gather near to us once more.
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Through the years
We all will be together,
If the Fates allow
Hang a shining star upon the highest bough.
And have yourself A merry little Christmas now.  

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http://www.carols.org.uk/have_yourself_a_merry_little_christmas.htm

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All You Need Is Love - The Beatles


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OctupuSsGarden
13 de Agosto de 2006
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The yellow Submarine  
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Enviado por Cecília (hi5)

All You Need Is Love

The Beatles - Lennon/McCartney

From TheBlue Album
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Love, love, love, love, love, love, love, love, love.
There's nothing you can do that can't be done.
Nothing you can sing that can't be sung.
Nothing you can say but you can learn how to play the game
It's easy.
There's nothing you can make that can't be made.
No one you can save that can't be saved.
Nothing you can do but you can learn how to be you
in time - It's easy.
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All you need is love, all you need is love,
All you need is love, love, love is all you need.
Love, love, love, love, love, love, love, love, love.
All you need is love, all you need is love,
All you need is love, love, love is all you need.
There's nothing you can know that isn't known.
Nothing you can see that isn't shown.
Nowhere you can be that isn't where you're meant to be.
It's easy.
All you need is love, all you need is love,
All you need is love, love, love is all you need.
All you need is love (all together now)
All you need is love (everybody)
All you need is love, love, love is all you need.
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LYRICS INDEX 
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http://allspirit.co.uk/allyouneed.html
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Eros e Psique - Fernando Pessoa

Assunto: Feliz Ano Novo
Data: 29/Dez 19:56

Feliz Ano Novo para vocês meus amigos muito queridos Beijinho no vosso coração! eu
Flor do Deserto (hi5)
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carolrc


Conta a lenda que... Voz: Maria Bethânia Fotos: Anônimas (internet)  


Fernando Pessoa # Eros e Psique: Conta a lenda
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Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
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Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
..
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
..
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.
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Mas cada um cumpre o Destino -
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
..
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sonho ela mora.
...
E, inda tonto do que houvera,
A cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
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de Fernando Pessoa
in "Cancioneiro"
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Disse Fernando Pessoa: Uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria um dia de sol no nosso espírito !

. lhttp://escritosdeeva.blogs.sapo.pt/238434.html

Postal de Natal

23/Dez 12:50
José diz:

Victor, grande amigo, um dia destes vamos dar um abraço.

Crentes ou não façamos deste Natal momentos de reflexão para um dia, um ano, uma vida. Tudo de bom para nós.




Natal e não Dezembro - David Mourão-Ferreira

UM POEMA DE NATAL E UM BEIJO PARA O MEU AMIGO VICTOR!
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VELAS

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Natal, e não Dezembro
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Entremos, apressados, friorentos,

Numa gruta, no bojo de um navio,

Num presépio, num prédio, num presídio,

No prédio que amanhã for demolido...

Entremos, inseguros, mas entremos.

Entremos, e depressa, em qualquer sítio,

Porque esta noite chama-se Dezembro,

Porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,

Duzentos mil, doze milhões de nada.

Procuremos o rastro de uma casa,

A cave, a gruta, o sulco de uma nave...

Entremos, despojados, mas entremos.

De mãos dadas talvez o fogo nasça,

Talvez seja Natal e não Dezembro,

Talvez universal a consoada.
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David Mourão-Ferreira,

Cancioneiro do Natal
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charles chaplin limelight soundtrack candilejas (Limelight)


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pichikita
22 de Julho de 2008
musica compuesta por Charles Chaplin para su pelicula Limelight (candilejas) en 1952  



22/Dez 21:01
E diz:
Boa noite Vic! Beijos da Judite
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Drift-Six Days-Soundtrack-subtitle-english


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N1Cotin3
23 de Janeiro de 2007
DJ Shadow feat. Mos Def-Six Days .

22/Dez 11:20
22/Dez 11:20
Sophie diz:

E.........para adecer entre aspas..uma outra PRENDA..Confesso que ainda tinha maturidade para ler o Saramago... Por isso aqui fica este;)....um execelnte DIA....
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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Minha Prenda de Ano Novo

Assunto:
Paz; Paix; Peace; Pace
Data:
29/Dez 19:54
Minha Prenda de Ano Novo; Mon cadeaux de Nouvelle Année; My New Year present; Mi regallo para el Nuevo Año!


Feliz Natal - Sam

000000000Victor
Assunto: ;) ♥ to you||
Data: 29/Dez 14:08

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Traffic, de Steven Sodenbergh



Digestivo nº 26 >>> You can't just wage a war at your own family
Traffic, de Steven Sodenbergh, merece todo o barulho e estardalhaço que se vem fazendo por conta dele. Ainda dentro da safra de Magnólia, Clube da Luta e Beleza Americana, Traffic visa a desconstrução do "american dream", ao virar uma sociedade pelo avesso, e expelir suas vísceras na cara do espectador. Paulo Emílio Salles Gomes costumava dizer que se vai ao cinema atrás de alguma ilusão. No longer. Dentre os méritos de Traffic, está o de, justamente, retratar o universo das drogas sem eufemismos ou atenuantes. O filme vai até as últimas conseqüências da miséria e da baixeza humanas, subvertendo completamente as noções de certo ou errado, bem ou mal. Os cortes, de cena a cena, são planejados de modo a suspender a ação nos momentos mais tensos. Traffic não termina com uma conclusão final, pois, como se assiste durante as quase três horas de projeção, a questão das drogas é muito mais intrincada, complexa e delicada do que se pensa, longe de ser resolvida por meio de medidas arbitrárias, leis simplistas ou declarações de guerra. A solução simplesmente não passa por receituários ou fórmulas científicas.
>>> http://www.trafficthemovie.com/

Os 400 Golpes - François Truffaut





Digestivo nº 34 >>> O homem é o menino perene
Está em cartaz, há mais de um mês, no Cinesesc, uma das mais belas obras de François Truffaut, Os Incompreendidos (Les quatrecents coups, 1959). Estréia do impiedoso crítico da Cahiers du Cinéma, Os Incompreendidos projetou Truffaut mundialmente, como cineasta, e garantiu-lhe vaga no panteão da Sétima Arte, calando a boca de seus desafetos e detratores. É uma obra-prima da criação humana, perceptível a olho nu, sem a necessidade de que se evoque todo o instrumental da nouvelle vague. Assim como nos chamados romances de formação, François Truffaut retrata a si mesmo, e é sempre instigante ouvir um grande autor falar sobre seu passado, de maneira honesta. Chama a atenção, 42 anos depois, a atuação de Jean-Pierre Léaud, uma estrela de brilho raro, afinal, é preciso garimpar muito até que se encontre um jovem que saiba interpretar a juventude, em 100 anos de cinema. A história é a do adolescente mal amado pelos pais, incompreendido pelos mestres, que se atira na vida urbana, e na delinqüência infantil, como se tudo não passasse de uma grande brincadeira. Acaba repreendido, aprisionado e levado para o reformatório (uma escola militar). É pungente a lealdade de seu melhor amigo (quase uma criança), a insensibilidade da mãe e do padrasto (ela, bonita e cruel; ele, bronco e pusilânime), a crueza dos cenários (a escola de paredes lascadas, a casa em forma de cubículo, a aridez das paisagens), o sofrimento da personagem principal (violentada pela realidade dos adultos, que só enxerga homens feitos, nunca imperfeitos ou "por fazer"). Qual não seria a dor de Truffaut, ao realizar um filme assim: autobriográfico. Certamente uma dor funda, que, ainda hoje, atinge o espectador e, em igual proporção, o encanta.
>>> O Estado de S. Paulo

Infiel - Liv Ullmann






Digestivo nº 36 Eu sempre trago o fracasso junto comigo

Infiel, filme de Liv Ullmann, com roteiro de Ingmae Bergman, não é aconselhável para pessoas sensíveis ou que andam vivendo complicações amorosas de qualquer gênero. Embora seja de uma beleza estética incomparável, com paisagens de sonho, e atores de grande presença cênica, o longa desfecha punhaladas suscessivas na moral do espectador, qualquer que seja ela. Estende a tortura ao limite do insuportável. Mentalmente a platéia pede para o que sofrimento acabe, mas ele só se agrava, nocauteando o público e deixando sua alma em frangalhos. Se as cenas ali vistas não imitassem, com tamanha fidelidade, a vida real, seria pertinente indagar: quais os desígnios de uma mente tão fria e calculista ao conceber horrores, atrocidades e crueldades desse porte? As pessoas levantam-se das cadeiras e caminham mudas, brancas, chocadas, até o carro. Não há o que falar. Pesadelos estão reservados para mais à noite, e uma enxaqueca, para de manhã. Claro que Infiel, essa montanha-russa de emoções, levando o coração à boca, exige concentração e atenção, como quase nenhuma projeção atual, em que diálogos são empostados e silêncios, abolidos, ou sufocados pela música. A civilidade dos suecos é tal, que eles põem abaixo catedrais de sentimentos apenas com murmúrios, gemidos e palavras sussuradas. A história não vale à pena ser contada, mas sim assistida. Envolve, obviamente, adultério e, posteriormente, divórcio. Talvez, depois de passado o trauma, a produção sirva de antídoto contra um desejo incipiente de se separar ou, simplesmente, de pular a cerca.  
Infiel
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Trolösa

Paths of Glory - (br: Glória Feita de Sangue / pt: Horizontes de Glória) - Stanley Kubrick

DIGESTIVOS >>> Cinema

Segunda-feira, 12/10/2009
Cinema
Julio Daio Borges



Digestivo nº 40 >>>
DIGESTIVOS >>> Cinema

Segunda-feira, 12/10/2009
Cinema
Julio Daio Borges


Digestivo nº 40 >>> Paths of Glory
A HBO exibe, em três partes, o documentário Uma Vida Quadro a Quadro sobre um dos maiores diretores de cinema do século XX, Stanley Kubrick. A intenção da esposa e viúva, Christiane Kubrick, e do cunhado, Jan Harlan, é desfazer a imagem de excentricidade, misantropia e autoritarismo que paira sobre o célebre realizador. A reconstituição, desde os primeiros passos, ao lado da irmã, até a edição de sua última obra, De Olhos Bem Fechados, é narrada por Tom Cruise e conta com as participações de amigos, familiares e admiradores de Kubrick, dentre eles, Martin Scorsese, Woody Allen e Steven Spielberg. É, em suma, a história de um prodígio que, aos 16 anos, era fotográfo contratado da revista Look, e que, com menos de 30 anos, já havia dirigido Kirk Douglas, Laurence Olivier, Charles Laughton e Tony Curtis. Em meio a tantos depoimentos, impossível sintetizar a química que dá origem ao gênio. Uns apontam a fascinação de Kubrick pelo xadrez, de quem herdaria a extrema concentração e a capacidade de não se deixar abater emocionalmente. Outros apontam o excesso de auto-confiança, afinal, Kubrick financiou seu primeiro longa com o seguro de vida do próprio pai, passando a viver de míseros 30 dólares semanais (ao optar pelo cinema e pelo desemprego). Stanley Kubrick representa, no fundo, a ruptura da Sétima Arte com os grandes ideais da Humanidade, ideais que morreram junto às Guerras Mundiais, e que (moribundos) reduziram o ser humano à trinca sexo, violência e abuso de poder. Sua mensagem é de desilução, mas não há como resistir aos seus apelos.
>>> HBO

A HBO exibe, em três partes, o documentário Uma Vida Quadro a Quadro sobre um dos maiores diretores de cinema do século XX, Stanley Kubrick. A intenção da esposa e viúva, Christiane Kubrick, e do cunhado, Jan Harlan, é desfazer a imagem de excentricidade, misantropia e autoritarismo que paira sobre o célebre realizador. A reconstituição, desde os primeiros passos, ao lado da irmã, até a edição de sua última obra, De Olhos Bem Fechados, é narrada por Tom Cruise e conta com as participações de amigos, familiares e admiradores de Kubrick, dentre eles, Martin Scorsese, Woody Allen e Steven Spielberg. É, em suma, a história de um prodígio que, aos 16 anos, era fotográfo contratado da revista Look, e que, com menos de 30 anos, já havia dirigido Kirk Douglas, Laurence Olivier, Charles Laughton e Tony Curtis. Em meio a tantos depoimentos, impossível sintetizar a química que dá origem ao gênio. Uns apontam a fascinação de Kubrick pelo xadrez, de quem herdaria a extrema concentração e a capacidade de não se deixar abater emocionalmente. Outros apontam o excesso de auto-confiança, afinal, Kubrick financiou seu primeiro longa com o seguro de vida do próprio pai, passando a viver de míseros 30 dólares semanais (ao optar pelo cinema e pelo desemprego). Stanley Kubrick representa, no fundo, a ruptura da Sétima Arte com os grandes ideais da Humanidade, ideais que morreram junto às Guerras Mundiais, e que (moribundos) reduziram o ser humano à trinca sexo, violência e abuso de poder. Sua mensagem é de desilução, mas não há como resistir aos seus apelos.
>>> HBO

Ben-Hur - William Wyler



Digestivo nº 44 >>> Hate keeps a man alive
Primeira constatação a se fazer depois de assistir Ben-Hur em DVD: trata-se de um filme do século passado. Não apenas cronologicamente falando, mas sobretudo em aspectos formais: diálogos com longas pausas dramáticas; gestos demorados (contrariando frontalmente a impaciência destes tempos de agora); música grandiloqüente, conduzindo a narrativa por altos e baixos; brutalidade masculina beirando o animalesco (mas sem recorrer açougues ou dissecações); sentimentalismo feminino às raias do piegas (mas sem que haja qualquer protagonista mulher de relevância, apenas homens). A história do sujeito que é destituído de suas funções, perdendo o prestígio e a reputação (para depois recuperá-los em triunfo), foi retomada muitas vezes depois de 1959. Recentemente no Gladiador de Ridley Scott que, se se for observar, contém uma versão atualizada e, em termos de duração e enredo, relativamente "diet" se comparada à saga de Judah Ben-Hur. William Wyler, o diretor, trabalhava muito bem com símbolos, desde os mais evidentes até os mais sutis: romano versus judeu (ocidental versus oriental); cavalos brancos versus cavalos pretos (pureza versus corrupção); uniforme em azul versus uniforme em vermelho (céu versus inferno); inclemência versus misericórdia (mal versus bem, paganismo versus cristianismo). Se surgisse como produção em pleno século XXI, Ben-Hur seria duramente criticado por seu moralismo simplificador, por seu apelo às emoções (em lugar do entendimento), por seus excessos (ao recorrer constantemente a cenas e a episódios totalmente acessórios), por seu herói canastrão (dada a popularidade de Charlton Heston como ator). Trata-se, porém, de um clássico. Convém assisti-lo sem discuti-lo. Inclusive, é até mais compensador.
>>> Ben-Hur

Os 7 Magníficos - John Sturges



Digestivo nº 46 >>> Sete vezes Sete
Nada como o DVD para revitalizar a discussão sobre os clássicos. Sete Homens e um Destino está luzindo nas prateleiras e trazendo de volta toda a mítica em torno de Yul Brynner, Steve McQueen e seus cinco comparsas, dentre eles, Charles Bronson e James Coburn. É preciso entender o que fascinou gerações e gerações de admiradores, que têm o filme como marco, no baú de referências cinematográficas. Em primeiro lugar, o caráter sólido e a integridade inquebrável das personagens, que preferem morrer (e morrem) a entregar-se aos desígnios do inimigo. Em segundo lugar, a concentração e a convicção (imperturbáveis, tipicamente orientais) que lhes garante as respostas certas, e os passos certos, quando o momento é de dúvida e de confronto. Em terceiro lugar, a história em si que, mesmo em sua simplicidade esquemática, é perfeita. O longa tem seis momentos bem definidos e um olhar treinado consegue identificá-los com facilidade: no início, como não poderia deixar de ser, o caos; logo depois, os heróis são apontados (e apresentados); então, vem a preparação para o enfrentamento; em seguida, o primeiro embate (bem sucedido); conseqüentemente, o descuido, a captura e a humilhação; por fim, a reviravolta e o desfecho glorioso. É notável o cuidado que se tem em humanizar os Sete Homens, à medida que o épico se desenvolve, mostrando que por trás de seus dons infalíveis e de sua aparência inabalável reside uma alma atormentada, um espírito sensível. A moral (no final) é conservadora, no que proclama, mas não no que consagra: Charles Bronson diz que havia muito mais coragem em cultivar a família, a terra, a casa do que em ser um mercenário, em busca de aventuras; porém, o que fascina mesmo, até Eli Wallach (o bandido), fica registrado no seu último suspiro (que é também o da platéia): um homem como você (Yul Brynner) lutando por uma causa dessas? É fato. O magnífico, o magnificente, não cabe numa luta, não cabe numa disputa, não cabe num faroeste. No máximo, ensina, orienta, serve como modelo. Mas, pensando bem, é o que se tem feito desde a estréia do filme, em 1960. E, pensando bem, é o que se continuará fazendo, por muito tempo. 
>>> The Magnificent Seven
 

Lawrence of Arabia - David Lean



Digestivo nº 49 >>> Not many people have a Destiny

A imagem de T. E. Lawrence, que tem chegado ao público médio, é a de um escritor habilidoso que relatou suas conquistas e desventuras na Arábia. Assistir a Lawrence da Arábia em DVD, portanto, torna-se uma experiência altamente reveladora, porque não é bem essa imagem que fica depois de três horas de projeção. O próprio libreto diz que "dramatizar é simplificar" e que "simplificar é (necessariamente) deixar algo de fora". O longa de 1962 privilegia o herói, o guerreiro, o líder com um "quê" de messiânico. Lawrence não anda sobre as águas, mas suporta as maiores provações que o deserto pode proporcionar: fome, sede, alucinações, morte. O intelectual, o erudito, o autor dos Sete Pilares da Sabedoria fica, assim, "de fora". Ao menos, ele não condiz com o sujeito do filme (não à toa, parece escrever "por hobby", ou nas horas vagas entre uma batalha crucial e outra). Isso tudo para dizer que a escolha do diretor David Lean e dos roteiristas Robert Bolt e Michael Wilson foi corretíssima: o homem, T. E. Lawrence, e seus feitos como tenente, major e coronel são muito mais impressionantes do que qualquer clausura literária. A dimensão de seus sentimentos e de sua tragédia - como lorde inglês que se converte aos barbarismos e à crueldade dos árabes - fica muito mais evidente na ação, no empunhar de um revólver ou de uma faca, do que em quaisquer reflexões pessoais mais intrincadas. É uma espécie de sina da Sétima Arte (e de todas as artes que lidam com a representação): não há como "encenar" o ato de pensar, um "insight" ou qualquer coisa que o valha. A grande dramaturgia só se atinge pela colagem de "peças narrativas" de alto impacto e não pelas horas de solidão num quarto escuro - mesmo em Shakespeare. Lawrence da Arábia, pelo visto, transcende de longe o que se podia esperar de um grande épico produzido nessa época de realizadores monumentais que não volta. Peter O'Toole é, sem sombra de dúvida, um dos maiores atores de sua geração. E contracenar com Anthony Quinn (em sua melhor fase), Alec Guinness (um príncipe oriental insuperável) e Omar Sharif só podia dar no que deu. Três horas de algumas das mais belas emoções humanas.
>>> Lawrence of Arabia

Butch Cassidy and the Sundance Kid - George Roy Hill

DIGESTIVOS >>> Cinema

Segunda-feira, 12/10/2009
Cinema
Julio Daio Borges



Digestivo nº 56 >>> The Whole In The Wall Gang
O que trinta anos não fizeram com Paul Newman e Robert Redford, os protagonistas de Butch Cassidy and The Sundance Kid, agora em DVD. O primeiro virou pipoca de microondas e andou se arrastando na performance de O Indomável, de 1994. O segundo está na lista de Sônia Braga e, analisando bem, serviu de grande inspiração para Bill Clinton (quando este posava de sobrancelhas arqueadas, sorrisinho e boca entreaberta). Mas o filme é bonito. Tem todo aquele romantismo da bandidagem no tempo das diligências. (É de se apostar que o cinema tenha sido uma influência malévola para toda essa juventude que quis viver de ganhos fáceis, depois de tanto assalto a trem e a banco.) A seqüência de Raindrops Keep Fallin' On My Head, com Paul Newman carregando Katharine Ross na bicicleta, é de um lirismo que se tornou até banal (posto que indefinidamente replicado em videoclipes e em propagandas de cigarro). Mas ajuda a compor um longa de belas cenas (não à toa o Oscar de fotografia). A história é a de dois assaltantes do Velho Oeste que, depois de muitos golpes, são procurados e perseguidos incansavelmente até a Bolívia, até a morte (numa emboscada que fecha a fita com chave de ouro). Suscita reflexões sobre o viver à margem da sociedade, ser um “outlaw”. Hoje em dia seria impossível, pois não se faz nada sem identificação, cartão de crédito e declaração de imposto de renda. A produção impressiona por ter sido realizada em 1969 e, no gênero Western, permanecer – tecnicamente – insuperável. Vale também como viagem pelas belas paisagens dos Estados Unidos. E para cantar Burt Bacharach, é claro.
>>> Butch Cassidy and the Sundance Kid

Gilda - Charles Vidor



Digestivo nº 60 >>> I make my own luck
Quando se pensa em Gilda, a primeira cena que vem à mente é aquela repetida indefinidamente nas retrospectivas e nos programas sobre cinema: George Macready apresentando-a a Glenn Ford e ela (Rita Hayworth) erguendo a cabeça de supetão, num farfalhar de madeixas e cachos, como se uma nova estrela brilhasse no céu. E na constelação de Hollywood brilhava mesmo. O filme todo, visto mais de 50 anos depois, parece uma desculpa esfarrapada para Rita Hayworth fazer caras e bocas, cantar e dançar. O roteiro pretende ser sério em todos os seus desdobramentos: a história de um pequeno golpista que se associa a um dono de cassino e que termina se metendo em intrigas internacionais, envolvendo tungstênio (!). Em retrospecto, analisando tudo o que a Sétima Arte fez e deixou de fazer, é difícil encontrar uma atriz que reunisse tanta beleza e expressividade – principalmente no rosto, de olhos grandes, sobrancelhas arqueadas, lábios elásticos, e a bocarra estendida num sorriso até os molares ou pré-molares. O drama e o rancor de Glenn Ford (inspiração futura para Desi Arnaz?) soam exagerados hoje, uma época em que honra e traição não dizem muito. Ou, pelo menos, não duram tanto. E o cigarro, como acessório cênico, acabou caindo em desuso, soando démodé para as platéias atuais, mas sem comprometer a performance. O que continua na moda – volta-se a ela – é Rita Hayworth, com o corpo esguio, de pernas longas, braços e dedos longilíneos. Teria muito a ensinar a Gisele Bünchen, por exemplo, que tem o corpo (talvez), mas que não tem metade da classe, da leveza e das maneiras de Gilda. Glenn Ford (como Johnny Farrell) não cansa de empurrá-la, sacudi-la, ralhar com ela, acertando-lhe, inclusive, um sonoro tapa na cara. Deve ter chocado aqueles que pregavam o respeito e a delicadeza para com as mulheres (no século XXI, apenas machismo ou feminismo, dependendo de quem quer ter razão). O DVD da Columbia vem em embalagem simples, sem muitos extras, mas com imagem e som impecáveis. A fotografia é exemplar e as músicas pedem para que se corra atrás da trilha. Por fim, a pergunta que não quer calar: quantos delírios, fantasias e sonhos essa mulher não terá inspirado? [Comente esta Nota]
>>> Gilda
 

All about Eve - Joseph L. Mankiewicz



Digestivo nº 63 >>> The lowest form of celebrity
Não existe exagero em afirmar que o DVD é a única tecnologia (até agora) que permitiu ao cinema das primeiras décadas competir em pé de igualdade com as produções atuais. O formato VHS era pleno em limitações técnicas, de som e de imagem, prejudicando mais acentuadamente o que se fez em preto e branco e nos primórdios do cinema falado. Assim, não existe base de comparação entre as interpretações de Bette Davis, Anne Baxter e George Sanders em “A Malvada” (All About Eve) e qualquer coisa que esteja em cartaz neste momento. É impressionante a preocupação cênica ao longo da fita, revelando uma presença de palco (do elenco) que nem no teatro de hoje é possível encontrar. As atuações são impecáveis ou, no mínimo, convincentes – destacando-se a disputa à la Oscar Wilde, entre Margo Channing (Bette Davis) e seus antagonistas. Na história, ela é o modelo de atriz consagrada que, adotando uma protegida mais jovem (Anne Baxter), sente-se ameaçada por ela. É claro que a última é puro lobo-em-pele-de-cordeiro, e vai seduzindo, aos poucos, todos os que se devotavam à primeira. Todo mundo conhece a patologia: a admiração obsessiva que converte, paulatinamente, o “admirador” em “objeto admirado”. Como em toda a realização que preza a “vida como ela é”, o bem não triunfa sobre o mal. Mas os derradeiros minutos apontam para um ciclo que se fecha, introduzindo uma fã no camarim de Eve (a malvada) e sugerindo, portanto, conseqüências cármicas. Para os que precisam de um estímulo a mais, também consta do “cast” uma Marilyn Monroe em início de carreira, recém-chegada da Copacabana School of Dramatic Art (é sério). Talvez anunciando que a forma prevaleceria sobre o conteúdo. Enfim, não se fazem mais "bettes davis" como antigamente.
>>> All About Eve
 

Apocalypse Now - Francis Ford Coppola





Digestivo nº 64 >>> My only friend: the end
Nada como um Francis Ford Coppola de vez em quando para nos lembrar o que é cinema de verdade. Apocalypse Now Redux estreou em época conturbada (final de ano), e já está relegado a umas poucas sessões noturnas e a algumas salas ditas “de arte”. Ainda assim, vale à pena insistir e abrir uma exceção para essa obra-prima. Claro, todos já vimos uma boa quantidade de produções cujo tema central é o Vietnã (a guerra), mas quando topamos com um mestre da sétima arte, tudo volta a ser como da primeira vez: cada take, cada seqüência, cada panorâmica é uma doce novidade. Approposito, é impressionante a progressão: Coppola principia pela tragicomédia e vai conduzindo o longa para a gravidade e para a densidade linearmente, sem solavancos. Aliás, é possível para qualquer leigo perceber como o cinema atual perdeu em continuidade: Apocalypse Now é tão extraordinariamente bem montado que fluímos dentro dele como o barco de Martin Sheen, rio acima, sem nos darmos conta de qualquer “emenda” ou “encaixe” – o tempo passa como na vida real. (Ao contrário dos videoclipes artificiais de hoje.) O elenco é de causar inveja a qualquer fita em qualquer tempo. Além do pai de Charlie Sheen (o supracitado Martin), encontramo-nos com um amalucado Robert Duvall, que conduz as batalhas como se jogasse fliperama, como um cowboy do século XX. Mais adiante uma ponta com Harrison Ford, ainda desconhecido e ainda imberbe (o filme é de 1979). E o clímax, óbvio, fica por conta de um dos mais belos homens da tela grande: Marlon Brando. Como sempre um gigante, roubando a cena mesmo quando congelado em foto. Para completar, as cores nunca foram tão vivas e o som, tão envolvente. É para ver e rever, antes que saia de cartaz.
>>> Apocalypse Now Redux
 

História Real” (The Straight Story), de David Lynch

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Segunda-feira, 12/10/2009
Cinema
Julio Daio Borges





Digestivo nº 66 >>> A brother is a brother
Interessante como a crítica se apega a estigmas. Tome-se o caso de “História Real” (The Straight Story), de David Lynch, que acaba de estrear no Brasil. Os críticos não se conformam que o diretor de “Veludo Azul” não desfolhe, desta vez, sua coleção de “anomalias” e “patologias”. Se elas não estão explícitas, como em sua cinematografia anterior, é porque, então, estão escondidas – e dá-lhe especulações sobre “o que ele quis dizer na verdade” ou sobre “o que está por trás de uma cena perfeitamente normal”. É a sanha interpretativa, que impregna todos os que se põem a analisar uma obra-de-arte. O roteiro é singelo (e daí?); bem protagonizado por um ator honesto (e daí?); com um desfecho, desde o começo, previsível (e daí?). Conta a jornada de Alvin Straight, de Iowa a Wisconsin, montado num cortador de grama (isso mesmo), arrastando um trailer, apenas para encontrar seu irmão, com que não fala há dez anos. O filme mostra que, apesar dos meios pouco ortodoxos, empregados por um velho teimoso, realizando talvez seu último grande projeto na vida, existe beleza e graça em simplesmente persistir nas próprias convicções. Embora a maior parte do mundo se revele hostil a elas, sempre haverá pessoas dispostas a ajudar, e a respeitar as decisões (quais sejam) do outro. Eis a mensagem “positiva” do longa, que pode até soar banal mas que tem o seu valor (“construtivo”, ao menos). Infelizmente nos desacostumamos a ver uma rotina tão pacata e calma, na tela grande, sem que, ao longo de duas horas, não haja estrondos: violência, sexo ou humor mórbido. David Lynch parece que plantou seu jardim e, fora um inseto ou outro (importunando quem chega para visitar), nada nos resta a não ser contemplá-lo.
>>> The Straight Story

How Green Was My Valley - John Ford



Digestivo nº 67 >>> So much that was good but is gone

Como Era Verde Meu Vale. O que sugere um título desses? Decerto que não um filme em preto-e-branco. Mas é justamente o caso: uma produção sem cores que, no entanto, irradia um colorido esfuziante. De sentimentos, nobres sentimentos. Família. União. Autoridade. Resignação. Palavras hoje acompanhadas de uma dúzia de preconceitos cada. É démodé e quadrado, por exemplo, defender uma “família” bem-constituída (com pai e mãe). É simplesmente impraticável, em plena era do individualismo e do consumo, alcançar algum tipo de “união”. É retrô, com laivos de conservadorismo (reaça), respeitar qualquer que seja a “autoridade”. E é sinônimo de tolice e comodismo, entender que a melhor saída, muitas vezes, vem através da “resignação”. Por isso, um DVD como How Green Way My Valley tem hoje tanta importância. Para mostrar que esses valores são válidos e não “atrasados” ou “caretas”, como se costuma pensar. Crescemos com a ilusão, ou a desilusão, de que o ser humano é auto-suficiente em seus sentimentos; de que sozinho e investido de poder (qual seja) consegue tudo; de que não deve nada a ninguém, principalmente respeito àqueles que o precederam; e de que a vida é puro livre-arbítrio, tendo o destino (ou o que for) papel alegórico em toda a história. Acontece que essas crenças (sim, crenças) não nos bastam e quando nos deparamos com uma sociedade regida por princípios contrários aos nossos – com problemas também, mas inspirando simpatia e aspirações mais elevadas – é tempo de se pensar se o nosso modelo não está... ultrapassado. Isso mesmo: ultrapassado. Bem, se o discurso “pseudomoralizante” incomoda, o argumento estético deve convencer os mais refratários: assista-se Como Era Verde Meu Vale pela beleza. Só por ela, ele já vale. Ah, se vale.
>>> How Green Was My Valley

A Beautifil Mind de Ron Howard




Digestivo nº 70 >>> Nash equilibrium
Os entusiastas do gladiador que nos perdoem, mas o melhor desempenho de Russell Crowe até agora foi em “Uma Mente Brilhante”. Ele já havia conseguido alguma projeção, anteriormente, em “O Informante”, mas tropeçava, aqui e ali, ao interpretar uma testemunha perseguida pelos poderosos que denunciava. “O Gladiador” nem conta muito, apesar do estardalhaço e dos oscars, pois nele o ator australiano se limitou a empunhar sua espada e a proferir algumas palavras, mantendo praticamente inalterado o semblante. Agora, no entanto, na pele do matemático John Nash, ele promove um salto até então inesperado, para uma trajetória tão curta e não tão, digamos assim, brilhante. Russell Crowe, candidato a sucessor de brutamontes, em filmes ditos de ação e romancecos água-com-açúcar, de repente, toca a platéia, no degenerar de um cérebro promissor padecendo de esquizofrenia. E é ele, não os efeitos especiais ou a presença de grandes nomes (como Al Pacino), que elevam “Uma Mente Brilhante” a um patamar superior, expondo dramas atemporais e humanos, para além das veleidades da estação. O longa não trata apenas de sujeitos geniais, encalacrados em paranóias inerentes à sua própria inteligência, mas também explora a questão dos limites e da impotência, ambos presentes na vida de qualquer pessoa. Envolvendo a aceitação do cruel destino e a luta pela sobrevivência, em batalhas diárias, em obstáculos superados muito paulatinamente, torna a existência de John Nash um fardo, enfim, belo e justificável. Uma lição que vale à pena ser aprendida, e que vai mergulhar muito fundo na alma de alguns. Isso tudo graças a Russell Crowe. Se as tais estatuetas fossem realmente meritórias, ele mereceria uma agora.
>>> A Beautifil Mind

"Minority Report" ("A Nova Lei") - Steven Spielberg

DIGESTIVOS >>> Cinema

Segunda-feira, 12/10/2009
Cinema
Julio Daio Borges





Digestivo nº 93 >>> Everybody runs
Com a morte de Stanley Kubrick, ninguém melhor para falar do futuro que Steven Spielberg. A comparação não surge à toa: desde "Inteligência Artificial" (uma parceria post-mortem entre ambos) que Spielberg vem se apresentando como discípulo do diretor de "2001 - Uma Odisséia no Espaço". Depois dos fiascos de George Lucas (em suas tentativas desastradas de retomar "Star Wars"), o autor de "E.T." conquistou a supremacia no cinema premonitório. Ainda mais agora, com esse "Minority Report" ("A Nova Lei", na versão brasileira). Além de todo o aparato tecnológico, o filme é também uma resposta a "Matrix" (1999), em termos filosóficos (se é que isso se pode afirmar em matéria de sétima arte). Tom Cruise, ou John Anderton, é o novo Keanu Reeves, o novo Neo. Antes de salvar o mundo, porém, ele tem de provar a sua inocência - à maneira do "Fugitivo" (1993) de Harrison Ford. Ano 2054: foi inventado um sistema que prevê homicídios, graças ao uso de "precognitivos" (médiuns); Cruise, ou Anderton, é um dos policiais envolvidos no experimento (ele e sua equipe impedem que os crimes aconteçam, localizando o potencial homicida e prendendo-o por antecipação); tudo vai infalivelmente bem até que o próprio Anderton é incriminado - então tem de correr contra o tempo. São mais de duas horas de uma trama intrincada e de uma das melhores perseguições dos últimos tempos. Ficamos aliviados em saber que daqui a cinqüenta anos, a Sinfonia Patética (nº 6) de Tchaikovsky ainda será ouvida em alto e bom som. Para além da seriedade e do cientificismo (habitual), Spielberg introduz cenas engraçadas, onde o herói é ridicularizado, apenas para lembrar ao espectador que se trata de ficção. Apesar dos milhões de dólares gastos, da moral da história e do americanismo (também habitual), é inegável que o homem evoluiu desde "Inteligência Artificial" (2001). Não custa conferir, portanto.
>>> Minority Report
 

Cinema de Poesia - Pier Paolo Pasolini

DIGESTIVOS >>> Cinema

Segunda-feira, 12/10/2009
Cinema
Julio Daio Borges





Digestivo nº 106 >>> Cinema de Poesia
É famosa a frase de Wittgenstein em que ele afirma que se um leão falasse não seríamos capazes de entendê-lo. Em "Uccellacci e Uccellini" (1966), de Pier Paolo Pasolini, Totò e Ninetto Davoli, atendendo a um pedido de São Francisco de Assis (em pessoa), passam meses em meditação e finalmente se entendem com as grandes aves e os passarinhos. Pasolini, um dos grandes homenageados pela 26ª Mostra BR de Cinema, acreditava que o cinema era importante porque antecedia toda linguagem: comunicando por imagens - como a vida. Ao mesmo tempo, acreditava que sua "pesquisa cinematográfica" acontecia no campo da linguagem ("corporal", quem sabe?) e que, por isso, também no campo da filosofia. No documentário "Pier Paolo Pasolini e a Razão de um Sonho" (2001, de Laura Betti, igualmente na "Mostra"), o cineasta explica que uma pessoa é mais do que aquilo que fala, escreve, transmite através da linguagem; é também um modo de andar, um jeito de sorrir, uma presença e uma maneira de fazer-se presente na memória (quando parte, por exemplo). Pasolini foi um dos últimos grandes diretores a ter uma sólida formação literária, um apego à "palavra escrita", que as novas gerações simplesmente aboliram do currículo. Por isso, a sua obsessão em filmar os clássicos, como "O Evangelho Segundo Mateus" (1964), "Édipo Rei" (1967), "Medéia" (1970), "Decameron" (1971), "Os Contos de Canterbury" (1972) e "Saló - 120 Dias de Sodoma" (1975). E Pasolini, claro, foi poeta; não apenas da Sétima Arte, mas poeta de escrever poesia, com livros publicados, antes de sucumbir ao cinema e se lançar como roteirista de Frederico Fellini. É comum, hoje em dia, relativizar sua obra e destacar seu lado "agitador": comunista, homossexual, intelectual, etc. O paralelo que se traça com o Brasil remonta a Glauber Rocha, outro gênio da película e da polêmica. Nem sempre compreendidos por todos, embora de inteligência vibrante, dentro e fora do cinema.
>>> Retrospectiva Pier Paolo Pasolini | Pier Paolo Pasolini e a Razão de um Sonho

"Meninas Malcomportadas", de David Mamet





Digestivo nº 110 >>> Affirmative action
Dentro da mostra "Meninas Malcomportadas", no Centro Cultural Banco do Brasil, está um dos filmes mais contundentes de David Mamet. Em 1994, o mesmo diretor de "Mera Coincidência" (1997) e "Deu a louca nos astros" (2000) resolveu dar sua resposta à onda do politicamente correto norte-americano. Foi através de "Oleanna", possivelmente inédito no Brasil, uma das mais bem realizadas críticas ao patrulhamento das esquerdas, à inversão de valores e às minorias oprimidas. A história se desenrola nas dependências de uma universidade nos Estados Unidos. Como não sai do gabinete de um professor e de sua sala de aula, transfere ao espectador a agonia lenta do protagonista. John (William H. Macy) e sua aluna, Carol (Debra Eisenstadt), começam uma disputa por questões de nota e terminam sua contenda na corte suprema. Num país onde a justiça não tarda e não falha. (Aliás, funciona até demais.) É um dos grandes absurdos retratados pela fita. Inconformada por ter sido reprovada, a estudante inicialmente se faz de desentendida, de ressentida, de perseguida desde a infância. Seu professor tenta mostrar-lhe que, quando jovem, também se sentia assim: um eterno incompreendido. Chega ao limite de provar que o sistema educacional, tradicional, não passa de um equívoco. Propõe, enfim, uma nova forma de avaliação, baseada em sessões privativas. O cinéfilo de primeira viagem não pesca, mas é justamente a "deixa" de que moça precisa. A partir dessa proposta (não se sabe se indecente) e da retórica exaltada de seu mestre, a aluna arruína-lhe a carreira - e a vida. Queixa-se ao conselho de professores que o suspende de imediato. Suspendido, perde a promoção e a casa que iria comprar. (Provavelmente, naufraga também seu casamento.) Junto a outros colegas, a estudante cria um movimento contra o "abuso de poder". O professor acaba expulso da universidade. Para completar, move-lhe uma ação por estupro - já que, numa das sessões, encostara em seu corpo. É um primor - e a platéia saí com dor de barriga. Não há, em sétima arte, uma representação mais fiel da atual histeria academicista. Mamet prova, mais uma vez, que, ao falar de seu país, não tem papas na língua.
>>> Mostra Meninas Malcomportadas | Oleanna